sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Um Certo Orgulho e Preconceito - Tânia Picon

Fanfic de O&P
Capítulo 16 a 20
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Capítulo 16
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As três amigas Charlotte, Lizzy e Jane – Lizzy e Jane tão amigas quanto irmãs - estavam juntas no quarto do hotel, o que era raro ultimamente.
Lizzy era a única pronta para o evento noturno, pois teria que chegar cedo, antes mesmo do primeiro convidado.
Charlotte se jogou na cama para observar melhor a amiga, que se analisava em frente ao espelho.
- Lizzy! Você esta maravilhosa!
Tinha optado por deixar seus cabelos soltos, já que os fios que sempre teimavam em ser rebeldes estavam perfeitamente disciplinados com a escova feita no cabeleireiro. Não entendia como por mais que memorizasse todos os passos feitos no salão, simplesmente não conseguia ter o mesmo resultado tentando imitá-los depois em casa. Bom, tinha que admitir: cabeleireiros eram mágicos!
Ela se olhava satisfeita. Geralmente não gostava da sua aparência, mas neste dia, teve que abrir uma exceção e admitir que estava bonita.
- Lizzy, querida! Você está simplesmente linda! – Jane afirmou, abraçado a irmã pelas costas.
- Está de arrasar corações! – Charlotte disse, brincalhona.
Lizzy suspirou, e sorriu para amiga.
- Será que hoje o príncipe encantado desencanta? – Charlotte continuou.
- Príncipe encantado? – Jane perguntou, elevando as sobrancelhas, curiosa.
Lizzy e Charlotte deram risadas. Lizzy, não conseguindo mais esconder como se sentia, finalmente admitiu:
- Será que ele me achara bonita?
Charlotte e Jane se olharam, satisfeitas e aliviadas pelo fato da amiga não estar mais tentando esconder o que era óbvio para elas.
- Lizzy!!! – Jane gritou, beijando o rosto da irmã – Que felicidade! Espero que vocês se entendam de uma vez! Estou tão contente! – Jane, sempre tão contida, saiu pulando pelo quarto.
E as três deram risadas.
- Jane! Deixa eu ver de novo o teu anel – Lizzy pediu, e Jane mostrou a aliança na mão direita.
- Sabe, ainda não me cansei de olhar para ele! – Jane falou, suspirando, com os olhos brilhando de felicidade.
- O pior de tudo, Charlotte, é que agora não teve jeito e Jane teve que finalmente ligar para nossa mãe. – Lizzy dava risadas olhando para a irmã – Ela não podia esperar para ligar só depois de casada!
- Oh! Quando foi isto? –Charlotte perguntou
- Ontem!
- Mas o pedido não foi terça-feira?
- Sim! Para ti ver! Jane estava esperando pelo casamento para contar! Mas eu não deixei!
Charlotte e Lizzy riram da amiga. Jane por fim, se juntou a elas e sorriu.
E contaram para Charlotte tudo sobre a ligação.
- Residência dos Bennet, deixe seu recado após o bip que no momento não podemos atender – e Jane reconheceu a voz, e ouviu risadas abafadas ao fundo.- Biiiiiiip!
- Lídia! É você! – Jane perguntou – Porque que eu saiba não temos secretária eletrônica e nem teremos porque o nosso pai as odeia.
- Jane! – Lídia exclamou do outro lado da linha, dando risadas – Desculpa, minha irmã! É que o Otávio ficou de me ligar, e eu não quero atender, mas queria ouvir o que ele tem a dizer!
Jane não pôde deixar de achar graça. Sempre a mesma história. Mas teve que admitir que estava com saudades de suas bagunceiras irmãs.
- Jane! – Ela podia ouvir Kitty gritando por trás de Lídia – Me deixe falar com ela – E podia imaginar perfeitamente a cena das duas brigando pelo aparelho.
- Não vou deixar! Eu vou pedir primeiro! Tu não quis atender! Agora te rala! – E Lídia empurrou a irmã.
- Jane! É que temos uma festa hoje! E queria pedir emprestado aquele teu sapato com detalhes verdes.
- Não, Jane! Não empresta! Ela estragou teu outro sapato que usou sem pedir. Conte para ela, Lídia! Eu que quero usar esse sapato! Combina muito mais com a minha roupa do que com a tua! – Kitty falava tão alto que Jane conseguia ouvir com clareza.
- Sai daqui – Lídia a empurrou, e Kitty caiu sentada no sofá.
Jane suspirou. Lizzy que era feliz. Sempre reclamando que seu pé era um número maior do que o das irmãs, mas pelo menos elas não demoliam seus sapatos antes mesmo que tivesse oportunidade de usar. Lizzy calçava o mesmo número de Mary, mas não precisava se importar com ela, pois era a menos vaidosa das cinco, e gostava de usar sempre os mesmos velhos e surrados tênis.
- Pai! – Lídia reclamou, ao ter o telefone retirado de suas mãos.
- Deixe-me falar com Jane – e ignorou as filhas mais novas – Jane! Filha! Como está tudo ai? Então vocês não voltam mais? – falou com tristeza.
E começaram a bater um longo papo, pois a conversa com seu pai, ao contrário do que ocorria com sua mãe, fluía com facilidade.
- Noiva, Jane? – As três irmãs olharam curiosas para seu pai. Até mesmo Mary, que ainda não havia se pronunciado, mas que também se encontrava na sala, levantou a cabeça e arregalou as sobrancelhas. Mary estava jogada numa poltrona em frente à janela, sob a luz do sol, concentrada na leitura de um livro – Noiva de quem? – ele continuou.
Mas não teve tempo de ouvir a resposta, pois a Sra. Bennet adentrou a sala correndo, ofegante, como se tivesse ouvido alguma palavra mágica, e lhe arrancou o aparelho das mãos.
- Noiva, Jane! – ela falou gritando, exaltada. Mary e Kitty taparam os ouvidos – Noiva de quem?
E Jane tentava contar, mas sua mãe não permitia, falando sem falar.
- Bingley? Charles Bingley? Nunca ouvi falar – sua mãe falou, desapontada – E o que ele faz? Ah, trabalha no hotel com você... Sei.... E quando vou conhecer meu futuro genro? Como assim um dia desses, Jane? Você não pode casar sem a minha aprovação! E a de seu pai, também, eu acho....
E a mãe de Jane prosseguiu com o interrogatório por longos minutos.
Queria saber de tudo, onde haviam se conhecido, como e há quanto tempo... E Jane respondeu, apenas omitindo o fato que ele era rico.
Logo que desligou o telefone, a Sra. Bennet relatou eufórica toda conversa com sua filha mais velha.
Lídia ficou pensativa, coçando a cabeça.
- Bingley... Charles Bingley.... Dá onde eu conheço esse nome? – E deu um pulo, exaltada – Já sei!
Lídia saiu da sala e voltou com uma pilha de revistas Caras nas mãos. - Deixa eu ver.... – falou, enquanto folhava suas páginas.
Os outros a observavam, curiosos. Mas não esperavam muito, pois estavam acostumados com as loucuras e fantasias de Lídia.
- Tá aqui! Achei! – falou satisfeita por sua boa memória – E Kitty e sua mãe foram correndo para ver.
- Viu? Eu disse que o nome era familiar – falou exibida, mostrando duas páginas cheias de corações desenhados por ela. – Eu lembro que me chamou atenção porque era o nome do hotel que Lizzy estagiava.
A revista era de dezembro do ano anterior e continha duas páginas com informações e algumas fotos de Charles e Caroline Bingley e Fitzwilliam Darcy.
- E esses corações? Você não está apaixonada pelo noivo da nossa irmã, por acaso, né? – Kitty perguntou, provocativa, colocando às mãos na cintura – Ou eu vou correndo contar para ela!
- Não! – Lídia respondeu, fazendo uma careta – por ele não, sua chata! Mas olha o amigo dele, é lindo!
Kitty arrancou a revista de suas mãos, e saiu correndo pela sala.
- Sim! Ele é lindo mesmo! E essa boneca de porcelana do lado dele? Deixa eu ler... Argh! É a namorada dele! E que nomezinho feio que ele tem, hein? Fitzwilliam! Bom, ninguém é perfeito!
- Sim! – Lídia falou interrompendo a irmã – Deixa de ser besta, Kitty! Que me importa se o nome dele é feio? Lindo desse jeito poderia se chamar Astolfo, Godofredo, Pindorama..., que eu não me incomodaria nem um pouquinho.
