sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Um certo Orgulho e Preconceito - Tânia Picon

Gente, decidi postar algumas histórias minha inteiras aqui. Essa foi a primeira que eu escrevi, em 2008 quando eu comecei a escrever.
Obs: ninguém revisou, então deve ter erros.
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Um certo Orgulho e Preconceito - Fanfic de Orgulho e Preconceito.
Concluída em julho de 2008
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Capítulos 1 a 5
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Capítulo 1


Elizabeth Bennet - Lizzy, como gostava de ser chamada - terminaria a faculdade em duas semanas e estava apreensiva a respeito do seu futuro. Como iria se formar, não poderia mais trabalhar como estagiária no hotel Pemberley de Porto Alegre. E a dúvida de se seria ou não efetivada em seu emprego se tornava mais angustiante a cada minuto. Provavelmente perderia seu emprego, o que seria uma lastima.
A cadeia Pemberley era uma enorme rede de hoteleira – com sedes espalhadas por todo Brasil e em alguns países da Europa. E certamente, tão cedo não encontraria uma oportunidade como esta.
- Ai, Charlote, estou tão nervosa! Meu estágio termina semana que vem e ninguém falou nada sobre o assunto comigo! Será que não poderei continuar aqui? E o que será de mim? Terei que começar do zero, e hoje está tudo tão difícil... – Lizzy suspirou resignada.
- Acalme-se, Lizzy. Tenho certeza que eles não vão querer perder o teu trabalho. Já notou que pouca gente que faz estágio aqui fica mais do que três meses?
- É verdade, mas isso pode não querer dizer nada... Ou será que quer? – mordiscou o cantinho dos lábios com nervosismo ao encarar a amiga.
Lizzy trabalhava como estagiária naquele hotel há quase um ano, o que era uma exceção, pois quase ninguém parava mais do que três meses. E muitos não chegavam a ficar nem um mês...
- Lizzy, com certeza eles estão satisfeitos com o teu trabalho. O que eles teriam para reclamar? Você sempre foi tão eficiente, amiga. – ela tocou no meu ombro, num gesto de solidariedade.
- Sim, eu sempre me esforcei.... Mas será que irão querer pagar mais do que pagam por ele? Hoje é tão fácil conseguir outro estagiário! É só estalar os dedos e vêm uns dez candidatos correndo! E um estagiário custa tão mais barato do que eu... – Lizzy não pode evitar um resmungo.
- Ai Lizzy, não faça drama! Você sabe que eles estão satisfeitos contigo, inclusive escutei a Sra. Austen nestes dias comentando algo sobre o assunto.
- Oh! É sério? Mas você não me falou nada... – inquieta, Lizzy mexia num cacho do cabelo castanho preso num rabo de cavalo firme.
- É que não consegui ouvir direito as palavras da conversa e não quis criar nenhuma falsa expectativa... Mas tenho quase certeza que eram coisas boas a teu respeito... Pelo menos, eu acho que eram.
- Ah! – Lizzy deu um sorriso de canto de boca, mas saber sobre isso não a convencia. Ficava mais nervosa a cada minuto.
- Agora Lizzy, vamos trabalhar.
E Charlote saiu para o seu setor, deixando Lizzy atarefada com suas funções e entretida com seus pensamentos.

Lizzy concluía a faculdade de hotelaria, deixando seus pais e suas irmãs muito orgulhosos. Não eram de uma família rica, e com cinco filhas, pagar a faculdade era algo que exigia muito esforço de todos e que trazia algumas dificuldades. Mas agora, com sua formatura, todos – até as inconseqüentes de suas irmãs mais novas - estavam extremamente orgulhosos e pareciam satisfeitos.
Sua mãe, a Sra Bennet, não disfarçava sua felicidade e dizia para quem quisesse ouvir:
- Oh, mais uma filha formada! Estou tão feliz! E trabalhando em um hotel Pemberley! Que felicidade! E esperta e inteligente como Lizzy é, logo será promovida para um daqueles lindos hotéis de Londres. Ou França! Já viu as fotos dos hotéis de Londres, Sr Bennet?
- Mesmo se eu quisesse não ver, não teria como, minha Senhora, com você esfregando as fotos toda hora debaixo do meu nariz – comentou com sarcasmo. O Humor irônico era uma das expressões mais marcantes do Sr. Bennet.
Lizzy riu com os comentários de seu pai, assim como suas irmãs.
- Mas mamãe, eu nem fui efetivada ainda, talvez essa seja a minha última semana – Lizzy replicou sem efeito.
- Oh! – exclamou a Sra. Bennet, totalmente horrorizada.
O Sr. Bennet falou:
- Com certeza estão tentando criar certo suspense, minha filha. – colocou o braço sobre o ombro da filha preferida - Eles não irão querer perder uma menina inteligente e esforçada como você.
- Oh, certamente, Sr. Bennet! – Sra. Bennet deu um suspiro aliviado, e então prosseguiu com suas exclamações exageradas: - França, Londres!
- Mas mamãe, a Elizabeth nem fala Francês! Como ela iria para lá? – Quem falou foi Jane, a irmã mais velha de Lizzy, e sua melhor amiga. As duas eram muito ligadas e extremamente próximas.
Lizzy riu com tal comentário, e então acrescentou:
- Deixe a mamãe sonhar acordada, se isto a faz feliz! – sorria.
Estavam presentes também suas outras irmãs: Mary, Kitty e Lídia. Kitty e Lídia, com 15 e 16 anos respectivamente, ainda concluíam o colégio. Mary tinha 18 anos, e começaria a faculdade de música no inicio do próximo ano. Já estavam em dezembro e logo estariam todas de férias. Todas exceto Jane, que trabalhava em uma pequena empresa de cosméticos e como recém contratada não teria direito a férias.
- Oh! Primeiro Jane formada em administração e agora Lizzy irá se formar também! Quanto orgulho para uma mãe! E com bons empregos logo arranjarão bons maridos!
- Mamãe! – Jane e Lizzy exclamaram em coro.
- Não adianta, minhas filha. Sua mãe não terá sossego enquanto não vê-las casadas. – Falou o Sr. Bennet revirando os olhos.
- Também, com cinco filhas! Só posso querer vê-las bem arranjadas! Formadas e com bons maridos! Não posso desejar mais nada. Primeiro, Jane formada, agora Lizzy. E Mary começa na faculdade no ano que vem. Claro que música não é o curso que eu escolheria para a minha filha, preferia ter uma filha médica ou advogada, mas se é isso que ela quer. Ainda bem que tenho mais duas filhas que estão indecisas, quem sabe não serão uma médica e outra advogada?
- Ah mamãe, não faça pressão, senão sua rebelde filha Lídia fará exatamente o contrário – Lizzy argumentou, enquanto Lídia e Kitty riam.
- Eu nem sei se eu quero estudar! – Lídia replicou - Acho que na verdade quero pular esta etapa, e arranjar um rico marido para virar dondoca!
- Oh, minha filha! Nem fale uma coisa dessas. – contrapôs a Sra. Bennet - Se bem que um rico marido não seria uma má idéia!
- Mamãe! Não estimule a Lídia! – Lizzy replicou - Ela já é muito namoradeira, assim vai sair caçando um marido rico!
- Com certeza, Lídia não precisa de encorajamento para namorar. – o Sr. Bennet acrescentou - É uma menina muito tola, e nos faz passar por tolos com ela.
- Mas papai, você nunca deixa eu trazer meus namorados aqui para casa! – Lídia reclamou – Assim seria um namoro sério, apresentando para o meu pai!
- Nem os meus. Muito injusto papai! – Kitty também se juntou as reclamações.
- Sim, trazendo um por semana, eu certamente confundiria seus nomes, e as faria passar vergonha – Respondeu o Sr. Bennet, simulando seriedade, mas piscando com o canto do olho para Elizabeth.
- Um por semana, papai! Como você é injusto! Com o Jéferson eu namorei três meses! Três meses inteiros! – Lídia falou.
Suas irmãs só riam do assunto. Sempre a mesma discussão!
- Nossa, então vocês já eram quase casados, com três longos meses! - Lizzy interveio.
Todos riram, só Lídia que fazia uma careta, fingindo indignação, mas logo entrou no clima e riu também. E a Sra Bennet, que parecia não ouvir nada, continuava:
- França, Londres! Com certeza vai arranjar um marido rico por lá! E não fala francês, mas aquelas horas gastas em cursos de inglês vão valer cada centavo!
- Ah mamãe... – Mas Lizzy, cansada do assunto, resolveu ignorar sua mãe.
E o jantar prosseguiu normalmente. Numa família com cinco mulheres, certamente nunca faltavam assuntos. E com tanta gente tagarelando ao mesmo tempo, era difícil se fazer ouvir. Era difícil de ouvir até mesmo seus próprios pensamentos. Por isso o Sr. Bennet vivia enclausurado no refúgio privado de seu escritório, onde encontrava paz e ficava longe de suas barulhentas filhas e esposa. Suas duas filhas mais velhas eram exceções. Tranqüilas e educadas, não eram muito espalhafatosas e apenas junto delas conseguia ter paz.
Lizzy, como em quase todos os dias, chegou ao hotel quinzes minutos adiantada. Ela nunca se atrasava e caso isso chegasse aos ouvidos da direção contaria em seu favor. Logo ao entrar, Élson, o recepcionista, a abordou:
- Lizzy, a Sra Austen quer falar com você. Pediu para eu te avisar que é para estar na sala dela às dez horas.
- Ah! – exclamou um tanto espantada, e automaticamente buscou as horas em seu relógio de pulso, percebendo os ponteiros imóveis. Como pode? Quando saiu de casa logo cedo, ele funcionava tão bem...
Élson, notando o que o ocorrido, ajudou:
- Agora são oito e quarenta e cinco.
- Pois é... Não sei o que aconteceu com esse relógio... – sacudiu o pulso, como se esse movimento fosse o que o relógio preguiçoso necessitava - Estava funcionando quando eu saí de casa... – resmungou ao ver que não tinha jeito.
- Tem um amigo meu que diz que quando os relógios estragam é sinal de boa sorte. – ele deu um leve sorriso à morena.
- Sério? Nunca ouvi falar nisso. – ela franziu a testa, um tanto confusa.
- Na verdade, é só esse amigo que diz isso. Que quando o relógio dele para, sempre acontecem coisas boas. E acredito que hoje não será uma exceção.
- Será? Ela tem algo bom para falar comigo?
Élson manteve o sorriso no rosto, como se dissesse: com certeza! Mas como ele era muito reservado, Lizzy deu de ombros, sabendo que não arrancaria nada mais dele, e em seguida pediu licença. Agora nervosa, saiu em busca de Charlotte, só que não a achou em lugar nenhum.
“Ai meu Deus, que ansiedade! E ainda falta uma hora para as dez! O que eu posso fazer para me ocupar? E nem acho Charlotte para me tranqüilizar com seus conselhos...”
Meia hora depois, Charlotte apareceu no setor de Lizzy e segurou nas mãos da amiga com um pouco de força excessiva. Lizzy percebeu que ela tremia, mas nada comentou.
- Já soube Lizzy?
- O que foi Charlotte?
- Fui promovida! Quer dizer, na verdade ainda não, mas quase...
- O que? Como assim? – Lizzy a olhou com assombro.
- Vão abrir novos hotéis, que já estão quase prontos. Um em Florianópolis, um em São Paulo e um em Minas. – ela soltou as mãos da Lizzy e passou a enumerar os hotéis com os dedos - E querem gente de confiança e com experiência para administrá-los.
- É?
- Sim, mas vou ter que ir para São Paulo passar por um treinamento, de três meses, e se eu for aprovada serei contratada! Para um cargo de gerência! Vou ganhar três vezes mais! Claro que vou ter que ficar longe da minha família, mas depois eles me transferirão para o hotel em Florianópolis, que não é tão longe daqui. E quem sabe com o tempo eu seja promovida de novo e volte para cá, não é? Ou me arranje por lá mesmo.
