domingo, 20 de setembro de 2009

Divagações - pequeno conto para pensar

TENHO QUE CONFESSAR = ESTAVA NA TPM QUANDO ESCREVI ISSO - :D
E eu me odeioooo as vezes quando estou na TPM!!! E isso é só um conto, não é tudo (só algumas partes) sobre mim.
***
- Olá, tudo bem? Eu tava te olhando de longe e, bom... Desculpe a intromissão, mas você parece bem abatida.
- Ah, é?
- Sim. Você está feliz?
- Hmm... Defina feliz.
- Feliz: satisfeita, completa, realizada.
- Satisfeita, completa e realizada – eu repeti, saboreando as palavras - Isso é o seu conceito de felicidade? E você realmente acha que existe isso? Uma satisfação total?
- Existe. Quer dizer... Eu acho.
- É sério? E você já encontrou alguém que seja realmente satisfeita, completa e realizada? Por que eu não. Para mim, parece que sempre que a gente quer alguma coisa e depois consegue, acaba querendo mais.

- Isso se chama ambição.
- Não. Não é ambição. É outra coisa.
- O que?
- Eu acho que faz parte do fato de estarmos vivo. De estarmos querermos sempre melhorar. Eu nunca estarei satisfeita, sempre estarei querendo mais.
- Como assim? Dê um exemplo.
- Um exemplo? Uma mulher solteira sempre reclama que quer um relacionamento sério, e depois que o consegue, reclama que caiu na rotina. Que está monótono. Que ele não manda mais flores, que não compra mais chocolate, que o sexo diminui de todos os dias para no máximo três vezes por semana. Às vezes uma vez por semana. Às vezes até menos. Reclama que ele não manda mais flores, mesmo que ele a ame e queria estar com ela todos os dias.
- Então o seu problema é esse? Está descontente com o seu relacionamento?
- Não, meu problema não é esse. Eu amo o meu marido. Não o trocaria por nenhum outro. Acho que o meu casamento é normal.
- E queria que ele fosse anormal?
- Não. Não sei. Acho que não. Ah, talvez eu quisesse que fosse diferente, mas acho que estou fantasiando, lendo romances demais.
- Lendo romances demais?
- Sim. Por que nos romances os casais fazem sexo todos os dias, às vezes mais de uma vez, e sempre alcançam juntos o clímax. E o homem é tão viril e louco por ela! E os romances não mostram a rotina, a batalha do dia a dia. Os dois chegando em casa cansados no final do dia, sem ânimo nem para conversar. E nos romances, as mulheres não ficam gordas.
- Mas você não está gorda.
- Eu sei. Mas eu era mais magra, quando mais nova.
- Então seu problema é que você se sente feia?
- Não sei. Talvez eu me sinta velha. Os homens não me olham mais tanto na rua.

- Olham sim, é você que não percebe. Eu vi vários olhando para nós. Talvez seja um problema de auto-estima.
- É, talvez.
- E teu trabalho? Gosta do que faz?
- Olha, o que eu fazia antes eu enjoei, mas estou parando de fazer. Acho que enjoa fazer sempre a mesma coisa. Sem novidade, a gente perde o ânimo. Mas agora estou começando a fazer algo que eu gosto mais. Pelo menos estou mudando um pouco.
- E está ganhando menos por isso?
- Não, estou ganhando mais.
- Então não entendo! Por que você está triste? Tem um trabalho bom, um relacionamento bom. O que te aflige?
- Não sei. É um vazio aqui dentro. Às vezes me sinto ansiosa, como se faltasse alguma coisa. Como se eu tivesse que viver outra vida. Às vezes eu enjôo de ser eu. Sei lá. Parece sempre tão igual!
- Entendo. Acho que isso acontece com todo mundo. A vida não é uma grande aventura, pelo menos a vida da maioria das pessoas. É apenas vida, e rotina, e lutas diárias. Mas o que você faz quando se sente assim?
- Eu leio. Leio muito. E vejo filmes. E escrevo. Ando obcecada por histórias.
- E isso ajuda?
- Sim, dá um alivio momentâneo. Me coloco no lugar de outra pessoa. Vivo outra vida, expando a minha mente. Mas quando acaba, eu quero mais.
- Hmmm.
- É! E sabe que eu queria, se eu pudesse viver outra vida? Eu queria trabalhar numa livraria, cercada de livros. Amo livros! O cheiro deles! Suas formas! Suas cores! Se eu pudesse escolher, queria ser escritora! Queria ser uma escritora famosa, como vários livros publicados, tipo a Nora Roberts ou a Danielle Stell.
- Ah.
- Mas é só um sonho. Eu sei.
- Bom, quem sabe. Mas aqui está o meu cartão, com o meu nome. Sou dona de uma editora. Posso dar uma olhada nos teus livros, quando você escrevê-los. E quem sabe os teus sonhos não se tornem realidade? Agora, ficar sentada no banco de uma praça, esperando a vida passar, certamente não resolverá nada.

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