sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Um Certo Orgulho e Preconceito - Tânia Picon

Capítulo 26 a 32 - final
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Capítulo 26
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- Lizzy! Que bom que voltaste antes de eu sair, estava ansioso para falar contigo!
- Que foi meu amigo? Aconteceu alguma coisa?
- O Sr. Darcy te ligou!
- Ele me ligou? – ela balbuciou, aflita - Mas o que será que ele queria?
- Não sei Lizzy, ele não quis deixar recado. Mas acho que não era nada sobre trabalho... – deu um leve sorriso.
- Ai, Jonas! Se ele ligar de novo diga que eu não estou. Não quero falar com ele!
- Eu sei, Lizzy. Tinha certeza disso. Mas se ele ligar fora do meu turno, eu não posso fazer nada.
- Acho que ele não ligaria em outro horário... Ele não gosta que os funcionários fiquem comentando sobre a gente e ele sabe que tu és um dos meus únicos amigos aqui.
- E porque ele não liga para o teu celular?
Ela sorriu.
- Eu desliguei. Não quero que ele me encontre, Jonas... Fiquei chateada e não gostaria de falar com ele. Imagina! Hoje já é sexta-feira e ele recém me ligou! Segunda ele foi embora sem sequer se despedir, sem me dar uma explicação qualquer. Simplesmente sumiu! – ela discorria agitada – Sabe? Eu confiei nele... Não sei explicar direito... Sei lá. Mas ele me magoou agindo desta forma. Sei bem que minha mãe o assustou, mas se ele gostasse mesmo de mim não teria reparado nela. Charles Bingley não se importou, porque ele ama realmente Jane! Já William, quero dizer, o Sr. Darcy, não deve gostar tanto de mim quanto eu pensava... E se ele não se sente como eu, acho melhor evitá-lo, pois tal relação só me faria sofrer. Não concordas, Jonas?
- Não sei, Lizzy. Mas ele deixou esse número para ti ligar para ele.
- Que número? – Ele lhe estendeu o bilhete com a anotação, que ela olhou com curiosidade – Hum... Pelo código de área é de Santa Catarina. Ele deve então estar no hotel de Florianópolis. Sei que de Curitiba ele partiu para Porto Alegre, pois Georgiana me contou. E pelo visto ele agora aproveitará e visitará todos os hotéis, só para não voltar tão cedo! Sabia que ele tem o hábito de viajar sem pressa quando algo lhe aborrece? Deve estar querendo fugir de mim! Ai, que raiva, Jonas!
- Lizzy, só não quero que ele pense que eu não te dei o recado.
- Ele que pense o que quiser, mas eu não vou ligar, Jonas! E se ele perguntar: podes dizer que tu me deste o recado, que eu não me importo! Se ele quiser: que venha reclamar comigo depois! Ele vai é ouvir umas boas verdades!
- Eu não duvido disso, Lizzy. Só tu mesmo tens a coragem de peitar o chefe – ele deu uma risada – Não tem medo de perder o emprego?
- Não! E de qualquer forma, estou amiga íntima da dona – ela riu – Georgiana não deixaria que eu fosse demitida.
- É verdade. E como foi a ida à médica? Gostaram da Dra. Vanessa?
- Sim. Ela é um amor, muito querida.
- A Natália também a aprecia muito.
- A Georgi é que estava um tanto nervosa, pois era a sua primeira vez na ginecologista, mas assim que se deparou com a simpatia da Dra. Vanessa, logo relaxou.
- E você, Lizzy? Sobre aquele assunto que estava te tirando o sono?
- Ah... A gente fez as contas juntas, e ela disse que é muito difícil eu engravidar.
- Difícil, mas não impossível, Lizzy.
- Sim, não impossível... mas estou rezando muito para que isto não ocorra... Deus queira que eu não engravide agora... Já pensou? O que seria de mim?
- Ah, sim! Creio que seria um grande problema carregar um herdeiro das Cadeias Pemberley! – falou, zombeteiro.
- Para, Jonas! – ela riu e deu um tapinha no ombro do amigo – Eu estou falando sério!
- Eu também, Lizzy – ele deu uma gargalhada – Mas sabe que não seria uma má idéia você e a Natália terem os filhos quase juntas? E se você tivesse uma menina eles poderiam ser namorados.
- Ah... Pára, Jonas! Nem fala uma coisa dessas! Pior é que desde que eu vim para São Paulo, ando tão estressada que a minha menstruação não tem sido regular... Não sei o que pensar, meu amigo. Ando tão nervosa... Mal consigo comer e dormir...
- De qualquer forma, Lizzy, deve evitar beber. Deve agir como se estivesse grávida até ter certeza que não está.
- Sim. A Dra. Vanessa também me disse isso. E me deu todas as recomendações. Ela já me receitou anticoncepcionais para eu tomar assim que eu menstruar... Bem sei que não posso mais me arriscar desta maneira, Jonas. Fomos inconseqüentes, agimos feito crianças.
- Eu concordo, Lizzy. E minha curiosidade está me matando, e eu tenho que perguntar: qual o tamanho do risco que vocês estão correndo?
- Como assim, Jonas?
- Quantas vezes vocês fizeram, Lizzy? – ele riu
- Ai, Jonas! Que indiscreto! Ficamos juntos somente sábado e domingo!
- Sábado e domingo? Bom, mas você não respondeu a minha pergunta, Lizzy – ele riu, malicioso – Estou querendo saber se o Sr. Darcy tem algum defeito.
- Quanto a isso, fique sossegado, meu amigo: defeito nenhum, só qualidades.
Ele riu e ela mostrou a mão espalmada para ele.
- O que quer dizer com isso?
- A resposta a tua pergunta: o tamanho do meu risco. A mão inteira: cinco vezes.
Ela deu uma risada marota.
- É minha amiga! É um risco considerável! E o chefinho é dos bons: cinco vezes num dia, considerando que domingo você ficou quase o dia todo com seus pais.
- É! – ela sorriu com as recordações dos momentos em que passou com o Sr. Darcy. Mas em seguida se recompôs, ficando séria novamente. Essas eram lembranças que agora trataria de esquecer.
- Mas Jonas, lembre-se: não fale disso com ninguém! Como Charlotte não está mais aqui, tu tem sido o meu único confidente com relação a esse tema! Por favor, meu amigo, eu estou confiando em ti!
Jonas fez um gesto de lábios fechados.
Ela riu.
- Um cliente, Lizzy. Tenho que atender.
- Ok, meu amigo. Eu posso me sentar aqui e te fazer companhia? Posso até te ajudar com o trabalho, devida a minha vasta experiência na recepção. – falou brincalhona - Só trabalho agora às 14 horas, pois tirei toda a manhã de folga, já que não sabia se a Dra. Vanessa nos atenderia mesmo no horário. E ficar aqui contigo me distrai, Jonas, porque confesso que estou um pouco apreensiva com relação àquela possibilidade.
- Claro, Lizzy. Fique aí sentadinha, e se tocar o telefone pode atender para mim enquanto eu darei atenção a esse grupo de clientes.
Ela concordou. Mas assim que ficou sozinha ouviu o tilintar do referido aparelho.
- Hotel Pemberley, bom dia! Em que posso ajudar?
- Elizabeth, é você? – o homem do outro lado da linha a reconheceu pela voz. Elizabeth respirou fundo, enquanto procurava se recuperar. Não sabia ainda quem estava do outro lado.
- Sim, quem fala? – articulou as palavras com dificuldade.
- Oi, Elizabeth! É Charles, Charles Bingley.
- Oi Charles – e ela pôde enfim respirar com alívio. Mas estava decidida a não atender mais nenhuma chamada. Era muito arriscado.
- Como estão as coisas por ai?
- Ah! Tudo tranqüilo! Hoje, apesar de ser sexta-feira, ainda está bem calmo.
- Ah, sim. Jane está por aí com você?
- Não. Ela não está no hotel. Foi averiguar alguns detalhes na sede nova.
- Ah! Que pena. Bom, de qualquer forma eu estou ligando para falar com Alberto. Podes me passar para ele?
- Claro, Charles. Até logo. – desligou, transferindo a chamada para o ramal de Alberto.
- Lizzy, quem era?
- Charles Bingley.
- Ah! Admito que me preocupei ao reparar na tua cara de espanto.
- Sim, pensei que fosse ele, Jonas. Também! Que idéia tua de me fazer atender o telefone! Na próxima vez a gente inverte as funções, está bem?
Ele deu uma risada.
- E tua mãe? Quando vai embora?
- Eu não sei – ela suspirou - por mim ela teria ido com meu pai e Mary.
- Lizzy! Conta-me novamente tudo o que tua mãe disse! Aquele dia você me relatou com tanta pressa, que eu não me recordo bem.
E ela enumerou todos os detalhes e Jonas escutou tal discurso atônito.
- Lizzy, há algo que você não sabe. E que de certa forma explica o comportamento do Sr. Darcy naquele dia.
- O que, Jonas?
- O que, precisamente, tua mãe falou a respeito do quadro?
- Ah, qualquer coisa sobre ele ser feio. Não lembro bem.
- Lizzy! Tua mãe tem que aprender a amarrar a língua! Sabe quem o pintou?
Ela negou com a cabeça.
- A falecida Sra. Darcy!
- Oh! – ela levou a mão à boca, arregalando os olhos – Eu não sabia! Nossa, ele deve ter ficado mesmo furioso! Bem sei o quanto ele gostava da mãe!
- Cliente, Lizzy. Espere aqui!
Ela ficou só com seus pensamentos. Que vontade de matar sua mãe! Mas lembrou de outro assunto que há dias queria falar com Jonas, mas sempre esquecia.
- Jonas! E teu irmão Eduardo? Continua se encontrando com meu primo William Collins?
- Sim, Lizzy. Cada vez mais freqüente. E embora meu irmão não comente nada, eu por diversas vezes já me perguntei sobre o real grau de intimidade desta amizade.
- Tu achas que eles estão namorando?
- Olha... eu não posso afirmar algo sem ter certeza, mas desconfio que sim. Pelo menos estou certo que existe interesse pela parte de meu irmão e sei bem o quanto Eduardo pode ser persistente quando almeja algo.
Ela abafou uma risada.
- Teu irmão está apaixonado pelo Collins! – exclamou, debochada.- Ainda bem que Charlotte está agora longe dele! Temia por ela. Fiquei muito aliviada quando eu percebi que ela não gostava dele tanto quanto eu pensava.
Ele sorriu.
- E ela está se adaptando bem em Florianópolis?
- Acho que sim! Pelo que eu pude perceber Charlotte está agora com um horário de trabalho mais flexível e tem mais tempo livre. Ela me contou que até está freqüentando uma academia de ginástica e fazendo musculação todos os dias.
- Charlotte fazendo musculação? Estou surpreso! Ela me parecia meio preguiçosa para exercícios.
- Sim! Ela era mesmo! Mas ela me falou que quer entrar em forma.
- Acho que ela está se preparando para um próximo namorado!
- Sim! Também fiquei com essa impressão!
Ambos gargalharam.
- Mas eu só quero que a minha amiga seja feliz.
- Ela vai ser, com certeza! Ela merece!
- E teu filho, Jonas? Já escolheram o nome?
- Pois é! Estávamos em dúvidas entre Frederico e Bernardo. Mas acabamos optando por Bernardo.
- Nome bonito. E em pensar que se eu estiver mesmo grávida e tiver um menino ele terá que se chamar Fitzwilliam! – ela fez uma careta e deu uma risada.
- Sério?
- Sim! É um nome de tradição, que está na família há várias gerações. Algo que não posso nem pensar em mudar – continuou rindo, gracejando.
- Então reze para ter uma menina!
- Que menina o quê! Estou rezando para não estar grávida, isso sim!
E eles deram risadas.
Então Jonas saiu para atender um cliente e como a recepção estava ficando cheia, Lizzy ajudou o amigo a acomodar as pessoas que chegavam.
E quando tiveram uma folga ele indagou:
- E as fotos do jornal? Já descobriu quem deu as informações?
- Não. Confesso que não tenho a menor idéia. Ainda bem que o assunto já está sendo esquecido. Pelo menos pararam de me procurar.
- Eles tentaram, Lizzy. Mas perceberam que não arrancariam nenhuma informação de você. Algumas pessoas, mediante um certo valor, entregam à impressa histórias incríveis.
- Imagino! Falando em pessoas que se vendem, acabei de pensar em alguém que possa ter nos delatado! Como não imaginei isso antes? Apesar de eu acreditar que ele não tinha nenhum conhecimento do meu relacionamento com o Sr. Darcy, pode ter sido ele sim! – pensou por um momento – Mas é claro! Ele tinha domínio completo de Georgiana, e passou alguns momentos a sós com ela! Ele podia saber muito mais do que eu sequer supunha! Como não pensei nisso antes?
- Ele quem, Lizzy?
- George Wickham! Quem mais? Lembra que eu te falei sobre ele?
- Oh, sim!
Ela ficou tão espantada em pensar em tal novidade, que emudeceu por alguns minutos.
- Jonas! Vou subir um pouco para descansar até a hora de eu ter que trabalhar. Agora fiquei ainda mais nervosa! – exclamou, policiando-se para não roer as unhas.
- E se o Sr. Darcy ligar?
- Diga que eu ainda não cheguei.
- Mas se ele tiver falado com Georgiana, saberá que é mentira.
- É só dizer que eu saí de novo!
- O que eu não faço por você, hein Lizzy? Mentir justo para o Sr. Darcy? E se ele não gostar e quiser me demitir?
- Jonas! Não faz drama! Claro que isso não acontecerá!
- Tudo bem, Lizzy! Só acredito porque sei que tu tens influência sobre ele! Ele está completamente apaixonado por ti!
- Apaixonado? Quem te falou isso?
- Ninguém, Lizzy! Eu percebi domingo quando vocês vieram juntos.
Ela sorriu, com os olhinhos brilhando.
- Será?
- Bom, já que estou vendo que você também o ama, e vocês acabarão juntos de qualquer forma, estou pensando em uma forma de ganhar uns pontinhos com o chefe: vou contar a ele em primeira mão sobre o bebê de vocês! – gracejou - Acho que ele se alegrará em saber! Farei o chefinho feliz e ele nunca mais se esquecerá de mim!
- Pará, Jonas! Não tem bebê nenhum aqui – apontou para a barriga – Seu chato. – resmungou.
- Ah! Você não tem certeza! E se tiver, eu posso contar?
- Claro que não! - Mostrou a língua para o amigo e, rindo, subiu para o quarto.
Embora estivesse ainda magoada com a forma que o Sr. Darcy reagira a sua mãe e chateada com seu sumiço repentino, depois desta conversa com Jonas já se sentia melhor. Mas era orgulhosa e estava decidida a continuar ignorando suas ligações.
*
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Capítulo 27
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- Lizzy, que saudades! Não nos falamos há quase quinze dias!
- Oi Georgi! – reconheceu a voz da amiga no telefone – Já faz quinze dias que a gente se viu? Nossa, nem percebi! Estou tão envolvida com o final das obras, com a minha mudança, correndo para cima e para baixo, que confesso que para mim o tempo passou voando.