Charlotte falava muito depressa, o que deixou Lizzy mais atordoada.
- E o que será que ela quer comigo? – Charlotte a olhou, com um rosto interrogativo – Tenho reunião com ela às dez. – explicou e então observou o relógio verde da parede – E faltam só quinze minutos! Acho que tenho que ir, não é? Mas agora estou mais nervosa...
- Lizzy, que notícia boa! Será que você também será promovida e irá para São Paulo comigo? Isso seria maravilhoso!
- Mas Charlotte, eu ainda não sou nem funcionária deles! Imagina ser promovida! – ela sorriu meio nervosa.
- Oh! Mas fico tão feliz com a possibilidade que não posso parar de pensar nela. Agora vá Lizzy, e depressa! A Sra. Austen não gosta de atrasos!
E Lizzy saiu correndo, apressada, quase derrubando um homem que passava pelo corredor.
- Oh desculpe, estou atrasada. Na verdade, muito atrasada. – E saiu correndo, sem olhar para trás, deixado atrás de si um homem estupefato, que ficou parado observando-a se afastar.
Acalmou-se para entrar na sala da Sra. Austen. Não seria uma boa impressão ela chegar assim, toda esbaforida. Respirou fundo, arrumou o cabelo como conseguiu e entrou.
- Oh! – a secretária da Sra. Austen, uma moça loira com o nome Ana bordado no terninho azul clarinho, gritou ao se virar e deparar com Lizzy. Automaticamente, levou a mão ao peito – Desculpa... Eu estava tão distraída que não a vi entrar. Mas você foi tão silenciosa, nem ouvi barulho... Na verdade, confesso que me assustei. – ela sorriu, o que fez Lizzy relaxar e sorrir também.
- Elizabeth Bennet, certo? Acho que ela vai se atrasar um pouco. Na verdade, ela nunca se atrasa, mas o dono dos hotéis esteve aqui, e acho que isto vai acabar atrasando um pouco a tua entrevista...
- O dono?
- Sim, ele mesmo. Deve ter cruzado com ele no corredor, ele acabou de sair.
- Oh! – Lizzy ficou vermelha, lembrando do homem, com quem havia esbarrado. Mas sequer tinha olhado para ele... E ele era o dono e seria futuro chefe , “Se deus quisesse, pensou”. Mas Ana não percebeu seu embaraço e continuou falando:
- No início eu estranhava a sua presença aqui, mas agora já me acostumei. Não viu ele mesmo?
Lizzy fez que não com a cabeça.
- Não, não o vi. – O que de fato não era uma mentira, pois não tinha olhado para o homem com o qual havia esbarrado. Não sabia se era velho ou novo, bonito ou feio, loiro ou moreno. Só tinha percebido que era alto, pois ela quase bateu em seu ombro.
- Sabe – Ana continuou – Apesar de serem 22 hotéis aqui no Brasil, com mais 3 em construção, ele sempre os supervisiona pessoalmente! E às vezes chega aqui sem avisar. No início eu levava um susto ao vê-lo, mas agora já me acostumei. Para ele é fácil viajar, para gente rica é tudo mais fácil. Ele tem seu próprio avião!
- Oh, ele deve ser muito rico! – Lizzy não disfarçou a careta, pensando: “e um velho e esnobe também!”
- Sim, muito rico! Mas é tão lindo! – Ana suspirou.
Lizzy pensou: “Então não deve ser tão velho, mas esnobe certamente é.”
- E os hotéis da Inglaterra e França, ele supervisiona pessoalmente também? – Lizzy perguntou, curiosa.
- Não, lá ele vai menos. Mas os visita às vezes também, quando ocorre algum problema maior. Sua tia, Catherine de Bourgh, mora na Inglaterra e cuida dos negócios de lá.
Lizzy sabia que eram mais 15 hotéis na Inglaterra e 5 na França, mas não sabia dos detalhes sobre a família.
- Vou te falar uma coisa, mas não pode dizer que eu falei, está bem? – Ana falou quase cochichando e Lizzy fez que sim com a cabeça, o que fez com que Ana prosseguisse:
- Sua tia Catherine já veio aqui algumas vezes, e é uma nojenta. – ela fez uma careta - Trata todo mundo que não é rico muito mal. Tem que ver como ela fala comigo: Ana, me traz um café mais forte que este mais parece um chá! Ana, estaciona o meu carro, que eu deixei ele mal estacionado. Ana, preciso de uma escova de cabelo urgente, consegue uma para mim. Mas não pode ser qualquer uma, e dá mil detalhes de como quer uma escova de cabelo. Tudo isso para uma simples escova! Como ela me enlouquece! Mas eu não posso falar disso para ninguém, pois se a Sra. Austen me ouvir, posso perder meu emprego.
Lizzy ria divertida com os comentários de Ana.
- Sério! Não pode contar isto para ninguém!
Lizzy novamente fez sinal afirmativo com a cabeça, achando muito engraçado o modo com que Ana se abria com ela. Não era nada discreta, e não sabia como se encaixava na função de secretária da Sra. Austen, um poço de seriedade e discrição.
- Sei o que está pensando, mas não sou sempre assim. Não sei explicar, contigo consigo falar tudo tão naturalmente! Sabe? Eu não me engano com as pessoas, minhas amigas costumam dizer que eu tenho um sexto sentido aguçado. E acho que eu posso te falar essas coisas. Acho que a Senhorita é uma pessoa de confiança.
- Ah, muito obrigada! Mas não precisa me chamar de senhorita, pode me chamar de Lizzy.
Ana deu um sorriso, e continuou:
- E tem mais uma coisa, Lizzy – sorriu - mas não sei se isso eu posso dizer, não sei não é muito atrevimento da minha parte. E também não sei o que você pensaria se eu te dissesse isso. Pode até me achar maluca.
- O que é? Fala! – Lizzy perguntou, curiosa, e riu – Pode falar, mas não prometo que não vou te achar maluca.
- É que algo me diz que você será muito importante para essa rede de hotéis. Ainda não consigo saber o porquê, em que sentido, mas eu sinto isso. E quando tenho esses pressentimentos, costumo acertar.
Lizzy olhou com surpresa:
- É Ana, te achei um pouco maluca sim. – e deu um sorriso – Mas como posso ser importante se ainda não sou nem funcionária efetiva?
- Ah, mas logo vai ser! Vai ser sim! Não sei o que a Sra. Austen quer contigo, mas deve ser algo bom. Com certeza!
Lizzy fez uma expressão de quem não acreditou que Ana não sabia realmente o assunto.
- É verdade Lizzy, não sei mesmo. Mas é coisa boa sim! Tenho certeza!
Nisso toca o telefone, e Ana atende. É a Sra. Austen dizendo que Lizzy pode entrar.
- Boa sorte Lizzy.
- Obrigada, Ana. Você é muito gentil.
E as duas se despendem e Lizzy entra na sala.
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- Senhorita Elizabeth Bennet?
- Sim, sou eu.
- Queira se sentar, por favor. – A Sra. Austen olhava alguns papeis com anotações que estavam sobre a mesa. – Vejo que já faz um ano que trabalha conosco.
- Sim senhora.
- E se formará em hotelaria semana que vem.
- Sim, dia 21 de dezembro, senhora.
- É casada?
- Não.
- Filhos?
- Também não tenho.
- E pretende ter logo?
- Não senhora - Se nem namorado eu tenho, Elisabeth pensou.
- Hum, entendo. E tem algum motivo que a impediria de viajar?
- Não senhora, nenhum motivo.
- Porque a nossa rede possui 22 hotéis só no Brasil, e logo serão 25. Estamos ampliando o nosso quadro de funcionário e precisamos de gente para assumir cargos de confiança e de inteira responsabilidade. E por enquanto estamos muito satisfeitos com o seu trabalho. A senhorita mostrou-se eficiente, pontual, responsável e chegou aos meus ouvidos que é de confiança também, o que hoje em dia considero a característica mais importante para um funcionário.
Lizzy sorriu, satisfeita. Pensava sobre o que a Sra. Austen teria ouvido a seu respeito. “Provavelmente foi sobre o Bruno”, pensou. Bruno foi despedido, mas com razão. Vivia constantemente atrasado e tudo era motivo para faltas, abusava de atestados médicos e até odontológicos. Mas quando recebeu sua demissão, ficou indignado, e disse que processaria a rede de hotéis, alegando mil motivos. Incitou seus colegas a abrirem juntos um processo, que juntos ganhariam uma fortuna, que seu irmão era advogado, e não tinham como não ganhar. Seus argumentos foram tantos, que conseguiu por fim convencer dois colegas. Lizzy ficou indignada! “Mas como vocês vão fazer isso com quem deu oportunidade para vocês? Isso é um absurdo! Eles sempre foram justos com a gente, nos pagam direitinho, e é assim que vocês retribuem?” E brigou com todos, mas foi voto vencido.
“Com certeza chegou algo sobre esse assunto ao seu ouvido”- pensava Lizzy – “E hoje em dia, diante de tantas ações trabalhistas que as empresas enfrentam, isso é o que ela quer dizer com confiança. Que bom!”
- E estamos precisando de funcionários para as nossas novas sedes em Florianópolis, São Paulo e Minas. Teria alguma objeção em deixar sua cidade? Provavelmente a destinaremos para Florianópolis, por ser mais perto, mas isto ainda não está definido.
- Não, claro que não. Nenhuma objeção, senhora. – Lizzy de maneira nenhuma queria perder esta oportunidade. Hoje em dia estava tão difícil de arranjar emprego, e em uma rede de hotéis deste porte! Iria até pra China, se fosse necessário. E além do mais, nada a prendia em Porto Alegre. A não ser a falta que sentiria de sua família, mas isso não seria tão difícil de lidar.
- E daqui a três semanas iniciaremos um treinamento em São Paulo, inclusive já esta acertada a ida com alguns funcionários desta rede. Deixa eu ver – e pegou uns papeis sobre a mesa – a senhorita Charlotte Lucas já confirmou. E acho que só vocês duas, por enquanto. Isto se a senhorita aceitar também nossa proposta.
E continuou falando. Seria um treinamento de 3 meses, para um cargo de gerência. Se ela passasse no teste, e se mostrasse competente, ao final deste período seria transferida para uma das novas filiais. Isto é, se as obras não demorassem mais do que o previsto. Neste tempo, poderia ficar em um quarto do hotel, que dividiria com a Senhorita Lucas, sem custo, com café da manhã e almoço incluído.
“Isso que é o bom de trabalhar para um hotel”- Pensou Lizzy – “tudo incluído.”
- Claro que estas cortesias serão somente durante o treinamento, após a efetivação será cada um por si. E o salário maior compensará esses novos gastos. – Continuava a Sra Austen.
O salário era muito bom! – Lizzy sorria satisfeita.
-Então estamos combinadas? – Perguntou a Sra. Austen.
- Sim, tudo certo. Daqui a três semanas irei para São Paulo.- Lizzy estava radiante por dentro, mas aparentava tranqüilidade.
- E por enquanto já pode começar seu treinamento aqui mesmo.
- Sim, senhora Austen.
- Pode ir então. Depois combinaremos os detalhes.
E Lizzy saiu da sala. Passou por Ana e deu um sorriso:
- Você tinha razão! São boas noticias!
- Viu? Eu não disse? – e Ana sorriu de volta - Mas ainda estou pensando no outro assunto, sobre a sua importância para este hotel...
- Sua maluca! – disse feliz - Mas por enquanto estou satisfeita com sua previsões. Vou trabalhar! – E saiu da sala mandando um beijo para Ana com um aceno de mãos.
*
*
Capítulo 2
*
Lizzy se formou e já estava empregada. Era muito bom para acreditar.
