sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Um Certo Orgulho e Preconceito

Capítulos 20 a 25
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Capítulo 21
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Lizzy encostou-se na parede do corredor, suspirando. Darcy demorou apenas alguns minutos para retornar, mas para ela, estes se assemelharam a horas. O tempo custava a passar, e a espera parecia eterna. Ela estava nervosa e imensamente agitada. Sentia que o coração estava prestes a escapar, tal era a velocidade das batidas.
- Lizzy! – ele enfim chegou, tirando-a de seu devaneio. E sem demora, trouxe-a para perto, e falou, fitando-a com intensidade:
- Lizzy! Não posso mais esperar!
E puxou-a para beijá-la ali mesmo, no meio do corredor.
Assustada, ela olhou para os lados, ouvindo vozes oriundas do salão, e impediu o contato:
- Não! Aqui não! Você está louco?
- Sim, Lizzy! Estou louco por você!
Ela sorriu, realizada, e prosseguiu:
- Vamos lá para cima! – com um sorriso nos lábios e um olhar provocante.
E subiram as escadas, ansiosos, em direção à sala onde antes estavam Georgiana e George.
Pelo caminho, ele já não conseguia se controlar e era difícil manter-se afastado do corpo de Lizzy, que ele tanto desejava. Ela ia na frente, e ele a seguia, agarrando-a pela cintura, enquanto beijava seu pescoço.
Lizzy gemia baixinho, enquanto tentava se concentrar para subir os degraus.
Entraram, fechando a porta.
- Já foram todos embora? – ela indagou.
- Não – ele respondeu num sussurro, enquanto mordiscava sua orelha - Mas eu cansei de esperar. E Charles está lá, tomando conta.
E então com um movimento rápido, virou-a e beijou sua boca. Lizzy só teve tempo de contemplar seus lindos olhos azuis antes de se perder por completo.
O desejo que sentiam um pelo outro era imenso, e esse beijo transmitia tudo o que haviam reprimido. As bocas sugavam-se com vontade, as línguas procuravam-se e exploravam-se com desespero.
Darcy a segurava pelo pescoço com firmeza, enquanto Lizzy mantinha os braços ao redor de sua cintura, apertando-o, querendo senti-lo junto de si.
Ela colocou a mão em seu peito, querendo tocar em sua pele, e sentir seus músculos bem definidos. Mas o terno e a gravata barraram seu caminho.
- Tire isso – ela resmungou.
Ele riu, e fez o que ela pedia, com uma cara de sacana.
Juntos, tiraram seu casaco e jogaram para longe.
- E a gravata também – ela pediu.
- Você que manda – ele replicou, entre beijos e sorrisos.
Lizzy invadia seu peito por debaixo da camisa branca, entrando no meio dos botões.
Ele, louco de desejo, apertou-a ainda mais, baixando a mão do pescoço para as costas nuas de Lizzy. Senti-lo tocando em sua pele, a arrepiava intensamente e a fazia sentir um turbilhão de emoções. Sensações estas já vivenciadas anteriormente - mas apenas com ele.
O vestido dela era frente única, preso ao pescoço com um laço.
Darcy, com sofreguidão, percorria a pele descoberta do dorso de Lizzy, por hora deslizando o polegar por debaixo do tecido, procurando por seu seio, mas ele não conseguia tê-lo como ansiava.
E num arrebatamento, ele desatou o nó, quase rasgando o tecido com sua urgência, deixando enfim descoberto seu objeto de desejo.
- Lizzy, havia me esquecido do quanto você é linda. Você é maravilhosa – Ele exclamou, olhando com admiração a parte exposta do corpo dela.
Ela abriu os olhos e o fitou por alguns segundos, fechando-os em seguida, entregando seus lábios para mais um ardente beijo.
A respiração estava ofegante, e ambos estavam completamente entregues um ao outro.
Darcy mordiscava e lambia um dos seios, enquanto acariciava o outro, e assim ia revezando. Ela gemia a cada toque.
Ele tirou sua camisa, e a agarrou com avidez, ambos nus da cintura para cima. Sentindo, finalmente, o contato do corpo um do outro, o roçar de suas peles.
- Lizzy! Não agüento mais... – ele murmurou - não posso esperar muito mais tempo.... Preciso de você! Preciso tanto que chega a doer!
Ela o encarou com um sorriso leve. Ela também o queria. Queria-o com desespero. E fez com que ele lesse isso em seu olhar.
Ele então puxou o vestido para baixo, fazendo-o cair sob os pés de Lizzy. Ela ficou apenas de calcinha, e Darcy aproveitou para explorar as curvas de suas coxas, afagando mais demoradamente e apertando com uma necessidade incontida, as suas nádegas.
Lizzy também colocava as mãos abaixo da cintura de Darcy, comprimindo com vontade seu gostoso e maravilhoso traseiro.
Lizzy sussurrou em seu ouvido, enquanto beijava e mordiscava sua orelha:
- Isso não é justo! – ela resmungou, enquanto deixava claro o que consistia sua reclamação.
Ela então lhe ajudou a tirar as calças. E enquanto desafivelava seu cinto, aproveitou para lhe passar discretamente a mão.
Ele percebeu seu interesse, e sorriu de maneira maliciosa. E assim que atirou as calças para longe, ficando somente de cuecas, pegou a mão de Lizzy e a colocou onde ela mais queria, mas não tinha tido coragem.
- Sou todo seu, Lizzy. Pode abusar de mim como quiser. – ele falou, sorrindo provocante, enquanto buscava também o contado com ela, sob a calcinha.
Ela estremeceu de desejo com tal toque, contraindo as pernas.
Num ímpeto, ele arrancou a última peça de roupa dela, deixando-a completamente despida e exposta.
E com um movimento rápido, levantou umas das pernas de Lizzy, dobrando-a e a trouxe para junto de seu corpo. Desta forma, simularam um encaixe perfeito, e Lizzy pode sentir todo volume do desejo de Darcy sob a cueca.
- Oh! – ela se assustou por alguns segundos, ao perceber o que lhe esperava.
Ele sorriu, compreendendo seu receio.
- Não se preocupe, Lizzy. Eu sei o que estou fazendo, e prometo não te machucar.
As palavras ditas por ela em certa ocasião - a confissão de sua única e malfadada experiência amorosa - ainda estavam claras em sua mente:
“Como pode perceber, sou praticamente uma virgem.”
E ele, apesar da urgência crescente que sentia, apesar de todo desejo latente, estava disposto a ser extremante atencioso e delicado com ela. Ele a amava. E ansiava que tal acontecimento desse a ela tanto prazer, como certamente daria a ele.
Ela deu um leve sorriso em resposta e assentiu. Estava pronta para ser – finalmente- dele.
*
Os dois deitaram no sofá, completamente satisfeitos e felizes. Lizzy estava sobre o peito de Darcy, sorrindo.
Ela costumava temer, ao mesmo tempo em que ansiava, por este momento. Mas superando todas suas expectativas, tudo havia saído perfeito. O modo como ele conduzira a situação, - totalmente amoroso e preocupado com ela - demonstrando ser um amante experiente, fez com que o prazer logo ultrapassasse toda sua dor inicial.
- Obrigada – ela murmurou – foi maravilhoso.
Ele a abraçou, trazendo-a para perto, e beijando seus lábios com suavidade.
- Sim. Também achei. Mas estava louco por você, Lizzy. Não consegui me conter muito tempo. E daqui a pouco, prometo que farei melhor.
- Daqui a pouco? – ela inquiriu, com um brilho no olhar.
- Sim. Apenas me dê alguns minutos, que em breve estarei recuperado.
Ela sorriu. Agora estava completamente relaxada. Ela era dele – de corpo e alma. Ficaram um tempo em silêncio, de olhos fechado, curtindo o momento.
- Lizzy... – ele perguntou – Não posso me conter, estou muito curioso. O que houve entre você e Caroline?
- Eu também estou muito curiosa para saber o que houve entre você e Caroline – ela replicou, com um leve sorriso.
- Ah... Nós conversamos... Mas devo te dizer que não foi nada agradável... – fez uma pausa – e eu não gostaria de falar sobre esse assunto agora.
- Eu também não gostaria de falar sobre isso. – ela retrucou.
- Hum... Mas vocês ficaram amigas? – ele insistiu, arqueando um pouco as sobrancelhas.
- Amigas? Não! Não posso dizer que ficamos amigas, apenas que nos entendemos. Primeiro ela queria me matar e avançou sobre mim – ela parou, rindo da reação que tais palavras provocaram nele – Mas depois, acho que, de certo modo, fizemos as pazes. Eu a ajudei, e ela até me fez algumas confissões...
- É? Sobre o que? – ele inquiriu, espantado.
- Sobre o dia que vocês ficaram juntos pela primeira vez, por exemplo... – ela comentou, levemente apreensiva. Não sabia se devia ou não falar.
- Sim! Que foi tudo uma armação dela! Ela também me contou hoje e eu fiquei furioso! Creio que até fui grosseiro demais com ela. – ele exclamou, levemente exaltado.
- Imagino!
- E eu caí completamente em sua armadilha! Não sabe a raiva que eu fiquei dela e de mim mesmo! Como me amaldiçoou por ter passado este ano junto com ela!
Ficaram calado, pensativos.
- William... – ela murmurou, suplicando sua atenção
- Ah... agora você está me chamando de William? – ele a fitou, com alegria.
- Acho que é a convivência com a Georgiana. – ela sorriu.
- Eu gosto, Lizzy. – ele exclamou, satisfeito – e me agrada muito também ver a tua relação com minha irmã. – falou, acariciando seus cabelos.
- Ah.... Eu adoro a tua irmã – ela acrescentou, olhando em seus olhos.
Ele sorriu, e aproximou-se para beijá-la, mas ela – delicadamente- barrou tal contato.
- Só mais uma dúvida... algo que eu não consigo compreender...
- O quê foi? – indagou, curioso.
- Se ela fez tudo isso... se armou tanto só para ficar contigo, e vocês passaram um ano juntos, namorando... tem uma coisa que eu simplesmente não entendo...
Fez uma pausa, enquanto ele a encarava com atenção.
– Como foi que ela não.... – ela balbuciava, tentando encontrar as palavras certas – Como foi que ela não tentou engravidar? Tipo, seria o golpe perfeito para ela te segurar....
Ele deu uma sonora gargalhada.
- E você acha que eu não sei disso? Nunca, em nenhuma só vez, me descuidei com ela. Nunca fiz nada com ela sem proteção.
- Oh! – Assombrada, levou a mão à boca.
- Sei o que você está pensando, Lizzy. Com você eu esqueci. – ele sorriu – Mas contigo é diferente. Eu gosto de ti, Lizzy. E eu confio em ti. – ele concluiu.