- Pindorama? – Kitty levou a mão à boca, abafando um risinho.
Agora até Mary ficou curiosa e foi olhar a revista.
- Hum.... o namorado de Jane até que é interessante, mas do lado desse outro perde toda graça – e sorriu.
- Agora eu tenho que ver quem é esse homem! Se até Mary lhe achou bonito. – falou a Sra. Bennet. Mas o que lhe chamou atenção, estampando um sorriso de orelha à orelha, foi outra informação – Meninas, eu estou entendo mal ou Charles Bingley é um dos donos do hotel? – falou, caindo para trás, sentando no sofá.
- Mamãe! Acho que é isto mesmo! – todas concordaram ao analisar melhor a reportagem.
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- Jane, tem uma coisa que eu ainda não te contei... – Lizzy falou, antes de sair.
- O que? – ela perguntou, curiosa.
- Nossa mãe ligou agora a pouco para o hotel.
- Oh! E o que ela queria?
- Queria dizer que esta vindo para São Paulo amanhã cedo.
- Amanhã? Já imaginava que ela viesse, mas não que seria tão rápido! – comentou incrédula.
- Ela disse que acharam umas passagens áreas em promoção na internet. E como o preço estava bom, vem ela, papai e Mary.
- Mary também?
- Sim, ela quer visitar nossa prima Roberta, e não houve jeito de dissuadi-la. Eles ficarão todos na casa de nossos tios Gardiner e amanhã teremos que almoçar lá com eles. Acho que tu vais ter que levar Charles, isso é o que eles esperam.
Jane suspirou resignada.
- Mas e Lídia e Kitty? Ficarão sozinhas em casa? – Jane perguntou, apavorada.
- Sim! Creio que sim! Tentei convencer nosso pai de não deixá-las, mas parece que elas não quiseram vir de jeito nenhum. Tinham uma festa qualquer imperdível.
- Oh, Lizzy! Todas as festas para elas são imperdíveis! Mas imagina aquelas duas sozinha em casa! Temo pelo que possa acontecer!
- Sim, eu também, Jane! Mas acho que estamos de mãos atadas, e não podemos fazer nada senão torcer para que elas não aprontem muito.
- E torcer para que quando nossos pais voltarem ainda encontrem uma casa em pé!
Elas riram.
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Capítulo 17
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- Georgiana, você está linda!
- Você também, Lizzy! Fizemos boas escolhas, não? Olha só, como ele brilha! – falou com alegria, enquanto girava sob os calcanhares para visualizar novamente o efeito da luz que refletia.
- Alguém mais já chegou? Não estou atrasada? – perguntou levemente aflita, procurando ao redor.
- Não, Lizzy! Por enquanto só estamos nós e meu irmão.
- Oh! – tentou aparentar calma, mas sua ansiedade transparecia. – Seu irmão? – o riso saiu forçado.
- Ele está lá na outra sala coordenando com a equipe os últimos detalhes para a apresentação. Mas creio que Charles e Caroline também estarão aqui daqui a pouco.
- Caroline também? – Franziu a testa, levemente apreensiva.
- Sim, Lizzy. A mala da Caroline! – Georgiana respirou fundo, não disfarçando seu desgosto. - Os pais deles não poderão vir. Jorge Bingley acabou de fazer uma cirurgia na perna e mal consegue se locomover de tanta dor, coitado.
- Sim, fiquei sabendo por Jane... – comentou, inquieta
- Então os filhos os representarão.– Georgiana prosseguiu, mas preferiu logo mudar de assunto - Já viu as maquetes dos hotéis que chegaram hoje à tarde?
Lizzy fez que não.
- São lindas, Lizzy! Vamos lá ver antes que as pessoas cheguem. E você ainda poderá encontrar William. Ele está tão bonito hoje! Aliás, vocês dois estão! – Georgiana falou, deixando claro suas intenções.
E Lizzy adorou saber que contava com o apoio de Georgiana, e sorriu com alegria para ela. Estava cansada de fingir.
Eram duas salas localizadas lado a lado. Em uma seria servido o coquetel e na outra estavam expostas as maquetes. Esta segunda era ampla e comprida e ao fundo tinha um auditório com capacidade para trezentas pessoas, onde seria realizada uma palestra, com áudio e vídeo, com detalhes sobre as novas sedes.
- Nossa, o de São Paulo é o mais lindo! – Lizzy exclamou, enquanto apreciava (maravilhada) cada detalhe das perfeitas miniaturas.
- Sim, também achei! – comentou uma empolgada Georgiana - E em qual que você trabalhará, Lizzy?
- Sabe que eu ainda não sei? – ela respondeu, confusa – ninguém me falou nada. Charlotte vai para Florianópolis semana que vem... Mas eu e Jane ainda não sabemos....
- Lizzy! Você acha que Charles vai deixar Jane trabalhar em outro local senão aqui, perto dele? – Georgiana contestou. Tinha certeza que seu irmão também tinha intenções de mantê-la por perto.
Lizzy sorriu.
- É, acho que não. Mas gostaria de continuar trabalhando com ela.
- Sim! Acho que Charles tem plena consciência disso e não pretende separar duas irmãs que se gostam tanto.
- Então quer dizer que eu também trabalharei aqui? – falou apontando para a maquete – Ele é tão lindo, ficaria contente.
- Lizzy, se quer mesmo saber, pode deixar que eu descubro. É só perguntar para William. Por falar nele, olha quem está vindo para cá!
Quando Lizzy virou-se para olhar, ele já se encontrava ao seu lado. Tomada de susto, meio nervosa, ela sorriu para ele.
Ele retribuiu o sorriso e deu um beijo no rosto de cada uma e as elogiou pelo bom trabalho que fizeram.
Georgiana estava realizada. Realmente estava tudo perfeito, como ela queria. Pelo menos por enquanto.
- Vou lá dar a última conferida no buffet – falou, deixando eles sozinho.
Ele se aproximou de Lizzy, se posicionado em frente a ela. E exclamou, olhando-a dos pés a cabeça, sem disfarçar seu interesse:
- Você está linda! – E nos seus olhos podia-se perceber uma visível satisfação.
Ela sorriu e respondeu:
- Você também.
Ele estava de terno e gravata, muito elegante e extremamente cheiroso. Lizzy quase se perdia aspirando seu perfume.
- Obrigada, Lizzy. Sei que já te agradeci, mas não posso deixar de fazer novamente...
- Ah.... não precisa agradecer.... foi um prazer – respondeu com sinceridade, enquanto seus olhinhos brilhavam, encantada por ele.
Ele chegou mais perto dela. E com uma mão começou a fazer carinho em seu rosto, próximo a boca.
Lizzy estremeceu com esse toque e fechou os olhos. Há tanto tempo esperava por isso. E há tanto tempo ansiava por poder senti-lo novamente.
Não havia mais ninguém no recinto além dos dois. Apenas a equipe de funcionários no auditório ao fundo. Eles estavam sozinhos. E mesmo que não estivessem, não perceberiam a presença de mais ninguém.
Ele se aproximou ainda mais, e levou seus lábios em direção aos dela. Lizzy abriu os olhos para fitá-lo. E encontrou com os lindos olhos azuis que a observavam com intensidade. Suspirou, esperando pelo tão desejado beijo.
Seus lábios se tocaram, primeiro com suavidade.
Então ele a envolveu com os braços, e a trouxe para junto de seu corpo. Ela correspondeu o abraço. Tinham urgência para sentir um ao outro. Mas ali não era a hora nem o lugar adequado para isto.
E se permitiram um beijo mais calmo, saboreando lentamente um ao outro, sem pressa. Um beijo para aplacar a saudade que sentiam.
- Lizzy....
- Hum...
- Eu preciso te dizer.... preciso te dizer que....
Mas ela o calou com um beijo. Não queria parar por nada. E não precisava de nenhuma explicação.
- Depois... pode dizer depois.... eu não vou fugir...
- Promete?
- Sim....
Ela parou de beijá-lo e lhe olhou. Ficaram abraçados, apenas se fitando. Não precisavam de palavras, se comunicavam apenas através do olhar. Ele queria dizer eu te amo, e ela entendia. Era como se pudessem ler um ao outro.
E foi com esta cena que Charles e Caroline Bingley se depararam ao chegar.
Georgiana tentou impedi-los, pretendia barrar seu caminho para que não fossem até a outra sala, mas não conseguiu chegar a tempo.