- Viu minha filha? Eu não disse? Londres e França!
- Mamãe, mas eu vou para São Paulo! É no Brasil ainda! – Lizzy dizia sorrindo.
- Mas já está mais perto. – A Sra Bennet retrucou. - Não é Sr. Bennet que o vôos para Londres e França tem todos escalas em São Paulo?
- Minha querida senhora, Londres é uma cidade e França é um país. Não estaria querendo dizer Inglaterra e França?
- Ah Sr. Bennet, para que complicar tudo! – e saiu feliz espalhando a notícia para quem quisesse ouvir.
- Mamãe ainda me mata de vergonha! – Falou Lizzy.
- Não se preocupe, minha filha, que vergonha não mata. Eu em vinte anos de convívio ainda não morri! – E riram juntos o Sr. Bennet, Jane e Lizzy.
Os restos dos dias passaram muito rápidos, e quando viram já estava na hora de viajar. Lizzy e Charlotte foram juntas ao aeroporto. Junto com elas viajaria outra funcionária do hotel, a Dona Rosa, que era uma funcionaria mais antiga, já com seus 46 anos. Mas em Porto Alegre não havia disponibilidade de cargos para sua promoção, já os cargos de sua escolha não estavam vagos e seus ocupantes pareciam não querer sair tão cedo. Então esta viagem para ela seria também um bom negócio.
Dona Rosa estava viúva desde os 41 anos, seu marido morrera aos 50 anos devido a um infarto fulminante, e estava feliz por ir para São Paulo, já que sua única filha se mudara para lá ao casar.
A viagem transcorreu bem, apesar do medo horrível que Lizzy tinha de avião.
- Até que foi tranqüilo. Não sacudiu muito. – Lizzy estava traumatizada devido a um vôo que pegara durante o ano, com muita turbulência. Ouvia as aeromoças comentando: “estrada de terra”, e demorou pouco tempo para perceber seu significado.
- Tranqüila Lizzy? – observou Charlotte – Com este rosto mais pálido que um fantasma! E ainda achou a viagem tranqüila? Imagina se não tivesse achado então! – E riu da amiga, junto com Dona Rosa.
Chegaram ao aeroporto, dividiram um táxi e foram direto para o hotel. Charlotte e Lizzy dividiriam um quarto no primeiro andar, os quartos mais simples, mas muito aconchegantes. Já Dona Rosa ficaria na casa da filha, que era perto.
*
Lizzy já estava há uma semana no hotel, quando uma funcionária da recepção ficou doente.
- A Estela pegou uma pneumonia – disse o Alberto, o gerente do hotel que estava treinando Lizzy. – E não vai poder trabalhar. E olha que não deve ser pouca coisa, porque em dez anos a Estela nunca faltou. Se fosse só uma gripezinha, com certeza ela estaria aqui. Então acho que vamos ter que nos virar sem ela por um bom tempo. Mas tudo bem, Lizzy irá substituí-la. Nada melhor para supervisionar um serviço, se souber como fazê-lo bem.
- Tudo bem Alberto, eu acho que dou conta. – Lizzy respondeu.
- Mas não é tão simples como parece. As vezes aparecem imprevistos, e a gente tem que se virar em dez. E muita calma Lizzy, os clientes sempre tem razão! Nada de ser esquentadinha. Qualquer coisa, respira fundo e conte até dez!
- Claro Alberto.
Lizzy pensava que não haveria nada de difícil em trabalhar na recepção. O primeiro dia foi quarta-feira, e tudo transcorreu tranquilamente. Já quinta-feira, o movimento aumentou um pouco, e ocorreram alguns incidentes, mas Lizzy logo tirou tudo de letra.
No final da noite, Alberto chegou:
- Lizzy, amanhã você vai ter que fazer jornada dupla! Não vou poder te dispensar do treinamento, e muito menos do lugar da Estela. O hotel vai estar lotado! Tem um congresso aqui perto, e não temos mais nenhum quarto vago. Aliás, tivemos que negar vários pedidos de reserva! Não cabe mais ninguém! Ainda bem que o novo hotel será bem maior que este. Todos os 220 quartos estão ocupados! Acho que o novo com 600 quartos, não terá este problema, pelo menos não com tanta freqüência.
- 600 quartos?
- Sim, querida Lizzy. O novo aqui de São Paulo tem 600 quartos. Não sabia? Por isso não posso te dispensar do treinamento hoje. Quero ver como a senhorita trabalha sob pressão. Se não se sair bem com um hotel de 220 quartos lotados, imagina com um de 600!
Lizzy deu um sorriso amarelo, tencionando esconder o medo que sentia.
- E outra coisa, a Estela não vai voltar tão cedo. Mas vou providenciar alguém para ficar no lugar dela, senão vai prejudicar teu treinamento. Só que só consegui alguém para domingo, daí te darei folga. Agora vai descansar. Charlotte assumirá o teu lugar por hoje. E lembre: amanhã jornada dupla! Espero te encontrar aqui em baixo às oito horas em ponto, ou mais cedo. Os clientes começarão a chegar ainda nesta madrugada, pois o congresso inicia amanhã de tarde, e devemos nos preparar para muito trabalho.
- Sim, Alberto.
- Vá Elizabeth! Amanhã vai ser uma correria, vai dormir!
E Lizzy foi, mal sabendo o que a esperava...
*
Realmente foi uma correria pela manhã. Muita gente chegando, e Lizzy seguindo Alberto por todo o hotel, vendo como ele resolvia qualquer problema que ia surgindo. Lizzy conseguiu parar para almoçar faltando quinze minutos para as 14 horas, e as 14 deveria assumir o lugar de Estela na recepção.
“Com certeza de tarde já estará tudo mais calmo”, pensou Lizzy. Mas se enganara. Muita gente atrasada, chegando ao mesmo tempo, e querendo agilidade, já que estavam com pressa e sem tempo a perder. E Lizzy contou até dez diversas vezes.
“Nossa, a recepção é realmente muito difícil de se trabalhar. Bem que o Alberto falou, agora darei mais valor e saberei supervisionar melhor.”
E assim passou o dia todo na correria, só pelas 17 horas descansou um pouco. Mas às 19 horas o movimento voltou a toda, com pessoas voltando para os quartos, subindo correndo e logo saindo apressadas para jantar.
“Nossa, essa gente não para, e eu tenho que ser máquina para atendê-los rápido.”
Alberto foi embora às 20 horas, não sem antes passar pela recepção:
- Parabéns Lizzy! Passou no teste de hoje. Tirando algumas coisinhas para corrigir, digamos que foi muito bem para o seu primeiro dia de “full house”. – Esta era a expressão que o Alberto usava sempre que queria se referir ao hotel lotado.- Agora o pior já passou, verá que as próximas duas horas passarão rápidas, e logo poderá ir para o seu quarto descansar. E amanhã pode começar só as 10 horas.
Lizzy olhou para ele:
- Tem certeza?
- Claro! Daremos conta sem você. E esta parecendo um zumbi, precisa descansar!
E Alberto foi embora, deixando Lizzy sozinha para as próximas duas horas de trabalho. E como ele bem disse, passaram quase voando, até as 21:30.
Lizzy estava muito cansada, mas ainda tinha meia hora de trabalho, quando o incidente aconteceu.
Entrou um homem no hotel, e foi direto para a recepção. Olhou para todos os lados, como se procurasse alguém. Trazia uma pequena mala na mão.
- Onde está Estela? – perguntou a Lizzy, parecendo de mau humor.
- A Estela está doente, eu estou no lugar dela. O que seria para o Senhor?
- Hum... Você é nova aqui, não é? – e perguntou com uma cara séria, de poucos amigos - E o Paulo?
- O Paulo só chega as dez horas.
- Hum.... Ainda são nove e meia. Não posso esperar. Preciso de um quarto já.
Lizzy não sabia o que fazer diante daquela pessoa. Devia ser um cliente importante, para conhecer todos pelos nomes. Com um ar muito arrogante, com certeza costumava ter todas as suas vontades atendidas. E agora? O que fazer? Alberto já tinha ido embora, e ela estava sozinha. E se fosse um cliente importante? Não poderia perder! E justo ela que ainda estava em avaliação!
Lizzy consultou o computador, para ver o que poderia fazer. Olhou, olhou, e não havia nada disponível.
- Desculpe Senhor, não temos quarto disponível.
- Hum... – ele mal levantou os olhos para olhá-la – A Estela nunca me deixou sem um quarto, vai ter que fazer melhor que isto.
- Mas estamos lotados! Temos um congresso, e não temos quartos livres...
- Nem suíte presidencial? A Estela sempre deixa uma reserva para mim.
- Suíte presidencial? Tinha uma reservada em seu nome? Deixa eu ver.... _ Lizzy consultou o computador de novo – Desculpe Senhor, mas estão ocupadas, por três casais em lua de mel. Não tenho o que fazer.
Lizzy pensou: “esse petulante daqui a pouco vai querer desalojar os casais de lua de mel. Só me falta isto!”
Ele levantou os olhos para observá-la pela primeira vez. Lizzy já estava ficando nervosa.
- Vejo que seu crachá ainda não ficou pronto. Qual é o seu nome?
Ela já estava irritada e muito nervosa.
“Que criatura mais arrogante! Chega no meio da noite, com o hotel lotado e sem reserva e quer suíte presidencial! Ai Meu Deus, o que eu faço? E agora quer saber o meu nome. Com certeza vai reclamar de mim depois”
- Elizabeth, Elizabeth Bennet.
- E pelo sotaque é gaúcha. – era uma afirmação, não uma pergunta.
Lizzy mordeu o cantinho da boca, gesto que fazia quando estava nervosa, e fez que sim com a cabeça.
- Vai ter que melhorar este sotaque para trabalhar na recepção. – E deixando de olhá-la novamente, virando-se de costas, falou muito calmamente: - Estou cansado. Dê um jeito de me arranjar um quarto.
Sabia que ele não iria ir embora, e não iria desistir. Ela tinha que dar um jeito. Então teve uma idéia.
- Olha Senhor, o máximo que posso fazer é lhe arranjar um quarto no primeiro andar.
- Primeiro andar? Nunca fiquei no primeiro andar. Mas do jeito que estou cansado e louco para me deitar, serve este mesmo. Posso ir para o quarto?
Lizzy o fitou e respondeu:
- Não ainda, temos que ajeitá-lo para ficar ao seu gosto. – afirmou com um tom levemente irônico, que ele não percebeu.
- Entendo. Então eu aguardo. Mas não demore.
Lizzy saiu para interfonar. Deveria liberar o quarto da Maria e da Beth. Elas estavam de folga e só voltariam domingo. Como era um quarto conjugado ao seu, era só tirar todas as coisas delas e colocar no seu quarto. Foi o que pediu para ser feito. E além disso, o quarto deveria ser limpo. Lizzy queria que estivesse impecável e com tudo do melhor, porque ele era com certeza um cliente que podia pagar bem e que gostaria de ser agradado. E assim, depois ele não poderia reclamar dela.
“Ele sabe o meu nome e é muito arrogante. Vou fazer o melhor que puder para não ter reclamação. Mas que homem irritante! Só porque é rico acha que pode chegar no meio da noite e exigir um quarto!”.
Nisto chega o Paulo, e vendo o homem aguardando perguntou:
- Elizabeth, o que está fazendo?
E Elizabeth explicou tudo, e disse que só tinha quarto vago no primeiro andar,
- No primeiro andar? Tem certeza? – Paulo parecia apavorado com a situação, o que reforçou a Lizzy a idéia que o homem era muito importante.
Paulo olhou o computador e ficou inconsolável ao perceber que realmente não havia o que fazer.
- Tudo bem Lizzy, vai dormir. Pode deixar que eu assumo daqui.
- Ai, obrigado Paulo. Meu dia foi tão cansativo, principalmente esta última hora – falou alto para que o cliente ouvisse, mas Paulo já saíra e não percebeu o que Lizzy dissera.