- Eu também, Lizzy! Estava cheia de provas no colégio, que mal tinha tempo para pensar em mais nada. Mas quero te ver hoje sem falta, tenho tantas coisas para te contar!
- Hoje, Georgi?
- Sim, Lizzy! Já tem algum compromisso para o jantar?
- Não. Não combinei nada para hoje à noite. – Na verdade, ela estava tão cansada que seus únicos planos eram dormir. Ultimamente, andava meio sonolenta.
- Quero te convidar para ir num restaurante que eu adoro! É um lugar chique, Lizzy! E tudo por minha conta! Tenho certeza que você também gostará. Meu irmão costuma me levar lá, mas agora com essas constantes viagens dele, eu não tenho mais ido a lugar algum e já que estou com saudades de ti e tenho tantas novidades, quero aproveitar para unir o útil ao agradável!
- Que horas, Georgi?
- Posso te pegar às 20 horas?
- Claro, querida! Eu também estou com saudades de ti!
- Que bom!
- Mas hoje eu não vou estar no hotel, vou estar no meu apartamento novo. – comentou alegremente e deu o endereço para a amiga.
- Até de noite, Lizzy.
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- Filhas queridas! Trouxe água mineral, chaleira, xícaras, e todo o aparato necessário para estrearmos o apartamento de vocês fazendo um chá.
- E eu fiz um bolo de chocolate.
- Oi mãe, oi tia – Lizzy falava, enquanto acabava de colocar as coisas nos devidos lugares. Mas ainda havia muito para organizar, e algumas caixas e malas se encontravam espalhadas pelo chão.
- Achei ótimo o fato de vocês alugarem um imóvel mobiliado – A Sra. Bennet começou – Com Jane casando em dezembro e contigo logo seguindo seus passos, eu pelo menos espero, aonde vocês colocariam todas as coisas?
- Ai mamãe, eu ainda não tenho planos de casar!
- Ah, minha filha. Tenho fé que estejas errada! Aliás, eu confesso que coloquei um Santo Antônio de castigo para ver se tu te arranjas logo também! Estou louca para ser avó!
- De castigo, mamãe? – Jane indagou zombeteira, chegando à sala para cumprimentá-las.
- Sim, ele está de cabeça para baixo dentro do meu armário - ela riu.
- Coitadinho, mamãe! – Lizzy reclamou.
- Que coitadinho o quê! Santo Antônio é um santo muito importante e eu confio plenamente em seus poderes. E se ele é um Santo casamenteiro, eu não vejo nenhum mal em apelar a ele! Afinal, é por um bom motivo!
- Ai, mamãe. – Lizzy deu um sorriso nervoso e olhou com cumplicidade para sua tia Miranda, que escutava tudo pacientemente. Ela, ao contrário da Sra. Bennet, era muito discreta e ouvia todo diálogo sem interferir.
- Hum, tia! O bolo está cheiroso! – Jane exclamou, salivando.
- Nossa, meninas! Falta muita coisa ainda nesse apartamento! É mobiliado, mas cadê a louça de vocês? – Sra. Bennet comentou ao abrir os armários da cozinha. – Ainda bem que eu comprei esse conjunto de xícaras. Mas temos que fazer compras com urgência e darmos logo um jeito nisso! Como vocês receberão visitas com a casa desprovida dessa maneira?
- Ah, mamãe! Também não exagera! O que temos é o suficiente para nós duas! – Lizzy interferiu.
- E é tão pequeno! Com apenas um dormitório, minhas filhas?
- Mãe! Com essa localização, não podemos reclamar! Ficaria contente até se fosse uma kitnet! – Jane comentou.
- Uma Kitnet! Sem nenhum quarto? Mas como vocês receberiam seus namorados?
- Mamãe! Você acha que Charles virá aqui? Claro que não, né! Com a enorme casa que ele tem, certamente Jane preferirá ficar por lá com ele.
- Ah bom – suspirou aliviada.
- Hum, tia! O bolo está uma delícia!
- Obrigada, Jane! E você, Lizzy? Não vai comer nenhum pedaço?
- Já comi tia, estava ótimo.
- Mas tão pouquinho? Estou te estranhando. Justo você que se parece com uma formiga, de tão louca por doce...
Lizzy sorriu sem graça, e respondeu:
- Ah, tia... Ando tão nervosa com essa função toda que tenho estado com uma forte azia. E chocolate não tem me caído bem ultimamente.
- Hum... – Miranda Gardiner ficou intrigada, mas não comentou nada. – Então toma um chazinho, minha querida. Fará bem para o teu estômago.
Lizzy estendeu a mão e pegou a xícara, sorvendo o líquido quente com satisfação.
- Obrigada, tia.
O apartamento era pequeno e possuía apenas um quadro, o que pareceu não ser importante para elas, já que estavam habituadas – e gostavam - a dividirem o mesmo espaço. Foi um achado de última hora, quando quase fechavam negócio com outra imobiliária. Mas enquanto o outro apartamento ficava localizava a seis quadras do hotel, este era estrategicamente situado a sua frente.
Tinham feito muitas compras nos últimos dias, e ainda faltavam alguns itens indispensáveis para o dia-a-dia. Havia várias caixas, quadros e enfeites espalhados pela pequena sala. E tudo teria que ser arranjado ainda no final de semana, pois segunda-feira as duas irmãs iniciaram o trabalho na nova sede.
E como Lizzy tinha certeza que passaria muito tempo sozinha nele, já que Jane cada vez mais desfrutava da companhia de Charles na casa dele, resolveu decorá-lo a seu gosto. Até porque sabia que Jane não se oporia a suas escolhas. Além de ser naturalmente dócil, no último mês Jane se esforçava ainda mais para agradar a irmã, pois embora Lizzy tentasse disfarçar, percebia sua tristeza pelo sumiço repentino do Sr. Darcy.
O coquetel de inauguração tinha sido há exatamente um mês atrás e, ao contrário do que geralmente se observa, as obras foram concluídas dentro do novo prazo. Sendo assim, as duas iniciariam o trabalho - para o qual foram previamente treinadas - no dia 12 de maio.
Fazia um mês que Lizzy não falava com Darcy. Ele ligara atrás dela algumas vezes – talvez tenha feito umas quatro ou cinco tentativas -, mas desconfiado que ela estivesse evitando-o, logo parou de tentar. Nenhuma mulher jamais o tratara assim, e ele não deixaria que ela fosse a primeira. Agora, se ela quisesse, que viesse atrás dele.
E ele resolveu continuar o seu roteiro de viagens sem a pressa com a qual o iniciara. Não tinha nenhuma urgência de voltar, mas – apesar do comportamento de Lizzy – ainda não estava certo se alteraria ou manteria seus planos originais.
Lizzy constatou que ainda tinha tempo antes do horário marcado com Georgiana e resolveu aproveitar a carona oferecida por Charles Bingley com tanta veemência - assim como fizeram sua mãe e sua tia. Aproveitou e deu uma passada de última hora no outro hotel para buscar seus pertences que percebeu ter esquecido em sua antiga sala.
O quarto já tinha sido liberado naquela mesma manhã. E foi com pesar que Lizzy despediu-se do mesmo: muitas recordações e boas lembranças lhe voltavam à mente, tal como a vez que o Sr. Darcy invadira seu quarto durante a noite. O que naquele dia parecia ter sido um ultraje, agora lhe era extremamente engraçado.
A raiva que sentira por ele nos primeiros dias após seu último encontro, agora estava sendo plenamente substituída por saudades. E se ele ligasse novamente, ela correria com ansiedade para o telefone. Mas ele não ligava e ela cada vez mais se convencia que ele não a amava mais, se é que já a amara algum dia.
“E agora, o que será de mim?” – ela já se perguntara diversas vezes, e ultimamente repetia tal pergunta com maior freqüência.
- Sta. Elizabeth! Não sabia se você viria, e não tinha nenhum telefone para te ligar – Estela, a recepcionista da tarde que Lizzy substituíra certa vez, falou - Chegou uma entrega para você! Coloquei lá na tua sala.
- Ah, está bem! Obrigada, Estela.
Lizzy sentiu certa ironia no tom de voz de da recepcionista, e curiosa, apressou o passo até sua antiga sala.
- Oh! Que flores lindas! Quem será que mandou? – o com o coração saltitando foi com urgência abrir o cartão.
Mas assim que leu, seu sorriso murchou ao constatar quem as havia enviado.
“Que pena, não são dele”- suspirou, tristonha.
“Mas é claro que não são dele, porque ele me mandaria flores, se não temos mais nada um com o outro?”
Ficou com raiva de si mesma por ainda alimentar esse tipo de ilusão e quase foi às lágrimas. Ultimamente, estava muito sensível.
“Muito gentil da parte dela, vamos ler o que diz no cartão”
“Para Elizabeth Bennet:
Lizzy – espero que não considere muito atrevimento da minha parte chamá-la assim – estou enviando essas flores para demonstrar meu agradecimento.
Certa vez, tive ajuda de alguém de quem eu menos esperava, e isso, de algum modo, mudou o meu jeito de pensar. Como em breve nos tornaremos quase parentes, com o casamento de meu irmão com sua irmã, espero poder conhecê-la ainda melhor.
Acabo de voltar da França, onde passei uma semana maravilhosa na companhia de Carlos – lembra dele? E estou tão radiante, tão contente, que resolvi te enviar essas flores, pois sei que se não fosse por tua causa isso jamais teria acontecido.
Obrigado pelo apoio, pelas palavras de estímulo e espero, do fundo do meu coração, que possas encontrar a felicidade que eu encontrei.
Nunca me senti tão amada na vida e Carlos é realmente encantador.
Novamente obrigada,
Caroline Bingley.”
“Oh, que simpático da parte dela”- pensou, emotiva, enxugando uma lágrima.
“Que droga, isso! Nunca fui chorona assim!”
E logo que pegou suas coisas, incluindo o presente de Caroline, passou pela recepção com a finalidade de pedir um táxi e já aproveitou para fazer o seguinte comentário:
- São de Caroline Bingley.
- O quê?
- As flores, foi ela que mandou.
Estela pareceu espantada, mas não disse nada. Lizzy fez questão de ressaltar tal informação, para evitar fofocas e mal entendidos.
Georgiana passou para apanhar Elizabeth pontualmente às 20 horas. Estava louca para conhecer o novo canto da amiga, porém tinha reserva agendada e não poderia se atrasar. Optou por não subir e aguardou ela no carro, fato que Lizzy agradeceu mentalmente.
Foram a um clássico da gastronomia francesa de São Paulo: Le Coq Hardy By Pascal Valero. – w w w . restaurantelecoqhardy. com. br
- Lizzy! Aqui é o melhor lugar da cidade para se degustar deliciosos escargots vindos da França!
- Escargot? Quer dizer: lesma? – e não pôde disfarçar uma careta ao imaginar tal prato.
Georgiana deu uma risada e confidenciou a amiga:
- Eu também não gosto, Lizzy. Acho a coisa mais nojenta do mundo. Nunca sequer provei.
- Imagina, comer lesma! Eca, deve ser gosmento! E aposto que só o cheiro me enojaria!
As duas riram e continuaram a pesquisar o cardápio.
- Olha Lizzy: eles possuem uma das melhores adegas do circuito gastronômico de São Paulo com instalações impecáveis e uma preciosa reserva com mais de 250 rótulos e 1.500 garrafas. – Georgiana comentou, lendo a carta de vinhos. – Meu irmão adora vinho e sempre que vem aqui opta por um diferente, para provar.
Lizzy sorriu com a lembrança de Darcy e passou um tempo distraída, analisando os diversos vinhos da listagem. Mas em seguida fechou a carta e comentou:
- Não vou querer nenhum, Georgiana. Vou ficar na água mineral mesmo. Ou no suco de frutas.
- Mas...? – Georgiana não compreendeu a amiga. – Lizzy, mas você adora beber que eu sei.
Ela sorriu sem graça e explicou:
- Ai, Georgi. Ando com um pouco de dor de estomago e prefiro não beber álcool.
Georgiana achou estranho, mas não quis contrariar amiga. Ambas optaram por suco de uva.
- E então, já escolheram? – um garçom muito elegante parou ao lado delas para anotar o pedido.
- De entrada eu vou querer lâminas de robalo marinado com laranja, iogurte e redução de suco de cenoura ao gengibre. E você, Lizzy?
- Eu vou querer escalope de foie gras com cogumelos e molho de jabuticaba ao vinho do Porto.
- Como prato principal, deixa eu ver o que eu escolhi... – Georgiana prosseguiu - Lombo de vitela com massa fresca com cogumelos 'morilles' e molho rôti.
- E para mim: Filé mignon ao molho de pimenta verde e purê de batata.
- E para sobremesa? – O garçom perguntou.
- Para mim um Petit Gâteau. Eu adoro essa sobremesa, Georgi – comentou com água na boca. Chocolate não lhe caía bem ultimamente, mas esperava que em combinação com sorvete fosse mais aceita pelo seu estomago.
Georgiana sorriu e finalizou também seu pedido:
- Fondant de chocolate ao leite com coulis de côco e banana.
- Hum... deve ser bom!
- Amiga, você só pensa no doce!
- No doce e no resto. Na verdade estou morrendo de fome. Quase não comi nada o dia inteiro.
- E você irá adorar a comida daqui, Lizzy. É simplesmente fabulosa!
Assim que o garçom se afastou, indagou:
- E então, Georgi? O que você gostaria de me contar?
- Ah... eu estou namorando, Lizzy.
- Namorando? – inquiriu, surpresa. – Mas como assim? Nem faz tanto tempo que a gente se falou e tu nunca havia me contando nada a respeito.
- É... Porque não havia nada para contar até essa semana.
- Como assim?
- Eu desde o início das aulas tinha reparado nele, Lizzy, como todas as garotas da escola. Mas ele é daqueles que chama a atenção de todas mesmo, sabe? Lindo, popular e riquíssimo também! Mas nunca imaginei que ele pudesse olhar para mim. Nunca tinha sequer alimentado qualquer esperança nesse sentido. Mas há quase um mês eu esbarrei nele na fila do bar e a gente começou a conversar. Na verdade, ele pisou no meu pé! E eu fiz cara de braba ao me virar, mas quando vi que era ele me assustei e meu coração quase saiu pela boca! E eu não consegui dizer uma palavra sequer! Penso que ele achou graça e desde aquele dia passamos a conversar quase diariamente.
Lizzy sorriu, feliz pela amiga.
- E então? Como vocês começaram a namorar?
- Ah... A gente já estava se tornando tão amigos, que tive receio que não fosse rolar nunca nada! Mas fim de semana passado ele me convidou para sair e eu fiquei tão feliz! E nervosa também. Sábado fomos ao cinema e depois comemos uns aperitivos em um barzinho. E lá ele me beijou pela primeira vez! Foi tão bom, Lizzy! Estou tão contente!
- Que bom, amiga! – Lizzy estava satisfeita por Georgiana ter esquecido de George Wickham tão rápido. Como era bom ser jovem, ela concluía. Quisera ela também conseguir esquecer de Darcy dessa maneira.
- E como ele se chama?