Georgiana olhou para Charles, arregalando as sobrancelhas. Era como se dissesse: E agora? Ambos temiam pela reação de Caroline.
Lizzy e Darcy, ouvindo sons, se voltaram para trás. E deram de cara com os três paralisados à porta, sem saber o que fazer. Georgiana e Charles assustados, e Caroline visivelmente enfurecida.
Dando-se conta que tinha sido flagrada, Lizzy corou, levando as mãos ao rosto. E olhou para Darcy pedindo socorro. Ele fez um carinho em seu rosto, e disse baixinho em seu ouvido:
- Não se preocupe com isso. Deixa que eu resolvo.
E ele caminhou em direção aos três, cumprimentou Charles e disse para Caroline:
- Venha, precisamos conversar – falou, puxando-a pelo braço. Sabia que esta conversa não seria nada agradável, mas não pretendia adiá-la por mais nenhum segundo. Queria evitar um escândalo e sabia do que Caroline era capaz.
Lizzy ficou sozinha com Charles e Georgiana.
- Lizzy, querida! Acho que agora finalmente poderei chamá-la de irmã! – Georgiana exclamou, abraçando-a, não disfarçando sua exagerada alegria.
- Acho que eu também – Charles falou, coçando a cabeça, confuso. E ao final abriu um sorriso para Lizzy e disse – E não vejo a hora de contar para Jane a cena que presenciei. Isso a fará tão feliz! Você não tem idéia, Elisabeth, o quanto ela torce por vocês dois. Aliás, nós dois torcemos.
Lizzy na verdade não ouviu quase nada do que ele dissera. Estava preocupada com outra questão. Queria saber para onde foram Darcy e Caroline e o que eles estariam fazendo.
Mas não teve muito tempo para pensar no assunto, pois logo os primeiros convidados começaram a chegar e ela teve que recepcioná-los, esquecendo de todo o resto. Não teve mais tempo livre para refletir. E quando se deu conta, o local estava repleto de gente e os dois ainda não haviam retornado.
O salão estava cheio, e Lizzy se encontrava entre Jane, Charles Bingley, Charlotte Lucas e William Collins. Georgiana falava com algumas pessoas que Lizzy não conhecia. Entre elas uma que particularmente lhe chamou atenção: um homem alto, loiro, bem aparado e elegantemente trajado, que Lizzy considerou extremamente charmoso. Olhando com atenção, pôde perceber que ele não desviava os olhos de Georgiana e a cercava de atenções, sorrindo com simpatia e por vezes tocando em seu braço. E pôde perceber que Georgiana, embora encabulada, corando por diversas vezes, retribuía seu interesse.
Georgiana percebeu que Lizzy os analisava e as duas trocaram sorrisos disfarçados.
A palestra estava prestes a começar, ela olhava seu relógio com impaciência, cruzando os braços e mordiscando o canto do lábio. Para
passar o tempo, resolveu caminhar entre as pessoas, mas evitando a proximidade com conhecidos. Não queria conversar com ninguém.
Avistou ao longe a Sra Austen e Ana, sua secretaria, que a seguia por todo saguão com um bloco de notas e uma caneta nas mãos. Achou a cena um pouco hilária, se conteve para não rir, e acenou para as duas ao longe. Ana a reconheceu, acenou de volta, e Lizzy percebeu seu contentamento por revê-la.
Avistou Catherine De Bourgh entre pessoas aparentemente importantes – todos muitos distintos, provavelmente portadores de grande fortuna - e se surpreendeu quando esta a cumprimentou, ainda que muito discretamente, com um leve sorriso e uma sacudida de cabeça.
“Que estranho”- pensou, enquanto retribuía o gesto.
Parou propositalmente em um canto, solitária, com plena visão da porta de entrada. Ele ainda não retornara, o que estaria fazendo durante tanto tempo?
Viu uma rodinha com algumas pessoas conhecidas, entre elas Alberto e Dona Rosa – que foram um dos primeiros a chegar e já haviam sido recepcionados por ela. Observando melhor os outros indivíduos deste grupo, reconheceu com espanto uma pessoa que a fitava. Levou a mão ao peito, instintivamente, e arregalou os olhos, corando de vergonha.
Rita percebeu o que se passava, e desviou o olhar. “Elizabeth sabia”- pensou e sorriu com as lembranças daquele dia. Sorriu consigo mesma ao recordar a cena que presenciou: o Sr. Darcy a carregando no colo, tão cuidadoso e preocupado, enquanto ela estava completamente adormecida e entregue em seus braços. E “Elisabeth sabia.... então eles deviam ter conversado” – concluiu, satisfeita.
Enquanto pensava em sua própria tristeza, Lizzy pôde observar que Charlotte, embora estivesse acompanhada, estava tão ou mais solitária do que ela. Collins, envolvido em uma conversação com outro cavalheiro, praticamente a negligenciava. Tão empolgado estava, gesticulando muito, sorrindo, e por vezes lhe tocando, que esquecera completamente de Charlotte, que se mantinha calada ao seu lado. Ela, por sua vez, olhava para baixo, sem ousar levantar a cabeça. E Lizzy sentia pena e compaixão por sua amiga.
Estava decidida a deixar seu posto e partir ao socorro de Charlotte, quando algo desviou sua atenção para a porta.
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Capítulo 18
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Darcy adentrou rapidamente no salão. Parecia confuso, e olhava para os lados a procura de alguém. Enfim respirou aliviado ao perceber que Lizzy aguardava por ele próximo a porta, escorada numa parede à frente. Sem pensar, rumou em direção a ela, mas foi interrompido pelo caminho. Uns senhores engravatados lhe cercaram para lhe falar, desviando sua atenção, e ele não pôde chegar até ela.
Darcy não conseguia se livrar. Quando terminava uma conversação, e decidia seguir seu trajeto, era novamente abordado por outras pessoas. Claro. Não tinha como ser diferente. O hotel era dele, e todos faziam questão de felicitá-lo pelas novas sedes.
Franziu as sobrancelhas e gesticulou para ela, querendo dizer: não tenho o que fazer. Ela balançou a cabeça como resposta, como se dissesse: estou vendo. Deu um sorriso triste e decidiu se locomover, visando desviar sua atenção e procurando outro assunto para ocupar sua mente.
- Lizzy, querida! – Charlotte sorriu satisfeita ao perceber a amiga do seu lado. Estendeu os braços a ela, como se pedisse socorro. – Amiga, você parece tão preocupada. O que houve? Porque esta franzindo a testa desta maneira?
- Vamos dar uma volta? – Lizzy perguntou à amiga, tentando mudar o tema da conversa – Preciso verificar se está tudo certo para o brinde depois da apresentação. Porque Georgiana está tão distraída, que parece que se esqueceu do mundo.
As duas olharam em direção a ela e trocaram um sorriso. Pelo menos alguém parecia se divertir.
Georgiana e o rapaz loiro, que Lizzy agora estava extremamente curiosa para saber quem era, pareciam tão entretidos um com o outro, conversando de tal maneira, que era nítido para todos que os observassem o clima de paquera.
- Sim, Lizzy – Charlotte respondeu tal convite sem hesitação. Embora não admitisse, nem para si mesma, estava louca para se livrar daquela situação.
Quando retornaram ao salão, perceberam que ele estava esvaziando rapidamente, visto que as pessoas estavam sendo chamadas e se dirigiam ao auditório para o início das apresentações.
- Amiga, vai indo na frente que eu encontro contigo depois.
Charlotte assentiu e deixou Lizzy sozinha, parada, observando as pessoas que rumava à outra sala.
- Você não vem? – um homem perguntou a uma Lizzy distraída enquanto fechava as portas do auditório.
Lizzy olhou para os lados e percebeu que só restava ela do lado de fora.
- Não – respondeu murmurando.
Então ela ficou completamente sozinha, pensativa.
Não tinha nenhum interesse em assistir essas apresentações. E além de tudo, como tinha sido a responsável por organizar tal evento, já estava completamente inteirada do assunto. Nada poderia ser dito que ela já não soubesse. Mas mesmo que houvesse alguma novidade, não estava interessada, pois era com outra coisa que ocupava seus pensamentos no momento.
Estava nervosa, ansiosa, e não sabia direito o que a perturbava. Darcy já estava de volta, e era certo que conversariam depois. Mas não era isso – ela tinha plena consciência – o motivo de tal inquietação que a fazia andar de um lado a outro e ter vontade de roer as unhas. Era outra coisa.
