sábado, 19 de dezembro de 2009

Crepusculo Vermelho - Laura Elias


"Megan é uma jovem de 17 anos, subitamente envolvida em uma doce e sombria história de amor com Bill, o misterioso integrante de uma banda de rock. Ela só não sabia que Bill não é uma pessoa comum.
Na verdade, ele pertence a grupo de seres dotados de capacidades incomuns e gosto por sangue humano.

Quem se apaixonou pela série CREPÚSCULO, não pode deixar de ler mais esta eletrizante obra de Laura Elias, que transcende o tempo e o espaço, para se tornar realidade nos dias de hoje".

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Gente, que surpresa boa! Não sei se vcs sabem, mas eu amo livros de vampiros. Então qdo fui ontem dar uma passeada básica numa livraria, e vi esse livro que custa apenas 19,90, eu não resisti! Ele é feito com capa fina, tem um papel mais barato, por isso o preço. Bom, eu li numa sentada, não parei até as 5 da manhã, adorei, achei muito bom!

Ah, e me apaixonei por dois personagens, tão fofos! Só que espero que tenha continução, pq eu sinto que não acabou. SE tiver, eu quero ler! Acabei de ver que tem continuação e eu quero ler!!!

Mas sabem qual é a notícia boa? A escritora é brasileira, e eu encontrei ela no orkut. Achei isso maravilhoso! Pq as escritoras brasileiras novas não tem muito espaço, e o tipo de livro que eu gosto, não costumam ser publicados. Queria falar com ela, e saber como ela fez isso. Há tantas escritoras brasileiras postando no orkut, porque não tem o que fazer com seus livros. Como eu. - :D

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A escritora colocou o primeiro capítulo no orkut como degustação.
Capítulo 1 – Só mais um dia

Fonte: http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs?cmm=18008059&tid=5409972026159668457