- Thiago, Thiago Zafra. – ela suspirou, apaixonada.
- E há quanto tempo vocês estão namorando?
- Desde ontem! Ele me pediu em namoro ontem no colégio. Quer ver uma foto dele? Estou com a minha máquina digital dentro da bolsa.
- Claro, Georgi! Que pergunta! Mostra logo!
Georgiana mostrou todas as fotos que tinha dos dois juntos.
- Que lindo que ele é, Georgi!
- É mesmo, não é? – ela estava radiante.
- Deixa eu ver que outras fotos tu tens nessa máquina.
- Ah! Nem sei o que tem ai, faz tempo que eu não apago. Mas pode ver.
Lizzy começou a olhar todas as fotos, até que chegou em algumas em que Darcy aparecia e ele estava extremamente bonito. E em uma fotografia parecia que ele olhava e sorria para ela. Lizzy ficou distraída por alguns minutos, fitando-a sonhadora. Georgiana reparou e ficou curiosa para ver o que a amiga olhava. Ela sorriu ao perceber a razão de sua atenção e comentou:
- Meu irmão está mesmo encantador nessa fotografia. Ah, Lizzy... Eu estou morrendo de saudades dele. Quando será que ele volta para nós?
- Para nós? – ela indagou, mordiscando o cantinho do lábio.
- Ah, Lizzy! Para nós sim. Não precisa tentar me enganar, que eu sei bem que vocês se amam. Só são dois cabeças-duras que ficam perdendo tempo e tentando disfarçar.
Lizzy fez um cara de triste, e resmungou:
- Mas ele está viajando para fugir de mim!
- Fugir de você, Lizzy? Que idéia mais absurda! Não sabe mesmo a razão de sua viagem dessa vez?
Ela negou com a cabeça.
Georgiana abriu a boca para explicar, mas lembrou que fora proibida de tocar em tal assunto.
- Lizzy... desculpa, querida. Mas lembrei que meu irmão me ordenou que eu não te contasse sobre isso...
- Ah... – ela resmungou.
- E eu tenho que manter minha palavra, Lizzy. Mas como vês, sou boa em guardar segredos. Se tiver algo para me contar também, pode ficar tranqüila que eu não falarei a ele.
Lizzy sorriu, mas não falou nada. O seu segredo era algo que ela não gostaria de compartilhar, pois não ousava revelar nem para si mesma.
- Bom apetite – O garçom serviu as entradas.
- Hum! Que cheiro ruim de azeitonas! Odeio azeitonas! – Lizzy resmungou, mal provando a comida.
- Azeitonas, Lizzy? Não estou sentindo cheiro nenhum. Deixe-me provar. Lizzy! Não sinto o menor gosto de azeitonas, você só pode estar brincando!
- Georgi! Estou falando muito sério! Tem um gosto muito forte de azeitona!
Georgiana olhou espantada para a amiga:
- Então uma de nós está louca!
- E não sou eu! – Lizzy resmungou, fazendo beiço.
- E nem eu! – Georgiana retrucou. – Garçom!
- Sim, pois não?
- Gostaria de saber se vai azeitona nesse prato, pois minha amiga está reclamando de um gosto fortíssimo de azeitona e eu não sinto nada.
- Azeitona nesse prato? Acho que não, mas posso verificar com o chef.
- Sim, por favor! Porque quero saber qual de nós está maluca – ela sorriu com simpatia.
Ele sorriu em retorno e respondeu:
- Pode deixar que eu descubro para vocês.
Lizzy mal tocou na comida enquanto Georgiana comia toda a sua com prazer.
- Olha... – o garçom voltou – vai uma pitada muito leve de azeitona. Quase imperceptível. Apenas paladares muito apurados podem perceber.
- Viu, Georgiana! Eu disse!
- Lizzy, está história está muito estranha! Seu paladar não é apurado, que eu sei! Você come cada porcaria!
O garçom sorriu e comentou:
- Mas não te preocupa, que o chef faz questão de repetir o prato, desta vez sem azeitonas.
- Oh, que gentileza! Muito obrigada.
E ele se retirou, levando o prato. Uns dez minutos após, voltou e fez o seguinte comentário:
- O chef mandou você provar, pois ele quer saber se agora está a seu gosto.
Lizzy sorriu e levou um pouco da comida à boca.
- Hum! Agora sim! Pode dizer a ele que está uma delícia!
- Que bom! Ele disse que muitas mulheres grávidas são difíceis de agradar, e que ele aprecia muito o desafio. Com licença.
Ele sorriu e se retirou novamente, deixando atrás de si uma Lizzy boquiaberta e uma Georgiana estupefata.
Lizzy ficou paralisada com o garfo cheio de comida a frente da sua boca. Mas não conseguiu comer. Ruborizou e virou para o lado para disfarçar. Evitava encarar Georgiana.
- Lizzy! Como assim, grávida? – Georgiana indagou, exaltada, implorando por sua atenção – Lizzy! Por isso você não quis beber vinho, bem que eu achei estranho! – ela concluiu.
Lizzy fitou a amiga, abriu a boca, mas inicialmente não saiu nem um som.
- Eu não sei, Georgi... Não consegui ir ao médico, não fiz nenhum teste... Estou com medo, Georgi... – comentou, com lágrimas nos olhos.
- Medo de quê, Lizzy? Imagina! Serei tia! Que alegria! Que felicidade! – Georgiana pulou de seu lugar gritando tão alto para abraçar e parabenizar a amiga, que chamou a atenção de todos que estavam sentados ao redor.
Percebeu os olhares sobre elas, e voltou a sentar rapidamente, cochichando:
- Lizzy! Desculpe, não me contive! Que emoção!
- Ai, Georgi! Fico contente que você pense assim, mas temo pelo que teu irmão possa pensar.
- Meu irmão? Ele adorará saber disso, Lizzy!
- Não sei, a gente não se fala mais há um mês...
- Porque você não atendeu as ligações dele! E porque você não liga para ele e conta? Ele ficaria contente e vocês acabariam com essa besteira de uma vez por todas.
- Eu não vou ligar. Se ele quiser, ele que ligue.
- Ai, meu Deus! Quem será que eu ouvi falar exatamente a mesma coisa? Um mais teimoso do que o outro! Mas se eu contasse a ele sobre o bebê, ele voltaria correndo e vocês seriam felizes para sempre!
- Georgiana! Você está proibida de tocar nesse assunto com ele! Em primeiro lugar, porque eu não sei se é verdade. E depois, porque eu não quero que ele me procure por esse motivo. E penso que quem deve contar a ele sou eu!
- Lizzy! Primeiro, se hoje não fosse sexta-feira, eu já te levaria na Dra. Vanessa amanhã! Mas assim que sairmos daqui, vamos passar numa farmácia e comprar todos os testes de gravidez disponíveis! Estou muito curiosa e quero logo saber. Depois, eu posso até não contar se você prometer falar assim que o ver!
Lizzy assentiu, beberiscando o suco de uva para se acalmar.
- Agora coma, Lizzy! Você precisa comer por dois!
E enquanto observava com atenção a amiga que comia, ela prosseguiu:
- Lizzy! Você não tem noção de como eu estou contente! E não paro de pensar: será que é menino ou menina? – mas nem deu tempo para resposta – Oh, meu Deus! Que emoção! Serei tia! Será que saberei cuidar de um bebê? Eles são tão pequeninhos, tão frágeis que tenho até medo de pegá-los.
- Eu também tenho medo, Georgiana. Como serei mãe? Não estou preparada para isso! E na semana passada, senti um pouco de cólica, achei que iria menstruar e já estava despreocupada, mas até agora nada... – suspirou.
- Tomara que você esteja grávida!
- Hum... não sei... eu não queria, mas te vendo falando assim, não me parece mais tão ruim...
- Claro que não é ruim! Estou tão feliz! Hum! Vamos pensar em nomes para eles? Se for menina o que você acha de Sofia, Lizzy? Era o nome da minha mãe.
E assim passaram quase todo o restante da janta falando sobre o assunto.
*
*
Capítulo 28
*
Logo que Georgiana foi embora do apartamento, Lizzy se viu sozinha rodeada de testes de gravidez que pareciam encará-la. Seis marcas diferentes, mas todas com o mesmo resultado: positivo.
Desesperada, chorou tanto que acabou adormecendo no sofá da sala mesmo. E dormia tão profundamente, que nem percebeu quando Jane chegou no meio da madrugada.
Jane conseguiu levar Lizzy para cama sem acordá-la e guardou todos os testes para não chatear a irmã. Agora ela entendia o comportamento de Lizzy ultimamente. Agora tudo fazia sentindo. Mas apesar de saber que tal gravidez era indesejada, tudo que Jane conseguia sentir era felicidade: ela seria tia e Lizzy seria mãe! Além do mais, Charles lhe garantira - por diversas vezes- que o Sr. Darcy era apaixonado por sua irmã. E Jane não tinha a menor dúvida de que o filho era dele e que eles logo se entenderiam.
Lizzy, ao contrário, não pensava dessa maneira. Dormira com o coração apertado, angustiada e extremamente nervosa.
“E agora? O que ele pensaria a meu respeito? Ainda mais que em certa vez eu disse que uma gravidez seria um golpe perfeito para Caroline Bingley lhe segurar. E se ele então pensasse que eu quis dar um golpe nele? Que foi tudo planejado?”
E Lizzy adormeceu infeliz, tais pensamentos lhe corroíam a alma. E teve um sono agitado e um sonho muito estranho:
Era de novo uma garotinha, e voava levando às mãos coloridos balões. Sentia paz, enquanto a brisa gelava seu rosto, e o ar puro entrava em seus pulmões causando uma boa sensação. Passando entre as nuvens alegremente, observava de cima a cidade em miniatura. E sorria satisfeita.
- Você não foi uma boa menina, não se comportou bem este ano. - ouviu uma voz rouca em seu ouvido, tirando-a de seu devaneio.
Abriu os olhos, assustada, e pôde perceber um pássaro de bico longo parado à sua frente. Ela olhou para os lados, a procura da origem da voz.
- Você não foi uma boa menina, não se comportou bem este ano – a voz repetiu.
Ela olhou para o pássaro, assombrada. Ele não mexia o bico, mas era claro que era ele quem lhe falava. Franziu as sobrancelhas:
- Você fala? – indagou nervosa.
Mas não obteve resposta. O pássaro avançou em sua direção e com o bico, furou um dos balões.
- Não! Não faça isso! – ela exclamou apavorada, olhando para baixo.
- Você não se comportou, e sua mãe reclamou para mim.
Furou outro balão.
- Não! – as primeiras lágrimas já caiam pelo rosto, e ela se agarrou com firmeza aos últimos três balões – Não, por favor, não faça isso! – implorou.
- Seu pai também veio falar comigo.
E furou o outro balão.
O medo já a dominava por completo, ao imaginar a queda eminente.
- Não, por favor! – Ela suplicava e chorava descontrolada. As lagrimas corriam e encharcavam sua face pálida.
- Você merece ser punida. Menina feia, muito feia!
E furou os dois últimos balões com uma só bicada.
- Não! – o desespero já era completo.
Enquanto caia, percebia a cidade cada vez mais próxima. O vento produzido gelava seu corpo, e a queda se tornava mais veloz a cada segundo.
- Não! Por favor, não! Não quero ver! – E levou as mãos aos olhos, tapando sua visão.
Mas não foi a pancada com o chão o que ela sentiu. Abriu os olhos e olhou para baixo. Algo a salvara. Tomando novamente consciência, percebeu que braços a amparavam, e que ela parecia ainda menor aconchegada a eles. Então se virou para observar seu salvador e reconheceu um lindo par de conhecidos olhos azuis que a fitava.
- Você está segura agora – ele disse, alisando seus cabelos.
E ela despertou, num sobressalto.
Lizzy acordou gritando e começou a chorar compulsivamente, entre soluços. Tão alto que Jane logo levantou e veio em socorro da irmã, abraçando-a.
- Lizzy... Não chore, querida... Tudo vai se resolver... Tudo dará certo. – falou, acariciando seus cabelos.
- Estou com medo, Jane. – balbuciou - Com muito medo.
- Não precisa ter medo, querida. Dará tudo certo. E eu estou ao seu lado. E o resto da tua família também sempre estará do teu lado. Teus amigos também. Muita gente te ama, Lizzy, inclusive o Sr. Darcy. Tenho certeza que ele te ama, minha irmã. Não precisa ter medo de nada.
- Eu estou com medo de ser mal interpretada – fez uma pausa – Você sabe, Jane?
Ela assentiu.
- Como?
- Vi os testes ontem quando eu cheguei.
Lizzy retomou o choro, mas logo se acalmou no colo da irmã, diante de suas palavras de consolo e de seus carinhos.
- Segunda-feira vou tentar marcar hora na minha médica, e Georgiana quer ir junto.
- A Georgiana sabe, Lizzy? – Jane arregalou os olhos, certa que nessa altura Darcy também já estava ciente.
- Sabe. Mas ela prometeu não contar. E eu confio nela, Jane. Ela é minha amiga.
- Só que antes de ser tua amiga, ela é a irmã dele. – comentou apreensiva e depois parou para refletir – Bom, tu conheces ela melhor do que eu, Lizzy. E se confias nela, não vejo motivo para que eu não confie também.
Lizzy fitou a irmã e deu um sorriso com o canto da boca. Gostava de Georgiana Darcy e não tinha motivo para duvidar dela. E como Jane viu que a irmã, que sempre fora a mais desconfiada das duas, confiava em Georgiana; ela, que sempre acreditava na bondade e integridade das pessoas, não viu mais nenhum motivo para permanecer alarmada.
*
- Jane? Oi! Aqui é Georgiana, tudo bem?
- Oi, Georgiana. Sim, tudo bem. E você, como está?
- Eu estou ótima, ainda mais agora que tive a confirmação que serei tia!
- Vejo que já soube dos resultados do exame de sangue de Lizzy. – ficou um pouco surpresa, já que só tinham recebido o resultado há apenas alguns minutos.
- Sim! Ela me ligou agora mesmo, e eu estou tão feliz! – comentou, eufórica.
- Eu também! Pena que ela não se sinta da mesma forma que a gente. - Suspirou
- Pois é! Ela e meu irmão são dois cabeças duras, não sei qual é o pior. Exatamente por isso que eu quero me encontrar contigo, Jane! Tive algumas idéias e quero ver se você concorda.
- Hum... Claro, Georgiana. Mas te ligo daqui a pouco para a gente combinar melhor, pois o meu bipe está tocando. Alguém está tentando me ligar.
- Tudo bem. Fico te aguardando. Beijos, Jane.
*
- Char! Que saudades! Não imaginas a falta que está fazendo para a gente!
- Jane! Oi amiga! Como está tudo ai? A Lizzy está contigo? Ela acabou de me ligar e eu não podia atender e agora tento retornar a ligação e só cai na caixa postal.
- Pois é, Char. Lizzy está com o péssimo hábito de desligar o celular para não ser encontrada. Não pela gente, é claro. Mas volta e meia eu não consigo falar com ela também.
- Falando nisso, vi o Sr. Darcy aqui no hotel logo que eu vim para cá.