Mas tais palavras tiveram o efeito contrário do desejado. Lizzy, ao invés de ficar feliz com tal revelação, sentiu como se levasse um chute na boca do estômago. Ele confiava nela: mas ela não tomava pílula e não contava com nenhum outro tipo de proteção. E se ela ficasse grávida, como seria? Mas agora era tarde. Teria que deixar tudo nas mãos do destino, mas este por vezes se mostrava um tanto cruel e irônico. E enquanto se concentrava, fazendo contas, tentando lembrar do seu ciclo menstrual, ele a beijou, tirando-a de seu transe e fazendo com que ela se esquecesse de todo resto.
Ele estava pronto para ser dela mais uma vez.
*
- Lizzy? – ele a chamou baixinho.
- Hum....? – ela respondeu, sem abrir os olhos.
- Foi muito bom, não é? Quer dizer... foi bom para você como foi para mim?
- Hum rum....– ela assentiu, preguiçosa, sem esboçar nenhum movimento.
Ele a abraçou, colocando a cabeça dela sobre seu peito, beijando sua testa com delicadeza.
- Me sinto meio tolo, Lizzy....
- Hum? Por quê? – ela abriu os olhos lentamente e fitou-o, curiosa.
- Porque sinto que perdemos tempo. Eu gostei de você desde o primeiro momento em que a vi.
- É? – ela deu um leve sorriso – Eu confesso que não. Admito que fiquei morrendo de raiva de ti quando te conheci.
- É, eu sei. – ele sorriu – mas não estou falando deste dia, Lizzy. Estou falando da primeira vez em que EU te vi. – deu ênfase no eu.
- Hã....? – ela indagou, espantada – Mas a primeira vez que nos vimos não foi quando eu tive que te arrumar um quarto?
Ele negou com a cabeça, com uma expressão divertida no rosto.
- Mas...
- Na primeira vez em que eu te vi, você sequer me olhou.
- Oh! – ela ficou boquiaberta ao recordar – Eu esbarrei contigo em Porto Alegre! No corredor, quando me dirigia para a sala da Sra. Austen! – arqueou as sobrancelhas, envergonhada - Mas eu não olhei para trás, estava tão apressada!
- É! Eu percebi! – ele sorriu – Mas eu reparei em você! E levei um susto quando a reencontrei naquela noite, trabalhando na recepção.
Ficaram em silêncio por alguns segundos, refletindo.
- Sabe? Quando te reconheci, fiquei sem ação. E acho que não fui muito simpático contigo... – ele continuou.
- Não. Nem um pouquinho – ela sorriu.
- Pois é, como já te disse em outra ocasião, não tenho o talento que muita gente possui de dirigir facilmente a palavra a pessoas que desconheço... e naquela noite, eu confesso, fiquei particularmente desconcertado. – pausa - Mas adorei o modo como que você conduziu a situação, Lizzy. E adorei especialmente perceber que fui colocado no quarto ao lado do teu.
Ela sorriu, passando a mão em seus cabelos.
- Eu te adoro, sabia? – ela disse, e deu um beijo leve em seus lábios.
Ele assentiu em silêncio, enquanto aprofundava o beijo.
- Posso passar a noite toda te beijando sem me cansar, Lizzy. Aliás, posso passar o resto da vida te beijando sem me cansar.
- Hum... – ela respondeu, realizada, mas sem interromper o beijo.
E as carícias foram se tornando mais intensas.
Desta vez, já conheciam melhor um ao outro, e esta intimidade permitia que ousassem mais. Queriam se descobrir e se conhecer por inteiro. Um pertencia completamente ao outro. Era como se fossem uma única pessoa.
Deitaram novamente, agora completamente saciados. Os dois, sonolentos, se acomodavam como podiam no sofá apertado. Mas não se importavam com isso.
- Que horas são? – ela perguntou, disfarçando um bocejo.
- Ah.... acho que já devem ser quase cinco horas.
- Cinco horas? – questionou assombrada.
- Deixa eu ver... – levantou, para ver no relógio – São cinco e vinte, na realidade – respondeu, sorrindo, com os olhos azuis brilhantes.
- Nossa! Amanhã queria chegar cedo na casa dos meus tios... Meus pais chegarão e eu irei almoçar lá.
- Ah... que pena... Eu pretendia passar o dia todo contigo.
- É, mas eu não posso... Aliás, acho que eu devia ir embora agora, para dormir um pouco....
-Não Lizzy, fique aqui comigo. A gente dorme um pouco agora, eu prometo que te deixo dormir. – falou, acariciando seus cabelos.
Ela riu, acomodando-se em seus braços.
- Mas dormir aqui? Vamos acordar com uma baita dor nas costas.
- Nada que uma boa massagem amanhã não resolva – ele sorriu, malicioso.
- Bobo! – ela replicou, rindo.
Ele apertou mais o abraço.
- Não adianta nem tentar, que eu não te deixarei ir.
- E se alguém tentar entrar aqui?
- Ninguém vai entrar aqui, Lizzy. Essa sala é minha. Aliás, esse prédio todo é meu.
Ela achou graça. Às vezes esquecia que ele era tão rico.
Depois de alguns minutos tentando adormecer, acomodados da melhor forma um ao corpo do outro, ela quebrou o silêncio:
- William? – chamou baixinho.
- Hum...? O que foi, querida?
Ela deu um sorriso leve. Adorou ser chamada de querida.
- Você quer conversar? Eu não estou conseguindo dormir...
- Sim, pode falar. Estou ouvindo... – abriu os olhos e a fitou.
- Tenho algumas dúvidas sobre o hotel, que eu gostaria de saber...
Ele sorriu. Percebê-la quase adormecida e entregue nos seus braços, fazia com que ele se sentisse extremamente feliz.
- Porque hotéis no Brasil, na Inglaterra e na França? Porque só nestes países? Acho tão estranho... – ela prosseguiu.
- Sim, de fato é estranho. E todo mundo me pergunta a respeito. – ele riu.
- Hum? – ela reforçou sua duvida.
- Minha mãe era inglesa, não sabia?
Ela negou em silêncio, acomodando melhor o corpo para lhe encarar com atenção.
- Os primeiros hotéis da nossa rede pertenciam ao meu avô, pai da minha mãe. Meu pai era brasileiro e conheceu minha mãe numa viagem turística a Europa. Eles se encantaram um com outro e logo se casaram. Meu pai era de uma família rica, e fez esta viagem a fim de refletir e definir que profissão gostaria de seguir. Era muito novo, e tinha recém concluído o colégio. Então morou um tempo em Londres, auxiliando a administrar os hotéis do sogro, e tomou gosto pela coisa. Mas depois de três anos morando na Europa, minha avó paterna adoeceu, e foi solicitado que ele retornasse para ficar com a família.
- Que doença ela teve? – ela inquiriu.
- Câncer. Que não respondeu de forma alguma ao tratamento, e ela foi definhando ao longo de dois anos.
-Ah.....Coitadinha!
- Sim. Soube que foi uma situação bem triste. Mas meu pai nunca quis entrar em detalhes sobre isso... – fez uma pausa.
Lizzy fez um carinho em sua mão e o fitou, pedindo que ele continuasse.
- Então eles voltaram ao Brasil, há trinta anos atrás, e minha mãe adorou o país. E mesmo depois da morte dos meus avós, eles nunca mais tiveram a intenção de voltar. Minha mãe demorou muito para engravidar, e quando enfim ocorreu, foi aqui no Brasil. E acho que isso a fez se apegar ainda mais ao país. Ela sempre dizia que a alma dela era brasileira. E então eu nasci.
- Que bom – ela sorriu - E os hotéis? – ela perguntou, interessada na história.
- Ah, sim... Assim que eles vieram, meu pai pesquisou os locais, e em poucos meses iniciou a construções de três sedes ao mesmo tempo. Ele trabalhava sem parar. Quando criança, eu o via muito pouco. Depois, com o passar dos anos, Jorge Bingley, que era muito amigo de meu pai, entrou como sócio, investindo em algumas sedes. Inclusive, o nome de minha irmã, foi uma homenagem a ele.
- Ele deve ser legal então. – lembrou, satisfeita, que sua irmã Jane tivera sorte.
- Sim. Uma pessoa muito boa. Ele e meu pai nunca se desentenderam. E meu pai confiava plenamente nele. Aliás, além de Jorge, ele tinha outro amigo de confiança: o Sr. Wickham.
- Wickham? O pai de George? – inquiriu, elevando as sobrancelhas, espantada. – O nome George também foi uma homenagem a Jorge Bingley?
Darcy assentiu, tomando fôlego.
- Seu pai era um excelente funcionário, dedicado a ambos. E com o passar dos anos, acabou se transformando num grande amigo. Tinha um único filho, e a este foi pago as melhores escolas, dando-lhe uma instrução de altíssimo nível. Ele se formou em administração de empresas, com ênfase em hotelaria, e há pouco mais de dois anos trabalha controlando as sedes do Nordeste. E descobri agora, que nos rouba desde o primeiro mês.
-Oh! Mas por quê? Ele não ganhava o suficiente?
- Ele ganhava muito bem, devo te dizer. Muito melhor do que merecia.
- Então por quê? Fazer isso com quem lhe estendeu o braço é muita sacanagem!
- Concordo plenamente. Mas confesso que sempre duvidei de seu caráter, Lizzy. Mas só agora tive a prova de que estava certo. E outro motivo por eu não ter revelado ainda tal situação, é em consideração a seus pais. Tenho certeza que conhecer as falcatruas do filho seria doloroso para ambos, e eu os tenho em grande estima.
Ela ficou satisfeita com tal explicação.
- Mas porque só Inglaterra e França? Porque não expandiram para outros países?
- Porque eles não quiseram, Lizzy. Meu pai administrava os hotéis daqui, e meu avô os de lá. E consideravam que estes já davam trabalho e incômodos suficientes.
- E a tua tia Catherine?
- Ela é a irmã mais nova de meu pai. Ela ficou viúva cedo e morou conosco por muitos anos, porque meu pai passava muito tempo fora, e minha mãe lhe pediu, pois se sentia sozinha.
- Viúva?
- Sim! Foi uma trágica história. Seu marido morreu em um acidente poucos meses após o casamento, deixando a tia Catherine grávida, sentindo-se sozinha e desamparada. Então ela por fim aceitou tal convite e decidiu morar com a minha família, buscando uma mudança de ares e visando auxiliar minha mãe. Eu já tinha quase dois anos, e ela após ganhar seu filho continuou morando em nossa casa. Meu primo Fitzwilliam de Bourgh e eu crescemos juntos.
- Fitzwilliam também? Mas que falta de imaginação!
Ele riu.