Havia algo no ar aquela manhã. Uma atmosfera de festa, de véspera de férias, de inicio de verão. Tudo estava mais agitado que o normal, as pessoas pareciam empolgadas, elétricas. Mas talvez fosse apenas eu que ainda não estivesse totalmente acordada. Como sempre.
Na verdade, ainda era meio de outono e não havia nada de empolgante naquela manhã gelada, nada de especial no ar. Era só mais um dia comum como todos os outros. Sem graça. Sem cor.
Ultimamente todos os meus dias estavam assim: sem graça e sem cor, uma mistura de Another Day do Paul McCartney com Every Day is Exactly the Same do Nine Inch Nails, se é que isso era possível.
Olhei desorientada para o prédio da escola e dei um tapa em minha cabeça, com a esperança que ela pegasse no tranco e me ajudasse a acordar. Não podia mais continuar dormindo nas aulas como vinha acontecendo. Isso ia acabar me colocando em sérios problemas. No colégio onde eu estudava era conduta normal chamar os pais por qualquer coisa e eu já começa a estranhar o fato de ninguém ter ligado para minha casa. Ainda.
- Oi, Meg! Você vai comigo hoje, né? – perguntou Sarah surgindo do nada com expressão ansiosa, enquanto segurava meu braço com mais força do que eu gostaria.
Olhei para ela confusa, me perguntando de onde Sarah havia aparecido. Ir aonde? Fazer o quê?
- Ah, não! Você esqueceu? – ela me examinou atentamente - Não vá me dizer que já marcou outra coisa para hoje!
Sarah parecia realmente desapontada comigo e tive a impressão que uma sombra de raiva passou por seu olhar. Levantei as sobrancelhas em resposta, sem saber o que dizer. Nós havíamos marcado alguma coisa para hoje? Minha cabeça continuava dormindo o sono dos justos e eu não sabia o que dizer.- Megan Grey, você quer fazer o favor de me responder?
- Bom... Aonde é que a gente ia mesmo? – perguntei com voz sumida.
Sarah suspirou, irritada.
- Comprar os ingressos do show! Você nunca se lembra de nada?
- Ah! Claro... Vamos sim. – respondi. Minha mente havia acordado só um pouquinho... o suficiente para me lembrar do que ela estava falando
e retornando ao sono profundo logo em seguida.
- O que está havendo com você? De uns tempos pra cá está sempre assim, parece um zumbi! – minha amiga reclamou, chateada.
- Não tenho dormido bem...
- Ainda está com isso? Continua acordando de madrugada?
- No mesmo horário, religiosamente. Já estou até me acostumando, sabia?
- Falou com sua mãe? Você precisa ir ao médico, isso não é normal! – Sarah fez cara de quem ia continuar seu discurso sobre como a privação de sono faz mal a saúde, mas algo distraiu sua atenção e ela emendou outro assunto, esquecendo minhas noites insones.
– Olha lá a Britt! Gente, esta menina é maluca? – perguntou, sem esperar que eu realmente respondesse àquilo.
Acompanhei seu olhar e observei Britney por alguns segundos, sem qualquer interesse. E daí se ela se vestia de preto e usava aquela maquiagem estranha? E daí se ela achava que era legal ser gótica e andar vestida feito um morcego?
- Deixa ela. – respondi com um bocejo.
- Eu deixo, mas vai me dizer que isso não é esquisito?
Dei de ombros, com sono demais para conseguir argumentar.
- Oi gente! – exclamou Alice com um sorriso resplandecente e bochechas vermelhas. Tive a impressão que ela também havia surgido do nada.
- E aí, do que vocês estavam falando? – quis saber Alice.
- Eu estava dizendo pra Megan que acho a Britt maluca demais – Sarah parecia feliz em ter mais alguém que a ajudasse nesta conversa.
Alice esticou os olhos para Britney, avaliando a menina.
- Ela é gótica – comentou como se isso explicasse tudo. – Ou dark, ou algo assim.
- Nós vamos comprar os ingressos do show! Quer ir com a gente?
- Não sei, nem sei se vou ao show. Não gosto tanto assim do Red Kings of Dark Paradise, eles me dão medo embora, claro, eles sejam lindos!
- Os caras são demais, né? – Sarah estava extasiada outra vez. – E aquele vocalista? Gente, o que é aquilo! Ele é ma-ra-vi-lho-so!
Alice riu, concordando e então pareceu se lembrar que eu também estava ali.
- Não sabia que você curtia rock – ela disse, me olhando com simpatia.
Eu abri a boca para responder, mas graças a Deus, Sarah me cortou:
- Curte nada! A Megan vai só pra me fazer companhia.
Eu sorri, mas fiquei irritada. Como ela sabia disso? Claro que éramos amigas, mas Sarah não sabia tudo de mim! E se eu curtisse o Red Kings of Dark Paradise em segredo?
- Ainda não decidi – respondi com uma ponta de desafio na voz – talvez eu vá.
Sarah me olhou de relance com uma expressão esquisita, notando minha irritação
- Você precisa dar um jeito nessa sua insônia. – comentou com desagrado. – Seu humor está um lixo, sabia?
- Você está com insônia? – perguntou Alice.
Eu quis matar a Sarah naquele momento.
- Um pouco – respondi, olhando para meus pés.
- Minha madrasta também – comentou Alice com ar pensativo – Acorda no meio da madrugada e não dorme mais. Nem com remédio.
- É igual à Megan! – Sarah disse, empolgada.
- Faz tempo? – perguntou.
- Algumas semanas – menti, tentando não fazer aquilo parecer importante a ponto de virar o assunto do dia.
- Então é por isso que está com estas olheiras? – Alice me olhou com curiosidade e eu sinceramente quis esganar a Sarah. Mas fui salva deste momento embaraçoso pela chegada da paixão de minhas amigas, Paul Foster.
Ele estava um ano na nossa frente e era amigo do irmão de Sarah, mas sempre parava para conversar um pouco conosco. Eu sabia que Sarah tinha uma paixonite por ele, mas ela tinha uma paixonite por todos os garotos bonitos da escola, então isso não significava muita coisa. Alice, entretanto, gostava mesmo do menino e não havia uma única vez em que não incluísse Paul na conversa, qualquer que fosse o assunto.
- E aí, gente? – Paul sorriu para nós com simpatia.
- Você vai ao show? – perguntou Sarah.
Aquilo já estava me cansando, será que não tinha outro assunto no mundo que não fosse o show daquela banda idiota?
- Vou, até já comprei os ingressos! – ele estava tão animado quanto Sarah e imediatamente começou a falar sobre a banda como se aquilo fosse o grande acontecimento do universo. Alice olhou para os dois com o canto dos olhos.
Eu sorri para ela e decidi que aquele era um bom momento para baixar um pouco o fogo da Sarah.
- Alice também vai – informei com voz neutra.
- É mesmo, Lili? – ele era o único que a chamava de Lili - Que legal, podemos ir todos juntos! E você, Meg?
- Ainda não sei ... – respondi feliz por ver a cara de decepção da Sarah.
- Ah, vai também! Vai ser legal e depois podemos ir comer alguma coisa antes de voltar pra casa.
- Vou pensar – respondi sorrindo.
- Ih! Olha lá o Chuck! A gente se fala depois, meninas. – disse Paul correndo para encontrar o amigo.
Alice suspirou ao vê-lo partir.
- Ele é lindo – suspirou novamente – Olha aquele cabelo! Gente, que menino perfeito!
- Ele é bonito, sim – concordei. – E boa gente também. Vocês vão fazer um lindo par.
Sarah me fuzilou com os olhos e eu senti uma agradável sensação de vingança no peito. Quem sabe ela pensasse duas vezes antes de expor minha vida para os outros na próxima vez?
- Ele nem me nota – a voz de Alice parecia desalentada.
- Como não, “Lili”? – eu estava brincando com ela, mas o efeito foi outro.
- Você acha mesmo que ele sabe que eu existo? Que ele me vê assim?
- Quem sabe? – respondi, evitando o olhar de Sarah.
- Vamos entrar, está na hora – Sarah virou-se e nós a seguimos.
O sinal estridente do inicio das aulas soava e eu prenunciava longas horas pela frente, lutando para manter meus olhos abertos. Por mais irritada que estivesse com Sarah, sabia que ela tinha razão, eu devia procurar um médico para ver o que estava acontecendo comigo. Não era normal ter insônia daquele jeito, ainda mais pra mim, que sempre dormi mais que a cama. Mas ir ao médico significava contar à minha mãe o que estava havendo e passar por um interrogatório longo e repetitivo que de alguma forma iria incluir as palavras “sexo” e “drogas” várias vezes. Sinceramente? Preferia ficar sem dormir.
Como já estava se tornando rotina, eu cochilei nas duas primeiras aulas e acordei no meio da terceira com a professora de História ao meu lado e a classe toda gargalhando. Inferno!
- A noite foi feita para dormir sabia, senhorita Grey? – perguntou ela com ar sarcástico.