- E como ele estava?
- Lindo como sempre – debochou e ambas riram – Agora falando sério, falei muito pouco com ele, mas achei que algo lhe chateava.
- Pois é. Gostaria de saber o que houve entre ele e Lizzy, porque eles pararam de se falar. Não pode ter sido só pela interferência da mamãe, ou pode?
- Não sei, Jane. Tua mãe às vezes tem o poder de tirar qualquer um do sério. Mas de fato é estranho, porque eles pareciam se gostar tanto... – suspirou.
- É verdade.
- Sabe o que Lizzy queria comigo?
- Acho que sei, mas não posso contar. Vai ter que esperar ela te ligar de volta, amiga.
- Ah... que pena... E eu queria tanto estar ai com vocês! Penso que esse mais de um mês longe já foi suficiente para mim e eu já estou pronta para voltar.
- Tem certeza? Não vai ter uma recaída pelo primo Collins?
- Claro que não, Jane! Tem que ver agora os gatinhos que eu estou ficando! Collins não chega nem aos pés deles. Ah, Jane! Desculpa, esqueci que ele é teu primo. – ficou envergonhada.
- Que isso, Char! Pode me falar o que quiser! Mas como assim: gatinhos? No plural, Char?
- Sim, são dois. – ela riu.- Mas não rolou nada ainda de mais com nenhum deles, Jane. E olha que eu estou precisando tirar o atraso.
- Atraso? Pelo visto o primo Collins não estava com nada mesmo! – e deu uma gargalhada.
- Ah... Jane... Vou confessar: ele deixava muito a desejar. E quando deixava, porque muitas vezes não fazia nada. Mas não vamos entrar em detalhes, porque ele é teu primo...
- Charlotte! Agora fiquei muito curiosa! Quando a gente se encontrar pessoalmente vou querer sim saber os detalhes. E se eu não conseguir te fazer falar, tenho certeza que Lizzy conseguirá. – zombou.
Ambas gargalharam ao telefone.
- Jane, tenho que desligar. Senão essa ligação vai ficar muito cara. Mas antes eu preciso te pedir um favor...
- Claro, Char! Qualquer coisa.
- Vê com Charles se o meu cargo ai com vocês ainda está disponível.
- Charlotte! É sério mesmo? Que ótima notícia! Quando queres voltar?
- Ah! Se desse, amanhã mesmo! – ela riu – Aqui está muito bom, mas sem a companhia das minhas duas amigas preferidas não tem graça.
- Vou falar com o Charles e ainda hoje te dou a resposta! Mas já pode arrumar as malas, Char! Porque se o cargo não tiver livre, farei com que fique!
- Ah, Jane... Não quero que ninguém perca o emprego por minha causa...
- Nem eu. Mas essa pessoa pode muito bem ser transferida para Florianópolis. De qualquer forma, o cargo daqui era para ser teu mesmo.
- Tudo bem, Jane. Então eu aguardo a tua ligação com ansiedade. E a de Lizzy também. Beijos para vocês.
- Beijos, querida. Tchau.
*
- Oi pai!
- Lizzy, milha filha! Sua mãe acabou de me ligar e me contou a notícia. Mas como uma menina tão inteligente feito você deixa isso acontecer?
- Ai, papai... Por favor, não fique brabo comigo... Eu estou tão triste... Carregar uma gravidez sozinha é um fardo tão grande...
- Você não está sozinha Lizzy, você tem a gente. Sabe que podes contar sempre com a gente. E o pai, Lizzy? O Sr. Darcy já sabe?
- Hum...?
- Lizzy! Você pode enganar sua mãe, mas não a mim! Eu te conheço muito bem, querida. E tenho certeza que ainda não contaste a ele.
- Não pai... A última vez em que eu o vi e falei com ele foi naquele dia fatídico em que a mamãe falou aquele monte de besteiras...
- Sua mãe sempre teve a capacidade de afastar as pessoas, Lizzy. Espero que depois dessa ela tenha apreendido a lição. Mas se ele te ama mesmo, vocês ainda se acertarão. E ele tem que ser muito bobo para não querer uma mulher tão especial feito você, Lizzy.
- Ai, papai... – resmungou com desânimo - não sei...
- Mas eu sei, querida. E não te preocupes, que não tenho a menor intenção de falar sobre isso com a tua mãe.
- Obrigado, pai. E minhas irmãs? Como estão? Lídia e Kitty ainda estão dando muito trabalho?
- Sabe que não? Depois que eu e Mary voltamos de São Paulo, percebi uma mudança brusca em seus comportamentos. Não sei o que houve, mas Lídia está quieta agora, mal sai de casa e parece não querer saber mais de namorados. E Kitty, como sempre, imita a irmã. Não descobri o que ocorreu na nossa ausência, mas espero que tu possas descobrir assim que revê-las. Nas férias de julho elas pretendem visitá-la.
- Claro, papai. Mas o que será que houve? Fiquei preocupada.
- Não sei, Lizzy. Mas não deve ter sido nada de grave.
- Então até mais. E obrigada pelo apoio.
*
- Oi meu irmão! Que bom ouvir tua voz! Que saudades!
- Oi Georgi! Também estou com saudades! Como está tudo ai?
- Tudo ótimo! Tenho novidades! A gente tem se falado tão rapidamente que nem pude te contar ainda!
- O que, querida?
- Estou namorando!
- Como assim, namorando? – sua voz soou seca – E posso saber quem é o felizardo?
- Ah... – ela gaguejou um pouco, apreensiva. Ansiava pela aprovação do irmão - Ele é da minha escola e o nome dele é Thiago.
- Então tenho que voltar logo para conhecê-lo. Sabe que ele tem que passar pela minha aprovação antes, não é? – afirmou sério, deixando a irmã tensa por alguns segundos. Só que na verdade, a notícia o alegrava muito, visto que temia que Georgiana demorasse a esquecer Wickham.
- Ah... – ela ficou insegura – Então volte logo para que eu lhe apresente. Você gostará dele, com certeza...
- Claro que eu gostarei dele, Georgi. – respondeu num tom mais descontraído e Georgiana então relaxou.
- William, onde você está agora? E quando você vem?
- Eu estou no Recife. Mas antes de voltar tenho que dar uma passadinha na Europa para dar uma conferida nas coisas de lá.
- Meu irmão! Como assim “dar uma passadinha na Europa”? Fala como se fosse ir até a esquina! E eu queria ir junto – ela resmungou.
- Georgiana, você não pode faltar às aulas. – ele argumentou - E em breve poderemos ir a passeio, porque desta vez eu ainda irei a trabalho. E sabes que logo eu terei mais tempo livre.
- Sim, meu irmão. Eu conheço os teus planos. E deu tudo certo? Porque essa demora toda para voltar? Já está ausente há quase dois meses!
- Pois é... Em alguns hotéis demorei muito mais do que esperava para ajeitar as coisas. Principalmente nos daqui do nordeste, onde Wickham deixou tudo uma bagunça... – se calou por um instante – Desculpa, querida. Não queria tocar no nome daquele crápula. Saiu sem querer.
- Não tem problema, William – ela balbuciou – Isso não me atinge mais. Agora só tenho o Thiago na cabeça.
- Que bom, querida. E eu já gosto dele por isso – fez uma pausa e então tomou coragem e perguntou. – E Elizabeth? Tem visto ela?
- Sim, meu irmão. Tenho a visto sempre. Ela se mudou para um apartamento em frente do hotel. É pequeno, mas bem confortável e ajeitadinho. E agora Charlotte voltou e Jane aproveitou para morar com Charles. Ela estava louca para morar com ele, mas não queria deixar a irmã sozinha. Finalmente conheci a mãe delas – ela riu – mas sabe que a achei bem contida? Comigo ela é bem legal. Me disseram que ela melhorou depois do encontro contigo, que ela agora se controla um pouco para não falar demais. Temos nos encontrado muito para fazer comprar ultimamente.
- Compras? – ele ficou curioso - Andam comprando o quê?
Georgiana se calou, pois percebeu que falara demais. Estavam comprando o enxoval do bebê. Mesmo não sabendo o sexo, estavam todas empolgadas fazendo as primeiras aquisições. Claro que a Sra. Bennet não sabia que o filho era de Darcy, e já aceitava melhor a idéia que Lizzy seria mãe solteira. Achava que as atenções de Georgiana Darcy eram apenas demonstrações de amizade, já que elas haviam trabalhado juntas e percebia-se grande afinidade entre as duas.
Lizzy não gostaria que sua mãe soubesse da gravidez, pois tinha medo de sua reação e não pretendia revelar a ela o nome do pai. Mas depois de ter tido cinco filhas, a Sra. Bennet tinha um olho clínico treinado para os sintomas de uma gravidez e logo percebeu tudo sozinha. Lizzy, sem escapatória e colocada contra a parede, confirmou à mãe o resultado positivo do teste, logo caindo no choro. A Sra. Bennet, num gesto inesperado e maternal, abraçou a filha e passou a dar todo apoio a esta, sem nenhuma repreensão. Mas mesmo sem falar nada, continuou deixando o Santo Antônio de castigo no armário, ansiando pela presença do pai.
E assim: Jane, Charlotte, a Sra. Bennet e Georgiana, empolgadas com a notícia, logo iniciaram as compras. A Sra. Bennet, como se poderia esperar, queria um neto, para compensar o filho que nunca veio. Já Jane e Georgiana preferiam que fossem uma menina e davam a toda hora sugestões de nomes. Lizzy, por sua vez, só pedia que o bebê viesse com saúde. E Charlotte pensava da mesma forma que a futura mamãe. Receber tanto carinho fazia com que Lizzy aplacasse a angústia que sentira no início. Ela agora já amava com intensidade o pequeno ser que se formava dentro dela. Era um pedacinho de Darcy e dela.
- Ah, meu irmão, compras para o apartamento de Lizzy – Georgiana mentiu a contragosto.- Mas quando você volta? Elizabeth está com saudades. Claro que ela não comenta sobre isso comigo, mas eu sei. Aliás, acho que ela não comenta com ninguém, pois ela é discreta, parecendo até com alguém que eu conheço.
Georgiana deu uma risada. Seu irmão e Lizzy eram muito parecidos.
- Eu também estou com saudades dela, Georgi. Será que posso procurá-la quando eu voltar? Tenho vontade de chegar e ir direto vê-la.
- Claro, meu irmão! – ela se entusiasmou - Ela vai adorar revê-lo! Tenho certeza! É só me avisar o dia do teu retorno que eu dou um jeito de fazer com que ela fique sozinha no apartamento, nem que para isso eu tenha que levar Charlotte para dormir lá em casa.
- Sim, Georgi! Faça isso! Já me decidi: quando chegar vou direto vê-la! Só vou passar em casa antes para tomar um banho.
- Meu irmão quer ver Lizzy cheiroso! – ela debochou e eles riram.
E assim ficou combinado: Darcy combinaria o dia de seu retorno com Georgiana e ela daria um jeito de Lizzy ficar sozinha no apartamento.
*
- Char! Só estou te ligando para confirmar que meu irmão chega mesmo amanhã à tarde.
- Está certo então, Georgiana. Já falei para a Lizzy que talvez saísse com um gatinho hoje e não sabia a que horas eu voltaria para casa. Mas logo ela perceberá a verdade – ela riu.
- Sim. Ah, mas não vai dar para sairmos hoje, conforme combinamos. Jantaremos em minha casa mesmo, mas mandarei preparar um cardápio especial para a gente. O que você gostaria de comer, Char?
- Ah, qualquer coisa. Gosto de tudo! Mas porque não poderemos sair?
- Meu primo Fitzwilliam de Bourgh virá da França junto com William e sei que ele preferirá ficar em casa, pois a viagem é longa e ele chegará cansado. E não podemos deixá-lo sozinho, Char. Então pensei em jantarmos nós três na minha casa. Mas creio que você apreciará a companhia: ele é bem agradável e é solteiro também. – Georgiana sorriu.
Charlotte achou graça da insinuação da amiga, mas não tinha a menor pretensão de arranjar um pretendente que morasse na França.
*
*
Capítulo 29
*
- Oi, Char. – Georgiana cumprimentou-a com simpatia, assim que ela entrou no carro.
- Oi, Georgi – Deu um beijo no rosto da amiga.
- Nossa, Char! Como você está elegante! Ainda não me acostumei com esse seu novo visual, está cada dia mais bonita!
- Ah, obrigada! Resolvi cuidar mais de mim. – ela sorriu, satisfeita com o elogio.
Charlotte Lucas voltava totalmente mudada de sua temporada em Florianópolis: freqüentara uma academia de ginástica todos os dias, emagrecera e estava com um corpo muito bonito, com tudo no lugar. Além disso, fizera mechas loiras nos cabelos e clareamento dentário. Mas a maior mudança ocorrida foi internamente: Charlotte aprendera a gostar dela e em seu olhar percebia-se um brilho diferente. Sua nova postura fazia com que ela se cuidasse mais, sorrisse mais, e agora aonde ia chamava atenção do sexo oposto.
- E seu irmão, chegou bem?
- Sim. Meu irmão e meu primo chegaram bem. Mas estão cansados, o vôo de Paris a São Paulo durou 11 horas.
- Nossa: que viagem longa! E qual a diferença do fuso horário? Teu primo não terá dificuldades para se adaptar?
- Penso que não, pois não é grande a diferença: é de apenas 4 horas. Agora são dezenove horas aqui e 23 horas lá.
- Ah... é pouca diferença mesmo. E quanto tempo ele pretende ficar aqui?
- Ele não faz idéia. Não tem um prazo definido, pois faz tempo que ele não vem ao Brasil.
- E teu irmão, a que horas pretende visitar Lizzy?
- Ah! Quando eu saí, ele já estava se arrumando. Por ele, iria vê-la logo que chegou. – ela sorriu - Mas eu o convenci que seria mais adequado encontrá-la no apartamento dela.
- Estou tão feliz por eles! Será que eles finalmente se acertarão? Será que Lizzy finalmente contará a respeito do bebê?
- Espero que sim! Estou tão ansiosa!
- Eu também!
*
- Muito prazer! Fitzwilliam de Bourgh a seu dispor. – falou, analisando Charlotte da cabeça aos pés, com um indisfarçável interesse.
Realmente, as mulheres brasileiras eram únicas no mundo, portadoras de uma beleza e charme inigualáveis – concluiu.
Ela sorriu sem graça, visivelmente embaraçada.
- Prazer, Charlotte Lucas. – Esticou a mão para apertar a dele, gesto que ele aceitou cortesmente e ainda aproveitou a oportunidade para dar um beijo estalado em seu rosto.
Charlotte sorriu, e seus olhos não conseguiram disfarçar a satisfação que esse contato lhe trouxe. Georgiana, que já a conhecia bem, virou-se para rir, já que percebeu com alegria o interesse mutuo entre os dois.
- Bom, vamos aproveitar enquanto a janta não fica pronta e vamos beber esse vinho que eles trouxeram da França: Chateauneuf du pape – Georgiana pronunciou o nome com dificuldade, o que fez com que Fitzwilliam logo se apressasse para ensiná-la a correta pronúncia.