- Também acho. Mas como já te disse outra vez, é um nome que está em minha família há muitas gerações. Então eu desde novo sou chamado de William e ele de Fitz, para nos diferenciar.
- E teu primo mora aonde?
- Ele mora na França. Cuida dos hotéis de lá, enquanto a tia Catherine administra as sedes inglesas. Minha tia mudou-se para a Inglaterra desde a morte da minha mãe. Ela decidiu ir para auxiliar na administração dos negócios de seu irmão, quando o meu avô já tinha uma certa idade e não tinha mais condições de fazer tudo sozinho. E como minha mãe era sua única filha e ele não tinha outros herdeiros além de mim e de Georgiana, tia Cathy acabou assumindo todo controle.
Lizzy não pode deixar de fazer uma careta ao lembrar da tia dele. Ele percebeu e achou graça.
- Minha tia ajudou a me criar, Lizzy. E desde que minha mãe se foi, ela sente-se responsável por mim e por Georgiana. Sei que ela é muito impertinente, e por vezes extremamente irritante, mas é o jeito dela. – ele suspirou.
Ficaram em silêncio. O dia já começava a clarear.
- Lizzy...? – ele murmurou
- Hum...?
- Vamos dormir um pouco, querida? – ele perguntou, beijando-a nos lábios suavemente.
- Vamos, querido. – ela repetiu a palavra e sorriu.
Ele a fitou, curioso, com os olhos quase fechando.
- Tu é meu querido também. Tu e mais ninguém. – Ela falou, fechando os olhos, e deitando aconchegada em seu peito.
- Boa noite, meu amor. – ele disse.
- Boa noite, meu amor – ela respondeu.
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Capítulo 22
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- Lizzy! Acorde! – Darcy cutucou-a, com delicadeza.
- Hum...? – ela resmungou, mal humorada, franzindo as sobrancelhas.
- Teu celular, querida! Já tocou três vezes.
Abriu os olhos, contrariada.
- Que horas são? – sentou, abafando um bocejo.
- Acho que dez e meia.
- Dez e meia! – ela exclamou horrorizada, pegando o telefone com pressa – É Jane! Nossa, estou muito atrasada!
Lizzy atendeu a ligação e foi em direção ao banheiro para ter mais privacidade.
- Alô, Jane? – falou, agitada.
- Lizzy! Aonde foi que você se meteu? Já estava preocupada! E que voz, hein? Vai dizer que eu te acordei? – indagou, maliciosa.
- É....Eu perdi a hora...
Jane riu.
- Sei... O Sr. Darcy por acaso ainda está contigo?
- Hunrum.
- Lizzy! Fico tão contente! A tua sorte é que o vôo de nossos pais atrasou e eles ainda não chegaram. Mas não vou poder te esperar mais, Charles já está passando aqui para me buscar.
- E Charlotte, está com você?
- Não, Charlotte não dormiu no hotel. Deve estar se despedindo do primo Collins, já que ela vai para Florianópolis amanhã.
- Ai! É mesmo! Vou sentir tanta falta dela! Lembre-se de que combinamos fazer algo hoje à noite, Jane. Só nós três, como nos velhos tempos.
- Certamente eu estarei presente! Também sentirei muita falta dela. – ela suspirou.- Lizzy! Já vou indo e inventarei uma desculpa qualquer por ti, mas vê se não demora muito, está bem?
- Pode deixar, Jane!
Encerrou a ligação e aproveitou para se olhar no espelho.
“Nossa, estou horrível! E ele me viu assim?”- corou, com tal pensamento.
Lavou o rosto, para ver se melhorava o aspecto. Tinha olheiras profundas, causado por uma noite intensa e poucas horas de sono. Mas não tinha tempo para preocupações com aparência, estava extremamente atrasada!
- Bom dia, dorminhoca – Darcy disse sorrindo, olhando-a com satisfação, ao vê-la saindo do banheiro.
Ele já estava pronto, aguardando por ela.
- Meu motorista já está ai. Chamei-o desde cedo, pois sabia que assim que você acordasse iria querer ir logo.
- Mas por que não me acordou? – ela inquiriu levemente irritada, enquanto catava suas coisas espalhadas pelo chão.
Ele sorriu e respondeu:
- Fiquei com pena, Lizzy. Você parecia tão serena, tão tranqüila.
- Por acaso ficou me observando dormir? – perguntou, contrariada, colocando uma das mãos na cintura.
- Confesso que sim, meu amor. – falou, abraçando-a e beijando seu rosto suavemente – E foi uma linda visão.
- Hum.... não gosto que me vejam dormir. – ela resmungou.
Ele riu.
Ela sorriu também, dando um selinho em seus lábios.
- Vamos? – ela suplicou
E saíram abraçados.
- Bom dia Jonas! Ué? – ela ficou surpresa ao se deparar com o amigo na recepção - Hoje não era teu dia de folga?
- Bom dia, Lizzy! Sim, mas troquei. Amanhã Natália fará uma ultra-sonografia e quero acompanhá-la. A médica disse que nesta já poderemos ter certeza do sexo e eu estou tão ansioso! – mas se calou abruptamente, ao ver que Sr. Darcy entrava no saguão do hotel e vinha em direção a eles. Sorriu discretamente para a amiga, e falou:
- Bom dia, Sr. Darcy.
- Bom dia, Jonas – ele parou ao lado de Lizzy.
Ela sorriu sem graça para Jonas, e pediu a chave do quarto.
- Charlotte já chegou? – indagou.
- Não. E Jane acabou de sair.
- Obrigada, querido. – pegou a chave e saiu, mandando-lhe um beijo.
- Pelo visto é muito íntima dele – Darcy afirmou quando ficaram a sós.
- Sim, adoro o Jonas.
- Hunf – ele resmungou com desgosto.
Ela riu.
- Mas não do jeito que tu estás pensando. – ela achou graça do ciúmes dele - Ele é meu amigo. Sua mulher está grávida e eles esperam o primeiro filho. E eu estou bem contente por eles.
- Ah! – ele afirmou, desamarrando a cara.- Posso subir contigo, Lizzy?
- Subir? Mas eu estou tão sem tempo!
Ele fez um olhar suplicante, e ela não pode resistir.
- Está bem. – ela afirmou sorrindo. – Vamos logo então. – falou, puxando-o pelo braço em direção a escada.
- Vou tomar uma ducha rápida, me espere aqui, está bem?
- Esperar? Não senhorita. Eu tenho planos bem melhores para a gente. – falou, beijando-a na boca.
- Hum... – ela tentou protestar, mas o beijou acabou com suas resistências.
– Tenho que ir! É sério! – ela finalmente reclamou, afastando-se um pouco.
- Tudo bem, Lizzy. – fez uma cara de safado - Mas só te libero se você deixar eu te lavar.
Ela riu. Não tinha como negar um pedido desses e acabou concordando.
E perdeu-se no tempo, sucumbindo ao desejo. Entregou-se novamente a ele, esquecendo do horário e de todo o resto.
Lizzy conversava animadamente com Darcy dentro do carro em movimento. Estava tão distraída que quase não ouviu o toque do telefone celular vindo do interior da bolsa.
- Lizzy! Onde você esta? – Jane falou exaltada. – Papai e mamãe já estão aqui faz meia hora!
- Estou a caminho, Jane! E estou quase chegando.
- Por favor, Lizzy, chegue logo! – Jane suplicou.
Lizzy, imaginando a razão de tal urgência, indagou:
- Como está a mamãe, Jane?
- Ai, Lizzy! Igual a sempre! Enchendo o coitado de Charles de perguntas! E eu não sei mais o que fazer... Estou morrendo de vergonha... – falou bem baixinho para que ninguém a escutasse, mas deixando transparecer toda sua ansiedade pela entonação da voz. - Ela não o deixa em paz, Lizzy! Preciso de ti imediatamente! Por favor, manda o motorista acelerar e vir o mais rápido possível.
Lizzy achou graça, mas não podia consolar a irmã no momento. Ela evitava fazer qualquer comentário, pois Darcy, sentado ao seu lado, a observa atentamente.
- Jane, farei o possível, está bem? Beijo, querida.
E desligou o celular.
- Pede para o teu motorista correr, pois preciso socorrer a minha desesperada irmã! – falou, mediante risadas.
Ele assentiu e deu um sorriso leve. Estava curioso, mas não ousou fazer perguntas, o que fez Lizzy respirar com alívio.
Sua mãe não era um assunto que ela gostaria de abordar com ele - pelo menos não por enquanto.
Estacionaram em fronte a residência dos Gardiners. Lizzy pode perceber que sua mãe, apesar de um pouco distante, estava parada junto à porta e observava com atenção o grande e luxuoso carro que chegara. E mesmo sabendo que os vidros escuros do carro impediam qualquer visualização da parte interna, não pôde deixar de ficar levemente apreensiva.
Na despedida, beijaram-se apaixonadamente.
- Lizzy, nos vemos hoje à noite? – ele indagou.
- Ah... Hoje eu não posso...
Ele não pôde disfarçar uma expressão triste. Por um instante pensou que – talvez – ela não quisesse vê-lo.
Ela percebeu. Colocou a mão em seu rosto e olhando em seus olhos justificou:
- O que eu mais queria era passar o dia contigo, William. Mas já tinha esse compromisso com meus pais, e estou com tantas saudades deles! – fez uma pausa, dando um selinho em seus lábios e sorrindo - E a noite também fiz planos igualmente inadiáveis: Charlotte vai para Florianópolis amanhã e combinamos que passaremos suas últimas horas junto.
- Está bem – resignado, ele suspirou concordando. – Mas amanhã bem cedo passarei no hotel para te ver.
- E eu te aguardarei com ansiedade.
Ele refletiu um pouco:
- Charles não está ai? Eu poderia entrar também e aproveitar para conhecer teus pais.
- Não! – ela exclamou exageradamente exaltada. Deu um pulo e levou a mão involuntariamente à boca, assombrada.
Ele encarou-a com surpresa. Franziu a testa e indagou:
- Por que não? Não quer que eu conheça seus pais?
- Não... É que... – ela balbuciou e falou a única desculpa que lhe veio a mente – É que eu não posso fazer isso com Jane... É o anúncio oficial do noivado dela... E eu não gostaria que roubássemos a atenção de um dia que deve ser exclusivo dela.
- Tudo bem, Lizzy. Eu também não poderia demorar muito, pois tenho alguns compromissos e acho que preciso ver como Georgiana está.
- Sim! Pobre, Georgi. Mais tarde ligarei para ela. Será que ela não gostaria de ir ao hotel hoje à noite com a gente? Faremos uma noite só de meninas, e acho que ela poderia se divertir.
- Sim, faça isso, Lizzy. Acho que seria uma boa distração para minha irmã. – fez uma pausa – Vocês ficarão no quarto?