Eu suspirei e mantive a cabeça baixa.
- Desculpe – balbuciei com o rosto vermelho.
- Muito bem, agora que já está desperta, talvez possa responder à minha pergunta...
- Desculpe, eu não ouvi...
- Nós estamos falando sobre a Revolução Francesa e suas influências no movimento de independência dos Estados Unidos.
Olhei para ela com uma súplica no olhar e ela pareceu entender.
- Vá passar uma água no rosto, Megan e volte logo, certo? – sussurrou com olhar consternado e então pediu que Deborah Petterson respondesse à questão.
Eu saí da sala sentindo todos os olhos em mim e rezei para que Sarah mantivesse a boca fechada. Não queria que todo mundo soubesse que eu não estava dormindo direito.
Enquanto caminhava pelos corredores vazios em direção ao banheiro feminino, analisei pela milionésima vez as razões que motivavam minha insônia e pela milionésima vez não cheguei à conclusão nenhuma.
Aquilo havia começado do nada. Certa noite eu acordei às duas da manhã, levantei, abri a janela e sentei na cama, olhando para a rua vazia, como se esperasse algo ou alguém.
Fiz tudo isso sem me dar conta do que fazia como se estivesse hipnotizada ou em estado de sonambulismo. Só que eu via o que eu estava fazendo, eu só não sabia porque estava fazendo aquilo.
Desde então, todas as noites, o ritual se repetia, até começarem a surgir os primeiros raios de sol. Aí, eu fechava a janela, voltava para a cama e, obviamente, acordava poucas horas depois, com o despertador, cansada e abatida.
Já havia tentado deixar a janela aberta quando fosse dormir, mas isso não adiantou. Continuei acordando e sentando na cama, encarando a rua vazia. E embora não tivesse contado à ninguém, havia roubado umas pílulas para dormir do armário do meu pai, mas isso também não fez efeito e eu fiquei com medo de insistir e acabar me viciando naquilo. Durante as primeiras semanas, pesquisei na internet sobre insônia e suas causas, mas nada se aplicava ao meu caso. Eu era um caso anômalo, uma aberração na insônia. Eu ri deste pensamento, divertida. Era um caso raro na medicina, iriam fazer uma conferência sobre mim, iriam me pesquisar nas universidades e eu ficaria conhecida no mundo inteiro como “a garota que não dorme”. Talvez fosse parar no Discovery Chanel. Ou no Nat Geo.
Joguei uma grande quantidade de água gelada no rosto e fiquei encarando o espelho, analisando minhas olheiras, o ar cansado, aparência abatida. Não que eu fosse um exemplo de vigor e saúde antes de tudo começar, mas com certeza tinha uma aparência mais saudável, mais viva. Mostrei a língua para mim mesma e voltei para a aula, me condicionando a permanecer acordada.
“Não vou dormir, não vou dormir” – repetia mentalmente pelos corredores vazios e silenciosos, caminhando sem pressa com a cabeça baixa, tentando me concentrar em meu propósito.
Não sei se foi a falta de sono ou algum tipo de cansaço visual, mas naquele momento eu tive a nítida impressão de ver um homem alto, de cabelos claros presos em uma trança grossa e longa, vestindo um sobretudo preto me olhando fixamente.
O susto foi enorme. Meu coração acelerou, minhas pernas bambearam e eu achei que fosse desmaiar, mas de repente, a figura sumiu. “Que beleza, Megan” – suspirei - “Agora deu pra ver coisas também. A garota louca que não dorme” – pensei, modificando um pouco o nome do documentário que seria feito sobre mim.
As aulas passaram normalmente e eu consegui não dormir em nenhuma delas, embora não conseguisse dizer sobre o que eram. Eu sei que escrevi o que devia escrever e respondi o que devia responder, mas minha atenção não estava na sala de aula e sim estava na figura misteriosa que imginava ter visto e no esforço que fazia para empurrar aquela visão para fora da minha mente. Não era nada afinal, apenas uma impressão. Nada que fizesse o dia especial, nada que fosse me arrancar da chatice de uma longa fila de ingressos,. “Isso”! – uma voz soou dentro de mim – “pense nos ingressos e esqueça tudo o mais”. Tentei fixar meu pensamento no Red e no que eu sabia sobre eles. Comecei a fazer a lista mentalmente:
1. Seis integrantes
2. Som é uma mistura de metal pesado com hard e uns toque de melódico.