Charlotte achou extremamente sexy ouvi-lo falando em francês.
Fitzwilliam, como um bom cavalheiro, pegou os cálices e serviu as duas mulheres.
- Para você, Georgina, só um pouquinho. Pois sei que você não está acostumada a beber e se passar mal, me incomodarei com meu primo.
- Ah... esses chatos ficam só me controlando, Char! – ela resmungou – Não vejo a hora de fazer dezoito anos para poder tomar minhas próprias decisões.
Charlotte sorriu, e após dar um gole no vinho, exclamou:
- Hum... muito bom! Diferente de todos vinhos que eu já provei. Aliás, penso que é o melhor vinho que eu já provei! Só espero que eu não me acostume mal, porque se eu passar a gostar somente de vinhos franceses será um grande problema para mim.
- Esse é um problema que eu não tenho. – Fitzwilliam comentou, sorrindo.
- Pois é.... Perfumes franceses já são os meus preferidos, espero que eu não me vicie também em vinho francês, senão não há salário que agüente! – Comentou, dando risada.
Fitwilliam estava encantando com seu sorriso, e ria de volta para ela. Georgiana se sentia esquecida, deixada de lado, mas não se importava.
- Gente! Posso convidar o Thiago para jantar com a gente? Ele me disse que estaria aqui perto!
- Claro, Georgi! Quero dizer, por mim, pode. – Charlotte respondeu e virou-se para o primo, com um olhar suplicante, usando seu charme para tentar fazer com que ele autorizasse a presença do namorado de Georgiana.
Fitzwilliam, achando que seria uma boa oportunidade para ficar a sós com Charlotte, respondeu:
- Com certeza, Georgiana. Só penso que William ficará com ciúmes que eu o conhecerei antes dele. – Gracejou.
- Hum... Meu irmão nesse momento deve estar ocupado com outras coisas, nem se importará com isso.
Fitzwilliam deu uma gargalhada. Ouvira a respeito de Elizabeth a viagem inteira. E aproveitou tal assunto para puxar conversa com Charlotte, já que sabia que elas eram grandes amigas.
Georgiana saiu para telefonar e logo voltou com uma carinha tristonha.
- Ah... Ele não poderá vir... Me dá mais um pouco de vinho? – implorou ao primo.
- Claro, Georgi – Charlotte não deixou ele responder, pois rapidamente pegou a garrafa e serviu a amiga.
Georgiana sorveu a bebida num gole só, e logo se afastou, dizendo:
- Vou pedir para servirem logo a janta, estou faminta!
Eles ficaram a sós por alguns minutos.
- Está um clima bem agradável hoje, não? Gostaria de ir lá fora tomar um pouco de ar? Podemos sentar ao redor da piscina enquanto a comida não fica pronta.
- Claro. Boa idéia. Isso se não tiver muito frio. Essa hora costuma ter uma brisa gelada.
Ele sorriu e a puxou pelo braço para irem ao jardim. Charlotte se sentia leve, como se flutuasse, mas não sabia se era o efeito do vinho ou o efeito do toque dele sob sua pele. Fechou os olhos por alguns segundos e deixou que ele a guiasse.
“Como deve ser bom beijá-lo”- pensou, sonhadora, imaginando o gosto dos lábios dele.
Georgiana voltou à sala, e não encontrou os dois. Mas como a janta ainda demoraria mais alguns minutos, resolveu sentar e ligar a televisão para se distrair. Não pretendia interrompe-los.
Eles sentaram em um banco que havia em frente à piscina. A noite clara permitia plena visão das estrelas e da lua, que estava cheia e brilhante.
“Que romântico!”- Charlotte refletiu, enquanto bebia um pouco do vinho, e não pôde evitar um sorriso de satisfação.
- Você está com frio? – ele indagou ao perceber que ela estava toda encolhida e de braços cruzados.
- Um pouco.
Ele reparou que ela estava arrepiada e perguntou, debochado:
- Só um pouco? – passou a mão delicadamente nos pêlos do braço de Charlotte, que estavam eriçados.
- Me permite? Assim não sentirá frio.
Charlotte estava com as bochechas rosadas, um pouco pelo efeito da bebida e um pouco pela proximidade com ele. Ela franziu as sobrancelhas, fitando-o, enquanto assentia com um balançar de cabeça.
Ele então colocou um braço sobre o ombro dela, trazendo-a mais para perto. Ela aproveitou e apoiou a cabeça em seu ombro, enquanto brincava de contar as estrelas.
- Em que você está pensando?– ele inquiriu, curioso, depois de um breve silêncio.
- Ah... estou contando as estrelas! – ela o encarou, sorrindo. O vinho a deixara mais solta e o riso estava frouxo.
- Char.... – ele murmurou, encarando-a com intensidade, trazendo o seu rosto mais perto do dela. – Hum...Que cheirosa... É perfume francês? – ele indagou, cheirando o seu pescoço, ao recordar do comentário feito por ela.
Ela sorriu e afirmou, maliciosa:
- Sim. É bom, não é? E pelo visto, tudo que vem da França é bom.
Depois desse comentário, ele se sentiu autorizado para fazer o que mais desejava desde que a vira: beijá-la!
Charlotte, percebendo o que ele faria em seguida, não ousou sequer respirar, ansiando pelo contato daqueles lábios.
- Fitzwilliam! Charlotte! – O grito de Georgiana vindo de dentro da casa interrompeu os dois. Mas eles estavam sentando em um canto escuro, e ela não percebeu o que eles faziam.
Charlotte, trazida de volta a realidade, afastou-se dele num sobressalto. Mas não levantou do banco: ficou olhando fixamente para ele.
O beijo estava tão gostoso, e as sensações que Charlotte sentira foram tão intensas - totalmente diferente do beijo insosso de Collins.
“Nossa! Como perdi tempo, era de um homem desses que eu precisava!” – refletiu, retomando o fôlego.
- Acho que temos que entrar. A comida já deve estar servida. – ele resmungou, visivelmente contrariado por terem sido bruscamente interrompidos.
Ela deu um sorriso leve e comentou:
- É. E eu estou com fome.
- Ah! Então vamos entrar! – Levantou e ofereceu a ela a mão, que ela aceitou sem pestanejar. Voltaram à sala de braços dados, sorrindo e conversando alegremente.
- Alguém quer mais vinho? – ele perguntou, sentando a mesa em frente à Georgiana, enquanto Charlotte sentava ao lado desta.
- Não, obrigada. Já bebi demais por hoje – Charlotte respondeu – Tem água com gás?
- Claro, Char! – Georgiana afirmou, servindo a amiga. – Eu aceito um pouco mais de vinho, Fitz!
- Você não, Georgi. Já bebeu muito por hoje.
- Ah! Só mais um pouquinho, vai? Que mal pode me fazer? Depois vou para cama dormir...
- Está bem, só um pouquinho. – Assim ela dormiria como uma pedra, concluiu com segundas intenções.
- O que será que Lizzy e William estão fazendo agora?
- Ah, Georgi! Eu também gostaria muito de saber! Gostaria de ser um mosquitinho para espiar aqueles dois. Será que Lizzy ficará a vontade ou pensará que eu vou voltar para casa?
- Claro que ela ficará a vontade! Meu irmão sabe que você dormirá aqui.
- Você dormirá aqui! – Fitzwilliam exclamou, sem disfarçar a alegria que tal informação lhe trazia.
Georgiana deu uma gargalhada e Charlotte sorriu, contida, trocando um olhar acanhado com ele.
- Não repare no cardápio, Char. A comida é bem simples, foi escolhida por meu primo.
- Sim! Estava com saudades da carne assada da Dona Vânia. – ele argumentou.
Charlotte achou graça.
- Dona Vânia é nossa cozinheira há muitos anos, Char. E esse sempre foi o prato preferido do meu primo. E como você disse que gostava de tudo, não vi porque não fazer a vontade dele.
- Claro, Georgiana. Está ótimo. – falou provando a carne assada com batatas e arroz branco.
E assim jantaram, trocando algumas palavras de vez em quando.
- Hum... essa comida e esse vinho me deram um sono. – Georgiana comentou, esfregando os olhos preguiçosamente.
- A mim também. Estou cansada. – Charlotte falou, escondendo um bocejo.
- Eu não. Estou completamente desperto. E acho que pela diferença de fuso horário terei um pouco de dificuldades para dormir cedo.
- Hum... mas nós iremos dormir, primo. Você fique a vontade. Vamos, Char? Vou te mostrar o teu quarto.
Ela não queria ir, mas não tinha como negar o convite.
- Claro, Georgiana. – respondeu, levantando-se da mesa lentamente, meio sem vontade.
- Você já vai? – ele inquiriu, segurando-a pela mão.
Ela respirou fundo, tomando fôlego, sorriu em resposta e assentiu com a cabeça.
- Tenho que ir... – respondeu, tristonha.
- Mas se der, volte aqui depois.... eu ficarei aqui pela sala mesmo. – ele cochichou, para que Georgiana não os escutasse.
Envergonhada, ela desviou o olhar.
- Talvez... - afirmou, olhando novamente em seus olhos, com um leve sorriso nos lábios.
O quarto de Georgiana era próximo ao de Charlotte, enquanto que o de Fitzwilliam de Bourgh ficava em outro canto da casa.
- Este será o seu quarto, Char. Suas coisas já estão aí, em cima da cama. Veja se está tudo a seu gosto. O banheiro fica naquela porta em frente. E qualquer coisa que precisar, pode me chamar: meu quarto fica ao final do corredor. – apontou para a porta.
- Obrigada, querida. Mas não precisarei de nada. Só quero me deitar e dormir. – despediu-se da amiga com um beijo no rosto.
“O que será que Lizzy e o Sr. Darcy estão fazendo agora?” – jogou-se na cama de camisola e ficou olhando o teto com um sorriso estampado no rosto.
“E o que será que o primo Fitz está fazendo lá em baixo?” – perguntava-se ainda mais aflita.
Mas ela não pretendia descer para encontrá-lo. Apesar dele ser muito charmoso e extremamente atraente, planejava resistir a seus encantos. Punia-se mentalmente pela conduta inadequada que tivera mais cedo no jardim.
“Não vou descer”- refletiu, decidida.
Mas estava muito agitada e o sono lhe fugira.
“Como seria bom beijá-lo novamente. Como seria bom tirar o meu atraso com um homem daqueles! Mas não posso! Não com o primo do Sr. Darcy! Não com o primo do meu chefe! Imagina: inaceitável!”
“Vou trancar a porta e jogar a chave fora para não cair em tentação” – pensou, rindo sozinha.
E enquanto sua cabeça fervilhava com essas idéias, um som tirou-a de seu devaneio.
- Hum? O que será isso?
Levantou para procurar o aparelho que tocava e parou aflita frente a um telefone que não vira antes.
- Sim?
- Você não vem?
- Hã?
- Se você não vem, eu posso subir?
- Não! Claro que não! – se apavorou mediante a idéia. Georgiana podia escutar. Fez uma pausa e prosseguiu: - Estou descendo.
Abriu os armários nervosamente e pegou um roupão que achou. Não iria descer apenas de camisola. Ainda mais, com aquela camisola.
Passou antes no banheiro, para se olhar no espelho. Escovou os dentes e ajeitou o cabelo.
- Eu não quis colocar a roupa de novo e peguei esse roupão que encontrei no armário, será que Georgiana se importará?
- Não, claro que não. Ele está lá para os hóspedes mesmo. E você ficou bem com ele. – analisou-a de maneira provocante.
- Hum... – deu um sorriso tímido e sentou-se em uma poltrona um pouco distante de onde ele estava.
- Você está muito longe e não podemos falar alto, senão acordaremos Georgiana, e você não quer isso, quer? – ele indagou, zombeteiro.
Ela negou com a cabeça.
- Então sente aqui, do meu lado. Quer mais vinho?
- Ah... Vou aceitar um pouquinho – aceitou a oferta para se acalmar, pois seu coração batia apressadamente.
Viera para essa casa com o intuito de ajudar à amiga, mas não imaginava que agindo dessa forma ajudaria também a si mesma.
- Você está nervosa?
- Não. – ela mentiu.
- Parece. – ele a fitou e sorriu. – Mas não precisa ter medo de mim.
Ela riu, enquanto refletia: “eu estou com medo é de mim.”
- Charlotte... – ele sussurrou – posso beijá-la de novo?
A pergunta, da maneira que foi feita -direta e sem rodeios- pegou-a de surpresa e deixou-a sem reação.
Ela olhou em seus olhos, abriu a boca, mas não disse nada.
- E então? Posso?
Ela sorriu e concordou, meneando a cabeça.
Ele então a tomou nos braços e a beijou com desejo. Seu abraço era firme e ele sabia como conduzir bem a situação. Ela estava totalmente entregue a ele.
“Nossa! Ele sabe bem o que faz! Que homem é esse?”- ela pensou, suspirando.
O beijo estava cada vez mais intenso, e eles esqueceram que ainda estavam no meio da sala.
- Char, vamos para o meu quarto?
- Hã?
- Acho que não é muito adequado ficarmos aqui... E meu quarto é mais longe do de Georgiana, ficaremos mais a vontade lá.
- Eu não sei...
- Não se preocupe, não vai acontecer nada que você não queira. É apenas para nos conhecermos melhor. Podemos apenas conversar, se essa for a sua vontade.
- Está bem – concordou receosa. Mas ela sabia que o seu desejo ia muito além de uma simples conversa.
*
Enquanto isso, em outro local, um casal se revia depois de dois meses de separação.
- Lizzy abriu a porta, certa de que Charlotte voltara, pois esquecera sua chave em cima da mesa.
- Oi Lizzy – ele sorria mais encantador do que nunca, segurando um enorme bouquet de rosas vermelhas.
- Oi... – ela estancou à porta, boquiaberta.
- Você está linda! Posso entrar?
- Cla-claro – ela falou, assim que voltou a si, depois de um breve momento de hesitação. – Mas não repara a bagunça, eu não sabia que teria visitas...
Ela sorriu e pegou as flores. Ele não via bagunça nenhuma, pois reparava apenas nela.
“Ela está diferente – pensou – não sei como, mas está ainda mais bonita.”
*
*

Capítulo 30
*
Fitzwilliam Darcy seguiu Elizabeth Bennet, que levava o bouquet nas mãos, mal disfarçando sua alegria, tanto por revê-lo, como pelo lindo presente.Ele sentou no sofá da sala, enquanto ela procurava um vaso para as flores.
- Obrigada. Elas são lindas! – exclamou, colocando-as sobre a mesa de centro.
Elizabeth sentou-se um pouco distante dele, em uma poltrona em frente à janela. Por alguns minutos, ninguém falou nada. Estavam constrangidos, e não sabiam como romper a barreira que pairava entre eles.
Lizzy mexia os pés agitadamente. E Darcy, para ocupar a mente, observava cada detalhe da decoração escolhida por ela.
- Quando você chegou? – ela indagou, quebrando o silêncio.
- Hoje à tarde.
- E por que demorou tanto? – ela falou sem pensar, logo se arrependendo.
Ele sorriu e a fitou.
- Você sentiu minha falta?