Ela assentiu.
- Posso mandar uma garrafa de champanhe novamente? – ele sorriu com malícia.
Ela achou graça e deu uma gargalhada.
- E meu brinco? Já deu para outra?– ela inquiriu, provocativa.
- Não, Lizzy. Claro que não/ Eu guardei. Quer ele? – ele perguntou, com um brilho no olhar.
- Acho que não... Sei lá... não estou acostumada a usar jóias.
- Mas creio que isto é algo que se acostumará muito mais rápido do que pensa. – ele sorriu, beijando-a novamente com intensidade.
Mas o som do telefone os interrompeu.
- É Jane! – ela disse, atendendo – Alô, Jane?
- Lizzy! Faça o favor de sair logo desse carro e entrar? Senão eu mandarei nossa mãe aí para te buscar!
- Ah, sua chantagista! Está bem, minha irmã. – ela riu e desligou.
- Agora tenho mesmo que ir! – Deu um último selinho nele, abriu a porta e saiu do automóvel apressada.
*
- Pai, Mãe! Que saudades! – Lizzy entrou correndo na sala para abraçá-los.
- Filha, deixa eu olhar bem para ti! – Antônio Bennet afastou-a um pouco para analisar melhor seu aspecto. – Hum.... acho que andas trabalhando demais, não é mesmo?
- É, o treinamento tem sido bem puxado - ela confessou - Mas assim que formos para o novo hotel, penso que poderei diminuir um pouco o ritmo.
- Acho muito bom! Não quero uma filha magra e pálida como você está.
- É, minha filha – Margareth Bennet comentou, enquanto lhe dava um abraço – Como vais arranjar um namorado desse jeito? Estás pele e osso e homem gosta de carne para poder apertar.
- Ai, mamãe! Também não exagera! Eu só perdi dois quilos.
- Dois quilos? Eu duvido! Bom, como eu pretendo ficar aqui em São Paulo com vocês por um tempo, tratarei de fazer com que tu comas direito. Quero uma filha saudável e bem alimentada. Lizzy, você precisa ficar perfeita e apresentável para conhecer os amigos de Charles Bingley. Tenho certeza que ele deve ter amigos ricos e interessantes como ele para te apresentar. Jane tirou a sorte grande, Lizzy! Mas tu, com um pouco da minha ajuda, pode muito bem arranjar também um bom partido. Deves sair sempre com a tua irmã, Lizzy! Aliás, perguntarei para Charles se ele tem algum amigo para te apresentar!
- Mãe! – Lizzy a repreendeu apavorada com tal idéia – Bem capaz, mamãe! Não faças isso de jeito nenhum!
- Porque não, minha filha? Não pode negar que é uma ótima oportunidade!
- Margareth! Deixa a nossa menina em paz! Não a constranja diante das visitas! – Antônio Bennet intercedeu.
- Ah, Sr. Bennet. Quem sou eu para constrangê-la? Claro que eu não perguntaria na frente do outros, esperaria ficarmos a sós para isso.
- Não, mamãe! Não deves e não podes fazer isso! – Lizzy exclamou irritada.
- Porque não? Ah... A não ser que você também esteja namorando escondido da gente. – ela replicou
O Sr. Bennet encarou a filha com curiosidade, e Lizzy diante de tal interrogatório, corou.
- Ah! Eu bem que desconfiei dessa tua demora! – a Sra. Bennet concluiu – E aquele carrão que eu vi estacionado lá fora, era do teu namorado que te trazia, não é mesmo? Ah! E com aquele carro ele só pode ser muito rico! Que felicidade! O que eu mais posso querer da vida? Quando conhecerei teu namorado, Lizzy?
- Mamãe, eu não tenho namorado. Aquele carro era do hotel, para uso dos funcionários.
- Ah, sim! Vai me dizer que todos os funcionários usam aquele enorme carro? Achas que me engana, Lizzy? Então porque ficou tanto tempo lá dentro? Decerto se despedindo dele, não?
Lizzy suspirou, tentando manter a calma.
- Mãe! Eu demorei porque estava no telefone numa ligação importante! Não tinha ninguém lá dentro comigo, exceto o motorista.
- Não adianta, Lizzy. Ela não te escutará – o Sr. Bennet comentou.
- Ai, papai. – ela buscou consolo nos braços do pai, enquanto a mãe tagarelava pelos cotovelos. E depois de um tempo indagou: – Onde estão os outros?
- Lá nos fundos, o churrasco já está quase pronto. Vamos lá?
- Mamãe! Só não fale disto na frente de Charles, está bem?
- Sim, Lizzy. Pode deixar. – A Sra. Bennet, de qualquer forma, não gostaria que Charles soubesse que a filha estava vendo alguém. Ainda não tinha desistido completamente da idéia do amigo, de olho em um especifico. Queria que Lizzy tivesse várias opções, para escolher a melhor, e nenhuma poderia ser melhor do que o outro dono do hotel.
- Bom dia, tia! Bom dia, tio!
- Bom dia não, Lizzy, boa tarde! – Miranda Gardiner respondeu ironicamente, enquanto cumprimentava sua sobrinha.
Lizzy deu um sorriso amarelo e justificou-se:
- Desculpa, tia. Eu perdi a hora... A organização do coquetel consumiu todas as minha energias e eu acabei dormindo até tarde.
- Tudo bem, Lizzy. – sorriu atenciosa – Sei que deves ter tido um bom motivo para o atraso, pois não é algo que faz parte do teu comportamento.
- Sim, tive um bom motivo – ela suspirou, tentando disfarçar.
Mas Jane e Charles a encararam sorrindo de tal forma que se Lizzy continuasse olhando para eles acabaria se entregando. E ela riu sozinha, olhando para o chão. Mas em seguida se recompôs e questionou:
- E Mary? Onde está minha outra irmã?
- Ah... Está no quarto com a Roberta. Não sei o que elas tanto têm para conversar em particular! Quer que eu as avise da tua chegada?
- Não tia, não precisa se incomodar. Tenho certeza de que elas logo estarão aqui.
- Miranda, já vou começar a servir os aperitivos – interrompeu Irineu Gardiner – chame as meninas, por favor.
- Oh, claro que sim!
- Então, Charles? Está tudo a teu gosto? Trataram-lhe bem enquanto eu me distraia recebendo a minha outra querida filha?
Ele assentiu, sorrindo.
O Sr. Bennet e o Sr. Gardiner estavam mais distantes, perto da churrasqueira cuidando da carne e tomando cerveja. E a Sra. Gardiner, que subiu para chamar as garotas, ainda não retornara.
- Sim, está tudo ótimo, Sra. Bennet. Não tenho do que me queixar.
- Ah! Que é isso? Podes me chamar de Margareth. Não precisa fazer cerimônia comigo, já que em breve seremos parentes.
- Mamãe! – Jane exclamou, embaraçada.
- Mas não é verdade, minha filha? – perguntou para Lizzy – Já que eles casarão, seremos uma família. Aliás, Jane, qual é mesmo a data em que está marcada o casamento?
- Mamãe, eu já te disse mais de mil vezes! – Jane reclamou.
- Sim, filha! Mas é tanta emoção ao ver minha primeira filha casada, e bem casada devo dizer, não é, Charles? Que eu sempre esqueço do dia!
- Em dezembro, mamãe – Lizzy intercedeu sem paciência.
- Mas só em dezembro? Para que esperar tanto? – perguntou desconsolada.
- A igreja, mamãe.... lembra? A igreja que a gente escolheu só tinha reserva disponível para o fim do ano...
- Ah! É mesmo! Mas assim teremos tempo de decidir tudo, não é meninas? Garanto que Charles nos dará carta branca para compramos o que quisermos.
- Sim. Claro que sim. – ele respondeu, confuso.
- E minha filha merece tudo do melhor. A minha Jane! Estou tão orgulhosa dela! E Lizzy? Charles, você precisa apresentar algum amigo teu para ela.
- Mamãe! – Lizzy e Jane responderam em coro, exaltadas.
- Porque o espanto, minhas filhas? Lizzy também precisa se casar um dia, e nada melhor do que ter uma boa ajuda para isto. Charles, o Sr. Darcy ainda namora a tua irmã?
- Não... Eles acabaram há poucos meses.
- Oh! Fico muito feliz! – a Sra. Bennet prosseguiu não se contendo de felicidade – Quero dizer, não que eu fique feliz pelo fim do relacionamento dos dois, mas fico feliz por o Sr. Darcy estar disponível... – pensou um pouco - Ele está disponível, não está Charles?
Ele respondeu com um aceno de cabeça. Mas estava tão espantado que não pôde abrir a boca. Estavam todos boquiabertos, atônitos, apenas observando a tagarelice e a petulância de Margareth Bennet.
- Então, Charles! Podia aproveitar e apresentar Lizzy a ele!
- Mamãe! – Lizzy reclamou assombrada. Não imaginava que sua mãe pudesse ser tão ousada.
- Sim, Lizzy! Não seria uma ótima idéia?
Charles não pôde deixar de dar risada. Achou graça da perspicácia da sogra. E ficou curioso para saber o que ela faria quando soubesse que seu desejo era bem plausível.
- Acho que não precisaria apresentá-los, eles já se conhecem perfeitamente bem – ele disse sorrindo.
A Sra Bennet encarou a filha, ansiando por sua explicação.
- Mamãe! Ele é meu chefe, esqueceu? É claro que eu o conheço!
- Ah... é mesmo. – ela iria continuar sua explanação quando foram interrompidas pela chegada de Mary e Roberta.
Lizzy suspirou aliviada quando enfim mudaram de assunto.
E Charles não parou mais de rir. Pobre Darcy – ele pensava bem humorado– ele certamente terá dificuldades para lidar com uma sogra como essa.
E como ele foi embora logo depois do almoço, o resto da tarde passou sem mais nenhum aborrecimento. Lizzy pôde então relaxar e aplacar a saudade que sentia da família.
*
*
Capítulo 23
*
- Oi gente, trouxemos um bolo que a tia Miranda mandou – falou Mary enquanto entrava no quarto do hotel com Roberta.
- Hum! Bolo da tia Miranda, que delícia! – Lizzy comentou já com água na boca.
Mary olhou admirada ao redor:
- Ah! Então é aqui que vocês ficam! Mas esse quarto não é um pouco apertado para vocês três?
- Sim – Charlotte respondeu pegando o bolo de chocolate – Mas a opção de ficarmos juntas foi nossa, já que Jane tinha direito a outro quarto. E levarei boas lembranças daqui, nos divertimos tanto! – suspirou, já com saudades.
- Eu imagino! - Mary disse.
- Trouxe a máquina para tirarmos muitas fotos! – Roberta sorriu, mostrando a câmera digital.