3. Ótimos solos de guitarra e bateria.
4. Todos lindos. Ao menos na opinião da Sarah, eu não me lembrava de nenhum deles.
5. Banda nova, tinha aparecido fazia pouco tempo e já era a segunda em vendagem de cd. Fãs alucinados e fanáticos.
6. O logotipo da banda era uma bandeira vermelha, com um rosto de pantera em primeiro plano e quatro panteras ao fundo. A primeira pantera estava de boca aberta e os longos caninos afiados pareciam prontos para morder o primeiro que ousasse desafiá-los. Podia não ser muito bonito, mas a arte era impressionantemente bem feita. E eu podia dizer isso, já que panteras eram minha paixão. Tinha um pôster enorme de uma pantera negra de olhos azuis cristalinos em cima da minha cama, que me fazia companhia nas longas horas de insônia.
- O que mais, o que mais? – vasculhei minha mente em busca detalhes, mas não havia nenhum. Então tentei me esforçar para lembrar os rostos dos integrantes, mas foi impossível. De qualquer forma o exercício serviu à sua finalidade e eu desviara minha atenção da visão no corredor.
Notei, durante a aula de Inglês, que Sarah me observava com atenção e sorri imaginando o que ela diria se soubesse o que eu estava pensando. Eu não ia dar este gostinho a ela. Não. Meus delírios eram apenas meus, assim como minha insônia era apenas minha.
Na hora do almoço, enquanto eu olhava para a maçã em minhas mãos, decidindo se valia a pena mordê-la, o assunto variou entre a beleza de Paul, a esquisitice de Britt e sua turma, meu flagra na aula de História e o show do Red Kings.
Não apenas Sarah, mas um muitos alunos estavam empolgados com isso. Alice sorriu para mim, parecendo tão cheia quanto eu daquele falatório todo e nós duas começamos a conversar, ignorando a histeria geral.
- Você vai com a gente comprar os ingressos? – perguntei com um suspiro cansado.
- Acho que sim. Não quero perder a oportunidade de ir ao show, se o Paul vai estar lá.
- Você gosta mesmo dele...
- É, gosto sim – ela tinha um olhar sonhador. – Mas sei que minhas chances são poucas.
- Por que ele é mais velho?
- Não. Porque não sou como as outras meninas, você sabe, não fico pulando no pescoço dele e tudo mais. – a voz dela era pensativa como se falasse mais para si mesma do que pra mim. – Talvez se eu fosse mais atirada, ou mais bonita...
- Não acho que gostar tem a ver com beleza. Se fosse assim o que seria das feias? E você é linda, Alice. Tem o sorriso mais encantador que eu já vi.
- É...mas um pouco mais de peito não me faria mal – observou.
Eu ri e concordei com a cabeça.
- E você? Gosta de alguém? – Alice tinha um jeito suave de perguntar as coisas. Era fácil falar com ela. Não havia qualquer traço de interesse fofoqueiro em sua voz, ela apenas perguntava com delicadeza natural.
Eu neguei com a cabeça, fazendo um biquinho torto.
- Mas já gostou?
- Bom, quando eu tinha sete anos eu gostava de um menino da minha sala, isso conta? – perguntei rindo.
- Acho que não – ela disse divertida. - Esse negócio de gostar é esquisito, acontece sem que a gente queira. Quando você vê, já está gostando. Mas também não é uma lei ou algo assim. Não tem que gostar de alguém e vai ver ainda não chegou o garoto que vai fazer você se apaixonar.
Eu sorri, mas não quis esticar o assunto. Não quis dizer que achava que eu era à prova de amor, que não me via gostando de um menino, nem pensando em alguém o dia todo e muito menos tendo um momento romântico com alguém. Não parecia certo pra mim, mas eu não sabia explicar o porquê. Simplesmente não me encaixava nisso.
- Pelo menos você não é como certas pessoas que ficam gostando de todo mundo...
Eu sabia que Alice estava falando da Sarah e ri do comentário.
- Acho que se isso algum dia acontecer comigo – observei pensativa – vai ser pra sempre. Não me vejo pulando de namorado o tempo todo.
- Muito romântica – ela sorria seu sorriso luminoso e isso me fez bem.
- Não sou, não! Por isso acho que se me apaixonar vai ser pra valer, porque não faço o gênero Romeu e Julieta. Aliás, acho esta história um saco. Com todo respeito ao autor, é claro.
- Será mesmo? Acho que só não conheceu a pessoa certa.