Como o quarto era do lado do seu, Lizzy pode observar toda a arrumação que foi feita. Ficou no corredor olhando incrédula a equipe que foi chamada para arrumar o quarto. Lençóis, roupão, tudo do melhor! Trouxeram bandejas de frutas, chocolate, uma cesta de produtos de higiene, e coisas que Lizzy nem imaginava que poderia haver num hotel.
E ficou atônica quando viu uma enorme Tv de plasma sendo trazida para o quarto.
“Nossa, ele deve ser importante mesmo. E com essa enorme Tv, o quarto vai parecer menor ainda!”
Enfim entrou em seu quarto, e se desinteressou pelo assunto. Mas não totalmente.
“Estou tão cansada, não vou perder o meu tempo pensado neste arrogante. Que nojo! O Alberto disse para eu contar até dez, mas acho que nem se eu contasse até mil adiantaria! E meu sotaque! Quem é ele para falar do meu sotaque? Tem que melhorar o seu sotaque! Que petulante! E pensar que ele vai ficar ali bem pertinho, separado por apenas aquela porta. Que raiva!”
O quarto era conjugado e apenas uma porta interna a separava do dela.
Então foi tomar banho e esqueceu um pouco do assunto.
Saindo do banho, o telefone tocou. Era Jane.
- Jane, que bom ouvir tua voz!
- Desculpa ligar tão tarde Lizzy, mas só agora vi tua ligação. Quer que eu te ligue mais tarde? Já está dormindo?
- Não Jane, nem deitei ainda. Acabei de sair do banho. Mas olha, tenho um assunto do teu interesse.
- Meu interesse? O que pode ser?
- Vai ter aqui em São Paulo um curso de hotelaria para formados em administração de empresas. Só duas semanas, Jane. Imagina se tu consegues um emprego comigo no hotel!
- Mas Lizzy, eu já tenho um emprego.
- Só que vive reclamando que ganha pouco, que a empresa é pequena e que não tem oportunidade de crescer.
- É verdade!
- Jane, pode ser uma oportunidade única! Vai ser aqui no anfiteatro do hotel mesmo. Eles vão poder te conhecer, e será impossível não gostarem de ti. E eu poderei te apresentar a todo mundo!
- Lizzy, vou pensar.
- Mas não tem muito para pensar, tenho que te inscrever até segunda.
- Que dia que é?
- Dia 28 de janeiro, por duas semanas.
- Muito em cima da hora Lizzy, não vou conseguir folga.
- É só adiantar as tuas férias, não vai ser difícil. Aliás, já está na hora de tu tirares umas férias mesmo. E pode ficar na casa dos nossos tios Gardiner. Não é muito perto, mas pode passar os dias comigo e só ir para casa deles a noite.
- Está bem, Lizzy, vou pensar. Mas me conta, como está tudo ai?
E Lizzy contou como foi seu dia, principalmente sobre o seu final de dia.
- Tinha que ver Jane, tão arrogante! Com um olhar tão superior! Parecia o dono do mundo. Controlei-me tanto para ser educada! Mas como foi difícil para mim.
- Se ele era bonito, Jane? Isso é pergunta que se faça! Claro que não percebi, estava com tanta raiva que nem reparei. Mas acho melhor eu falar mais baixo, pois ele está no quarto do lado, já pensou se ele me escuta?
- Charlotte? Charlotte foi numa festa, mas não quis me dizer com quem. Um mistério só! Mas acho que vai voltar tarde. Mas eu estou muito cansada para esperá-la, vou dormir logo. Boa noite Jane, manda um beijo para todos.
Depois desligou e foi deitar. Achou que demoraria para pegar no sono, mas o sono veio rápido. Estava tão cansada....
*
*
Capítulo 3
*
Lizzy dormiu até as 6 da manhã, quando Charlotte chegou.
- Charlotte? Está chegando a esta hora? – E deu um bocejo e olhou o relógio.
- Lizzy, desculpa. Eu não queria te acordar. Desculpa mesmo! Mas estou atrasada, muito atrasada.
- Onde você passou a noite?
- Na casa no meu namorado, acabei dormindo por lá.
- Namorado, Charlotte? – Lizzy arregalou os olhos, sentando na cama – desde quando tu tens namorado?
- Ai, Lizzy. Longa história. Depois te conto, estou muito atrasada! Tenho que tomar banho e descer.
- Ok, mas não vai escapar de me contar mais tarde. E quero saber de tudo! Tu andas muito misteriosa!
Charlotte sorriu. Sabia que quando Lizzy queria alguma coisa era muito obstinada, e que mais cedo ou mais tarde teria que contar toda verdade.
Quando Charlotte saiu do banho, Lizzy já estava de pé.
- Lizzy, são 6 e meia da manhã! Para que levantar tão cedo na tua manhã de folga?
- Manhã de folga não: começo as 10.
- Sim, mas podia aproveitar para descansar.
- Mas Charlotte, sabe que gosto de acordar cedo...
Charlotte sabia. Lizzy tinha o estranho hábito de levantar cedo, junto com o nascer do sol, mesmo em domingos e feriados.
- Mesmo assim! Que amiga eu sou! Devia ter tomado mais cuidado para não te acordar.
- Não te preocupa, Charlotte. Eu vou aproveitar bem mais a minha manhã levantando cedo – Lizzy deu um beijo no rosto da amiga ao passar por ela.
- Charlotte, você esta horrível! Precisa de um bom café! Parece que nem dormiu! – debochou.
Charlotte riu do comentário da amiga, e saiu do quarto para trabalhar.
Lizzy ficou pensativa e intrigada: “Quem será o namorado de Charlotte? Só posso conhecê-lo, senão ela não estaria fazendo tanto mistério.“
Charlotte não era muito bonita, nem muito charmosa. Mesmo mais arrumada, não chamava muito atenção do sexo aposto. E quando estava com Lizzy, todas as atenções se voltavam para esta última. Lizzy nunca soube que Charlotte tivesse um namorado. Eram amigas há muitos anos e tanto uma quanto a outra nunca haviam namorado. Lizzy não por falta de oportunidade, mas nunca se interessara realmente por ninguém.
Lizzy tomou banho, se arrumou e desceu para tomar café aàs 7. Usava uma calca jeans e uma blusa de malha rosa. Mais folgadinha, mas que não deixava de revelar suas curvas.
“Está meio desbotada, mas acho que para tomar café e voltar para o quarto dá.”
Lizzy era uma pessoa simples, e só se produzia mais para ir a algum evento especial, como uma festa. Dificilmente ia ao cabeleireiro, tanto para fazer algo nos cabelos, como para fazer mão e pé. Ela mesmo se arrumava em casa, quando se arrumava.
- Lizzy, vai voltar para o quarto?
Lizzy virou-se. Era Dona Rosa que a chamava. Elas quase não se viam, pois ela trabalhava mais na organização da cozinha e do restaurante do hotel, controle e pedido de alimentos, estas coisas. E Lizzy só ia nestes locais para comer.
- Sim, precisa de alguma coisa?
- Sim Lizzy, se puder me fazer um favor, eu ficarei muito agradecida.
- Claro Dona Rosa, se estiver ao meu alcance.
- O Sr. Darcy pediu para levar o café dele no quarto, mas estamos com tanto serviço agora que fica difícil liberar alguma funcionária para ir. E ele não gosta de ficar esperando.
- Sr. Darcy? Quem?
- Creio que já o conheceu. Ele chegou ontem de noite e está no quarto do lado do seu. Sei que é pedir muito, mas já que está indo para lá, não poderia levar o café? Não posso deixá-lo esperando.
- Oh... Sim. Pode deixar que eu levo.
- Então aguarde um pouco, que está quase pronto.
Lizzy fez que sim com a cabeça, mordendo a pontinha do lábio e cruzando os braços nervosamente. O que menos queria no momento era encontrar novamente este homem. E levando café para ele no quarto! De certo pensaria que ela era uma empregadinha dele, e que estava a sua disposição. Que raiva! Como queria ter seguido os conselhos de Charlotte e ter ficado mais tempo na cama.
- Pronto Lizzy. Desculpa abusar assim de ti, mas é que está difícil conseguir liberar alguém mesmo, uma funcionaria ainda não chegou, atrasada como sempre, e temos muito o que fazer....
- Não se preocupa Dona Rosa, é um prazer ajudar a senhora.- mentiu
- E mais uma coisa, Lizzy, o Sr. Darcy não costuma levantar para abrir a porta. Mas bata antes, e só entre quando ele autorizar. Leve essa chave e entregue para o Sr. Jonas depois (o funcionário que fica na recepção pela manhã).
Lizzy saiu carregando a bandeja, levando a chave no bolso.
“Não gosta de esperar, não levanta para abrir a porta. Muito folgado! Acostumado a ter tudo a seus pés! Mas não espere muitos sorrisos por minha parte, estou fazendo isto de certa forma forçada. Com certeza valorizarei mais as funcionárias que fazem este serviço!”
Lizzy bateu na porta uma vez. Esperou, e como não obteve resposta, bateu novamente.
- Pode entrar. – ouviu enfim.
Entrou se equilibrando com a bandeja. De longe podia perceber-se que não tinha prática. O mais difícil foi abrir a porta com a bandeja, o que foi facilitado pelo fato da chave ser um cartão magnético.
- Pode colocar a bandeja nesta mesa – disse sem se dar o trabalho de levantar os olhos do jornal que lia.
“ Pelo menos ele não vai ver que sou eu”, pensou Lizzy.
Mas no caminho até a mesa, ela esbarrou em um par de sapatos, quase caindo, o que fez com que ele a olhasse.
- Ah, é você de novo? – parecia levemente espantando, mas logo se recompôs, demonstrando a mesma indiferença de sempre. – Esta é sua função também? Mas cadê seu uniforme?
Darcy a olhou dos pés a cabeça, e pareceu gostar do que via. Um arrepio percorreu o corpo de Lizzy ao perceber que estava sendo analisada.
- Na verdade não estou trabalhando ainda. Só começo as 10. Mas me pediram para trazer o teu café, já que estou no quarto ao lado.
- Entendo. – e deu um pequeno sorriso, quase imperceptível – Já havia percebido que era a senhorita que estava no quarto ao lado.
Lizzy estava colocando a bandeja na mesa e parou para olhá-lo. Franziu as sobrancelhas, como se perguntasse “ como assim?”. Como não obteve resposta, pegou a jarra de suco de laranja para colocar no copo.
- Não sabia que essa porta era tão fina – apontou para a porta interna que separava os dois quartos. – Dá para se ouvir tudo perfeitamente. Acho que devemos providenciar uma porta com algum isolamento acústico.
Terminou de falar com um sorriso meio irônico, fazendo com que ela percebesse que ouvira toda sua ligação com Jane. Lizzy, tomando consciência de tal fato, ficou nervosa e se desequilibrou, derrubando a jarra de suco que servia em cima dele e no chão.
- Oh, me Deus! Me desculpe!
E foi pegar uma toalha do banheiro para limpar.
O suco fez uma sujeira. Ele tirou o roupão que estava usando, que era branco e estava pintando de laranja, ficando só de calça e com uma camisa fina.
- Sua desastrada! Como sei que é nova, não reclamarei de você!
Lizzy olhou-o com raiva. E sem pensar no que fazia, começou a limpá-lo com a toalha. Primeiro os braços, e depois foi limpar seu peito. Pode perceber no meio da tensão como seu corpo era bonito. Darcy, irritado com tal contado, segurou firme no braço de Lizzy, apertando seu pulso, num movimento que acabou puxando-a para mais perto.
- Pode deixar que eu limpo!
- Oh... – Foi o único som que Lizzy conseguiu pronunciar. Aquele contato breve, meio brusco até, a havia deixado desnorteada. Seus olhos se encontraram e por um momento Lizzy se perdeu: “Que lindos olhos azuis, não tinha percebido!”