- Tire uma de nós três então! – Lizzy falou, abraçando a amiga – Acredita que, nesse tempo todo, não tiramos nenhuma foto?
- Jane! Foto, Jane! – Charlotte gritou chamando por ela que estava no banheiro.
Jane veio correndo. Adorava fotografias.
- Ai, amigas! Já estou com saudades de vocês! Nem tenho mais vontade de ir para Florianópolis.
- Sério? Então eu posso pedir a Charles para ti não ser mais transferida. Já reclamei muito com ele, mas ele enfatizou que a escolha foi tua.
- Sim, confesso que sim. Que eu queria mesmo ir embora daqui, mas agora não sei mais o que quero... só sei que sentirei tanta falta de vocês.
- Ai, Charlotte! Fique com a gente, querida! – Lizzy suplicou.
- Sei lá... Preciso trocar um pouco de ambiente. Preciso de um tempo longe para espairecer a cabeça. Preciso conhecer pessoas novas... Conhecer quem sabe um catarinense lindo?
- Odeio sotaque catarinense! – Roberta falou, fazendo uma careta.
- Como assim, Char? E o primo Collins? – Jane inquiriu, preocupada.
- Ai amigas.... A gente acabou.
Lizzy ao escutar tal resposta não conseguiu disfarçar uma careta de alívio. No entanto, não fez nenhum comentário.
- Mas então tu já sabias que vocês terminariam? Por isso o pedido para ir para Floripa? – Jane questionou pensativa.
- Ai... A gente não estava muito bem... Sei lá.... Eu não estava feliz, mas ao mesmo tempo não conseguia terminar, pois o acho tão legal e aprecio sua companhia. Mas ele era mais um amigo do que um namorado, sabe? Não sei explicar, gurias...
Lizzy ficou tão contente ao saber que a amiga não sofria que não pôde mais se reprimir:
- Ai, amiga! Que bom! Não posso fingir o contrário: essa notícia alegra-me tanto! – Charlotte a encarou com surpresa, mas seu olhar estimulou-a a prosseguir – Eu confesso que estava meio apreensiva com este relacionamento. Não via futuro nele, Char! E primo Collins não é o homem certo para ti, tu mereces algo muito melhor do que ele.
- Ele é meio estranho mesmo – Roberta comentou, ao recordar do almoço que passaram juntos.
- Estranho como? Faz tantos anos que não o vejo que não faço idéia de como ele esteja...
- Ai, Mary... não sei explicar. Estranho, estranho.- Roberta justificou rindo com a boca cheia de bolo.
- Eu sei explicar, mas não vou falar senão a Char não vai gostar – Lizzy replicou.
Charlotte ficou sem graça.
- Gente, vamos mudar de assunto! – Jane interferiu – E Georgiana? Ela não vem também? Já estou com fome, e gostaria de fazer o pedido.
- Sim! Ela disse que vem. Vou ligar para ela agora. – Lizzy respondeu, catando o celular no meio da bagunça.
- Georgi? Ah, já está subindo? E quer ajuda para abrir a porta, pois esta cheia de coisas? Que coisas, querida? É surpresa? Está bem, já vou para a porta então!
- Meninas, a Georgi disse que tem surpresas para todo mundo! – Lizzy anunciou ao encerar a ligação.
- Até para mim? – Mary indagou – mas eu nem a conheço!
- Nem eu! – Roberta comentou curiosa.
- Mas ela é riquíssima, né? Imagina, dona do hotel! Pode comprar o que quiser!
- Fique quieta, Mary! – Lizzy ordenou, abrindo a porta.
- A Mary está aprendendo com a mamãe a fazer esses comentários! – Jane falou dando risada. E gargalhou com Charlotte e Roberta.
Mary fez uma careta e falou, implicante:
- Bom! Já que é assim vou perguntar então se a Georgiana aceita ser a tua futura cunhada, como a mamãe bem quer!
- Alguém falou em cunhada? – Georgiana sorriu chegando à porta do quarto com uma mala rosa pink com rodinhas e carregada de pacotes.
Mary virou para o lado, envergonhada.
- E quem tem dúvidas de que a Lizzy, além de ser minha única cunhada, é de todas as namoradas que meu irmão já teve a minha preferida? – comentou sorrindo, entrando no quarto.
- Namorada do teu irmão? – Mary indagou, confusa – Eu não sabia... Na verdade, só estava brincando...
- Prazer, meu nome é Georgiana – apresentou-se com simpatia.
- Eu sou Mary, irmã de Lizzy e Jane. E está é a minha prima, Roberta.
- Oi Roberta.
- Oi Georgiana.
- Georgi, que monte de pacotes são esses? – Charlotte inquiriu, curiosa, enquanto todas cercavam Georgiana.
- Ah! Eu estava meio triste hoje, meio desanimada. Então resolvi fazer comprar para me sentir melhor. Mas não achava nada para mim e como quando a Lizzy me fez o convite para vir aqui eu estava no shopping, acabei comprando presentes para todas. Espero que vocês gostem, porque eu adorei comprá-los.
- Perai! Primeiro, uma foto com a mamãe Noel! – Roberta chegou com a máquina e Georgiana fez pose sorrindo satisfeita. – E agora uma foto de todas nós com os presentes. Só um pouquinho que eu vou ajustar o timer.
- Depois não esquece de me mandar essas fotos por e-mail! – Mary pediu.
- Para mim também! – Georgiana solicitou.
- E essa mala linda? Adorei essa cor! – Roberta exclamou.
- Ah! Esse é meu primeiro presente! É para você, Charlotte! Para usar amanhã na viagem. Mala nova dá sorte, sabia?
- Oh, querida! Muito obrigada! – falou, levemente envergonhada – Mas não precisava se incomodar...
- Ah! Não foi incômodo algum, eu adorei comprar!
- E com essa cor, ela não a perderá nunca! E vai enxergá-la de longe chegando na esteira do aeroporto! – Lizzy sorriu, debochada.
- Não dá bola para ela, Georgi! Ela está com ciúmes! – Jane acudiu.
- Ai, eu adorei minha mala! – Charlotte enunciou, agarrando-se ao presente.
- Foto! – Roberta ordenou
- Com a mala? Vem, Georgi! – Charlotte solicitou.
- E o que tem nas outras sacolas? – Lizzy perguntou indiscreta.
- Ah! Já ia me esquecendo – Georgiana exclamou – Meu irmão te mandou uma garrafa de champanhe e esta caixinha.
- Champanhe e caixinha? Não sei porque, mas isto me lembra de uma certa ocasião – Charlotte riu, maliciosa.
Todas foram olhar com curiosidade o conteúdo da caixinha.
- Que lindo, Lizzy! – Jane gritou.
- Nossa, que presentão! – Roberta falou.
- Deixa eu ver! – Mary se colocou entre elas, afobada. – Que jóia mais linda! Mas então é verdade, Lizzy? Então vocês estão namorando?
- Claro que eles estão namorando! – Georgiana interferiu.
- Não, Georgiana. Não estamos namorando – Lizzy replicou.
- Ah não? Então com quem você passou a noite toda hoje? E porque meu irmão chegou em casa tão tarde e tão cansado? – indagou com astúcia.
- Ah! Então esse foi o motivo de tanto atraso! – Mary e Roberta deram risadas – E imagina quando a mamãe souber!
- Não, Mary! Deixe nossa mãe de fora, por favor!
- Meninas, não briguem! Continuarei a distribuir meus presentes.
- E vamos beber champanhe – Jane afirmou, distribuindo as taças. – Menos você, Georgiana, que é menor de idade.
- Ah! Qual é, Jane! Vai ficar sem presente!
- Isso! Dá o presente dela para mim – Mary retrucou, achando graça.
- Também acho que as aulas com a mamãe estão fazendo efeito sobre a Mary – Lizzy deu risada.
- Assim fico curiosa para conhecer tua mãe, Lizzy!
- Você não terá nenhum problema com ela, Georgi. Mas quero ver como será com o teu irmão se eles realmente namorarem. – Charlotte comentou.
- Ai! Nem me lembre! Pobre do Charles hoje... Fiquei morrendo de vergonha! Mamãe encheu o coitado de perguntar embaraçosas, e Lizzy não chegava nunca para me ajudar! Juro que quase mandei mamãe buscá-la no carro de tanta raiva que eu fiquei!
- No carro?
- Sim, Georgiana. Ela ficou uma meia hora no carro com o teu irmão. Não bastou passarem a noite toda junta, eles não queriam mais se largar.
- Que bom! Fico contente – ela respondeu.
- Hum! A champanhe já está fazendo efeito – Lizzy comentou, alegrinha – Até me deu vontade de colocar meu brinco novo.
- Coloca, Lizzy. E me deixe tirar uma foto tua com ele! – Roberta solicitou.
- Vou te apelidar de chata da foto! – Charlotte afirmou, dando risadas.
- Presentes! – Georgiana gritou – Quem quer? Com esse monte de mulher, não consigo nem falar! Ô, suas loucas!
- Eu quero! – Roberta proferiu em voz alta.
- Eu também! – Mary exclamou.
- Parem de gritar, gurias! Olhem os vizinhos de quarto. – Jane pediu.
- Sim, desse jeito seremos expulsas do hotel – Charlotte ironizou.
- Expulsas? Expulsas como, se a dona do hotel esta aqui com a gente? – Mary comentou.
Georgiana sorriu sem jeito.
- Sim, Georgi! Quero meu presente! Já estou com esse lindo brinco que teu adorado irmão me deu!
- Olha o efeito da champanhe! – Charlotte brincou.
- Assim... Trouxe umas blusinhas para vocês escolherem – tirou da sacola um monte de roupas de todas as cores – Duas mais grossas de gola alta para cada e uma dessa malha aqui mais fina – mostrou o tecido. – Como não sabia que cores vocês gostam, trouxe uma de cada para vocês escolherem. E se não couber, é só trocar no shopping.
Roberta e Mary praticamente se atiraram sobre as peças para escolherem primeiro.
As outras ficaram assistindo a cena, gargalhando.
- Dessa vez eu vou ter que tirar uma foto! – Lizzy afirmou, buscando a máquina.
- Eu vi primeiro! – Roberta vociferou
- Não! Essa é minha! Eu gosto mais dessa cor – Mary gritou. Cada uma puxando uma manga.
- Agora eu acho que são as aulas com Lídia e Kitty que estão fazendo efeito! – Jane comentou, rindo.
- Roberta, pode ficar com ela – Mary parou, assustada com a comparação.
Depois de cada uma escolher suas blusas e de tirarem suas devidas fotos com elas, transformando o quarto do hotel numa pequena passarela de desfile de modas, Georgiana falou:
- Meninas, tem mais presentes!
- Mais? Oba! – Roberta e Mary vieram correndo e sentaram-se próximas de Georgiana.