“Onde estaria Caroline?”- ela enfim se perguntou.
“Espero, do fundo do meu coração, que ela esteja bem”
“Não pretendo causar nenhum sofrimento a ninguém”
E se deu conta que pensar que Caroline poderia estar sofrendo a agoniava imensamente.
Ela deveria estar presente. Era o que todos esperavam da filha dos Bingley. E Caroline era tão preocupada com aparências e com comentários alheios, que não poderia ter ido simplesmente embora. Sabia que não aparecer em tal cerimônia faria dela alvo de fofocas e especulações.
Não. Lizzy sabia que ela devia estar em algum lugar. E chegou a conclusão que era isso que a intrigava e a incomodava. E decidiu procurar por ela.
As duas salas agora estavam em silêncio e o único som produzido vinha de dentro do auditório fechado.
A procurou por diversos locais, pela área externa, pela cozinha, área de serviço, pelos corredores, e até rumou a uma sala privativa que sabia existir subindo as escadas no final do corredor, mas que sempre se encontrava trancada. Para sua surpresa, desta vez estava aberta, mas Caroline não estava lá.
“Local interessante”- pensou, ao avistar um convidativo sofá diante de um terraço onde avistava a lua cheia.
Então resolveu voltar ao salão, mas uma porta particularmente lhe chamou atenção no caminho.
“Hum... um banheiro feminino... será?”
E decidiu entrar e fazer a última tentativa de encontrar Caroline.
As luzes estavam apagadas e Lizzy as acendeu, evitando fazer barulho. Mas não viu ninguém. Havia uma bancada de granito, com uma pia e um grande espelho. Ela aproveitou para analisar sua imagem, arrumando seus cabelos e retocando a maquiagem.
Distraída com seus próprios pensamentos enquanto passava o batom rosado nos lábios, ouviu um ruído vindo de uma das portas internas.
Olhou para trás, e percebeu que havia dois sanitários, um com a porta escancarada e a outra fechada.
Parou o que fazia e passou a prestar atenção a esta porta. Novamente ouviu sons, quase imperceptíveis, que se assemelhavam a um choro baixinho.
“Será que.... Será que é Caroline? Não, não pode ser!” – e tal idéia a atormentou e a atingiu profundamente. Precisava saber, e precisava ajudar se possível. Sentia-se culpada por seu infortúnio.
Bateu à porta, mas não obteve resposta.
Bateu novamente, e desta vez perguntou:
- Caroline, é você?
E o silêncio se fez. O gemido cessou. E Lizzy teve certeza de quem se tratava.
- Abre a porta, Caroline. Por favor. – suplicou
- Não – ela murmurou – seja quem for, vai embora. Não quero que ninguém me veja.
Lizzy decidiu trancar a porta de fora. A palestra terminaria a qualquer momento, e não queria que as perturbassem.
- Estão todos perguntando por você... – Lizzy mentiu. Podia até ser verdade, mas com certeza não perguntariam a ela.
- Quem é você? – ela perguntou.
- Eu.... eu... eu sou uma amiga- fez uma pausa – na verdade, não sou bem uma amiga, mas quero te ajudar... – falou insegura. Não sabia como se explicar.
- Hum.... – ela respondeu e ficou em silêncio – Mas não vou sair. Estou péssima! Não quero que ninguém me veja e não preciso da sua ajuda. Não a conheço.
Lizzy então decidiu entrar na porta ao lado, subiu no vaso sanitário e a olhou de cima.
Mas a cena que viu lhe partiu o coração. E o choque foi tão grande que ela caiu para trás.
Caroline estava sentada no chão, jogada sobre o vaso sanitário, com os olhos inchados e vermelhos de tanto chorar. Seu rosto estava completamente irreconhecível pela maquiagem borrada, com manchas coloridas, mas principalmente pretas, por toda face.
E o barulho da queda foi grande e Lizzy quase torceu o pé.
Mas embora tenha ficado no alto por apenas alguns segundos, estes foram suficientes para que Caroline a reconhecesse.
E num rompante Caroline abriu a porta e avançou sobre Lizzy.
- Sua... sua.... – não achava palavras – Como ousas! É tudo culpa tua!
Falava cerrando os dentes, com os olhos ardendo em fúria, enquanto seus braços tentavam agredi-la.
Lizzy ao mesmo tempo em que tentava se levantar do chão, tentava se desvencilhar do ataque de ira da outra.
Enfim, conseguiu pôr-se em pé, e segurou os braços de Caroline.
- Controle-se, Caroline! – ela gritou
Caroline parou, fulminando-a com o olhar.
- É tudo culpa tua! – falou, encarando Lizzy. Completamente descontrolada, recomeçou a chorar.
Lizzy, instintivamente, a abraçou, tentando acalma-la.
- Caroline, não é minha culpa. – falou baixinho, acariciando seus cabelos – Desculpa, mas não é minha culpa....
- Mas ele podia voltar a ser meu! ... sei que voltaria.... mas você apareceu e estragou tudo.
Lizzy se afastou e a contemplou, pegando em suas mãos.
- Caroline, mas ele não a amava... você era feliz assim? – ela perguntou com delicadeza.
- Mas ele poderia me amar... tinha certeza que me amaria... mas agora está tudo perdido. Ele me disse que ama você.
Lizzy ficou paralisada com o choque causado por tal informação.
- Ele disse que me ama? – ela murmurou.
Caroline voltou a encará-la, com raiva.
- Não vou te dizer o que ele me disse! É isso que você quer, não é? É para isto que você está aqui? Para assegurar a sua vitória? Ok! Você venceu! Mas não vou deixar isso assim! Não mesmo! – ela praticamente jogava as palavras sobre Lizzy, andando pelo banheiro de um lado a outro – Ele sempre foi tão fácil de manipular! Sempre foi tão tolo! Sempre consegui o que quis dele! Porque agora isso deveria mudar, por causa de uma reles funcionária como você? Não! Tenho certeza que não! Sabe por quê? Porque ele se acha esperto, mas na verdade é muito burro!
Lizzy a observava muda, escorada à pia de granito.
Caroline precisava desabafar e Lizzy a escutava atentamente, sem interromper.
- Sabe a vez que começamos a namorar? Sabe como foi? – ela perguntava sem esperar pela resposta – Eu o embebedei, sabia? O enchi de álcool até ele ficar inconsciente e dormir feito uma pedra. Uma pedra linda, tenho que admitir! Mas daí para simular que algo aconteceu entre nós foi muito fácil! E ele caiu feito um patinho! Sabe por quê? Porque ele é burro!
Lizzy arregalou as sobrancelhas e levou a mão à boca.
- Então não aconteceu nada naquela noite? – perguntou espantada.
- Não! Mas fiz com que ele pensasse que sim! E não me arrependo, pois assim ele finalmente resolveu me dar uma chance. E namoramos por um ano, sabia?
Lizzy assentiu.
- Mas Caroline.... ele não a amava... Não entendo... como alguém pode se contentar com tão pouco....- ela falou, baixinho
- Mas eu o amo! Eu o amo por nós dois! O amo desde que éramos crianças! Desde que me conheço por gente!
Lizzy fechou os olhos e respirou fundo. Sentia por ela.
Ficaram em silêncio e ouviram alguém forçando a porta. Lizzy fez um gesto para elas ficarem quietas e Caroline a olhou agradecida. E logo a pessoa desistiu e foi embora.
- Caroline, deixe me ajuda-la. Creio que logo teremos que voltar. As pessoas começarão a perguntar por ti...
Caroline concordou e Lizzy começou a ajudá-la a lavar o rosto. Depois de muito esforço, conseguiram remover toda maquiagem manchada.
Lizzy a fitou, admirada:
- Caroline! Como você é bonita!
Ela a contemplou com surpresa.
- Sério! Você é linda! Fique exatamente assim! Não coloque mais aquele monte de maquiagem! Assim está muito melhor! – exclamou, exaltada.
- Você acha, Elisabeth? – ela perguntou enquanto examinava seu reflexo no espelho – Me sinto tão estranha dessa forma.
- Confie em mim! Você atrairá muitos olhares e tenho certeza que ficará bem satisfeita.
- Será? Mas estou tão inchada, meus olhos estão tão vermelhos!
- Vamos colocar apenas um lapizinho de olho para disfarçar. Mas nada mais, está bem? Todos ficarão tão surpresos com a tua nova aparência que nem repararão em teus olhos.
Caroline a observou agradecida, enquanto Lizzy ajudava.