- Nem sei se acredito em pessoa certa – disse com ar de dúvida. – Acho que o amor é um acaso inconsciente, sei lá. Uma coisa randômica.
- Então não acredita em almas gêmeas, amor à primeira vista, coisa predestinada?
Fiz uma careta pra ela e ri.
- Eu acredito! – disse Sarah, metendo-se na conversa.
Imaginei há quanto tempo ela estava ouvindo. Por alguma razão eu estava implicando com Sarah aquela manhã e isso não era justo. Ela era minha amiga mais antiga e eu estava rabugenta demais. Sabia disso, mas simplesmente não conseguia evitar. Respirei fundo para melhorar meu humor e levantei a cabeça em direção às janelas do refeitório.
E então eu o vi. Desta vez não era uma impressão. Ele estava parado me olhando e eu pude vê-lo com nitidez. Era muito alto e forte, tinha olhos de cor indefinida, cabelos entre o loiro e o ruivo, grossos e brilhantes, presos em uma longa trança que caía até a cintura. Lentamente ele sorriu e levou o indicador até os lábios, pedindo silêncio.
Meu coração disparou e minhas mãos começaram a suar frio. A adrenalina corria solta em meu sangue, meu corpo tremia incontrolavelmente e eu senti meus olhos congelarem, arregalados. Eu não respirava. Todos os sintomas de pavor estavam presentes, mas eu não estava com medo, como se meu corpo reagisse de um jeito e minha mente de outra.
Quem era aquele homem? Era de verdade, era uma alucinação, um fantasma, um demônio? Por alguma estranha razão pensei que ele estava aparecendo para a pessoa errada, quem deveria vê-lo era Britt e não eu. Tudo isso não durou um segundo, acho.
- Megan! O que foi? – Sarah agarrou meu pulso e o largou imediatamente como se tivesse levado um choque.
Eu estava congelada, catatônica. “Pisque!” – ordenei a mim mesma, evitando tornar aquilo pior do que já era. Demorei o que me pareceu uma eternidade para consegui descer e subi as pálpebras e respirar novamente.
- Meu Deus, Megan, o que aconteceu? – Sarah estava assustada.
Eu tentei balbuciar alguma coisa, mas não consegui encontrar nada para dizer.
- Falta de sono – Alice me salvou com apenas três palavras. Nunca me senti tão agradecida a alguém como naquele momento.
- Foi isso mesmo, Meg? – A preocupação de Sarah era evidente.
Eu assenti com a cabeça e olhei de relance para Alice. Ela também parecia preocupada, mais do que suas palavras diziam.
- Eu estou bem – murmurei envergonhada. Não ousava erguer os olhos para nossos colegas de mesa, mas logo percebi que nenhum deles notara meu momento, entretidos que estavam com as fofocas habituais.
- Talvez seja melhor você ir para casa – Sarah não desgrudava os olhos de mim – Quer que peça para chamar sua mãe?
- Não! – A voz saiu mais alta do que eu pretendia e vários pares de olhos se voltaram para mim naquele instante – Não precisa, eu estou bem, juro! – eu estava quase suplicando.
Sarah suspirou ruidosamente.
- Mas você vai prometer que vai dormir cedo hoje.
- Eu prometo. Assim que voltarmos da loja, eu vou dormir. Mesmo!
- É melhor você ir direto para casa – observou Alice – eu compro seu ingresso caso você queira.
- Eu estou bem, não foi nada.
- Você está branca feito um fantasma! – Sarah ainda me olhava com preocupação e aquilo me incomodava mais que tudo, mas não deixava de ser engraçado. Eu, feito um fantasma. E se ela soubesse?
- Eu estou bem e depois eu quero ir com vocês – insisti.
- Ok, mas vou ficar colada em você até o final das aulas.
- Ta legal, Sarah, mas eu juro que estou bem, já passou, foi só falta de sono como disse a Alice.
Não foi fácil, mas consegui convencer as duas de que eu estava bem e a mim mesma de que aquilo não era nada, apenas privação de sono. Durante o resto das aulas mantive minha cabeça concentrada na matéria, não me permitindo qualquer pensamento que não fosse sobre o assunto em questão.
Quando saímos da escola demos de cara com Paul e Greg, o irmão mais velho de Sarah, que esperavam no estacionamento para nos dar carona.
- Nós vamos comprar os ingressos do show. – avisou Sarah.
Então, virando-se para mim ela perguntou em voz mais baixa:
- Tem certeza?
- Absoluta – respondi com firmeza.