Mas logo se recompôs:
- Está me machucando. – Lizzy murmurou.
Darcy largou seu braço, e parecia não saber o que fazer. Levantou-se e foi para janela, evitando olhar para ela. Sempre que se sentia desconfortável com alguma coisa, tinha esse hábito de fingir olhar janelas para refletir.
- Pode sair agora, senhorita Elizabeth Bennet – fez questão de mostrar que lembrava de seu nome – e providencie alguém para limpar essa bagunça.
Lizzy saiu o mais rápido que pode, batendo a porta. Mas teve que voltar, pois esquecera a chave.
- O que foi agora? – ele falou irritado
- Esqueci a chave....
Ele a entregou e ela saiu correndo. Devolveu a chave para o Jonas e da forma mais discreta que pôde chamou alguém para limpar o quarto.
*
Lizzy voltou ao seu quarto.
“ Que bela manhã de folga! Mas ainda preciso arranjar algo pra me distrair até as dez horas, são recém sete e meia.”
Lizzy gostava de acordar mais cedo para caminhar. Mas logo descobriu que era algo arriscado para se fazer nas ruas de São Paulo, pelo menos perto do hotel. Com o trânsito da região, corria o risco de ser atropelada. E fora proibida de usar as esteiras da sala de ginástica, que eram exclusivas para os hospedes.
“ Nem gosto de esteira mesmo, qual é a graça de andar, andar e não sair do lugar?”
O que ela gostava era de ver as paisagens. Adorava o contato com a natureza. Assim que tivesse tempo, sairia para conhecer os parques de São Paulo. Mas na verdade, nunca tinha muito tempo.
Então resolveu ler um livro que havia comprado para ler nas horas livres, mas que ainda não tivera a oportunidade nem sequer de abrir. Lizzy adorava ler, e com certeza isto a forneceria distração suficiente até a hora de trabalhar.
Mas não conseguiu se concentrar! Pensar neste homem tão perto dela a tirava do sério! Que raiva! Como odiava pensar nele! Como odiava pensar que ele estava perto nele! E como odiava pensar que ele ouvira seu telefonema com Jane!
“ E se ele resolver boicotar Jane no curso por ela ser minha irmã? Não, ele não seria capaz de uma coisa destas. Ou seria? “- pensou.
“ Que raiva! Esperei tanto por uma oportunidade para ler este livro e agora por causa deste homem não consigo me concentrar!”
Lizzy resolveu deixar o quarto. Enxergava um lindo jardim, mas pequeno e aconchegante, de sua janela. Como nunca via ninguém ali, resolveu descer para perguntar se era permitido para os funcionários.
- Jonas, sabe aquele jardim que eu vejo da minha janela?
- Sei Lizzy, o que tem ele?
- Sabe se posso me sentar ali para ler um livro?
- Ah sim, ali não é livre para os hóspedes, e quase ninguém usa. Na verdade usamos aquele espaço para cultivar temperos. Encontrará uma pequena horta ali. Mas se eu não me engano tem um banco perfeitamente confortável para ler um livro.
- Sim, eu o enxergo da minha janela. Como se chega lá?
E Jonas explicou.
- Lizzy, tem outra coisa, como às 14 horas assumirá novamente o lugar da Estela, tenho que te passar algumas informações extras. Soube que se virou muito bem ontem diante de um imprevisto noturno.
- Ah sim, fiz o possível.
- Sim, acho que teve uma boa idéia. Mesmo não sendo o quarto mais adequado para ele. Mas preciso te passar alguns dados. Este é um homem muito importante, como já deve ter percebido.
- Sim, percebi.
Jonas deu uma risadinha.
- Se ligarem atrás dele, recebemos ordens para dizer que ele não esta. Não esqueça, isto é muito importante. Não repasse as ligações e muito menos informe o número do quarto. Ele não está para ninguém, principalmente para a senhorita Caroline Bingley.
- Caroline quem?
- Caroline Bingley! Mas não me faça mais perguntas, Lizzy. Se quer continuar trabalhando neste hotel uma das primeiras lições a aprender é ser discreta. Não pergunte nada sobre a vida de ninguém e muito mesmo comente sobre o que sabe.
- Tudo bem Jonas, lembrarei disto.
- Tenho certeza que vai acabar descobrindo sozinha de quem se trata, mas da minha boca não vai ouvir nada – E Jonas fez com as mãos um gesto que significava boca fechada. E Lizzy repetiu o mesmo gesto e seguiu rindo para o jardim.
“Caroline Bingley! Então deve ser por isso que ele apareceu do nada no meio da noite. Deve ter brigado com a esposa. Ou melhor, deve ser namorada, por que senão seria chamada de Sra. Darcy. Mas não vou pensar mais nisso, vou ler meu livro e esquecer esse assunto”.
E sentou no banco do jardim para ler.
Neste local foi mais fácil se concentrar, já que se sentia tão bem entre a natureza. As horas passaram rápidas, e quando viu já estava na hora de ir para o quarto se arrumar. Nenhum imprevisto, apenas a sensação que alguém a observava, mas não viu ninguém.
O resto do dia passou tranqüilo, já se acostumara a rotina do hotel com movimento. Às 14 horas assumiu o lugar da Estela pela última vez, pelo menos assim esperava. Não viu Charlotte pela manhã, e teve a impressão que ela a evitava.
- Sr. Darcy! – ouviu Alberto chamando por ele, enquanto passava apressado.
Darcy caminhou em direção a Alberto.
- Desculpe Alberto, estou com pouco tempo, estou atrasado para uma reunião e tive que voltar aqui para pegar uns documentos que eu esqueci. O que você quer?
Lizzy estranhou que ele falava com Alberto de modo educado, e parecia ser bastante atencioso.
- É que vai liberar um quarto no quarto andar, e gostaria de saber se o senhor gostaria de ser transferido para lá.
- No quarto andar? Mas não é um quarto do tamanho do meu?
- Sim, mas é num andar mais reservado, e os quartos não são tão simples.
- O meu quarto simples? Eu não tenho reclamações. Até que está bem confortável, exceto pelo tamanho. Vocês fizeram um bom trabalho. E aquele lindo jardim que vejo da minha janela, nunca pude observá-lo de nenhuma outra janela. E a vista é tão agradável que compensa o fato de eu estar no primeiro andar.
Darcy deu uma olhada de canto de olho para Lizzy, fazendo com que ela tivesse certeza de que fora mesmo observada. Lizzy corou, e virou-se de costas.
“Não sei por que me importo tanto. Se quer me olhar que me olhe. Mas por que isto tem que me afetar desta maneira? “- Lizzy pensou.
- Tudo bem Sr. Darcy, se assim deseja. Precisando de alguma coisa estamos as suas ordens.
- Obrigado Alberto, mas tenho que ir, pois já estou atrasado. Até mais senhorita Elizabeth.
Lizzy acenou com a cabeça, sem abrir a boca. Ainda estava corada e ele certamente percebera.
Pela 18 horas Lizzy avistou Charlotte de longe e a chamou.
- Charlotte, não te vejo mais! Tenho tanta coisa para te contar!
- Eu também Lizzy, mas estou numa correria. Nos falamos depois. Pena que tu sai tão tarde! Não conseguimos nem jantar juntas. Mas amanhã tu vai estar de folga e poderemos conversar.
- Mas e hoje de noite, Charlotte? Não podemos conversar hoje? Preciso falar contigo!
- Acredito que não, Lizzy. Creio que mal nos veremos. Vou jantar com meu namorado, ele vem me buscar às 21 horas.
- Ele vem te buscar? Então eu finalmente o conhecerei?
- Ainda não Lizzy. Não quero que o veja antes da gente conversar.- Charlotte abaixou a cabeça e olhou para o chão, como se estivesse com vergonha.
Lizzy olhou-a com uma cara interrogativa:
- Mas Charlotte, para que tanto mistério? Porque não me fala logo quem é o teu admirador secreto? Estou tão curiosa!
- Ai, Lizzy. É uma longa história. Mas não quero que o veja antes da gente conversar. Ele vai me esperar no carro.
- Ah....
- E não me espere de noite, não sei se voltarei para dormir.
- Está bem. Mas de qualquer forma não conseguiria te esperar mesmo se eu quisesse, porque vou para o quarto tão cansada...
- Eu imagino, Lizzy! Mas vou indo, tenho muito o que fazer!
E saiu apressada.
Lizzy passou o resto do dia atarefada, e quando viu já eram 22 horas. Paulo chegara, e ela pode sair da recepção. Antes de subir para o quarto, deu uma passadinha na cozinha. Sempre guardavam para ela algum sanduíche com as sobras do café da manhã.
*
*
Capítulo 4
*
Lizzy tomou um banho, contente pela água quente que relaxaria seu corpo cansado. Colocou uma camisola e foi deitar, feliz da vida por poder descansar. Mas antes de dormir, resolveu ver televisão. Não ouviu nenhum ruído vindo ao quarto do lado e estava certa que o Sr. Darcy não estava ali, o que a deixou mais relaxada. Jane ainda não ligara dando uma resposta, decerto ainda estava indecisa e Lizzy não queria ligar de novo para não pressioná-la. Mas como precisava falar com alguém! Jane e Charlotte sempre foram suas confidentes, e ambas estavam fazendo falta.
- Ai Charlotte, preciso tanto de ti! Porque foi arranjar um namorado justo agora! – Mas logo afastou este pensamento, por considerá-lo extremamente egoísta. Deveria é estar contente pela amiga.
Lizzy estava quase adormecendo, quando escutou uma batida na porta. Se levantou, foi ver e não tinha ninguém.
-“Que estranho, de certo sonhei!”
Mas logo levou um susto ao ver a porta interna ser aberta e ao se deparar com ninguém menos que o Sr. Darcy!
Lizzy ficou branca, imóvel, pelo assombro que tal fato causou. Estava só com uma camisolinha preta, curta e de alçinha. Encolheu-se toda e correu para colocar um roupão. Mas este minuto foi suficiente para que ele reparasse em seu pequeno traje e a olhasse com admiração.
- Desculpa entrar assim de repente, é que ouvi a televisão ligada, e conclui que a senhorita estava no quarto e que ainda não dormia.
- Na verdade, estava quase dormindo – Lizzy respondeu meio de mau humor. Era muito atrevimento da parte dele invadir seu quarto assim no meio da noite. – Como você entrou aqui?
- Achei esta chave no meu quarto. – e mostrou a chave – e resolvi entrar, pois preciso da tua ajuda.
- Que tipo de ajuda? Suponho que seja algo muito urgente. Mas não estou trabalhando agora. Não há outra funcionária disponível?
- Não sei, nem pensei. Vi que a senhorita estava acordada, e já que sempre resolveu bem meus problemas resolvi vir aqui.
Lizzy fez uma careta para ele e não disfarçou seu mau humor. Mas vendo que ele não desistiria, resolveu ver qual era o grande problema. E nem acreditou quando constatou o motivo de tanta urgência.
- Olha! Minha tv está verde!
- Me tirou da cama por isso? Por acaso tenho com cara de técnica em eletrônica?
Lizzy estava furiosa, e não conseguiu disfarçar. “Conte até dez Lizzy, conte até dez. Ele é um cliente importante. Depois reclama de ti, e os problemas sempre estouram do lado mais fraco.”
Com muita raiva, pegou o telefone do quarto e pediu para trazerem uma televisão nova.
Darcy olhava para ela com surpresa. Ele estava acostumado a ter todas suas vontades prontamente atendidas. Todos sempre faziam questão de ajudá-lo. Também porque ele sabia recompensá-los bem depois.
- Viu? Podia ter feito isto o senhor mesmo. Não precisava de mim para pegar um telefone.
E saiu fechando a porta. Ele ficou parado olhando para ela.