- Você é legal – Caroline falou – Você o ama, Elizabeth?
Lizzy baixou a cabeça e sentiu suas bochechas ruborizarem.
- Amo – murmurou – o amo mais do que tudo na vida – admitiu, sincera.
Caroline suspirou e disse enfim:
- Então acredito que minha batalha chegou ao fim - fez uma pausa – Sabe que nunca tentei realmente esquecê-lo? Sempre tive esperanças que um dia o conquistaria. E agora não sei bem o que fazer...
- Eu sei bem o que tu deves fazer, Caroline. Deve procurar um homem que a ame intensamente, que a faça se sentir completa e não pela metade.
- Oh! É isso mesmo.
E ouviram novas tentativas de abertura da porta.
- Vamos? – Lizzy perguntou, pronta para destrancar a porta.
Caroline permitiu, sorrindo com tristeza.
- Obrigado, Elizabeth.
- Lizzy. Pode me chamar de Lizzy.
Abriram à porta e se deparam com Jane, que permaneceu paralisada à entrada, espantada.
- Vocês estão ai? – perguntou depois de um breve constrangimento.- Estão todo perguntando por vocês. Reparei que vocês não assistiram às palestras – Jane atropelava as palavras, gesticulando muito, nervosa pelo inusitado da situação.
As duas juntas era algo que ela nunca poderia imaginar. Ainda mais trancadas sozinhas no banheiro.
– E ficaram o tempo todo aqui? – perguntou, sem disfarçar seu assombro.
Caroline e Lizzy sorriram, e trocaram olhares de cumplicidade.
Jane franziu a testa, confusa.
- Caroline, como você está bonita! – Jane enfim percebeu e exclamou.
- Viu! Eu te disse! – Lizzy falou e Caroline ficou eufórica.
- Teu irmão está ali fora me esperando. – Jane prosseguiu, se dirigindo para Caroline – Mas creio que está muito preocupado contigo. Já tentou te ligar diversas vezes!
- Sim, acho que sumi por um bom tempo mesmo... Mas agora está na hora de voltar. Me acompanha, Lizzy?
- Claro – Lizzy respondeu, sorrindo.
E saíram deixando para trás uma Jane completamente perplexa.
Antes de retornarem ao salão, encontraram Charles que aguardava Jane no corredor.
Ele estava distraído, mas ao ouvir o ruído da porta, se voltou para olhar, pensando se tratar de Jane. E não pode disfarçar o choque que teve com a visão das duas saindo juntas.
E Caroline e Lizzy gargalharam ao observarem sua reação.
- O que você fez com a minha irmã? – perguntou a Lizzy – Caroline, você está tão.... tão....
- Bonita? – Intercedeu Lizzy.
- Sim! Extremamente encantadora.
Caroline deu um sorriso de orelha a orelha. Com esses dois elogios tão espontâneos já se achava mais forte para enfrentar o que teria pela frente.
Aliás, nunca duvidem do efeito de elogios sobre uma alma feminina devastada.
E retornaram de braços dados, sorrindo. Como grandes amigas.
Juntas, faziam uma bela figura. Uma mais encantadora do que a outra - apesar de Lizzy ainda se sobressair.
E logo na entrada, perceberam vários olhares de admiração e interesse masculinos. E alguns de perplexidade e espanto que as faziam rir.
*
*
Capítulo 19
*
Assim que retornaram, Lizzy foi abordada por uma Georgiana agitada:
- Lizzy, querida! Por onde você andou? Estava preocupada!
Georgiana percebeu Caroline e ficou pouco a vontade, levemente embaraçada.
- Oi Caroline – falou quase sem olhar para ela, praticamente ignorando-a, pois seu interesse era falar única e exclusivamente com sua amiga. – O brinde está atrasado! Preciso da sua ajuda! Algo está errado!
Lizzy abriu a boca para dizer algo, mas Caroline a interrompeu:
- Pode deixar comigo, Georgiana querida. Tenho bastante experiência neste tipo de evento. Pode deixar que eu faço questão de cuidar de tudo para vocês.
Georgiana ficou boquiaberta, e só agora a examinou com curiosidade.
- Caroline, você está diferente – falou admirada.
Caroline sorriu sem graça.
E antes que pudesse sair para resolver o tal assunto, Lizzy cutucou-a, falando em seu ouvido:
- Caroline! Olha aquele gato lá na porta! Ele não tira os olhos de ti.
Ela voltou-se para observar e percebeu um homem extremamente bonito e charmoso, encostado na parede próxima a uma das portas. Ele estava numa roda entre amigos, e parecia se divertir. Muito elegante, tinha cabelos castanhos claros, um expressivo par de olhos verdes e um sorriso perfeito - com dentes brancos e bem alinhados. Não era muito alto, mas era exageradamente sensual e encantador.
Ele percebeu que elas o analisavam e cumprimentou Caroline com um aceno de cabeça, sorrindo de maneira provocante.
Caroline – envergonhada – respondeu o cumprimento e logo virou o rosto.
Com as bochechas vermelhas, balbuciou:
- É o Carlos, amigo de Charles. Georgiana, você o conhece, não?
- Hã... quem? – Georgiana estava ao mesmo tempo surpresa e chocada ao perceber a intimidade entre as duas. Não estava compreendendo muito bem a situação.
- Carlos, Georgiana! – Lizzy intercedeu.
- Ah... sim. Conheço, sim. O que tem ele? – perguntou confusa.
- Ele não tira os olhos de Caroline! Olhe! – Lizzy exclamou, satisfeita.
Georgiana se virou para ver, e constatou ser verdade.
- Sim, Caroline. Ele não tira os olhos de você. E eu acho ele maravilhoso – Georgiana acrescentou, suspirando.
- Sim! Eu também. Mas ele nunca olhou para mim antes. – Caroline completou.
- Tem certeza? – Lizzy argumentou, franzindo a sobrancelha – Porque ele parece bem interessado. Será que não foi você que nunca percebeu anteriormente?
- É. Pode ser. Pode ser.... – ela falou, pensativa. Mas logo um sorriso lhe iluminou o rosto – Mas ele é lindo mesmo, não é?
As duas sorriram em resposta.
- Vou ver a quantas anda o brinde. Até depois – Caroline se afastou mandando um beijo para as duas com as mãos enquanto se afastava.
Assim que lhes deu as costas, Georgiana olhou para Lizzy, intrigada:
- O que foi isto? Lavagem Cerebral?
Lizzy deu uma gargalhada em resposta.
E pode perceber um Darcy atônito observando-as do outro lado do salão. Mas ele continuava ocupado, cercado de gente.
E tão logo Caroline saiu, Lizzy foi atacada por Charlotte e Jane que a enchiam de perguntadas, exaltadas, sobre a sua aproximação com Caroline Bingley.
Jane era visivelmente a mais interessada, pois desde o início de sua relação com Charles vinha tentando se aproximar e manter uma amizade com a cunhada, apesar do insucesso nesta empreitada.
Georgiana, assim que recebeu a dose de informação que julgou necessária, e assim que percebeu que Caroline estava resolvendo com sucesso os problemas que antes a perturbavam, decidiu afastar-se para retomar a conversação com o rapaz loiro que a aguardava, que julgava no momento a mais interessante do mundo.
Mas Lizzy a segurou pelo braço, impedindo sua fuga.
- Espera! Precisamos conversar.
Georgiana a olhou, apreensiva.
Lizzy riu da reação de Georgiana.
- Relaxa, Georgi. Só queria saber o nome do teu amigo. Estou morrendo de curiosidade – falou, esfregando as mãos.
Georgiana sorriu, aliviada, sentindo-se mais a vontade.
Chegou perto e lhe falou ao pé do ouvido, em segredo.
- É George. George Wickham – respondeu, empolgada – Quando criança, ele era muito amigo de meu irmão. Mas agora acho que se afastaram, porque não vejo mais os dois conversando. Sabe? Eu costumava sonhar com ele, e escrevia em vários cadernos: George e Georgiana, G & G. – confidenciou à amiga – Vai dizer que não combina? É perfeito! – exclamou, maravilhada.
Lizzy sorriu em reposta.
- Mas eu era muito nova, e ele nunca olhou para mim. Até hoje! E eu estou tão feliz! – acrescentou eufórica.
- Tudo bem, Georgiana, querida. Estou satisfeita com tal explicação. Agora se considere livre para ir.
Georgiana a encarou agradecida e sem perda de tempo partiu ao encontro de George W.