Quinze minutos depois me arrependi profundamente de não ter pegado a deixa e ido direto pra casa. A fila para os ingressos ocupava certa de três quarteirões e o dia não estava lá muito convidativo para se ficar fora de um lugar quente e abrigado. Cinza e pesado, com chuva fina e vento gelado, pedia um sofá e um filme, um chá ou um chocolate, não uma fila quilométrica cheia de fãs alucinados vestidos como seus ídolos.
Alice me mandou um olhar enviesado, cheio de duvidas, mas então já era tarde. Greg nos despejou ali, nos deixando incumbidas de comprar o ingressos para ele e saiu em disparada.
Tédio, tédio e tédio. E frio, muito frio. A fila andava lentamente e depois de meia hora parecia que não tínhamos saído do lugar, embora houvesse, então, pelo menos mais umas cinqüenta pessoas atrás de nós.
Nem mesmo Sarah, que parecia uma matraca, tinha mais assunto. Alice me olhava às vezes e eu podia ver que ela estava tão aborrecida quanto eu, mas havia mais em seu olhar. Ela estava me vigiando, temendo que a cena daquela manhã se repetisse.
Eu suspirei e comecei a divagar. Pensei nas lições que tinha fazer e depois em que livro iria ler esta noite, durante e madrugada. Achei que seria bom comprar um cd da banda, já que ia ao show, ao menos para conhecer melhor as musicas, uma vez que não sabia nenhuma. Depois pensei que tinha prometido a Fred – meu irmão mais novo – que iria ajudá-lo com seu trabalho de Ciências e que precisava pregar um botão em minha blusa azul. Por fim, nem eu tinha mais no que pensar e minha cabeça aproveitou a brecha para tirar uma soneca.
Tédio, tédio, tédio.
Quando me pareceu que iria dormir em pé na fila, fui arrancada de meu estado catatônica por uma gritaria assustadora e desconexa. Olhei para Alice, confusa. O que havia acontecido?
- São eles! – Sarah estava histérica. – Olha, OLHA!
Eu virei lentamente a cabeça na direção que ela estava apontando e vi uma fila de carros pretos parados do outro lado da rua e vários seguranças postados em torno dos automóveis com expressões que desencorajariam qualquer fã que pensasse em se aproximar. Mas como todo mundo sabe, é preciso muito mais do que uma cara feia para impedir que alguém se aproxime de seus ídolos e a bagunça começou.
Gritos e empurrões, gente tirando foto e gravando a cena pelo celular, choro, histeria. Sarah correu em direção aos carros e eu e Alice nos olhamos, perguntando uma à outra o que fazer.
- A fila está vazia – comentei – Você quer ir lá ou vamos comprar os ingressos?
- Ingressos, definitivamente – ela disse, tão assustada quanto eu.
Corremos em direção à loja, sem perceber que os carros estavam se movimentando novamente e junto com eles a multidão alucinada. Nós entramos o mais rápido que conseguimos e compramos os ingressos e o meu cd. O tumulto começou a ficar mais alto e Alice me puxou para perto dela, me obrigando a olhar para a porta. Os seguranças haviam feito um corredor para os músicos entrarem, provavelmente para autografar os CDs e DVDs da banda. Não foi preciso trocarmos uma palavra sequer, nós duas pensamos a mesma coisa. Disparamos para o lado contrário, nos enfiando entre os corredores de discos, o mais longe possível da entrada da loja e acabamos ficando de costas para os músicos.
O gerente da loja, prevendo que aquela confusão não acabaria bem mandou abrir uma porta lateral e nós escapulimos por ela antes mesmo da banda entrar.
- E a Sarah? – perguntei atordoada quando nos afastamos o suficiente para me sentir segura.
- Deve estar lá dentro. Eu não a vi, você viu?
Eu fiz que não com a cabeça. Estava me sentia péssima e toda aquela confusão só piorava meu estado. Meu corpo estava mole, drenado e minha cabeça parecia o deserto do Saara, uma imensidão vazia e distante, sem qualquer sinal de vida. O que estava havendo comigo, afinal?
- Vá pra casa, Megan, eu espero a Sarah. Você consegue ir sozinha?
Eu concordei sem pestanejar. Sabia que ia cair dura no chão a qualquer momento e não queria que isso acontecesse ali. Já havia dado vexames demais para um dia só.