- Que bom que pelo menos vocês gostam de ganhar presentes! Tem que ver o suplício que foi quando eu e Lizzy fomos no shopping fazer compras! Foi um verdadeiro martírio! Lizzy! Parece que faz um tempão, mas foi ontem! Tanta coisa se passou desde então!
E Georgiana contou as novas amigas sobre a sua excursão ao shopping. E todas deram boas gargalhadas.
- Ai, gurias! Estou com dor na barriga de tanto rir! – Mary comentou.
- Quero mais champanhe – Roberta solicitou.
- Acabou, suas bêbadas! – Jane disse.
- Ah, mas pede mais! – Georgiana falou.
- Mas é muito caro! – Charlotte respondeu.
- Mas meu irmão liberou tudo hoje para vocês. A gente pode pedir tudo por conta da casa.
- Sério! – os olhos de Mary brilharam – Estou com uma fome! Posso mesmo pedir o que quiser?
Georgiana assentiu.
- Mas não abusa muito, Mary! – Lizzy ordenou.
Mary fez um careta para a irmã. E enfim todas escolheram os pedidos.
- E o presente? O que tem ai ainda? – Lizzy perguntou a cunhada.
- Perfumes da Lâncome!
- Oh, que chique! Perfume francês! – Charlotte afirmou – Dessa vez, eu quero escolher primeiro! Quero ficar bem cheirosa para arranjar um namorado novo.
- Claro, Char! Comprei o Miracle, o Trésor, o Miracle So Magic, o Ô oui, que não é tão conhecido, mas que eu particularmente adoro, e um que eu escolhi especialmente para Lizzy.
- Para mim? Qual, Georgi?
- O Light Blue, da Dolce Gabbana. Conhece?
Ela negou com a cabeça.
- É muito bom! Meu irmão vai adorar!
Lizzy corou diante de tal comentário. Mas curiosa, foi logo sentir o aroma.
- Hum! Que delícia! Colocarei um pouco agora.
Georgiana sorriu satisfeita, enquanto as outras, eufóricas, escolhiam os seus presentes.
- Foto! – Lizzy exclamou, gargalhando.
- E tem mais uma coisinha para ti, Lizzy. – aproveitou que as outras estavam distraídas com os perfumes para dar esse último presente.
- O quê? – indagou, curiosa.
- Só um pouquinho, que esqueci na minha bolsa.
Pegou então um porta-retratos.
- É uma fotinho do meu irmão que eu acho linda! Para ti não esquecer nunca dele.
Lizzy ficou sem graça e balbuciou:
- Obrigada, querida! É linda! Mas confesso que não preciso de nenhuma foto para lembrar do teu irmão – suspirou, apaixonada, olhando para o retrato.
Depois de um período, após muita algazarra:
- A comida chegou, meninas! – Lizzy gritou e Charlotte e Jane correram para a porta.
- Hum! Que cheirinho bom! – Roberta afirmou.
- Gente, meu celular está tocando, mas eu não consigo encontrá-lo! – Georgiana gritou, correndo enlouquecida pelo quarto, procurando no meio da bagunça. – Ah! Parou! E agora, como vou achá-lo?
- Oh! Está tocando de novo! – Mary percebeu.
- Não! Não é o celular, agora é o telefone do quarto. – Jane se deu conta, atendendo-o. – Lizzy! É para você! O Paulo pediu para ti descer agora. Ele esta lá na recepção e precisa falar urgente contigo.
- Ah! Bem na hora da comida! – Ela resmungou, esfomeada. Suspirou, contrariada, e saiu do quarto.
- Acho que não é bem o Paulo que quer falar com ela. – Charlotte falou.
- Achei o meu celular! Oh! Foi o William que ligou, o que será que ele quer?
- Se não estou enganada, ele está ai embaixo, e foi ele que pediu para Lizzy descer. – Charlotte concluiu.
- É mesmo! Pode ser! Que paixão, hein? Meu irmão não resistiu e veio vê-la! Fico tão contente por eles!
- Eu também, Georgi! E creio que Charles também!
- Espero que eu tenha a metade da sorte da Lizzy no meu próximo namorado: lindo, charmoso, gostoso e convenientemente rico!
- Claro que vai ter, Charlotte! – Jane comentou.
Georgiana deu risada com os elogios proferidos a respeito de seu irmão.
Mary e Roberta não participaram do diálogo, pois estavam entretidas com a comida.
- O que foi, Paulo? – Lizzy chegou à recepção, esbaforida. – O que você quer?
- Eu não quero nada, Lizzy – sorriu – Mas o Sr. Darcy quer falar contigo e te aguarda em sua sala.
- O Sr. Darcy está aqui? – ela balbuciou.
Ele assentiu.
Lizzy surpresa, rumou à salinha, com o coração palpitando.
Ele estava escorado à escrivaninha, aguardando por ela.
- Oi! Eu estava passando aqui por perto e não resisti e vim te desejar boa noite.
- Ah... – Ela apenas sorriu. Aquele homem parado fitando-a com intensidade ainda tinha o poder de lhe perturbar a mente e lhe roubar as palavras.
- Você está tão bonito! – enfim falou. Não estava acostumada a vê-lo com roupas casuais.
- Você também, apesar do aspecto de cansada.
- É! Eu não dormi hoje. – ela comentou com um leve sorriso. Ainda permanecia parada na entrada da sala.
- Entre, Lizzy! Entre e tranque a porta. – ele ordenou e ela obedeceu.
Darcy a puxou e beijou-a com urgência.
- Viu meu brinco novo? – ela indagou.
Ele sorriu satisfeito.
- Sabia que ficaria bem. Escolhi para ti...
E então retomou o beijo.
- Senti saudades – ele sussurrou em seu ouvido.
E enquanto mordiscava seu pescoço, percebeu:
- Hum.... Que cheirosa!
Ela riu, lembrando do comentário de Georgiana a respeito do perfume.
Sentou-a sobre a mesa e acomodou-se junto ao corpo dela, entre suas pernas, sem interromper o beijo. Tirou o casaco, ao mesmo tempo em que percorria as mãos pelo corpo dela com afobação.
- Trancou a porta, Lizzy?
- Sim – ela murmurou.
- Que bom – ele afirmou enquanto tirava a blusa dela.
- Não posso demorar, as gurias estão lá em cima. – ela suplicou.
Ele sorriu, percorrendo com os lábios a boca, o pescoço e o colo exposto de Lizzy. E enquanto revezava entre eles, aproveitou para remover o restante das roupas dela.
- Não vamos demorar então. Posso ser bem rápido quando eu quero. – respondeu, com cara de sacana.
- Está bem. – ela assentiu. Ele tinha o domínio completo sobre ela.
*
*
Capítulo 24
*
Lizzy acordou cedo a fim de se despedir de Charlotte cujo vôo partiria às sete horas. Não pôde acompanhar a amiga ao aeroporto, pois logo teria que começar a trabalhar. O serviço estava acumulado e havia muito a ser feito, já que a organização do coquetel lhe tomou tempo e exigiu sua dedicação quase exclusiva nos últimos dias.
Sentou no restaurante do hotel para tomar seu café da manhã com tranqüilidade. Ainda faltava uma hora para o início de seu expediente e ela aproveitou para comer demoradamente. Pegou uma revista para ler e ficou distraída com as reportagens.
- Lizzy! – Jane chegou gritando com uns jornais na mão.
Ela acordara na mesma hora que as suas companheiras de quarto, mas decidiu voltar à cama assim que Charlotte foi embora. Ao contrário da irmã, gostava de dormir até tarde e costumava levantar somente no último momento.
- Lizzy! Roberta ligou agora a pouco para o nosso quarto! – estava esbaforida e parou para recuperar o fôlego - No trajeto para a faculdade ela comprou um jornal e nem te conto o que ela viu!
- O quê? – indagou espantada.
- Pois é, Lizzy! Eu não acreditaria se não visse com meus próprios olhos, então peguei um táxi e fui até a banca de revistas mais próxima, comprei alguns jornais e trouxe para vermos juntas: Diário de São Paulo, Folha de São Paulo, o Estado de São Paulo e esse outro jornal popular aqui que eu não lembro o nome....
Sentou-se a mesa com a irmã, tentando serenar-se, pois estava muito agitada.
- Olha só isso! – alcançou o jornal para Lizzy enquanto buscava algo para beber.
- Oh! Eu e Georgiana. Mas o que tem de mais nessa foto? – Não entendia o comportamento da irmã.
- Leia, Lizzy! Leia com atenção! E já te aviso que esse é apenas o primeiro!
- “Georgiana Darcy e Elizabeth Bennet, cerimonialistas e organizadoras do evento.”
- Não, Lizzy. Esta é legenda da foto, leia todo o texto.
- “Realizou-se sábado à noite o coquetel de inauguração dos novos hotéis da rede Pemberley. As sedes de Minas Gerais e de Florianópolis entram em funcionamento hoje, apenas a sede paulista sofrerá um atraso. Mas apesar deste inconveniente, a cerimônia de inauguração ocorreu na data previamente anunciada.” – fez uma pausa, correndo os olhos pelo texto – Que chatice, Jane! Queres mesmo que eu continue a ler isso?
- Deixa eu ver – pegou o jornal e apontou – Aqui, Lizzy! Leia a partir daqui.
- “As responsáveis pela organização de tal evento foram Georgiana Darcy, herdeira desta rede hoteleira e Elizabeth Bennet, aparentemente sua....” – calou-se abruptamente, arregalando os olhos – ...sua cunhada? Jane? É isso mesmo? Da onde eles tiram esse tipo de informação?
- Não sei, Lizzy! Também fiquei espantada. Mas te acalma, que isso é recém o começo.
- Oh! Deixa eu continuar então... “Elizabeth Bennet, aparentemente sua cunhada. Ela foi vista com grande intimidade com os irmãos Darcy e especula-se que dentro em breve teremos um casamento.” Oh, meu Deus! Casamento, Jane? – Elevou os olhos e fitou a irmã, chocada - “Elizabeth é gaúcha de Porto Alegre, tem 23 anos, e formou-se em hotelaria em dezembro passado. Veio para São Paulo em janeiro e provavelmente não pretende mais voltar para sua cidade natal. Assim como sua irmã Jane, que está noiva e de casamento marcado com Charles Bingley.”
Elizabeth fez uma pausa, tomando um gole de café e tentando retomar a sua respiração normal.
– Como eles sabem disso, Jane? E porque eles inventam essas coisas?
- Não sei, minha irmã. Mas fique calma! O que vem pela frente é ainda pior.
- Pior? – ela mordiscou o lábio, nervosa.
- Sim! Muito pior! – ela exclamou.