- Quer conhecer meu apartamento? – Lizzy levantou num sobressalto, e questionou, tentando mudar de assunto.
Ele levantou-se do sofá e a seguiu.
- Você não respondeu a minha pergunta, Lizzy.
Ela serviu-se de um copo de água gelada, para ganhar tempo.
- Nem tu a minha. Quer água? Ou quer beber alguma outra coisa? Tenho cerveja, vinho, refrigerante.... Hum... Deixa eu ver... Está sem gás, porque eu não tenho bebido refrigerante ultimamente, mas de qualquer forma acho que dá para tomar ainda.... E o vinho deve estar velho, pois eu também não tenho bebido álcool... Quer alguma coisa?
- Não, obrigado. – ele achou graça das ofertas nada atraente que ela lhe fazia.
- Quer gelatina? Tem gelatina de morango.
- Eu não quero nada, Lizzy. Mesmo assim, obrigado por oferecer. Que pergunta?
- Hum?
- Que pergunta que eu não respondi?
- Se quer conhecer meu apartamento...
Ele assentiu, cruzando braços. Começar a conversa que pretendia ter com ela, pelo visto, seria mais difícil do que ele esperava. Talvez ela não se sentisse como ele, talvez Georgiana estivesse enganada e ela o houvesse esquecido.
- Bom... não tem muito para conhecer... A sala e a cozinha estão aqui. Depois tem o banheiro e o quarto. Mas quem gostaria de conhecer um banheiro? Então sobra o quarto. Quer conhecer o meu quarto? Se bem que esse convite soa meio estranho, convidar um homem dessa maneira para conhecer o quarto – Lizzy falava apressadamente e dizia coisas desconexas. A presença dele a desnorteava.
- Lizzy! O que há com você? – ele a segurou com ambas as mãos, parando-a em sua frente. Ela andava de um lado a outro, apesar de não haver muito espaço disponível para isso.
“São os hormônios que estão me enlouquecendo”- ela pensou-“Assim como a tua presença”.
Ela cruzou os braços e mordeu o canto da boca, evitando fitá-lo. Mas ele fez com que ela o olhasse, tocando levemente em seu rosto. Ela finalmente o encarou.
“Que saudades desses olhos azuis”- pensou.
Mas voltando a si, desvencilhou-se do contato dele. Porém, logo após, tornou a tocá-lo, pegando-o pelo braço.
- Venha! Eu quero te mostrar o meu quarto!
Ela acendeu a luz, iluminado o quarto escuro.
- Está é a minha cama.
Ele olhou distraidamente, não entendia o que ela queria com aquela demonstração. Mas um objeto em seguida lhe chamou a atenção.
- Como você tem aquela foto minha? – inquiriu, surpreso, ao perceber o porta-retrato em sua mesa de cabeceira.
- Georgiana me deu – ela abafou um sorriso.
- Ah! – Ele ria sozinho ao dar-se conta que ela também o amava. Ninguém em sã consciência colocaria uma foto de outra pessoa ao lado da cama, se não fosse por amor. E ele ficara radiante ao constatar que ele era o último rosto que ela via antes de adormecer e o primeiro ao despertar.
- Eu também tenho uma foto tua e ando sempre com ela na minha carteira.
- Qual? – perguntou, curiosa.
- Uma que Georgiana recebeu por e-mail e me mandou, da despedida de Charlotte. E eu mandei fazer uma cópia – ele confessou, sorrindo.
Ela sorriu de volta e pararam frente a frente, rindo e se encarando.
- Você está tão linda, Lizzy. O que você fez de diferente? – falou, pegando a mão dela e levando-a aos lábios.
- Eu? Nada....
- Eu te amo, Lizzy. Eu te amo tanto! – abraçou-a, apertando-a contra o seu corpo. – Nem sei como agüentei esse tempo todo longe de ti. Por que você não quis falar comigo, Lizzy? Por que não atendeu as minhas ligações?
Ela também o abraçava com vontade, comprimindo seu corpo, como se não quisesse soltá-lo nunca mais.
- Você fugiu de mim... – ela murmurou, com o rosto colado em seu peito.
- Eu fugi? – se afastou um pouco para fitá-la, afrouxando levemente o abraço.
- Não fugiu? – ela arqueou as sobrancelhas, ansiosa pela explicação.
- Eu não fugi, apenas fui embora sem me despedir, mas depois tentei te ligar para conversarmos, Lizzy.
- E por que foi embora? Por que saiu sem me dizer nada?
Ele então começou a caminhar pelo quarto e parou frente à janela, olhando para o movimento da rua. Falou, sem olhá-la, com um tom de voz em que se percebia mágoa.
- Porque ouvi você dizer a sua mãe que não queria nada comigo, Lizzy. Que eu era apenas o teu chefe e que a gente nunca teria nada – Continuou olhando para o lado de fora. – Então achei que você não gostasse de mim...
- Você ouviu...? – ela balbuciou, atônita – Mas não era verdade... Era apenas para enganar minha mãe. Para que ela não ficasse no nosso pé...
Ela parou ao lado dele e o abraçou pelas costas, colocando a cabeça em seu ombro.
- Que grande mal entendido! E eu achei que era tu que não gostavas de mim! – ela riu de nervosa.
- Mas você gosta de mim, Lizzy? Gosta de verdade? – ele a fitou, ansioso e aflito pela resposta.
- Tu ainda não sabes disso? – Encarou-o, com os olhinhos brilhando - Eu te amo, William Darcy! Eu te amo muito, com todo o meu coração.
- Oh meu amor! - ele exclamou, abraçando-a e girando-a pelo ar, enquanto buscava o contato com seus lábios.
Beijavam-se sem pressa, saboreando um ao outro, aplacando a saudade que sentiam.
- E porque demorou tanto? Dois meses! Eu senti tanto a tua falta! – ela perguntou, interrompendo o beijo.
- Eu também senti a tua falta, Lizzy! Mas do que sequer poderia imaginar. Quando viajei, confesso que não pretendia demorar tanto. Mas depois do nosso mal entendido, fiquei sem pressa de voltar. Te ver e não poder te ter seria uma tortura que eu pretenda evitar. Mas tortura maior foi ficar sem notícias tua, sem poder ouvir o som da tua voz. Se eu soubesse que seria assim, teria voltado logo. Preferia mil vezes ter te visto, mesmo que de longe.
Ela sorriu radiante, por ouvir tal confissão.
- Mas não precisava ter demorado tanto – ela resmungou.- Em dois meses aconteceram tantas coisas...
- Tanta coisa? O que, por exemplo?
Ela ficou sem graça e procurou não tocar no assunto, achava que era cedo para falar sobre o bebê. Adiaria esta conversa o máximo possível. Mas até contar, não se sentia a vontade com ele. Apesar de amá-lo com intensidade, estava incomodada com sua presença.
- Eu me mudei... Georgiana arranjou um namorado. Charlotte voltou. Jane foi morar com Charles...
- Eu sei, Lizzy. Já fiquei sabendo de tudo isso. – Ele sorriu, fez um carinho em seu rosto e olhando-a nos olhos, indagou: - E você, meu amor? Não gostaria de ir morar comigo?
- Hum?
- Lizzy... Desde a última vez em que ficamos juntos, percebi que não posso mais viver sem você. Aliás, já devia ter percebido antes, desde o nosso primeiro passeio, se não estivesse tentando enganar a mim mesmo.
Ela riu. Também estivera agindo da mesma forma. Mas não falou nada. Manteve-se muda, ansiando que ele prosseguisse.
- E quando fui procurá-la naquele dia no hotel, Lizzy, no dia em que conheci teus pais, pretendia te contar sobre os meus planos.
- Planos? – ela balbuciou.
- Sim, Lizzy. É uma longa história, tem tempo agora?
- Claro! Tenho todo o tempo do mundo.
“Ainda mais para ti, meu amor”- pensou.
- Acho que agora eu aceitarei aquela água. – ele comentou.
- Ainda bem que quer água, pois é o melhor que tenho para te oferecer. – ela zombou.
Eles se olharam, trocando sorrisos. Sentaram na sala, frente a frente. Lizzy inclinou-se, para poder escutá-lo melhor. Estava curiosa: “O que será que ele tanto tinha para contar?”.
Ele beberiscou a água, sem pressa.
- Sabe Lizzy, já te falei algumas coisas a respeito de meus pais...
- Hum rum – Inclinou-se mais para ouvir, atentamente, apoiando o queixo sobre a mão.
- Meus pais casaram-se cedo, como já te falei, e eram muito apaixonados um pelo outro. Mas assim que vieram morar no Brasil, meu pai começou a trabalhar sem parar, dia e noite, incansavelmente. Queria dar uma vida confortável para minha família. Queria que tivéssemos tudo do bom e do melhor. E enquanto buscava nos prover de bens materiais, esqueceu-se de nos dar o que mais necessitávamos: sua presença – Lizzy percebia a tristeza em sua voz – Minha mãe sentia-se muito sozinha, pois era muito ligada a ele. E eu, mesmo sendo criança, percebia isso, e tentava cobri-la de atenções. E sei que eu conseguia fazer com que ela se sentisse melhor. Eu amava muito a minha mãe, Lizzy. E sei que ela me amava também. Mas ela sentia enormemente a falta de meu pai. E por mais que eu tentasse, não me era possível substituí-lo.
Fez uma pausa, para beber um pouco mais de água. Esse era um tema que ele nunca falara com ninguém.
- Por isso meus pais convidaram a tia Catherine para morar conosco, Lizzy. Meu pai sabia como minha mãe se sentia, mas não podia largar os negócios em plena época de expansão, e minha mãe suplicava por companhia. Então minha tia veio morar com a gente. Após a morte de meu tio, ela também se sentia sozinha. E elas se deram muito bem, apesar da tia Cat ser um pouco mandona, e logo querer assumir o controle da casa. Mas minha mãe era dócil e serena, e não se importou com esse fato. E por isso eu devo muito a tia Catherine, Lizzy, pois ela foi muito boa com a minha mãe. Mas minha mãe foi se tornando mais triste a cada ano, como se a saudade de meu pai consumisse aos poucos as suas forças. E então ela engravidou de Georgiana e não me lembro de tê-la visto sorrindo tanto antes! A gravidez a deixou radiante. E foi com alegria que ela descobriu que teria uma menina. Mas ela não pôde conhecer Georgiana, Lizzy.
Ele baixou os olhos, triste, tomando fôlego para continuar. Lizzy levantou e sentou-se a seu lado. Deu um beijo eu seu rosto, demonstrando seu apoio. Enfim, ele prosseguiu:
- Penso que a tristeza a deixou fraca, Lizzy. E ela teve complicações no parto e não conseguiu recuperar-se. Foi um golpe muito duro para todos nós. Georgiana não conheceu minha mãe, mas eu sempre tentei contar-lhe tudo a respeito dela. Quando ela morreu, eu tinha doze anos, mas senti-me logo arrancado da infância. Sem mãe, com uma irmãzinha recém nascida e com um pai inconsolável. Sim, porque tudo que meu pai queria, após trabalhar tanto, era em breve se aposentar e desfrutar do resto da vida ao lado da minha mãe, como ele me confessou por diversas vezes. Meu pai ficou acabado, Lizzy. Não era capaz de fazer mais nada direito sem minha mãe. E por isso, eu tive que me tornar responsável, com tão pouca idade. Meu pai, inicialmente, sentia tanta falta da minha mãe, que não conseguia sequer chegar perto de Georgiana. Ele negava, mas eu sabia que no fundo ele a culpava pela morte dela. Mas ela não sabe disso, pois não lembra.
Suspirou aliviado, por poder poupar a irmã de tanto sofrimento.
- E Georgiana, nos primeiros meses, teve que crescer sem mãe e sem pai. E minha tia foi a mãe que ela nunca teve. E eu tentei ser um irmão meio pai. Mas lentamente, Georgiana foi conquistando-o, e ele, aos poucos, reaprendeu a sorrir. Mas nunca mais voltou a ser o mesmo. Por dentro, sentia um arrependimento que lhe corroia a alma. E eu penso que com o passar dos anos, ele desistiu de viver. Lizzy, ele foi definhando sob os meus olhos, e eu não podia fazer nada! Parecia que não via mais graça na vida sem minha mãe. E quando viu que eu cresci, e que eu poderia assumir com sucesso os negócios da família, parece que ele se entregou de vez. Parece que tudo que ele queria era descansar. Você percebe, Lizzy? Meu pai não queria mais ficar conosco! Meu pai queria morrer! Você consegue perceber como isso é triste?
Ela mordeu o lábio, nervosa. E concordou em silêncio. Ouvir toda história a deixara triste, e ela se controlava para não chorar. Ela, ao contrário dele, tivera uma infância feliz. Não se imaginava sem a sua família, sem a cumplicidade com suas numerosas irmãs e as risadas trocadas entre elas, mas, principalmente, sem o carinho de seus pais. E sentia o sofrimento dele como se fosse dela.
Ela o abraçou, comprimindo-o contra o seu corpo.
- Eu te amo! Eu te amo muito! Não fique triste, eu estou aqui contigo. E eu adoro a tua irmã. Não gosto muito de sua tia, mas após ouvir tudo isso, ela já não me parece mais tão ruim.
Ele sorriu. Com ela do seu lado, era capaz de sorrir com facilidade, até mesmo após essas lembranças que sempre o deixavam triste por horas a fio.
- Agora entende por que eu viajei, Lizzy?
- Não... – ela murmurou, ainda agarrada a ele.
- Porque eu não queria repetir os erros do meu pai. Após aquele dia que ficamos juntos, percebi que não poderia mais viver sem ti. Que eu precisava ter você comigo todos os dias para ser feliz. Mas não poderia mais continuar com o estilo de vida que eu estava levando, se eu quisesse mesmo ficar com você. Não seria justo para nenhum de nós.
- É? – ela inquiriu, arqueando as sobrancelhas.
- Sim! Eu estava constantemente viajando e se não mudasse meu modo de vida acabaria me tornando igual ao meu pai. E eu não queria ser como ele. Se fosse mesmo para ficarmos juntos, queria poder realmente ficar com você. Então decidi que não viajaria mais tanto e resolvi visitar cada sede, cada hotel, arranjar as coisas para que a minha presença não fosse mais necessária a todo momento. Decidi parar de trabalhar tanto, parar de correr de um lado a outro, para me dedicar a você, Lizzy. Me dedicar a nossa futura família.
Ela sorriu ainda mais ao ouvi-lo pronunciá-lo a última frase.
- Futura família? – ela começaria a ser formada mais cedo do que ele supunha.
- Sim, meu amor! Pretendo ter muitos filhos. Sei que ainda não falamos a respeito, mas você pretende ter filho? Aliás, Lizzy! Espere um momento antes de me responder.
Ele mexia nos bolsos agitadamente, enquanto Elizabeth quase não respirava esperando pelo que ele diria em seguida.
- Você quer se casar comigo, Elizabeth Bennet?
Ele tirou uma aliança do bolso do casaco e ajoelhou-se diante dela.
Lizzy jogou-se nos seus braços, enquanto respondia, num tom alto de voz, causado pela euforia:
- Sim! Claro que sim!