E logo que ela saiu e Lizzy ficou a sós com Charlotte e Jane, que ainda ansiavam por maiores explicações, as taças para o brinde com champanhe começaram a ser distribuídas. E então as amigas se retiraram e dirigiram-se para a companhia de seus namorados e Lizzy se viu novamente sozinha, conservando na mão a taça vazia.
Após alguns segundos de solidão, observando Darcy que conversava com algumas pessoas - com uma expressão não disfarçada de tédio - e desejando desesperadamente sua companhia, alguém chamou sua atenção, e Lizzy voltou-se para trás.
- Ana! – exclamou com surpresa. Só haviam se visto e conversado uma única vez.
- Lizzy! Que alegria encontrá-la novamente. Estava louca para vir falar contigo. E aproveitei a oportunidade ao perceber que estavas sozinha. – falou entusiasmada.
Lizzy a olhou com curiosidade.
- Oi Ana! Tudo bem?
- Sim. Comigo esta tudo ótimo. Eu é que te pergunto: como está tudo por aqui? Aliás, nem precisa responder, pois tenho certeza que está tudo maravilhoso.
Lizzy deu um sorriso amarelo, enquanto Ana falava com empolgação. Apesar de não a conhecer direito, Lizzy sentiu que simpatizava com ela.
E antes que Ana prosseguisse com seu diálogo, elas foram interrompidas por um garçom, que as serviu com champanhe para o brinde.
- Lizzy! Sabe, eu estava pensando. Lembra o que eu te falei em Porto Alegre?
Lizzy assentiu.
Apesar de já se passarem quase quatro meses desde o dia em que se conheceram, suas palavras ainda ecoavam em sua memória:
“É que algo me diz que você será muito importante para essa rede de hotel! Ainda não consigo saber o porquê, em que sentido, mas eu sinto isso. E quando tenho esses pressentimentos costumo acertar.”
E Lizzy deu um sorriso discreto ao lembrar de tal conversa, e retrucou:
- Lembro, sua Maluca.
Então um homem engravatado pegou o microfone e começou a discursar, e elas emudeceram para escutar.
Lizzy não prestava atenção ao que ele dizia. Apenas reparava em Darcy que sorria para ela do outro lado do salão. Ela sorria de volta e a troca de olhares estava evidente.
Ana percebeu o clima de paquera entre eles, e acrescentou:
- Agora eu tenho certeza, Lizzy! – prosseguiu, exaltada – Tenho certeza que eu sempre estive certa!
Lizzy a encarou curiosa. Mas logo sua atenção foi desviada.
- E agora, brindaremos às novas sedes! E a todas as outras que ainda virão! Um brinde às cadeias Pemberley! – o homem exclamou, finalizando seu discurso.
E elas ficaram em silêncio, enquanto elevavam seus cálices ao ar.
Lizzy levou a taça aos lábios, e sorveu um pouco da bebida. Mas percebeu que Darcy a olhava de maneira provocativa, levantando a sobrancelha, com uma expressão divertida no rosto. Ele sabia do efeito da bebida sobre ela. E Lizzy, ciente do que aquele olhar significava, sentiu como se o champanhe lhe ardesse a boca, e demorou para deglutir o líquido. Engoliu em seco, mas sua vontade era de devolver a bebida ao copo. E logo descartou sua taça.
Não! Desta vez não beberia. Havia aprendido a lição e desta vez queria estar plenamente consciente de seus atos.
- Lizzy, só queria te dizer isso – continuou Ana, se explicando – Que eu agora sei porque tu serás importante. Aliás, muito importante. – enfatizou.
- Hum...? – Lizzy respondeu distraída, havia esquecido da presença dela.
E como Darcy vinha em direção a elas, Ana encerrou rapidamente a conversa, antes de se afastar:
- E espero receber um convite para o casamento – sorriu satisfeita, dando-lhe as costas, deixando atrás de si uma Lizzy estupefata.

Darcy parou a seu lado, e ficaram ambos olhando para frente, analisando as pessoas. Depois de um breve silêncio, ele desabafou:
- Sempre considerei este tipo de evento extremamente enfadonho, mas hoje devo dizer que estou achando muito mais desagradável do que o costume. O tempo está custando demais para passar.
Ele a fitou, e se encorajou com a troca de olhares para prosseguir.
- A vontade que eu tenho é de mandar todo mundo embora agora mesmo, Lizzy – ele prosseguiu - De expulsar todos só para poder ficar a sós com você.
Colocou a mão no ombro dela. E este contato sobre sua pele foi suficiente para provocar um arrepio em Lizzy pelo corpo todo. Ela sentia sua perna fraquejar, sua respiração se acelerar e se tornar mais ofegante, apenas com aquele pequeno toque.
Ela suspirou, piscando demoradamente. A presença dele a atordoava, ela não conseguia articular as palavras, não conseguia sequer refletir.
- Hum...? – ela falou, mordiscando o canto do lábio.
- Estou louco para continuar o que paramos, Lizzy. – ele se aproximou e sussurrou ao seu ouvido.
Ela sorriu para ele, e em seus olhos ele podia ler a resposta. Ela também o queria.
Darcy olhou em seu relógio:
- Será que a gente não pode simplesmente fugir? Vamos sair daqui agora, Lizzy – falou, num impulso, puxando seu braço.
Ela riu da proposta dele.
- Não podemos. O hotel é teu, esqueceu? Acho que sentirão a tua falta e chamaremos atenção.
- Que me importa o que os outros pensam? – ele retrucou.
Mas em seguida se calou. Ela estava certa e ele sabia. Se saíssem seriam alvo de fofocas, e ele não queria que Lizzy passasse por isso. Era algo que ele já provara por diversas vezes - e considerava ter sua foto estampada num jornal popular extremamente desagradável.
E começou a fazer carinho no ombro dela, tocando próximo ao pescoço. Lizzy estremeceu, e soltou um pequeno gemido. Ele sorriu, malicioso.
Ela mordeu novamente o lábio, olhando para ele de maneira suplicante.
- Lizzy... – ele sussurrou. Mas notou que algumas pessoas os observavam e se virou para frente, para disfarçar. Parou de encará-la, mas não soltou seu ombro. – Você me enfeitiçou de corpo e alma, Elizabeth. Estou completamente desesperado... Preciso de você.
Ela sorriu satisfeita. Estavam ambos olhando para frente, para evitar olhares indiscretos.
- Eu também... – ela disse – eu também preciso de você.
“Eu te amo”- ela pensou.
Ficaram calados, sorrindo, com uma alegria incontida.
- Aliás, acho que você tem o dom de enfeitiçar as pessoas, Lizzy. O que foi aquilo com Caroline? – inquiriu, curioso.
Ela deu uma risada como resposta.
- Ih... Longa história... Depois te conto.
Ficaram calados, e ele acrescentou:
- Nem ouse ir embora cedo, senhorita Elizabeth Bennet. Eu a proíbo. – falou em tom de brincadeira, mas dizia a mais pura verdade – Hoje você não fugirá de mim. Senão irei atrás de você e não terei nenhum ressentimento em invadir teu quarto novamente.
- Ok, Sr.Darcy – ela prosseguiu no mesmo tom – Pode ficar tranqüilo que não tenho nenhuma intenção de fugir.
Ele riu com vontade.
Georgiana e George Wickham cruzaram o salão, passando próximos a eles. Ela na frente lhe puxando pelo braço, e ele a seguindo contente. Estavam visivelmente interessados um pelo outro.
Darcy, que sorria, fechou a cara. E Lizzy percebeu o olhar de fúria que trocou com George.
Ela o fitou, franzindo as sobrancelhas.
- Ciúmes de irmão? – ela indagou.
Ele soltou seu ombro e passou a beberiscar o champanhe que ainda conservava na mão, evitando encará-la.
- Não. Quem dera fosse apenas isso. – ele prosseguiu, exaltado – O mais certo seria: preocupação de irmão. Wickham não é adequado para Georgiana.
- Adequado? – ela lhe fuzilou com o olhar – Achas que agindo desta maneira preconceituosa pode definir quem é ou não melhor para sua irmã? Não achas que cabe a ela esta decisão? – replicou irritada.
Ele a fitou com surpresa. E em seguida sorriu. Achava encantadora essa forma que ela tinha de enfrentá-lo.
- Não, Elizabeth. Me expressei mal. O que eu quis dizer é...