- Ai, meu Deus! Deixa eu ver então! – e tentou pegar outro jornal, mas Jane a impediu.
- Esse não, Lizzy! Leia este agora!
Lizzy suspirou apreensiva, enquanto tentava absorver as palavras do papel.
- E essa foto? – ela falou boquiaberta – Como tiraram essa foto sem que a gente notasse?
Ela estava com Darcy no meio do salão, quando ficaram finalmente sozinhos. Tinham percebidos pessoas que lhe observavam, e até tentaram disfarçar. Mas pelo visto, tal intento tinha sido em vão.
Em tal retrato, fitavam-se apaixonadamente. E este deixava claro e perceptível o interesse mútuo.
- Ah, Lizzy. Isso é fácil de entender... Vocês estavam tão distraídos um com o outro que mal perceberiam um flash no rosto, mesmo que lhes cegasse os olhos.
Ela deu um leve sorriso achando graça.
- “Elizabeth Bennet e Fitzwilliam Darcy – novo casal?” Ai, Jane! Fico até com medo de ler!
- Quer que eu leia para ti?
Ela concordou.
- “Caroline Bingley foi finalmente substituída no coração de Fitzwilliam Darcy? A troca de olhares ocorrida no coquetel de inauguração dos novos hotéis Pemberley não deixa dúvidas da resposta afirmativa. Elizabeth Bennet já ocupa uma posição importante na família Darcy: mostra-se amiga íntima de Georgiana e extremamente a vontade com Fitzwilliam Darcy. Mas quem é Elizabeth Bennet, afinal? Nascida e crescida em Porto Alegre, esta gaúcha de 23 anos sabe bem o que quer. Formada em hotelaria há pouco tempo, já ocupa um cargo importante e de extrema confiança na maior rede de hotéis do Brasil. E ela não se contenta com pouca coisa, pois além da realização profissional, também busca a mesma satisfação no terreno amoroso: ela quer um dos solteiros mais cobiçados do nosso país! E se tiver aprendido bem a lição com a sua irmã mais velha, Jane Bennet, também terá pleno sucesso nesta área: Jane Bennet está noiva e de casamento marcado com ninguém menos do que Charles Bingley.”
Ficaram em silêncio.
- Minha irmã, fico tão chateada! Não por mim, pois não me importo muito com esse tipo de fofoca.... Mas por ti, Jane! Sinto como se nos chamassem de interesseiras e oportunistas!
- Sim! Eu também senti a mesma coisa, Lizzy. E fiquei tão aborrecida! E sabe o que eu acredito que será ainda pior do que isso tudo?
- O quê? – indagou entre curiosa e espantada.
- Quando nossa mãe ler! – Jane suspirou. – Tenho mais medo da reação dela... Do que ela poderá fazer com o pobre do Sr. Darcy e contigo.
- É mesmo? E será que ele já leu?
- Ele quem, Lizzy? Papai?
- Não! William! Quer dizer, o Sr. Darcy... E se ele não gostar? E se ele ficar chateado? A gente está recém começando a se conhecer e nossa relação já se tornou pública! Sei lá... Ele pode ficar irritado, pois parece ser tão discreto.
- Ai, Lizzy. Ela já deve estar habituado a isso. Charles nunca se importou, por que com ele seria diferente?
- Ah... não sei... – ficou pensativa – e esses dois últimos jornais?
- Esse não tem nada.... – descartou o Estado de São Paulo. – Mas esse, em compensação....
Lizzy agarrou o último periódico afoitamente.
- Qual a página?
- Aqui! – abriu no local correto e Lizzy viu uma foto que a deixou atônica.
- Mas como? Como eles tiraram essa foto? – falou, com os olhos enchendo de lágrimas. Estava envergonhada e apavorada.
- Não sei, querida.
Na manchete sobre o retrato estava escrito: “Fitzwilliam Darcy e Elizabeth Bennet passam a noite juntos.”
E em letras menores, embaixo: “Casal foi visto deixando o prédio em que foi realizado o coquetel de inauguração apenas no outro dia pela manhã.”
- Será que eles ficaram a noite toda esperando a gente sair? – ela gaguejou, com a voz embargada.
- Com certeza, Lizzy! Tem gente que vive só para isso!
- Deixa então eu ler o que diz o texto! – avançou sobre ele, mas em seguida desistiu e recuou. - Não, melhor nem ler! Só servirá para eu ficar ainda mais angustiada e tensa...
Jane assentiu e rapidamente recolheu os jornais e os guardou.
- Pedi para Roberta não comentar com nossa mãe, mas acho muito difícil que ela não fique sabendo, Lizzy. Te prepara!
Lizzy concordou, preocupada.
Alterada, ela decidiu subir ao quarto. Precisava ficar sozinha por alguns momentos para refletir.
Nessa hora, Charlotte devia estar recém no avião e já estava fazendo falta.
- Maldito primo Collins! – pensou com raiva – Fez a minha querida amiga ter que ir embora!
Tinha vontade de ligar para Fitzwilliam Darcy para conhecer sua opinião, ansiando que ele a tranqüilizasse. Sabia que só o fato de ouvir sua voz já faria com que ela se sentisse melhor. Mas acabou perdendo a coragem... E como ele prometeu aparecer cedo no hotel, ela decidiu aguardar por ele.
*
*
Capítulo 25
*
Lizzy permaneceu no quarto até a hora de trabalhar. Mesmo refletindo e tentando se acalmar, continuava uma pilha de nervos. Pensava em quem lera tais jornais... Imagina os funcionários do hotel cochichando sobre o assunto pelos cantos e o pior: pelas suas costas... Imaginava pessoas que nem conhecia tirando conclusões precipitadas a seu respeito e fazendo comentários que seriam - a grande maioria - considerações maldosas. E não poderia sequer se defender de tais acusações...
Justo ela que nesse tempo todo fora tão discreta... Que nesse tempo todo se esforçara tanto para que poucos soubessem de tal relação...
E por mais que ela estivesse resolvida a desconsiderar as fofocas e que tentasse se convencer que tal fato não a afetava: a idéia de pessoas comentando a seu respeito parecia agora apavorante.
Como não podia mais demorar, e tinha muitos afazeres para se distrair, desceu e foi direto para sua sala. E achou que ficando lá quietinha passaria despercebida.
Assim que chegou, já encontrou Alberto que a procurava.
- Elizabeth! Temos muitas coisas para ver hoje! E a recepção está um rebuliço! Sabia que não param de ligar atrás de ti? Mas não te preocupes, que já dei ordens para não repassarem as ligações. Acho que durante essa semana não teremos sossego!
Lizzy assentiu calada, pois não tinha nenhuma intimidade com Alberto. Por mais que gostasse dele, seu relacionamento era puramente profissional.
- Pegue aqui, Elizabeth. – Estendeu o braço com algumas pastas - Estes relatórios precisam estar prontos até o final da manhã, pois o Sr. Darcy vem buscá-los. Aliás, ele mandou eu te avisar que só poderá vir aqui perto do meio dia. Citou um imprevisto qualquer, mas eu não me recordo bem o que era. – ficou pensativo.
Ela pegou as pastas e começou a folhear os papeis, distraidamente.
- Lizzy! Qualquer coisa é só me pedir, está bem? Não deixarei ninguém te perturbar. E precisando de algo estarei a sua disposição, está bem?
Lizzy concordou, mordiscando o lábio. E assim que ele saiu, pensou:
“Nossa! Alberto está tão solícito! E se até ele está diferente, imagina como os outros me tratarão. Devem pensar mesmo que eu sou a mulher do Sr. Darcy.”- e não pôde deixar de dar uma risada.
Ficou em sua sala tranqüila, até que foi interrompida:
- Lizzy! Ah, estás ai! Tentei te ligar a manhã toda, menina! Cadê teu celular? O que adianta a gente ter gasto uma fortuna para te dar um telefone incrementado como aquele se na hora que a gente mais precisa tu não atendes? Não tem pena dos meus pobres nervos, Elizabeth?
- Mãe! Pai! – Lizzy elevou a cabeça para fitá-los, apreensiva. Encarar sua mãe numa hora como esta era tudo o que ela menos queria.
- Eu tentei fazer com que ela não viesse, minha filha. Disse que tu estavas trabalhando e que provavelmente estarias muito ocupada. Mas sabes bem como tua mãe é quando enfia uma idéia na cabeça. – disse, tentando se justificar - E já que não tive meios de dissuadi-la, resolvi acompanhá-la para minimizar os danos. Sabe por que estamos aqui, não é mesmo Lizzy?
Ela suspirou e respondeu:
- Imagino, meu pai.
- Elizabeth! E você trabalha numa salinha tão sem graça como esta? Uma filha minha merece algo muito melhor do que isto! Olha que decoração medíocre! E não tem uma única janela! Ah não, Elizabeth. Isto não pode ficar assim. Temos que falar logo com o Sr. Darcy para providenciarmos uma sala maior para ti!
Mas o que sua mãe falou apenas serviu para reforçar seu nervosismo. Fitzwilliam Darcy estava para chegar a qualquer momento e ela precisava fazer com que sua mãe fosse embora com urgência.
- Mamãe! Não posso dar atenção para vocês agora! Tenho muita coisa para fazer! E alguns relatórios para terminar antes do meio dia!
- Ah, minha filha. Tenho certeza que não precisas preocupar-se tanto com isso. Suas faltas serão facilmente relevadas, sendo namorada de quem és. Aliás, tu e Jane escondendo o jogo de mim? Ah, querem me poupar dessa alegria? Não tem pena dos meus pobres nervos, Elizabeth?
- Mamãe! Eu não estou namorando o Sr. Darcy! – Lizzy reclamou, alvoroçada.
- Elas querem me enganar, Sr Bennet! Viu que filhas ingratas que eu criei? E Jane? Cadê Jane? Ela não trabalha aqui contigo?
- Peraí que eu vou discar o ramal dela – pegou o telefone – Jane! Vem aqui! É urgente!
Sua mãe virou-se de costas para examinar um quadro de perto e Lizzy pôde gesticular com seu pai. Suplicou:
- Papai, por favor, tire ela daqui.
- Margareth! Lizzy está atarefada, vamos ver então se Jane nos mostra o hotel? O Sr. Darcy não está hoje aqui, não é mesmo, Lizzy?
Ela concordou.
- Sim, papai. Ele não vem mais hoje.
- Ah! Que pena! – a Sra. Bennet exclamou, desconsolada – Queria tanto conhecer meu outro genro! Então só nos restas mesmo conhecer o hotel com Jane, para não perdemos a visita. Nos acompanha, Lizzy querida?
- Não mamãe, eu não posso! Já te disse que tenho que finalizar esses relatórios! – retrucou sem paciência.