Lizzy voltou:
- Não vou conseguir dormir sabendo que o senhor pode entrar no meu quarto a qualquer minuto. Pode me dar essas chaves?
Ele entregou as chaves, mas a seguiu até o outro quarto.
- Nossa, que bagunça!
- Sim, são as coisas das minhas colegas que o senhor desalojou para pegar esse quarto. Não temos armários suficientes para guardá-las.
- Ah, elas ficaram sem quarto?
- Sim, mas elas estão de folga e retornarão somente domingo.
- Então não vejo problema nenhum em desalojá-las, como a senhorita diz.
Ele deu uma olhada pelo quarto.
- Vejo que a sua televisão é pequena, mas funciona perfeitamente. – sentou na cama de Charlotte, pegou o controle e mudou de canal, colocando no programa que estava assistindo.- Acho que vou ver aqui até a minha televisão chegar.
Mas Lizzy não se agüentou:
- Pois muito bem! Pode assistir o que quiser, estou acostumada a dormir com barulho. – falou ironicamente, vendo que ele não iria embora.
Lizzy viu o que ele tanto queria assistir:
- O que tem de tão importante nisto? Não vou poder dormir por causa de um programa sobre cavalos?
- Ah sim! Eu adoro cavalos! São o tipo de lazer que mais aprecio. Nada melhor do que uma boa cavalgada para relaxar. – E virou para Lizzy, que estava sentada em sua cama, enquanto ele permanecia na de Charlotte – Nunca cavalga, senhorita Elizabeth?
- Não – respondeu sem vontade.
- Mas já andou de cavalo em algum momento de sua vida, não?
- Nunca.
- Mas isto é uma falha que precisa corrigir. Não sabe o que está perdendo!
- As minhas falhas não dizem respeito ao senhor.- falou, de modo mau criado. Já tinha esgotado toda sua paciência.
- Ah, vejo que minha televisão chegou! Boa noite senhorita Elizabeth, e desculpe por ter tomado seu tempo.
Saiu, mas voltou antes de Elizabeth fechar a porta:
- Também não vou ficar sossegado sabendo que a senhorita pode entrar em meu quarto a qualquer hora da noite. – deu um sorriso debochado.
- Pois fique despreocupado, que não tenho a menor intenção de entrar em seu quarto.
- Mesmo assim, hoje em dia não se pode confiar em ninguém.
- Acha que vou entrar no seu quarto no meio da noite para lhe roubar? Isso é um absurdo!
- Quem falou em roubo? Estava pensando em outra coisa. – E ele estava rindo. Achava surpreendentemente agradável irritá-la. Não estava acostumado com pessoas que o confrontassem e descobriu como isto lhe dava um imenso prazer.
Lizzy percebeu que ele a provocava e respondeu:
- É realmente algo que faz parte da minha rotina atacar homens no meio da noite. Vamos manter a porta fechada para que eu possa me controlar.
Ele sorriu para ela. Um sorriso de cumplicidade. Ela relaxou e sorriu de volta. Estava muito cansada para brigar. Enfim estavam se entendendo.
- Mas o que vamos fazer? – Lizzy perguntou.
- Me dê essas chaves para eu dar uma olhada.
Ela buscou as chaves que havia deixado em cima da cama, e lhe entregou. Ele as pegou, tocando levemente em sua mão. E esse pequeno toque foi suficiente para provocar um grande arrepio em Lizzy.
- Tem duas chaves, vamos dividi-las. Sabe como funcionam estas portas?
Lizzy fez que não com a cabeça, mordendo o canto da boca - um gesto que ultimamente fazia com maior freqüência.
- Se eu trancar pelo lado de dentro, do seu lado não dá para abrir. A gente só consegue abrir com os dois lados destrancados. Quer tentar? Vou fechar a porta, e você tenta abrir.
Lizzy tentou e a porta não abriu. Sorriu satisfeita. Mas logo ele tornou a abri-la e voltou para falar:
- Esqueci de lhe desejar boa noite. – Pegou a mão dela e beijou – Boa noite senhorita Elizabeth, e desculpe qualquer incômodo.
- Boa noite – ela respondeu, e ele voltou ao seu quarto. Mas ela continuou parada no mesmo lugar. Sem reação, levou sua mão beijada ao rosto.
“Não vou lavá-la, pensou!” e riu de si mesma. “Até pareço um adolescente. Numa hora estou morrendo de raiva e basta um gesto de gentileza para que eu me derreter. Realmente, não estou me reconhecendo.” E deitou na cama, se cobrindo até a cabeça. Mas sem lavar a mão.
Lizzy ficou se virando na cama, mas não conseguia dormir. Estava muito agitada. Não conseguia parar de pensar nele. No quanto ele era bonito. Em seus lindos olhos azuis. Era realmente muito irritante, esnobe e petulante. Mas não podia negar que era lindo! E agora a idéia de invadir o seu quarto no meio da noite já não a repelia mais. Achou graça, afinal há quanto tempo não se interressava por alguém?
Depois de meia hora tentando inutilmente dormir, ouviu um telefone tocando no quarto ao lado e depois uma conversa:
- Tia? Com me achou aqui? – Darcy falava com espanto, pois tinha deixado bem claro que não queria ser incomodado. Mas se tratando de sua tia, isto não era inesperado. Sabia como ela poderia ser insistente e os meios que tinha para obter o que queria.
- Não. Amanhã é domingo, não irei trabalhar.
- Não! De forma alguma Caroline deve vir me ver! Ela não deve saber que eu estou aqui.
- O que? Ela já sabe e ficou de vir amanhã cedo?
- Não tia, não insista! Não dá mais. Já pedi para ela sair da minha casa, mas ela não desiste.
- Mas eu não sei como ela ainda tem esperanças! Eu já deixei bem claro que acabou.
- Acabou tia, não insista. Não a mande aqui sob hipótese alguma! Ela vai perder seu tempo, já que passarei o dia fora.
- Sim, já tenho planos. E não lhe direi aonde vou. Aliás, vou sair bem cedo e voltar bem tarde.
- É verdade! Não vou estar aqui. E se ela vier só irá perder seu tempo!
Darcy desligou irritado. Lizzy ouvira tudo sentada na cama de olhos arregalados. Demorou apenas um minuto e ouviu uma batida na porta. Desta vez, dirigiu-se à porta certa. Já sabia quem era, mas não o que ele queria. E estava curiosa. Mas não se deu o trabalho de vestir o roupão, abrindo só de camisola. “Se eu vou ficar constrangida, com certeza ele ficara também “ – pensou, e riu consigo mesma.
- Oi? Ãh... _ ele ficou meio atordoado ao reparar que ela estava só com aquela pequena peça de roupa, e logo desviou o olhar - Ainda não dormiu? Desculpa te incomodar novamente, mas resolvi arriscar. Desta vez bati bem baixinho, e se já estivesse dormindo não me ouviria.
- Tudo bem, ainda não consegui pegar no sono. – falou, disfarçando um bocejo. – O que você quer? A Tv estragou de novo?
- Não, na verdade, é algo bem diferente.
Lizzy o fitou, levantando as sobrancelhas, com cara de sono.
- Sei que amanhã é o teu dia de folga. Já tem planos?
Pega de surpresa, não pode mentir:
- Não. – não tinha nada mesmo para fazer. E estava desanimada, sabendo que ficaria sozinha. Provavelmente Charlotte ficaria com seu misterioso namorado. Planejara passar o dia com sua tia, mas ela já tinha um compromisso.
- Então gostaria de levá-la para um passeio. Vou ensiná-la a andar a cavalo. E não aceito um não como resposta, porque é inaceitável o fato de nunca ter cavalgado.
- Hum.... – estava muito cansada para pensar em qualquer desculpa, e mesmo não querendo ir, não parecia uma má idéia. Adorava animais.
- Certo então? Consegue acordar cedo? Mas bem cedo? Podemos nos encontrar 6 e meia lá no restaurante?
- Hum... Até parece que está fugindo de alguém – falou debochando.
- Sim, e realmente estou. E você com certeza sabe de quem. Pois se estava acordada, deve ter ouvido minha conversa.
Lizzy deu um leve sorriso, confirmando que realmente escutara.
- Então não se atrase, hein?
Ia sair do quarto, mas voltou:
- Sério Lizzy, por favor não se atrase.
- Lizzy?
- Sim, vi que todos a chamam desta forma. Posso chamá-la assim também?
- Pode. E eu continuo o chamando de Sr. Darcy?
- Não. Já que vamos fazer um passeio juntos, precisamos de um tratamento menos formal. Pode me chamar de William.
- William? Não sei me acostumarei, mas vou tentar. – Lizzy achou que o nome não combinava com ele.
- Boa noite Lizzy, e obrigado. Por tudo.
- Boa noite.... William.
E ele saiu satisfeito com seus novos planos. E gostou do som de seu nome pronunciado pelos lábios dela.
Ambos estavam felizes, e adormeceram rapidamente, cheios de expectativas para o outro dia.
*
*
Capítulo 5
*
Lizzy acordou antes das 6 e foi tomar banho. Sempre que podia lavava os cabelos ao levantar, hábito lhe dava maior disposição para enfrentar o dia.
“O que devo levar? Não perguntei para onde vamos. Aliás, não faço a menor idéia do que devo usar. “- pensava no banheiro.
Decidiu por fim colocar uma calça preta de malha, uma blusa cor verde água sem mangas bem leve, um casaco fino de linha da cor creme, e um par de tênis. Estavam no verão, e esquentava muito durante o dia, mas mesmo assim achou melhor vestir uma calça comprida, pois ficaria mais protegida no caso de uma queda.
Passou um baton do tipo gloss nos lábios, e um lápis de olho preto. Não costumava se pintar, mas resolveu abrir uma e exceção. Colocou na bolsa um pouco de maquiagem.
“O casaco é só para agora cedo e à tardinha, pois não sei que horas iremos voltar”- pensou .
Olhou-se no espelho e gostou do resultado.
“Será que levo mais alguma coisa? Se vou andar a cavalo, com certeza ficarei no sol. E com esse calor, vou precisar de outro banho.”
Não sabia se teria um chuveiro disponível, mas resolveu levar roupas para esse caso. Pegou um vestido rosa florido, de um tecido fino apropriado para a estação, e umas sandálias baixas que combinavam com o casaco.
“Será que só levo isso? E se voltarmos tarde e ele quiser jantar em algum lugar? Ai, meu Deus, devia ter perguntado melhor sobre seus planos.”
Resolveu colocar um vestido preto na bolsa. Era frente única, com alguns detalhes bordados. Simples, mas que garantia um bom resultado. E umas sandálias para combinar. Era melhor ir preparada, iria passar vergonha se não tivesse o que vestir.
“Ah, e protetor solar também. Não tenho tido tempo de tomar sol, e com essa minha cor branca posso facilmente me queimar”
Antes de descer, resolveu escrever um bilhete para Charlotte. Acabou não falando para ela que iria sair. Quando decidiu tal passeio era muito tarde para telefonar e neste momento era cedo demais.
Pegou um papel e uma caneta, e ficou pensando o que escreveria. Enfim escreveu:
“Querida Charlotte,
Resolvi fazer um passeio de última hora. Ontem quando planejei tal evento já era muito tarde para te ligar. E agora são 6 da manhã e já estou quase de saída. Como vê, tenho desculpas para não te avisar. Vou levar meu celular, mas como não sei aonde irei, não sei se terei sinal.
Isso mesmo Charlotte: não sei aonde irei, e nem a que horas volto. Sei que ficará surpresa, mas não te direi através deste quem será minha companhia. Certamente ficará muito curiosa, mas não mais do que eu estou por sua causa.
Querida amiga, eu disse que precisava falar contigo! Precisamos conversar com urgência!
Se a Jane ligar para dizer sua resposta, pegue o recado para mim. Seria tão bom se minha querida irmã fizesse o curso! Tente convencê-la caso a resposta seja não.