Mas não pode prosseguir com sua explanação, pois Charles e Jane se colocaram juntos a eles, e o assunto teve que ser desviado para amenidades.
- Elisabeth, desculpe interrompe-los. Mas terei que roubar meu amigo por um instante – Charles falou, logo se justificando com Darcy – William, aqueles investidores querem conversar conosco agora, pois em seguida irão embora.
Darcy assentiu, e se dirigiu a Lizzy:
- Depois continuamos. – Pegou a mão dela e beijou.
Saíram, deixando as duas irmãs a sós.
- Lizzy! – Jane exclamou com empolgação. – Quero saber tudo! Vocês estão finalmente se entendo?
- Jane, acho que sim! – respondeu com alegria
- Lizzy, isso é maravilhoso!
Mas emudeceram ao observar alguém se acercando delas, e com surpresa perceberam que Catherine de Bourgh se posicionava ao seu lado.
*
*
Capítulo 20
*
- Creio que ainda não fomos devidamente apresentadas, mas como percebi a intimidade da senhorita com meus sobrinhos me senti na obrigação de conhecê-la. Não posso permitir que eles mantenham uma amizade com alguém que eu não aprove – Catherine de Bourgh proferiu tais palavras lentamente, não disfarçando sua antipatia.
- Prazer, Elizabeth Bennet – Lizzy estendeu a mão, de maneira insolente. – E esta é minha irmã, Jane Bennet.
- Hum – Catherine ignorou o gesto de Lizzy, assim como a presença de Jane.
Jane, estarrecida, arranjou uma desculpa e se afastou.
- Fitzwilliam me repreendeu naquela manhã por eu ter sido rude com a senhorita. Confesso que achei estranha essa exagerada preocupação da parte dele. E hoje fiz questão de cumprimentá-la exatamente como ele queria. – fez uma pausa - O que você está tramando, Elizabeth Bennet? Conheço bem seu tipo e você não me engana!
Lizzy ficou boquiaberta e a fulminou com o olhar.
- Meu tipo? Quem a senhora pensa que é para falar comigo desta maneira? – retrucou enfurecida.
- Não se faças de boba, menina! Porque sei que de boba você não tem nada! E é esperta demais. O que você pretende? O que você acha que pode ganhar agindo desta maneira? Você não é adequada ao meu sobrinho! Não passa de uma reles empregadinha dele e ele logo se cansara de você!
- Veremos! – Lizzy bufou de raiva.
- Ah! Ainda a ousadia de me enfrentar! Menina insolente! Mas veremos quem tem razão!
Em seguida Catherine se calou e forçou um sorriso ao perceber que Darcy as observava com ares de aborrecimento. Lizzy sorriu ironicamente ao compreender quem estava no comando.
- Acho que teu sobrinho não concorda contigo – Lizzy replicou com sagacidade.
- Hunf! - Catherine resmungou – Meu sobrinho é namorado de Caroline Bingley. Eles só estão passando por um momento de crise, mas estou certa que logo perceberão seu equívoco e voltarão a ficar juntos.
Lizzy riu com sarcasmo do comentário descabido e acrescentou:
- Creio que será mais difícil do que pensas convencê-los de tal fato – E apontou para Caroline que estava na porta indo embora de braços dados com Carlos.
- Oh! Mas não pode ser! – foi a única resposta que ela conseguiu pronunciar.
- Até logo, minha senhora. – Lizzy proferiu, dando lhe as costas, saindo à procura de sua irmã.
- Jane! Que idéia me deixar sozinha com aquela bruxa? – Lizzy resmungou.
- Desculpa, Lizzy – ela respondeu embaraçada. – Não sei como agir com pessoas assim... E tu sempre soube se virar tão melhor do que eu em confrontos.... Achei que eu só fosse atrapalhar....- Jane gaguejou.
- Não tem importância, Jane. – Ela afirmou compreensiva.
Lizzy não gostaria que Jane ouvisse tal conversa. Sua irmã era muito sensível e certamente ficaria abalada.
Tão logo parou de falar, sentiu uma mão conhecida em seu ombro.
Fechou os olhos e suspirou antes de se virar.
- Oi! – seus olhos brilhavam, enquanto sorria.
E esqueceu todo conteúdo da conversa que a deixara nervosa. Junto dele, todos os seus problemas desapareciam.
Charles e Jane saíram, deixando o novo casal mais a vontade.
- Espero que minha tia não a tenha aborrecido. – ele comentou, contrariado.
- Ah... um pouquinho – ela sorriu sem graça - mas não quero falar disso agora. Para onde iremos depois? – ela indagou, contente.
- Para onde você quiser, Lizzy. Só o que importa para mim é estar com você. O lugar não importa.
Lizzy olhou para o chão, envergonhada. Ele colocou a mão em seu rosto e fez com que ela o olhasse novamente.
-Lizzy.... – ele sussurrou – se você soubesse tudo que eu tenho passado.... se você soubesse como eu me sinto....
Ela fez um carinho em seu braço e disse:
- Eu sei. Pode ter certeza que eu sei.
- E essas pessoas que não vão embora nunca. – ele resmungou, irritado.
Restava apenas um terço das pessoas. E algumas pareciam que não tinham a intenção de ir tão cedo.
- Vamos apagar as luzes para ver se eles se tocam? – ela sugeriu.
- Boa idéia – ele achou graça.
E começou a olhar ao redor, preocupado.
- E Georgiana? Onde está minha irmã? Faz um tempo já que não a vejo – constatou com assombro.
- Sim! Eu também – Lizzy se surpreendeu ao reparar que não sentira a ausência de Georgiana, tão distraída que estava.
- Mas estou lembrando que ela me contou para onde ia – falou, depois de pensar por um momento, para despistá-lo. Na verdade, ela não dissera nada, mas Lizzy não queria perturbar Darcy e gostaria de proteger Georgiana. – Pode deixar que eu a encontrarei.
Ele concordou.
Depois de refletir, Lizzy saiu do salão, e seguiu em direção ao corredor, subiu as escadas e parou em frente à porta, na mesma sala onde já procurara por Caroline.
“Georgiana deve estar aqui. Deve ter vindo namorar e se esqueceu da vida”.
A lembrança daquele convidativo sofá e a vista do terraço com uma romântica lua cheia voltou lhe à mente. E ficar a sós ali era uma opção atraente até para ela.
Tentou abrir, mas a porta que estava anteriormente aberta agora se encontrava chaveada.
“Estranho”- ela pensou.
Resolveu bater na porta e chamar por Georgiana.
Esperou pela resposta, e instantes depois, ouviu alguns cochichos e movimentos de pessoas agitadas.
- Georgiana! – chamou novamente – Sou eu, querida. Teu irmão esta procurando por ti.
Logo em seguida, escutou ruídos de chave, e Georgiana abriu uma fresta, para espiar. Estava visivelmente assustada.
- Lizzy! Que susto! É você? – ela suspirou, e olhou para os lados, nervosa – E meu irmão? Wiliam não está com você?
- Não, querida. Estou sozinha. Fique tranqüila.
Então Georgiana abriu a porta, e Lizzy pode reparar melhor nela. Estava com o cabelo desalinhado, com a maquiagem levemente borrada, e com o vestido completamente amarrotado.
- Hum – Lizzy sorriu, maliciosa – Pelo visto eu interrompi alguma coisa...
Georgiana corou e sorriu amarelo.
- É... Eu estava... A gente perdeu a hora – explicou constrangida, abrindo mais a porta e apresentando Lizzy para George W.
Ele estava em pé, ajeitando sua roupa e pareceu completamente à vontade ao estender a mão para Lizzy. Sorriu com simpatia, sem nenhum embaraço.
- George – Georgiana pediu – Pode me esperar lá no salão? Preciso conversar com Lizzy.
- Mas é claro! – ele exclamou com gentileza, e saiu, deixando ambas a sós.
- Lizzy, entre aqui. – Falou, puxando-a para dentro e fechando a porta.
- Lizzy... Eu não quero que penses mal de mim, nunca faço estas coisas... Mas sempre fui apaixonada por ele... não consegui me controlar... – murmurou, quase chorando.
- Georgiana querida, não precisa se desculpar para mim. – ela falou com gentileza.
- Mas eu quero! Eu sinto que preciso... tua opinião é muito importante para mim! Não quero que penses mal de mim... – ela prosseguiu, envergonhada, olhando para o chão. – Mas obrigada, Lizzy. Obrigada por ter vindo aqui. Se meu irmão nos encontrasse, não sei o que ele faria.... Sabe? Tenho a impressão que ele não gosta de George, mas não me diz por que...