Sinceramente, não lembro como cheguei em casa, mas acho que havia um ônibus envolvido no processo. A chuva havia engrossado, eu estava molhada e dura de frio, a cabeça vazia, o corpo exausto. Caí na cama e dormi em seguida, ou talvez já estivesse dormindo pelo caminho, não sei dizer. Só sei que mais pontual que um carrilhão inglês, eu acordei às duas da madrugada, zonza, sem saber onde eu estava e como havia chegado ali.
Demorei longos minutos para reconhecer a luz do relógio e outros tantos para me localizar. Minhas roupas estavam secas e meu cabelo parecia um ninho mal construído por um pássaro apressado. Acendi a luz do abajur e pisquei algumas vezes. Havia uma bandeja ao meu lado, com chá frio e dois sanduíches de queijo. Olhei para ela com ternura, imaginando quem a havia deixado lá. Pai, mãe, quem? Por alguma razão meus olhos se encheram de lágrimas e desejei ter cinco anos de novo, para poder me afundar no colo da minha mãe e chorar. Uma angustia profunda e uma dor sem fim se apoderaram do meu peito. Dor de perda, de morte, de solidão. O estranho é que eu parecia conhecer aquilo, não era novidade pra mim. A novidade era a revelação da dor, porque ela sempre estivera ali, escondida, calada, sufocada. A sensação de que alguma coisa estava faltando, de que eu jamais seria completa. E por alguma estranha razão a dor estava escolhendo aquele momento para se revelar por inteiro e eu caí no choro sem dó nem piedade. Depois de algum tempo, não sei dizer quanto, adormeci novamente, vagando num mundo de sonhos confusos, escuros e gastos como as sombras de um passado desbotado.
O misterioso homem de cabelo trançado estava lá e ele corria desesperado, tentando salvar alguém, sem conseguir. Eu podia sentir o desespero dele e eu lhe pedia que se acalmasse, que tudo ficaria bem, mas ele não me ouvia. E novamente sombras tempestuosas caíram sobre as imagens e finalmente eu afundei na névoa densa, vazia e estéril de um sono sem sonhos.
Continuação - Do diário de de Bill Stone
Não devíamos estar ali, mas eu não conseguia impedir minha alma de me forçar a seguir meus instintos. Eu simplesmente tinha que rodar por Red Leaves, eu sabia que daquela vez não estava errado. Eu sentia que era a coisa certa a fazer, porém convencer os outros não foi fácil. Já havia sido uma batalha fazê-los aceitar incluir um show extra na turnê, principalmente em uma cidadezinha enfiada no meio do mato, quase na divina do Canadá, agora eu queria rodar pelas ruas, olhá-las, senti-las, procurar algo que nem eu mesmo sabia bem o que era.
Quando pedi à Tray que virasse em determinada rua, eu a senti. Ela estava por ali em algum lugar, cada célula do meu corpo dizia isso, gritava isso. Vimos a fila na calçada e nos sentimos tocados com aquilo. Chovia e fazia frio, o dia estava imprestável e, no entanto, aquelas pessoas enfrentavam tudo apenas para conseguir um ingresso para nos ouvir tocar e isso foi algo que nos honrou de tal forma que as reclamações sobre fazer uma apresentação no “fim do mundo”, como dizia Pops, passaram para segundo plano. Eles eram fãs e nós os ídolos deles, pouco importava se estavam em Nova York ou ali em Red Leaves, nós devíamos isso a eles.
Tray dirigia muito lentamente, todos nós de olhos colados na fila sentindo a inversão dos papéis; naquele momento todas as pessoas da fila eram nossos ídolos e nós seus fãs mais ardorosos.
De repente eu senti um formigamento insuportável me percorrer e meu corpo tremeu incontrolavelmente a ponto de Pops me olhar com olhos preocupados.
- Pare – disse a Tray. – Nós vamos entrar nesta loja.
- Você ficou louco? Vamos criar um tumulto aqui!
Pops estava certa é claro, o tumulto seria inevitável, mas não seria o primeiro e nem o último que causávamos e eu tinha ótimas razões para fazer o que fazia.
Tray olhou-me pelo retrovisor e ao ver meu estado, ele soube.

Bill

***

Adorei mesmo, e agora mais ainda por saber que ela é brasileira! Eu recomendo!

Um comentário:

  1. Oi! Estava aqui pesquisando sobre o livro e encontrei seu blog. Obrigada pelos elogios, legal demais ler isso!
    Se quiser saber mais sobre o universo do livro, acesse: www.crepusculo-vermelho.blogspot.com
    e sobre meus outros livros:
    www.lauraelias.blogspot.com

    Beijão!

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