Procurarei me divertir, mas ainda não sei o que me espera. Tente se divertir também, afinal estamos merecendo uma folginha!
Beijos,
Lizzy.”
E desceu ao restaurante. Terminou seu café, e como não vi nem sinal do Sr. Darcy, foi na recepção falar com Jonas.
- Jonas, se o Alberto me procurar, vou sair e não sei a que horas volto. Hoje estou de folga! – sorriu - E se alguém da minha família ligar, se puder, anote o recado para mim. Mas se for Jane, faça com que ela fale com Charlotte, caso ela esteja no hotel.
- Sim, Lizzy. Pode deixar. – e virou para falar com outra pessoa que vinha em direção a recepção – Sr. Darcy! Precisa de alguma coisa?
- Não Jonas, está tudo certo. – e se voltando para Lizzy, falando mais baixo – Desculpa, não pude tomar café, me atrasei e acabei comendo umas frutas no quarto. Está pronta?
Jonas percebeu o que ocorria e se afastou, deixando os dois a vontade.
- Sim. Só estava te esperando.
- Esqueci de te avisar para levar uma roupa de banho.
- Um biquíni? Mas não vamos andar de cavalo?
- Sim, vamos andar de cavalo também.
- Ah, mas para onde vamos?
- Isso é segredo, mas acho que você vai gostar.
Lizzy olhou para ele e disse:
- Tudo bem. Vou confiar em você. Só espere um pouco, que eu tenho que voltar ao quarto. Não sabia que iria precisar de um biquíni.
E Lizzy subiu correndo para o quarto pelas escadas. Era só um andar e o elevador demorava muito.
“Um biquíni? Vou pegar o mais discreto que tiver, não me agrada muito a idéia de ficar de biquíni na frente dele. E vou pegar um vestido de praia também, e se possível não o tirarei.”
Estava saindo quando lembrou de pegar um chinelo. Teve dificuldades de colocar em sua bolsa. Mas com um pouco de organização conseguiu fazer com que tudo coubesse.
- Vamos? Vai levar só isso ai? – perguntou olhando o que ela carregava.
- Sim, porque o espanto?
- Nada. Só estranhei.
“Provavelmente sua namorada é daquelas que levam mil coisas para passar um dia. Cheia de frescura!”- Lizzy pensou.
Ele saiu do hotel, e ela o seguiu. Entraram numa Mercedez preta onde o motorista já os aguardava. Lizzy foi olhando o caminho pela janela e estranhou quando eles pararam em frente de um prédio.
- É aqui que nós vamos? – perguntou, como se dissesse: “como assim?”
Ele sorriu e disse:
- Tenha calma. É uma surpresa.
- Não gosto de surpresas. – ela retrucou - Tenho medo de surpresas.
Ele deu risada.
- Não se preocupe, acho que você vai gostar desta.
- Será?
Entraram e o porteiro do prédio já os aguardava.
- Está tudo pronto, Sr. Darcy. Vocês já estão sendo aguardados.
- Ótimo! Muito obrigada, Telmo.
Lizzy surpreendeu-se. Ele tratava todo mundo pelo primeiro nome. Devia ter uma boa memória, e afinal não parecia tão arrogante quanto o julgara no início.
Pegaram o elevador e pararam no último andar.
-Pronta para a surpresa?
- Não sei.
E a porta abriu e ela levou um choque ao se deparar com nada mesmo do que um helicóptero!
- Eu não vou andar nisto. – Deu um passo para trás.
- Ah! Quer dizer então que é medrosa? Parecia tão segura de si, acreditei que não tivesse medo de nada.
Lizzy fez uma cara de braba e disse:
- Não tenho medo. – e bufando de raiva entrou no helicóptero. – Mas poderia ter me poupado deste susto!
- Calma Lizzy, não fique braba. – ele sentou a sua esquerda, pegou sua mão e a beijou – desculpe por não ter avisado.
- Na verdade – ela virou-se para ele, soltando a mão – acho que se tivesse avisado eu não viria.
- Eu imaginei que isto pudesse acontecer.
- E por isso ficou bem quietinho, não é?
- Sim, não quis arriscar. Para não correr o risco de perder sua companhia.
O helicóptero decolou, e Lizzy ficou em pânico, encostada dura como uma pedra em seu banco.
- Colocou o cinto? – ele perguntou
- Sim – mas quase não saiu som de sua boca.
- Não se preocupe, daqui a pouco você se acostuma.
- Mas sacode mais do que avião!
Ele riu, e pegou um jornal para ler. Estava acostumado a voar. E ela relaxou um pouco ao perceber sua tranqüilidade. Começou a reparar na bonita vista da janela. Às vezes perguntava alguma coisa sobre o que via, e ele largava o jornal para olhar e respondia o que era.
Depois de um tempo, o piloto olhou para eles e falou:
- Agora vamos passar por dentro de uma nuvem. Vai sacudir um pouquinho.
Ele resolveu avisar, pois percebera o medo de Lizzy. Na verdade, achara divertida a situação.
- Oh? Um pouquinho mesmo? – Mas não precisou ouvir a resposta, já que o helicóptero começou a balançar muito.
Lizzy voltou a encostar-se no banco. Estava pálida como nunca. E num impulso, agarrou com a mão esquerda o braço de Darcy.
- Tudo bem Lizzy, pode apertar o meu braço bem forte, se isso te faz se sentir melhor.
- Ai, desculpa. – E diminuiu um pouco a força, mas não o largou.
Ele então colocou o jornal de lado, e segurou sua mão com a mão esquerda que estava livre. Olhou nos olhos dela:
- Já vai passar – ele disse, tentando tranqüilizá-la.
Depois de um tempo, ele resolveu retomar sua leitura, mas não largou a mão de Lizzy. Apenas trocou de mão, para deixar seu outro braço livre.
O helicóptero parou de sacudir e Lizzy aos poucos foi se acalmando, e voltou a se distrair olhando pela janela. Mas eles continuaram de mãos dadas.
Agora ela sorria de vez em quando.
- Olha que lindo estes campos do seu lado da janela! – e praticamente se jogou em cima dele para olhar. Acabaram soltando as mãos.
- Ah sim, já estamos perto.
- Mesmo? – Quis saber. Parecia uma criança feliz com tantas novidades. – Olha só que lindo! Adoro ver tanto verde!
- Ah, então certamente irá gostar do local para onde vamos.
- É mesmo? Que bom!
E não teve mais medo em nenhum momento até o pouso. Estava contente.

Desceram do helicóptero, e Lizzy percebeu que um casal de idosos os aguardava. Caminharam em direção a eles, e a mulher falou:
- Espero que tenham feito uma boa viagem.
- Sim, excelente – Darcy respondeu.
- Oi, muito prazer! Sou Lizzy! – Lizzy estendeu a mão para cumprimentá-los. O casal pareceu surpreso com tal demonstração, mas corresponderam o gesto com grande simpatia.
- Está tudo pronto, Sr. Darcy. Conforme o senhor nos pediu – falou o homem.
- Os cavalos estão preparados?
- Sim. Só estávamos aguardando sua chegada.
Lizzy dirigiu-se a mulher:
- Onde posso colocar minhas coisas? E gostaria muito de me arrumar.
- Ah sim, pode vir comigo.
Lizzy seguiu-a e entraram na casa. Era uma casa de estilo rústico, muito bem decorada com móveis antigos, mas de ótima qualidade. Era grande, e parecia ter mais de dez quartos.
- Que casa linda! E enorme! Devem receber muita gente aqui.
- Até que não. O Sr Darcy, por exemplo, não nos visita há 8 meses.
- 8 meses? Como pode ficar tanto tempo sem vir a um lugar tão bonito?
- Também não entendo. Mas ele trabalha muito desde que seu pai faleceu. Acredito que não tenha muito tempo livre desde então.
- Ah, sim! – Lizzy fingiu conhecer o assunto, mas na verdade ignorava todos os detalhes sobre a vida dele.
- Pode vestir-se neste quarto, senhorita,
- Lizzy, pode me chamar de Lizzy.
A mulher olhou-a com certo espanto, estranhando sua simplicidade.
- Como quiser, Lizzy.
- E a senhora, qual é o seu nome?
- É Lourdes. Qualquer coisa, é só me pedir – E ia saindo, quando Lizzy chamou-a:
- Olha só... Ele me mandou trazer um biquíni, mas não sei se devo colocá-lo agora. Acho que eu devo? Porque eu não sei bem o que vamos fazer, e não conheço esse lugar...
- Ah... Acho que sim. Deve sim. Se ele for te levar para seu local preferido, com certeza vai precisar de uma roupa de banho.
Lizzy sorriu aliviada:
- Obrigada pela dica! Agora vou me vestir.
Lourdes saiu satisfeita. “Que simpática! Tão diferente de Caroline! “ Conhecia Darcy desde criança, e nunca percebeu seu interesse por nenhuma mulher. Nem por Caroline. Aliás, não entendia como eles eram namorados. Ele tratava todos tão bem, e ela tão antipática! E decidiu observar Darcy e Lizzy. “Ele nunca leva ninguém ao lago. Se a levar, é porque ela é especial” - pensou.
Lizzy colocou o biquíni embaixo da roupa e pôs protetor solar. Pegou uma sacola para levar o seu vestido e chinelos, e não esqueceu do protetor solar e óculos de sol.

Darcy já a esperava com certa impaciência, parecia nervoso. Estava de calça comprida também, e trajava uma camisa de linho branca e botas de montaria.
Conversava ainda com o senhor que os recebera.
- Vamos? – ele disse.
E foram os três caminhando até o local onde estavam os cavalos.
- Separei estes dois para vocês, o seu preferido e essa égua branca. Como ela é a mais mancinha, achei que seria a mais adequada. – E perguntou para Lizzy: - nunca montou mesmo?
- Não.
- Ah, mas com certeza terá um ótimo professor. E vai se surpreender ao ver como é fácil! Bom, vou deixá-los sozinhos, pois tenho muito o que fazer.
O cavalo de Darcy era dourado e reluzia ao sol. Tinha três das quatro patas brancas e era muito bonito. Lizzy achou que devia ser caro, mas não entendia de cavalos. Ele era maior e mais forte do que a égua e trazia nas costas uma cesta, que Lizzy ficou curiosa para saber o que continha. Mas não perguntou. De qualquer forma, sabia que ele não diria.
- Quem são eles? São um casal tão adorável! – Lizzy indagou
- São os caseiros. Lourdes e João. Eles moram aqui e coordenam este lugar.
- Mas dão conta de tudo isso sozinhos?
- Não, claro que não – ele riu – Um lugar deste precisa de muita gente. Mas só eles moram na casa.
- Ah... Mas a quem pertence este lugar? Não é seu, né? – perguntou duvidando do fato. Achava que ele era muito novo para ser tão rico, pois não aparentava ter mais do que 30 anos.
- Não, claro que não – ele mentiu – É da minha família.
- Ah... – e foi observar sua égua – Que égua linda! Posso tocar nela?
- Mas é claro!
Lizzy se aproximou e acariciou a cabeça do animal.
- Oi cavalinha! – falou – Com é o seu nome?
Darcy deu uma risada e disse:
- Cavalinha? Se eu não tivesse ouvido chamá-la de égua antes, começaria a duvidar de sua inteligência! – zombou.
Ela olhou para ele e riu. Ele estava encantado com seu jeito. Tão espontânea! Tão diferente das pessoas com que ele convivia. As vezes enxergava nela uma menina, as vezes via uma grande mulher. E tal contradição o fascinava.
- O nome dela é Primavera.
- Ah, ela tem cara de Primavera mesmo. Mas você não tem cara de William! – comentário que o fez rir.
Ele logo começou a dar algumas dicas de montaria e a ajudou a subir no cavalo.