- É verdade, Georgi. - Lizzy lembrou – Ele não gosta dele, e ia me dizer o motivo, mas fomos interrompidos.
- É? – ela olhou para Lizzy com curiosidade. – Então é verdade! Mas porque será?
- Não sei, querida....
- Lizzy? – ela suplicou – Não pense mal de mim, tá? Não aconteceu nada hoje.... poderia acontecer, se você não tivesse aparecido, mas não aconteceu.... George é muito sedutor, e eu não resistiria... Mas não aconteceu nada. E eu preciso que tu saibas, Lizzy... eu preciso te dizer... Que na verdade, eu ainda sou virgem.
Lizzy pegou na mão dela.
- Georgiana, eu sou tua amiga. Não estou aqui para te julgar e não se preocupe que não tenho nenhuma intenção de contar nada do que vi para teu irmão.
Georgiana relaxou e um sorriso lhe iluminou o rosto.
- Obrigada, Lizzy! Você é maravilhosa! Sempre soube que meu irmão teve muita sorte por encontrar você! Você é a melhor cunhada do mundo!
Lizzy sorriu diante do elogio.
- Não sou tua cunhada, Georgi. Eu e teu irmão não somos sequer namorados – ela falou insegura.
- Por enquanto, Lizzy! Meu irmão te ama e tenho certeza de que é correspondido, não estou certa?
- Sim.... Não posso negar... Eu o amo. Amo muito. – Lizzy desabafou e Georgiana ficou tão satisfeita que esqueceu do que lhe aborrecia.
- Que bom. Fico tão contente por ouvir isto! – Abraçou Lizzy com entusiasmo.
- Georgi, agora se arrume que temos que voltar. Ele já deve estar impaciente, esperando por nós.
Georgiana assentiu.
- Só mais uma coisa – Lizzy prosseguiu – Acho que devemos marcar uma consulta para você ir ao ginecologista.
- Ginecologista? – ela inquiriu, espantada.
- Sim! Já pensou o que poderia acontecer se eu não os tivesse interrompido? E se acontecesse uma gravidez indesejada?
Georgiana involuntariamente levou a mão à barriga, arregalando as sobrancelhas.
- Não, Lizzy! William me mataria! E como eu cuidaria de um bebê? Não me sinto preparada para isto de maneira alguma...
Lizzy riu.
- Vou marcar uma consulta para mim, e marco para você também. Estou precisando mesmo fazer meu exame preventivo anual.
- Ah sim! Boa idéia! Daí eu digo para William que você foi ao médico e eu quis te acompanhar. Porque ele é muito desconfiado! Ele ainda acha que eu sou uma criancinha! Ainda bem que eu tenho você agora. – e finalizou, eufórica. – Você é a irmã que eu sempre quis!
E ao descerem as escadas - chegando ao corredor - algo lhes chamou atenção, deixando-as atônitas e completamente paralisadas.
Fitzwilliam Darcy e George Wickham estavam batendo boca no corredor, visivelmente alterados.
Apesar de estarem longe de olhares curiosos e de se encontrarem sozinhos, aquela discussão poderia terminar mal e acabar chamando atenção. Se tal briga chegasse aos ouvidos de pessoas erradas, certamente se tornaria um escândalo. Darcy era uma pessoa conhecida, e não era nada conveniente que o dono do hotel fosse visto nesta situação.
Georgiana e Lizzy ficaram assombradas com a cena, estagnadas diante deles. Elas trocaram olhares, que transmitia seu total espanto.
Eles, percebendo a presença delas, emudeceram.
Darcy passou a andar de um lado ao outro, visivelmente embaraçado. Ser pego em tal flagrante não era algo que lhe agradasse. Havia se descontrolado, ele sabia. Mas não poderia permitir aquela intimidade entre George Wickham e sua irmã.
Georgiana ficou estupefata. Nunca na vida tinha visto o irmão tão alterado. Nunca sequer tinha lhe visto brigar com alguém. E sentia-se extremamente culpada. Seus olhos encheram-se de lágrimas, e ela se conteve para não chorar.
Lizzy ficou sem reação. Não sabia se socorria Darcy, ou prestava auxílio à Georgiana. Decidiu permanecer ao lado dela, e colocou a mão em seu braço, transmitindo seu apoio.
George Wickham, por sua vez, agiu com total dissimulação. Sorria para elas, e não demonstrava nenhum sinal de embaraço. Lizzy não gostou de seu jeito, e lhe fuzilou com o olhar.
Georgiana evitava encará-los, com a cabeça baixa.
George Wickham tentou aproximar-se de Georgiana, mas Darcy barrou sua passagem com o braço.
Estava muito sério.
- Se você for embora agora e nunca mais falar com a minha irmã, sumindo para sempre das nossas vidas, prometo que não lhe denunciarei! - Darcy exclamou, visivelmente irritado - Caso contrário, prepare-se para apodrecer na cadeia até os últimos dias da tua vida! - E seus olhos transmitiam toda a raiva que sentia, demonstrando que não estava para brincadeiras.
George W. recuou, e respondeu:
- Que assim seja então! Até nunca mais, Georgiana – falou, virando as costas.
Georgiana, que até então se controlava, deixou as lágrimas rolarem livres em sua face pálida. Aquilo era demais para ela.
Darcy, preocupado com a irmã, rumou em direção a elas.
- Georgi, desculpa.... eu devia ter te falado....
Mas ela se recusava olhar para ele. Então ele disse para Elizabeth:
- Desculpa por ter feitos vocês presenciarem esta cena... eu não sabia que vocês passariam por este caminho... – ele estava com dificuldades de articular as palavras, e sua voz por vezes falhava.
Lizzy, colocada entre os dois, olhava ora para um, ora para outro, e não sabia como proceder. Mas não interferia.
- Georgiana... – Darcy prosseguiu – George Wickham é um ladrão! Ele nos roubou uma fortuna! De fato, quando passei esse ultimo mês no nordeste, estava investigando seus desfalques!
Georgiana, que evitava encará-lo, fitou-o com surpresa.
- Um ladrão? – ela murmurou, mexendo com as mãos nervosamente.
- Sim! Eu devia ter te contado, mas era segredo. Não falaria a ninguém até que as investigações estivessem concluídas. Mas nunca imaginei que ele fosse se aproximar de você! – fez uma pausa – Se eu soubesse.... Se eu pudesse imaginar, certamente te deixaria a par de tudo.
- Oh! – Georgiana exclamou, chocada. E buscou consolo nos braços de Lizzy.
Darcy se aproximou das duas, e acariciou os cabelos da irmã.
Estava abalado e sua tristeza era evidente. Ele demonstrava ser um irmão extremamente amoroso. Mas Georgiana - magoada com o irmão – se esquivava de seus carinhos.
- Georgiana, querida – Lizzy sussurrou – Teu irmão só quis te proteger.
Mesmo assim, ela não se mexeu, e continuou evitando qualquer contato com Darcy.
- Georgi – Lizzy insistiu – Ele errou em não te contar, mas se ele não interferisse agora, seria muito pior. Tu sabes disso!
Georgiana levantou a cabeça olhando para Lizzy, com os olhinhos vermelhos. Arqueou as sobrancelhas e indagou:
- É?
Ela confirmou com a cabeça, e completou:
- William te ama, ele só quer o teu bem.
Georgiana então olhou para Darcy, e vendo sua expressão triste, correu para os braços dele.
- Desculpa, Wiliam... – ela balbuciou
- Não, Georgi... Eu que te peço desculpa....
Ele a protegeu em um abraço, demonstrando todo seu afeto, ao mesmo tempo em que olhava para Lizzy, agradecido.
Então, mantendo a irmã do lado oposto, para que ela não escutasse, se aproximou de Lizzy e falou baixinho em seu ouvido:
- Obrigado – pausa – eu te amo.
Ela o fitou, surpresa. Sentiu suas bochechas ruborizarem e suas pernas fraquejarem. Abriu a boca para dizer algo, só que as palavras fugiram. Precisava dizer que também o amava. Mas o choque com tal declaração, tão espontânea e inesperada, a emudeceu.
- Vou mandar meu motorista levar Georgiana. Ela precisa ir para casa. Me aguarde aqui, está bem?
Ela assentiu.
E quando ele se virou, ela secou as lágrimas que teimavam em molhar seus olhos. Estava emocionada.

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