Ele levantou-a ao ar, enquanto buscavam um os lábios do outro. Após um beijo agitado, ele perguntou:
- E então, Lizzy? Você quer ter filhos comigo, não é? – ele estava ansioso pela resposta. Tinha planos de em breve construir uma família. Uma família bem estruturada, como a que ele nunca teve. Mas tinha que ser com ela, que era a única mulher que já amara.
- Claro, meu amor! Claro que eu quero ter filhos! Claro que eu quero ter uma família contigo!
Ele sorriu, e seguiu para beijá-la. Mas ela barrou o contato.
- Georgiana não te contou nada?
- Sobre o quê? Sobre isso? – tirou de baixo do casaco um envelope grande e prateado.
- O que é isso? – ela abriu o envelope, curiosa. – Mas como assim? – indagou, atônita, levando a mão a boca.
- Pelo visto, nossas irmãs foram igualmente eficientes em esconder-nos esse segredo. – ele riu.
- Nossas irmãs?
- Georgiana e Jane. Eu também só fiquei sabendo disso hoje, quando Georgiana perguntou sobre os meus planos com relação a ti. E ao ter certeza do que eu faria, me confessou que ela e Jane já havia planejado tudo para o nosso casamento.
- Tudo?
- Sim, Lizzy! A data, a igreja, o buffet, a decoração, o salão.... Você acredita que já está tudo escolhido? Só falta a nossa aprovação. Esse convite ainda está em fase de prova, mas se a gente concordar, segunda-feira ele já estará pronto. Acredita nisso? – ele riu - Parece que só caberá a ti a escolha do vestido e do bouquet. Na verdade, você só decidirá o vestido, porque o bouquet terá apenas que optar entre três.
- Três? Mas e o convite? Aqui diz que é para daqui a dois meses! Eu não acredito nisso! – ela gargalhou – Quem diria! Georgiana e Jane fizeram tudo isso pelas minhas costas.
- E tua mãe também, Lizzy!
- Minha mãe? Não! Minha mãe não teria a capacidade de guardar um segredo feito esse, ou teria?
- Pergunte a tua irmã! – ele riu - Mas parece que a tua mãe descobriu o que elas faziam e resolveu participar, mesmo que o preço para isso fosse não falar a ninguém.
- Nossa! Isso realmente me surpreende! Deve ter sido muito difícil para ela! – ela gargalhou.
- Só não entendi porque tanta pressa – ele comentou – Mas confesso que gostei, pois estou louco para tê-la como minha esposa.
Abraçou-a pelas costas e beijou-a no pescoço.
- Hum... E eu estou louca para tê-lo como meu marido, Sr. Darcy – ela sorriu, debochada – Mas posso dizer que a tua irmãzinha é muito melhor do que tu pensas para guardar segredo. Eu sei o motivo da pressa.
Ele, sem largá-la, a girou, com um movimento rápido, colocando-a em sua frente.
- O quê, Lizzy? É o que eu estou pensando? – os olhos brilhavam de satisfação com a possibilidade.
Ela apenas sorriu, apaixonada. Deixando-o em suspense.
- Você está grávida, Lizzy? – indagou, eufórico.
Ela concordou, com um movimento de cabeça. O fitava fixamente, ansiando pela sua reação. Durante o tempo todo em que passaram longe, temia ser mal interpretada quando ele descobrisse.
Ele a pegou, e a girou pelo ar, beijou-a no rosto inúmeras vezes, e por fim comentou:
- Obrigado, Lizzy! Obrigado por fazer de mim o homem mais feliz do mundo! Venha, precisamos comemorar! – falou carregando-a para o quarto.
- Hum... o que você pretende fazer comigo? – ela indagou, maliciosa.
- Tudo Lizzy, tudo e mais um pouco! – ele sorriu, um sorriso de orelha a orelha. Estava feliz, muito feliz, e com tantas saudades que sentia urgência para tê-la novamente em seus braços. Jogo-a na cama, ansioso e delicado ao mesmo tempo.
Ela carregava o seu bebê! “O nosso bebê está aqui”-ele sorria, enquanto a beijava pelo corpo todo, demorando um pouco mais sobre a barriga.
*
*
Capítulo 31
*
O dia amanhecia e um raio de sol teimava em entrar por uma fresta da janela, incidindo sobre o rosto de Charlotte. Ela acordou, abrindo apenas um olho, incomodada pela claridade. Logo se percebeu nua e aconchegada ao corpo de Fitzwilliam de Borgh. Mas nenhum sinal de arrependimento passou por sua mente.
“A noite foi ótima ”- sorriu, enquanto se espreguiçava.
Com o movimento de seu corpo, ele também acabou acordando.
- Rum.. – ele proferiu sons sem sentido, enquanto despertava. Apertou mais o abraço, comprimindo o corpo de Charlotte.
- Você está acordada? – perguntou, ao seu ouvido.
- Hum rum. – ela murmurou, ainda com os olhos cerrados.
- Então venha cá – ele a virou de frente para ele. Deu um beijo leve em seus lábios, e indagou: - Você tem algum plano para hoje?
Ela negou em silêncio.
- Hum... Quer passar o dia comigo?
- Claro – sorriu.
- Ótimo! – exclamou, beijando o seu pescoço, e virando-a novamente a fim de beijar lhe as costas, o que a fez ficar arrepiada.
- Acho que preciso voltar ao meu quarto, antes que Georgiana acorde.
- Não se preocupe. Ainda é cedo. Georgiana não costuma levantar-se antes das dez nos finais de semanas.
- Que bom. Eu não estou com a menor vontade de sair ainda. – ela riu.
- E nem eu a deixaria ir. – ele afirmou, sorrindo com malícia.
*
Lizzy acordou na cama usada por Charlotte. Olhou para o lado e viu William Darcy dormindo profundamente em sua cama. Levantou em silêncio e sentou-se a beira desta, fitando-o apaixonadamente. E enquanto observava ele dormir, deu-se conta, pela primeira vez, que aquele era o seu noivo.
“Noivo!”- riu sozinha, olhando a aliança. “Quem diria, casarei antes de Jane!”
Buscou o relógio para ver as horas: seis da manhã. A noite fora agitada e eles haviam dormido há apenas duas horas.
Deitou-se novamente ao lado dele, abraçando-o. Ainda estava cansada e mal conseguia manter seus olhos abertos.
“Como eu amo esse homem”- percebeu, aninhando-se novamente ao corpo dele. Sua cama era pequena, e ele ocupava quase todo o espaço sozinho. Por isso, sem que ele notasse, ela tinha ido para a cama de Charlotte. Mas não agüentou ficar sozinha, preferia ficar apertada, com o corpo dolorido, só para ficar junto dele.
*
Jane teve uma noite agitada, e mal pregou os olhos. Mexeu-se tanto durante a noite, que não deixou Charles dormir.
Percebendo-o acordado, por diversas vezes, perguntou no meio da madrugada:
- O que será que eles estão fazendo? Será que estão finalmente se entendendo? Será que Lizzy me perdoará por haver planejado seu casamento escondido? – indagava, apreensiva.
Charles, paciente e carinhoso, procurava sempre confortá-la com palavras de consolo e com muitos beijos.
- Hum... meu amor, que bom que eu tenho você – Jane agradecia, abraçando-o e tentando novamente dormir. Mas sem sucesso.
*
Darcy acordou às 8 da manhã e não conseguia mais dormir. A cama era apertada e seu corpo doía pela posição incômoda, mas perceber Lizzy aconchegada a ele compensava tudo e o fazia sorrir.
- Meu amor – ele falou baixinho, beijando-a na testa.
- Hum... – ela tinha o sono leve e acordou com o breve toque. Estava de costas para ele e virou-se para fitá-lo.
- Bom dia, meu amor – ela sussurrou, dando um selinho em seu lábio.
- Bom dia, meu amor – ele falou, abraçando-a e aconchegando-a sobre o seu peito.
- Estou morrendo de fome e acho que não tem nada para comer – ela comentou e riu.
- Vamos para a minha casa, Lizzy? Ainda é cedo e podemos passar o resto da manhã no meu quarto.
- No seu quarto? Mas o que faremos no teu quarto se eu não quero mais dormir? – ela brincou.
- Quem falou em dormir? – ele riu – Estava pensando em ficarmos na banheira da minha suíte. Poderíamos tomar o café da manhã na banheira mesmo e eu já aproveitaria e te faria uma boa massagem. O que você acha?
- Massagem? Hum... Sabe mesmo fazer massagem?
- Nunca reclamaram antes. – ele gracejou
- Bobo! – ela riu e jogou o travesseiro nele.
- Lizzy... – ele a encarou, nervoso – Será que... Você poderia... Você gostaria... de se mudar hoje mesmo para a minha casa? Acho que seus pais não se importariam, já que Jane também foi morar com Charles antes do casamento, não é? Mas se for inconveniente para ti, eu posso esperar, Lizzy. Mas eu confesso que não gostaria de me separar nunca mais de ti. Quero dormir e acordar com você todos os dias a partir de hoje.
- Hum... – ela sorriu realizada – Também adoraria morar com você, William. Mas tenho que falar com Charlotte antes, para ver se ela se importaria de ficar sozinha no apartamento. E tenho também que falar com os meus pais, não que eu precise da permissão deles, mas não gostaria de contrariá-los e dois meses passam tão rápido.
- Rápido, Lizzy? Esses dois meses em que em passei longe de você pareceram-me anos!
Ela riu e concordou com ele.
- Então vou resolver o primeiro problema e ligar para os meus pais agora mesmo.
- Agora? Mas não é cedo demais para uma ligação no sábado?
- Não, claro que não. Meu pai acorda com os passarinhos – ela riu – e minha mãe ficará tão feliz com a notícia de que nós nos entendemos que nem se importará por ter sido acordada.
- Tem certeza?
- Certeza absoluta! – ela riu.
Ela deixou-o sozinho no quarto, e ele permaneceu na cama, apreensivo, olhando para o teto. Retornou após vinte minutos.
- Tudo certo com meus pais. E percebi que não foi nenhuma surpresa para eles, parece que era tudo tão óbvio e que só a gente não percebia! – ela gargalhou.
Os olhos deles brilharam:
- E então, Lizzy? Já pode fazer as malas?
- Ainda não, Sr. apressadinho! Preciso falar com Char antes, esqueceu?
- Ah... – ele resmungou.- Então vamos logo para a minha casa, porque ela está lá.
- Ela está lá? Fazendo o quê?
- Olha, fazendo o quê eu não sei, mas imagino que a essa hora ela esteja dormindo – ele zombou.
Mas ela continuou surpresa, e ele apressou-se em explicar:
- Georgiana a levou para dormir lá em casa para ficarmos sozinhos.
- Nossa! Parece que todo mundo se juntou para me enganar! – ela exclamou – Me sinto como uma mulher traída, sempre a última a saber. – debochou e deu risada.
- Mas já leva uma mala para o caso dela não se importar. - suplicou, esperançoso – De qualquer forma, hoje é sábado e pretendo passar todo o fim de semana ao seu lado.
- Tudo bem, Fitzwilliam Darcy. Teu desejo é uma ordem – ela falou, e logo começou a separar algumas roupas – Falando nisso, William, se eu tiver um menino terei mesmo que chamá-lo de Fitzwilliam?
Ele gargalhou e a beijou no rosto.
- Não sei, meu amor, ainda não pensei nisso. Mas confesso que isso me faria feliz.
- Então se te fará feliz, me fará feliz também – ela afirmou, retribuindo o beijo.
*
- Charlotte não está no quarto.
- Não? Que estranho... Será que ela já foi embora?
- Mas ainda é cedo, são oito e meia. – Lizzy constatou, olhando a hora em seu celular. – Será que eu ligo para ela?
- Não sei, Lizzy. Vou pedir para nos servirem café no quarto. Você quer comer o quê?
- Ah, qualquer coisa. Do jeito que eu estou com fome...
- Comeria um boi inteirinho? – ele zombou ao recordar o comentário que ela fizera em seu primeiro passeio.
- Ah! Chato! – ela reclamou, dando risadas.
Foram até a cozinha e ele a apresentou para os funcionários:
- Essa é Elizabeth Bennet, futura Elizabeth Darcy, a nova patroa de vocês.
Lizzy sorriu, satisfeita.
“Elizabeth Darcy”- repetiu o nome em seus pensamentos por inúmeras vezes.
Resolveu ligar para Charlotte:
- Char? Onde tu estás? Como assim, na casa de Georgiana, se eu estou aqui e não estou te vendo? Está bem, venha para a sala me encontrar então.
- Amor... mudanças de planos...Charlotte está vindo aqui. Podemos comer por aqui mesmo?
- Claro. Mas onde será que ela estava? Só pode estar com Georgiana ou.... Mas não, não pode ser!
- Ou? – Lizzy indagou, curiosa.
- Com o meu primo Fitz! – ele afirmou, ao ver Charlotte vindo do lado oposto ao do quarto de Georgiana.
Lizzy trocou um olhar de surpresa com Darcy, antes de sair em direção à amiga.
- Charlotte, precisamos conversar!
- Sim, amiga! Precisamos conversar mais até do que tu imaginas! – ela sorriu – Venha, vamos para o meu quarto para eu trocar de roupa.
Passou pelo Sr. Darcy e pronunciou um constrangido bom dia. Não achava adequado encontrar seu chefe vestindo um roupão.
- Tu nem sabes o que aconteceu! – as duas exclamaram ao mesmo tempo e pararam para rir. E então, elas, se revezando para falar, agitadas e atropelando as palavras, contaram as novidades.
- Não acredito, Char! Quero conhecer logo esse primo! Então não tem importância mesmo eu te deixar sozinha com o apartamento?
- Claro que não, Lizzy! Ele ficará um mês no Brasil e eu aproveitarei o apartamento para ficarmos a sós. Do jeito que ele é, amiga, precisaremos de muita privacidade!
Lizzy deu uma gargalhada.
*
- Lizzy! Teu pai no telefone! – Darcy chamou sua futura esposa. Ela já morava com ele há quase um mês.
- Oi pai!
- Oi Lizzy! Só para confirmar que as tuas irmãs conseguiram comprar as passagens para sábado.
- E elas ficarão aqui até quando?
- Até a outra sexta-feira.
Era julho, e as irmãs estavam em férias.
- Ah! Obrigada por ligar, papai. E elas estão em casa? Posso falar com elas?
- Claro, Lizzy! Vou chamá-las.
- Kitty! Lídia! A Lizzy quer falar com vocês!
As irmãs correram ao telefone e cada uma pegou um aparelho.
- Oi Lizzy!
- Oi Lizzy! – Lídia tentou falar mais alto ainda que a irmã.
- Tchau, Lizzy. – Seu pai exclamou, desligando o terceiro aparelho.
- Tchau, pai. Oi gurias, que saudades de vocês!
- Ah, Lizzy! Saudades? Mas nos falamos ontem! – Kitty retrucou.
- Ela está falando de saudades porque não nos vê mais pessoalmente, sua besta – Lídia interferiu.
Lizzy riu.
- E aonde vocês querem ficar? Já decidiram? Aqui, com Jane ou com a tia Gardiner?