- Vamos primeiro andar devagar, para você pegar o ritmo. E se de início não conseguir conduzi-la, sua égua seguira naturalmente o meu cavalo.
Mas ela aprendeu rápido, e logo já cavalgava mais veloz do que ele.
- Não vá tão rápido! Assim não poderemos apreciar a vista.
- Sim, tem razão. Que lugar bonito! Estou tão feliz!
Ele não disse nada, mas também estava feliz.

E assim cavalgaram por quase trinta minutos, sem pressa. Cruzaram com algumas vacas, que pastavam tranquilamente, e Lizzy se encantou ao ver um bezerro. Na maior parte do caminho passaram por um campo aberto, de um lindo verde. Havia algumas árvores ao fundo, e podia perceber montanhas mais longe. Alguns pássaros voavam sobre eles.
Lizzy enxergou um lago, que foi se tornando maior na medida em que se aproximavam. Era longo, e ela não conseguia ver o fim.
“Ah, por isso o biquíni! E nada mais agradável do que nadar com esse calor!” – pensou.
Há dias fazia calor, mas este estava excepcionalmente quente. Pararam na única árvore que havia, desceram, e Darcy amarrou os cavalos nela.
- Que engraçado! Uma árvore sozinha, no meio do nada! – Lizzy observou.
- Ah, sim. Eu mesmo a plantei.
- É?
- Sim. Costumava vir aqui sempre com meu pai, e como não tínhamos onde amarrar os cavalos, era sempre uma dificuldade para encontrá-los depois. Então decidi eu mesmo plantar uma arvore.
- E fez um bom trabalho.
- Sim, depois de três tentativas. Todas morriam, mas por fim me indicaram uma mais adequada ao clima – e olhava satisfeito para sua árvore.
- Ela deve lhe trazer boas recordações.
- Na verdade não.... ela demorou para crescer, e quando estava com um tamanho apropriado meu pai adoeceu e eu quase não vim mais aqui.
- Ah.... – Lizzy achou o fato triste, mas gostaria de saber mais sobre sua vida. – E sua mãe?
- Minha mãe morreu quando minha irmã nasceu.
- Oh! E quando foi isto? – Lizzy não conseguia imaginar sua vida sem seus pais. Sua mãe às vezes a enlouquecia, mas não saberia viver sem ela.
- Minha irmã Georgiana é doze anos mais nova do que eu.
- Ah, e quantos anos ela tem?
- 16.
“Então ele tem 28! Sabia que não tinha mais do que trinta! Eu tenho 23, então ele é perfeito para mim!”
Ele desamarrou a cesta que estava presa ao cavalo, e a carregou até perto da beira do lago. Tirou de dentro uma toalha e a estendeu no chão.
- Perfeito para um piquenique. Espero que esteja ao seu gosto.
Era uma tolha xadrez vermelha e branca. Colocou a cesta em cima.
- Não sei. Ainda não vi o que tem ai dentro.
- E não vai ver por enquanto. É surpresa.
- Por isso nem me dei o trabalhos de perguntar. Sabia que diria isso!
- Então eu devo ser muito previsível! – e riu
- Um pouco! – Os dois eram só sorrisos.- Mas estou morrendo de sede. Tem algo para beber nesta misteriosa cesta?
- Ah sim. – e entregou a ela uma garrafinha de água mineral.
- Vou sentar um pouco para beber, estou um pouco cansada.
E ambos sentaram na toalha. Mas Lizzy gostaria de mais detalhes, então retomou o assunto anterior:
- E sua irmã? Mora com você?
- Não, ela esta estudando em Londres.
- Em Londres? Mas são só vocês dois de irmãos?
Ele fez que sim com a cabeça.
- Oh coitada! – Lizzy nem pensou, seu comentário foi automático.
- Coitada? Por quê? – Darcy ficou intrigado. Sempre pensara fazer o melhor por sua irmã.
- Ah desculpe. Não sei se devo dizer o que penso. Pode me considerar muito atrevida.
- Não, pode falar. Eu gostaria de ouvir. – Queria realmente saber o que ela tinha a dizer.
- É que ela deve se sentir muito sozinha morando lá. Talvez... Não a conheço, mas se fosse eu... – e fez uma pausa para pensar no melhor jeito de falar - Acho que o que ela mais gostaria era poder ficar a seu lado.
- Você acha?
- Sim... Se seus pais morreram... Você como irmão deve ser a pessoa mais importante para ela. Ainda mais com 16 anos, que temos tantas dúvidas, e precisamos de uma pessoa querida ao lado.
- Mas eu sempre pensei que enviá-la aos melhores colégios era o melhor a ser feito. E ela nunca demonstra estar descontente, sempre se mostra agradecida.
- Talvez ela o respeite bastante para não contrariá-lo.
- É, pode ser. - As pessoas não costumavam contrariá-lo. Sempre que decidia algo, ninguém fazia objeção. – Mas se for este o caso, como posso descobrir se ela está mesmo infeliz?
- Tenho uma idéia, se quiser ouvir.
- Sim, estou ouvindo.
- Chega para ela e diz: “Georgiana, estou pensando em trazê-la de volta ao Brasil para morar comigo. Descobri um colégio adequado para sua educação perto da nossa casa.” Pega de surpresa, ela não vai poder mentir e você vai perceber o que ela realmente sente.
- Está falando você ao invés de tu? Está perdendo o sotaque de gaúcha? – Ele provocou.
Ela fez uma careta para ele.
- Pois é, me falaram para eu melhorar o meu sotaque. Estou tentando desde então.
- Não Lizzy. Não precisa mudar nada. Eu o acho extremamente agradável.
Lizzy ficou envergonhada e desviou o olhar.
Ele pegou sua mão e falou:
- Obrigado pelos conselhos, Lizzy.- Ela voltou a fitá-lo- Foram muito importante para mim. E vou pensar a respeito.
Lizzy olhou em seus olhos e respondeu:
- De nada. Quando precisar de uma opinião sincera sabe onde perguntar. Não costumo disfarçar o que penso. Na verdade, penso nisto como um defeito meu.
- Não Lizzy, de maneira nenhuma. Honestidade hoje em dia é uma coisa rara e é uma grande qualidade.
Ficaram em silêncio por alguns momentos, até que ela falou:
- Estou com calor. Podemos tomar banho neste lago? Ou é perigoso?
- Ah, sim. Em certos pontos é profundo, mas a água é calma. Sabe nadar?
- Não muito bem, mas sei me virar.
- Então não vamos mais perder tempo, vamos entrar! A água deve estar na temperatura ideal, com o calor que esta fazendo. Porque costuma ser gelada.
E ele ficou em pé e ajudou Lizzy a se levantar.
- Vou até a Primavera buscar minhas coisas. – E já me arrumo por lá, pensou.
Sua sacola com o chinelo e o vestido estava amarrada na égua. Tirou os tênis, a calça e a blusa procurando se esconder atrás dela. Colocou os chinelos e ficou pensando se deveria ou não por o vestido de praia por cima.
“Sei que não faz sentido colocar o vestido, se já vou entrar na água. Coisa mais idiota!”
“Como tu é besta, Lizzy! Sempre fica de biquíni na praia sem problemas, em biquínis menores do que este e na frente de muito mais gente! ”
Usava um biquíni preto, cujas peças eram pequenas, mas não indecentes.
Ela esticou o pescoço por cima da égua para observá-lo. Ele estava de costas, enquanto tirava sua roupa, ficando só de sunga!
“Ai meu Deus!”- Lizzy pensou – “Não posso olhar isto! Ele é maravilhoso! Mais até do que eu podia imaginar! O que eu faço? E se ele não gostar de mim? “
Darcy entrou na água e a chamou com um aceno de mão. E saiu nadando para o meio do lago.
“Vou aproveitar que ele está de costas, nadando, e entrar rápido para ele não me ver de biquíni ”
E foi o que ela fez. Só que no caminho tirou o chinelo e jogou suas roupas de qualquer jeito em cima da toalha. Enquanto que as dela ficaram todas espalhadas, as dele estavam impecavelmente dobradas e organizadas.
A água estava fria, e deixou Lizzy arrepiada. Mas com o calor que sentia entrou rapidamente. Logo estava nadando e foi ao encontro dele. Lizzy adorava mergulhar, e ia bem fundo, desaparecendo e surgindo em algum ponto mais distante. Mas logo voltava para o lado de Darcy. Ficaram quase o todo tempo perto um do outro. Quando se afastavam um pouco, voltavam em seguida a se procurar.
Depois de um bom tempo:
- Estou um pouco cansada – Lizzy falou
- Vamos para aquele canto então. – nadou e ela o seguiu. – Aqui é mais raso.
Mas Lizzy foi colocar os pés no chão, e afundou até a cabeça.
- Para mim não dá pé.
- Mas para mim dá. Pode se apoiar em mim.
Ela se apoiou nele com o braço esquerdo. Ficaram em silêncio.
- Agora parada fiquei com frio. – E passou a nadar em círculos ao redor dele. – Se importa se eu fizer isso? Porque parada fico com frio, mas não posso ir muito longe, pois acho que não agüento. E não dou pé....
- Fique a vontade, Lizzy.
Lizzy girou mais um pouco, mas depois parou.
- Vamos sair? – ela falou
- Não Lizzy, ainda não. Faz tanto tempo que eu não venho aqui! Fica comigo mais um pouco... - e a olhou de um modo que ela não pode negar tal pedido. – Descansa aqui comigo.
- Mas daquele jeito estava doendo meu braço.- ela murmurou
- Então me abraça assim – e a colocou em suas costas, com os braços em volta do seu pescoço.
“Assim é bem melhor”. Lizzy pensou, enquanto disfarçava um sorriso.
Mas suas pernas ficaram sem apoio. Ela queria poder colocar as pernas em volta dele também, mas não tinha intimidade para tanto. Colocou as pernas para frente, dobrando-as. Depois, voltou a esticá-las, e em seguida as dobrou novamente. Não achava uma posição confortável.
Ele notou seu desconforto, então a puxou para frente e a fez sentar em sua perna dobrada. Ficaram abraçados.
Lizzy não conseguia sequer respirar direito. Tal contato a atordoava.

Então dois pássaros de peito amarelo começaram a voar perto deles. Iam de um lado para o outro, passando por vezes sobre suas cabeças. Pareciam estar namorando, e era uma cena agradável de ver. Darcy os observava, acompanhando cada movimento. Já Lizzy, aproveitando sua distração, passou a olhar para o rosto dele.
“Ele é tão lindo!”- o olhava admirada - “ Que olhos! Que sorriso! Que corpo! Ai, meu Deus! Quando ele sorri para mim... “ – e não concluiu seu pensamento, já que ele percebeu que ela o olhava e se virou para ela.
- Lizzy.... – e a trouxe para junto dele. Ficaram frente a frente, ela ainda com os braços ao redor de seu pescoço, e ele a abraçando pela cintura.
Naquele instante era como se não existisse mais nada, só os dois. Olhavam-se nos olhos, como se quisessem devorar um ao outro apenas com o olhar. Lizzy nem se mexia, mil sensações percorriam o seu corpo. Apenas ousava respirar.
Ele foi chegando mais perto, seus lábios se aproximando, sua mão buscou seu rosto. Lizzy continuava imóvel, apenas aguardando o momento. Queria muito aquele beijo, mas estava assustada com seus sentimentos.
E o cavalo relinchou.
Foi um barulho alto, quebrando o encanto. Lizzy levou um susto, não pelo som produzido pelo cavalo e muito menos pelo beijo que quase ocorreu, e sim por tudo que sentira. Nunca sentira algo tão forte. Não sabia o que fazer, como agir. E ela se afastou.
Nadou até a borda, saiu do lago, colocou seu vestido e logo se pôs sentada na toalha do lado da cesta. Tão rapidamente, sem ao menos tomar consciência do que fazia.

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