- Está bem, Lizzy. Mas não trabalhe tanto. Vai cansar tua beleza. E homem não gosta de mulher com aspecto de cansada. O que o Sr. Darcy vai pensar?
- Jane! – Lizzy vociferou, aliviada ao ver a irmã entrando na sala.
Jane, ao constatar a presença de seus pais, ficou tão apreensiva quanto a irmã.
- Papai e mamãe querem conhecer o hotel.
- Ah sim! Oi pai, oi mãe – abraçou e beijou ambos – Vamos? Primeiro, começarei mostrando a minha sala provisória, já que logo eu e Lizzy nos mudaremos para o outro hotel. As obras já estão quase prontas e eu estou tão ansiosa para começar. Ah, papai! Podia aproveitar que vocês estão aqui para olharmos juntos uns apartamentos para alugar. Essa regalia de ficar no hotel era só até o fim do treinamento. Eu e Lizzy estamos em duvidas entre três, mas gostaríamos da opinião de vocês.
- Na minha opinião vocês não precisam alugar nada – Margareth interveio – Tu vais para a casa de Bingley e Lizzy para a de Darcy. Vocês não irão se casar mesmo? Então? Para que perderem tempo e dinheiro com aluguel? Aliás, que felicidade saber que minhas filhas não passarão por necessidades! Nunca lhes faltará dinheiro, meninas!
Lizzy, desesperada, fez um gesto para Jane sumir com a mãe da sala.
- Vamos mamãe! Estamos atrapalhando a Lizzy!
- Está bem! Mas depois a gente volta para ver se tens uma folginha para almoçarmos juntos. Viu, minha filha?
Como não tinha outra escolha, acabou concordando. E assim que eles fecharam a porta, ela jogou-se na cadeira e pôde respirar mais tranqüila. Pelo menos por enquanto.
Ficou uns trinta minutos sozinha, quando enfim ouviu a porta ser novamente aberta.
Virou-se para olhar, e para sua surpresa constatou que desta vez não se tratava de seus pais.
- Lizzy... – ele estava inquieto e com uma aparência fadigada. - Desculpa, querida, surgiram uns imprevistos e eu não pude vir cedo conforme combinamos. Quase nem dormi hoje. Muitos problemas... O Alberto te avisou que eu me atrasaria?
- Sim – ela sorriu para ele – Mas não tem importância. Eu tinha tantas coisas para fazer que nem percebi o tempo passar...
- Que bom – suspirou consolado – Eu estou tentando resolver tudo daqui, mas talvez tenha que ir até Curitiba ainda hoje.
- Ah.... – ela resmungou. Mas lembrou de um assunto que uma vez ouvira e indagou – É verdade que tu tens o teu próprio avião?
Ele deu uma gargalhada.
- Quem te contou isso?
- Ah, não lembro quem... Faz tempo... Fiquei sabendo ainda quando eu trabalhava em Porto Alegre. – Apesar de negar, lembrava claramente das palavras de Ana, secretária da Sra. Austen.
- Só que foste muito mal informada – ele riu – Eu tive mesmo um avião por pouco tempo, mas dava muita manutenção, e o incômodo não compensava as facilidades. Então o vendi e comprei aquele helicóptero em que voamos juntos certa vez.
Sorriram com a lembrança e ele prosseguiu:
- Mas só o uso para curtas distâncias e dependendo do meu estado de humor prefiro voar em aviões comerciais mesmo. Enfrentar filas em aeroportos não é algo que me agrada, mas às vezes não há como evitar.
Ela contornou a mesa e posicionou-se ao lado dele.
Darcy pegou a mão de Lizzy, levou aos lábios e fitando-a com preocupação perguntou:
- Como você está com essa confusão toda? Eu não queria que você passasse por isto, Lizzy. A mídia pode ser extremamente desagradável quando quer – bufou.
Fez um carinho no rosto dela para confortá-la.
Ela fechou os olhos ao receber tal gesto e respondeu com um leve sorriso:
- Já me sinto melhor agora.
- Que bom – ele comentou, inclinando-se para beijar de leve seus lábios. Em seguida lhe deu um abraço apertado, o que fez com que ela se sentisse protegida. Ficaram por alguns minutos abraçados sem dizer nada.
- William? – ela murmurou, quebrando o encanto.
- Que foi, querida? – indagou, acariciando seus cabelos.
- Meus pais estão aqui no hotel. – minha mãe é louca, ela pensou em dizer, mas não o fez.
- Hum?
- Eu não gostaria que eles nos vissem juntos.
- Porque não? Eles não leram o jornal? Agora não precisamos mais esconder, Lizzy. Todos já estão sabendo.
- Mas eu acho que ainda é cedo para isso...
- Bom... se é assim que você pensa – ele concluiu, parecendo magoado.
- Sim. É assim que eu penso. – ela queria explicar melhor, mas não sabia como. Não podia colocar em risco sua relação com ele. – Se importa se eu for procurar por eles para me despedir? Me espera na tua sala?
- Na minha sala? Vai me esconder dos teus pais? – inquiriu perplexo.
Ela ficou sem graça. Abriu a boca para esboçar uma justificativa. Queria achar as palavras certas para fazer com que ele a compreendesse, mas não teve tempo para isto: seus pais estavam de volta!
Jane entrou na frente e ao deparar com o Sr. Darcy fez menção de sair, mas já era tarde demais para isso.
- Sr. Darcy! Que prazer em finalmente conhecê-lo! – sua mãe exclamou.
Como não pode mais evitar tal acontecimento, Lizzy fez as apresentações.
- Muito prazer! – Sr. Bennet comentou estendendo a mão.
- O prazer é meu – Darcy replicou visivelmente satisfeito em conhecer os integrantes principais da família de Elizabeth.
- Sr. Darcy! Como tem se comportado a minha menina? – Sra. Bennet começou – Ah! Certamente ela esta se saindo muito bem! Ela sempre foi tão responsável, tão dedicada, que não vejo como possa ser diferente! E Lizzy é tão inteligente! Sempre gostou muito de ler. Não é mesmo, Sr. meu marido?
Sr. Bennet assentiu com um aceno de cabeça. Lizzy encarava Jane exasperada, clamando por socorro.
Como ninguém falou, e um silêncio constrangedor pairava no ar, a Sra Bennet prosseguiu:
- Sr. Darcy! Eu estava mesmo comentando com Elizabeth... Esta salinha é um tanto pequena para ela, não concordas? Minha filha bem que merecia uma salinha melhor e mais agradável do que esta. E essa decoração é tão simples! E esse quadro? De extremo mau gosto, devo dizer! Que pintura mais feia!
- Mamãe! – Lizzy reclamou exaltada.
Darcy, por sua vez, ficou boquiaberto e extremamente irritado. Mas em consideração a Lizzy se conteve e não falou uma palavra sequer.
“Como essa mulher ousava pronunciar um disparate desses? Quem ela pensava que era para falar mal de um quadro pintando por sua querida mãe?”
Lizzy tentou mudar de assunto, para fazer com que a Sra. Bennet se calasse, só que não obteve sucesso.
- Sr. Darcy? – ele permanecia mudo e imóvel - Li no jornal de hoje que você pretende se casar com a minha filha, é verdade mesmo?
- Hum? – ele respondeu distraído.
- Sim! Porque preciso saber desde já! Jane e Charles se casarão em dezembro, e temos que planejar a data de vocês para começarmos os preparativos! Temos tantas coisas para decidir! Tanto para escolher!
Darcy olhou para Lizzy. Ela estava com as bochechas vermelhas, evitando encará-lo, mas ele percebeu em seus olhos seu estado de perturbação.
Margareth Bennet não parava de falar. E ele não ouvia mais nenhuma sílaba do que ela dizia. Por mais que tentasse, não conseguia desconsiderar a impertinência desta mulher. E a ofensa proferida a respeito do quadro de sua mãe? Imperdoável! Falar desta maneira sobre uma das únicas recordações que mantinha dela?
Resolveu deixar a sala antes que cometesse alguma insanidade. Ele bem sabia que podia arrepender-se depois.
- Tenho que ir. Com licença – enunciou, virando-lhes as costas, deixando sua provável futura sogra tagarelando sozinha.
- Oh! Ele se foi! Também pudera! Meu futuro genro é um homem muito ocupado!
- Mamãe! De uma vez por todas: ele não é teu futuro genro! – Lizzy gritou a plenos pulmões, o que fez com que Darcy estagnasse do lado de fora da porta fechada para ouvir.
Margareth fitou a filha com atenção.
- Nós não estamos namoramos, não somos noivos e não pretendemos nos casar! Ouviu bem isso, mamãe? Preste bastante atenção: o Sr. Darcy é apenas meu chefe! Não tenho nada com ele e nem terei! – Agora mais do que nunca, pensou.
Para ela, todas as possibilidades de um futuro relacionamento entre os dois estavam agora arruinadas pela interferência de sua mãe. Ele saiu tão assustado, tão irritado – ela constatou – que certamente mudara de idéia a esse respeito.
- Oh, minha filha? Isso é mesmo verdade?
Ela concordou, mordiscando o canto do lábio. Estava tão alterada que se controlava para não chorar.
- Que vergonha, mamãe! Como vou olhar para ele novamente?
- Lizzy! Tenho certeza que ele tem mais coisas para se preocupar do que isso. – Jane interferiu, atenciosa.
- É, minha filha. Afinal tu não fizeste nada de mais. – O Sr. Bennet veio em auxílio da filha, abraçando-a.
- Então é mesmo verdade, filha? Malditos jornais de fofoca!
- Mamãe! Deves apreender a manter-se calada! Olha só o estado de Lizzy! – Jane recriminou a mãe, que pela primeira vez na vida parecia embaraçada.
- Oh! Que vergonha! Espero nunca mais ver esse homem na minha frente! Vamos embora, Antônio! – falou, puxando o Sr. Bennet pelo braço.
- Lizzy! Vê se não se atrasa hoje para o jantar. Eu e Mary não poderemos dormir muito tarde, pois o nosso vôo sai amanhã cedo, às 6 horas.
- Está bem, papai.
“Bem que mamãe podia ir junto” - ela desejou.
Nesse momento, Darcy já estava distante. Mas as últimas palavras ouvidas por ele continuavam ecoando em seus pensamentos:
“Nós não estamos namoramos, não somos noivos e não pretendemos nos casar! Ouviu bem isso, mamãe? Preste bastante atenção: o Sr. Darcy é apenas meu chefe! Não tenho nada com ele e nem terei!”
“Nem terei?”– repetiu tal idéia em sua mente, deprimido.
Bom, se é assim que ela pensa – concluiu com pesar – não tenho mais nada para fazer aqui.
E saiu rumo ao prédio em que estava seu helicóptero particular. Decidiu viajar e averiguar de perto os problemas com o hotel em Curitiba.

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