- Ah, Lizzy. A gente gostaria de ficar no fim de semana contigo e depois iremos para a casa da tia, porque Roberta já nos prometeu nos levar para conhecer toda cidade. – Lídia comentou.
- É Lizzy! Roberta está de férias como nós, e você não terá tempo para passear com a gente.
- Ainda mais com esse barrigão – Lídia gracejou.
- Que barrigão! Eu não tenho barrigão nenhum – Lizzy resmungou.
- Então deve ser a única grávida sem barriga que eu conheço! – Kitty zombou.
- Mas eu recém estou com três meses, não estou barriguda!
- Mas grávida de gêmeos, Lizzy! Se prepare para ficar uma baleia!
- Ou de gêmeas, Kitty! Ela não sabe ainda!
- Ah! Eu espero que sejam meninas. Poderias ter cinco filhas como a mamãe, Lizzy. Já pensou, que legal?
- Bem capaz, gurias! Bem capaz que eu vou ter tantos filhos!
- Porque não, o teu marido é rico e você não terá problema para sustentá-los.
- Quisera eu ter um marido bonito e rico feito o teu! – Kitty exclamou.
- Cale-se, Kitty! – Lídia ordenou – Não sabes o que está falando, os ricos tem muitos inimigos.
- Eu sei, Lídia. Eu sei... – Kitty comentou, e logo ficou em silêncio, deixando Lizzy sem entender nada.
- Meninas, sobre o que vocês estão falando?
- Nada, Lizzy, Nada. – Lídia logo deu a ligação por encerrada. Só pretendia tocar no assunto ao encontrá-la pessoalmente.
*
Lídia fez um sinal para Kitty deixá-las a sós, para falar em privacidade com sua irmã.
- Lizzy... Eu vim para São Paulo só para falar contigo, sabia? Há meses espero por esse momento, pois este era um assunto que eu não gostaria de falar pelo telefone. – falou, agitada - Queria vir antes, mas o papai não quis me pagar a passagem, se fosse para eu ficar pouco tempo. E eu tentei economizar a minha mesada para poder pagar pelo menos a ida, e estava quase conseguindo dinheiro suficiente, mas vi umas botas em liquidação e não resisti. – deu um suspiro - Então, tive que esperar três meses pelas minhas férias...T rês longos meses. - ela balbuciou, desviando o olhar.
- O que foi, Lídia? O que é que está acontecendo contigo, querida?
- Ah, minha irmã... – Lídia jogou-se nos braços de Lizzy e começou a chorar. – Já faz tanto tempo, mas ele me magoou tanto, Lizzy! Tanto, que eu não consigo esquecer.
- Ele quem, Lídia?
- George Wickham.
- Oh! – ela exclamou, atônita – Ele não, Lídia! O que esse cafajeste teve coragem de fazer com a minha irmãzinha? Já não bastou o que ele quase fez com Georgiana! – ela bufou, com raiva.
- Foi assim... – levantou os olhos e encarou a irmã - No mesmo fim de semana que papai e mamãe foram para São Paulo, ele me adicionou no orkut e depois no MSN e começamos a nos falar. Isso foi no domingo.
- Domingo? Mas esse foi o mesmo fim de semana do coquetel! – Lizzy exclamou, irritada – Ele ficou com Georgiana no sábado e domingo teve a petulância de ir atrás de ti?
Lizzy fez uma pausa, acariciando os cabelos da irmã, que estava deitada em seu colo.
- Naquele dia, William brigou com ele, sabia? E ele foi despedido e foi embora espumando de raiva. Deve ter te procurado por vingança, Lídia. Ele sabia da ligação dos Darcys comigo. Desculpa querida, é tudo culpa minha. Eu devia ter te protegido.
- Me protegido como, Lizzy? Se não moras mais comigo? E eu sinto a tua falta, sabia? A tua e a de Jane.
Lizzy assentiu, abraçando calorosamente sua irmã mais nova.
- E o que ele fez contigo, Lídia?
- Ah... Naquele domingo, passei o dia inteirinho falando no MSN com ele. O pai e a mãe não estavam em casa para me mandar sair do computador, como sempre faziam. Então, passei horas batendo papo com ele. Ele estava em Porto Alegre desde de manhã.
- Em Porto Alegre? Fazendo o quê? De certo fugindo, com medo de William mandar prendê-lo pelo dinheiro que ele desviou!
- Ah... Isso ele não me disse. Mas falou que tinha muito dinheiro e que montaria o seu próprio negócio no Paraguai.
- No Paraguai?
- Sim, viajaria já na segunda ou terça-feira. Nem perguntei os detalhes, Lizzy. Só o que me importava é que ele era lindo. Ele me mandou cada foto dele, uma mais maravilhosa do que a outra. E as coisas que ele dizia: tão inteligente, tão charmoso e encantador!
- Sim, já soube que ele é muito sedutor quando quer – ela resmungou. – E então, Lídia? O que aconteceu?
- Eu tinha uma festa a noite e o convidei para ir. Passamos a noite inteira juntos, e ele depois veio dormir aqui em casa.
- Vocês dormiram juntos, Lídia? – exclamou, exaltada.
- Ah... Sim! Eu me considerei apaixonada por ele. E ele parecia tão apaixonado por mim. Combinamos até que eu iria com ele para o Paraguai.
- Para o Paraguai com um desconhecido? Que maluquice!
- É, mas na última hora eu desisti. E ele combinou que assim que estivesse bem instalado mandaria me buscar. Mas nunca mais mandou notícias, exceto por esse e-mail. – estendeu a mão com um papel – Imprimi para ti ler.
Ela pegou o papel e encarou a irmã, apreensiva.
- Lizzy, antes que leias eu quero te dizer algumas coisas.- Ficou séria, mas com os olhos molhados - Eu sei que já fiquei com vários caras antes e que deves me considerar uma namoradeira... Mas ele foi o único que eu amei de verdade. Acredita em amor a primeira vista? Eu não acreditava, minha irmã. E eu era virgem, Lizzy. Eu era virgem e escolhi ele para ser o meu primeiro. E ele me magoou... Agora não quero mais saber de homens.
Lizzy ficou espantada, arqueou as sobrancelhas, mas logo baixo os olhos para ler o e-mail:
“Cara Lídia Bennet:
Agora que já estou bem instalado e longe dos meus problemas anteriores, mando essas linhas para avisá-la que não mais a mandarei buscar. Agora outra senhorita já ocupa o teu lugar. Mas obrigado pelas horas de sexo e de diversão gratuita.
Devo confessar que a tua presença fazia parte de um plano bem elaborado por mim. Uma vez que estivesse ao meu lado, e seguramente apaixonada, o Sr. Darcy não mais poderia mandar me prender, devida a tua interferência sobre a Elizabeth. Mas agora isso já não importa. Estou em outro país e não pretendo mais voltar ao Brasil. Sendo assim, não precisarei mais de ti.
Não esqueça de contar a tua irmã Elizabeth a respeito. Espero – profundamente - que ela sofra por você e que isso atinja o Sr. Darcy também. Estou rindo comigo mesmo ao imaginar o efeito que estas palavras terão sobre os dois! Excluo disso você, pois apesar de tudo, você é legal e não tenho nada contra a tua pessoa.
Ah, não esqueça também de perguntar ao feliz casal o que eles acharam das manchetes dos jornais. Espero que eu tenha sabido informar bem a imprensa.
Termino esse e-mail as gargalhadas. Quisera eu poder ver a reação dos dois ao lê-lo!
Atenciosamente, George Wickham.”
- Lídia! – ela gritou, exasperada, ao acabar de ler, sentindo a raiva crescente – Mas que desgraçado! Posso ficar com isso? Preciso mostrar ao William! Lídia! Coitadinha de ti! Devia ter me contado antes!
Lizzy abraçou a irmã.
- Ah, Lizzy. Mas agora já passou. Não foi nada demais... Tomei a pílula do dia seguinte para não ficar grávida e daqui a pouco já estarei pronta para outra. – sorriu, sem graça.
- Pílula do dia seguinte? – ela gargalhou ao constatar que a sua irmãzinha tinha sido bem mais precavida do que ela.
*
Já era tarde da noite e Elizabeth deixou a irmã sozinha no quarto, chamando Kitty para lhe fazer companhia. Saiu correndo, desvairada, pela casa inteira atrás de Darcy, quase tropeçando na escadaria. Encontrou-o, por fim, no quarto, aprontando-se para dormir.
Lizzy estancou junto à porta, com um semblante tenso e portando à mão o referido papel.
- O que foi, meu amor? O que houve com você? – ele perguntou, preocupado, ao reparar em sua face pálida.
Ela não conseguia falar, e ele a trouxe para dentro do quarto, fechando a porta.
- O que houve, querida? – repetiu a pergunta, de modo carinhoso.
- George Wickham – ela balbuciou, nervosa, sentando-se à cama.
- George Wickham? – Darcy indagou, exasperado – Mas o que aquele canalha fez contigo? – cerrou os dentes, espumando de raiva.
- Comigo nada, mas com a minha irmãzinha... Com Lídia. Leia. – falou em um tom muito baixo de voz, quase sem esboçar reação. Estava em estado de choque.
Darcy pegou a cópia do e-mail e passou a caminhar pelo quarto, agitado.
- Mas que.... – Olhou para Lizzy e se policiou para não proferir todos os palavrões que lhe vieram à mente.
Parou em frente à janela, para refletir um pouco. Ficaram em silêncio e Lizzy mantinha o semblante triste.
- Meu amor, não fique assim. – Darcy sentou ao seu lado, abraçando-a. – Olhe para mim, não fique assim. Não vamos deixar uma pessoa tão sem importância nos abalar. Vamos esquecer o assunto e evitar pensar nele. Para que perdermos o nosso tempo pensando a respeito, se existem tantas coisas mais interessantes para a gente fazer? Para que diminuirmos um segundo sequer na nossa felicidade por alguém que não vale isso? Lizzy, veja pelo lado bom, querida. Ele foi para longe e não pretende voltar. Ele não mais nos perturbará, querida.
- É, eu sei. Mas eu me sinto culpada por Lídia... Devia ter contado quem ele era.
- Mas Lizzy, como você poderia imaginar que eles se conheceriam? Eles moravam tão longe um do outro. Quem imaginaria que ele teria o disparate de ir atrás da tua família, só para me atingir? Lizzy, a culpa pelo aconteceu com Lídia e também com Georgiana, é exclusivamente minha. Eu devia tê-lo desmascarado desde o início, quando tive oportunidade para isso. – baixou os olhos, sentindo-se verdadeiramente culpado.
- Não, meu amor! Não se culpe por isso. Você não poderia prever uma coisa dessas. E Lídia é nova, logo se recuperará e como ela mesma disse, logo estará pronta para outra. – ela sorriu para ele.
- Viu? Logo ela estará pronta para outra! Assim como foi com Georgiana.
- É! – Lizzy riu, acalmando o seu coração.
Eles se olharam fixamente, e sorriram.
- Prometo nunca mais pronunciar o nome desse homem a partir de agora – ela afirmou - Vamos passar uma borracha nesse assunto? Eu te amo e tenho tantos motivos para sorrir, que isso não importa.
- Claro que não importa. – Tomou-a nos braços, beijado-a nos lábios – Só o que me importa é estar com você. Com você e com os nossos filhos.
- Ou filhas – ela afirmou, e sorriu.
- Ou filhas – ele repetiu, retomando o beijo.
- Eu te amo!
- Eu também te amo!
*
*
Capítulo 32
*
Houve um tempo em que o Mar Egeu fazia parte de um continente que ligava dois lados opostos do mundo. Lados tão opostos que viviam se chocando. Ora o Oriente se lançava contra o Ocidente, ora ocorria o contrário. E foram tantos os embates que um dia a terra se rompeu e afundou. Por séculos, parte delas submergiram e emergiram numa desesperada busca por um lugar ao sol. Até que um dia a movimentação parou e o que se viu foi um grande mar transparente salpicado de pontas do continente extinto. Assim nasceram as Ilhas Gregas, que os deuses, sob o comando de Zeus, as transformaram numa extensão do céu. Elas estão lá até hoje e não há quem tenha encontrado uma história melhor para justificar sua existência. E como é possível vê-las, tocá-las e senti-las, todos sabem que elas são reais, por mais que pareçam um sonho de deuses mitológicos. http://www.saltlake.com.br/GRECIA.htm
*
Elizabeth Bennet e Fitzwilliam Darcy casaram-se em meados de agosto, em uma cerimônia simples e para poucas pessoas. Não havia tempo para organizarem uma grande festa e nem eles estavam dispostos a isso. Ambos eram discretos, e não fazia parte do perfil deles grandes comemorações.
O tão esperado sim foi pronunciado com sorrisos de orelha a orelha, tanto pelo casal, tanto pela mãe da noiva que mal se continha de tanta felicidade. Foi uma festa bonita de se ver. A barriga da noiva era apenas um discreto volume, e somente quem a analisasse muito atentamente perceberia.
O bolo era todo branco, com três andares, e acima continha uma cópia fiel dos noivos, feita de biscuit. O vestido de Lizzy era no estilo princesa, tomara que caia e justo em cima e com volume maior e mais armado em baixo. Não era muito rebuscado e possuía poucos bordados, mas mesmo simples, deixou a noiva encantadora. Seus cabelos estavam presos num belo coque, com alguns brilhos em forma de borboletas e outros em espiral. Ela estava simplesmente maravilhosa! O que fez com que Darcy ficasse boquiaberto, ao vê-la entrar na igreja. Com os olhos brilhando e quase indo às lágrimas, emocionada, foi como Lizzy se posicionou junto a ele no altar.
Após a cerimônia, o casal recepcionou os convidados, menos de cem pessoas entre amigos íntimos e familiares, em um salão próximo à igreja. A decoração estava impecável e foi escolhida a dedo por Jane e Georgiana, esta última agora mais a vontade na organização de eventos.
Lídia e Kitty disputaram à tapa o bouquet, e proibiram Jane de participar. Pois com casamento marcado, não seria justo que ela tirasse a oportunidade de outras solteiras. E como havia alguns amigos bonitos e ricos de Darcy presentes, elas não poderiam deixar escapar essa chance. Como bem se vê, Lídia já estava voltando ao seu estado normal. Mas quem pegou o bouquet, pela grande estatura que a favorecia, foi Georgiana. Envergonhada, posou para as fotos ao lado de Lizzy com um sorriso sem graça. Ainda era nova e não tinha planos de se casar, pelo menos por enquanto.
Jane e Charles estavam sentados em uma mesa com Charlotte e Fitzwilliam, onde todos conversam e riam muito. Este último prolongou sua estadia no Brasil por mais um mês, com a desculpa de esperar pelo casamento do primo, mas na verdade, querendo ficar mais tempo ao lado de Charlotte. Durante todo esse tempo, moraram juntos no apartamento dela. Porém, sua presença era necessária na França e não mais poderia adiar sua volta. Partiria já no dia seguinte.
Lizzy e Darcy dançaram até o fim da festa, quando foram finalmente dormir. Não era uma atividade que agradava verdadeiramente ao noivo, mas a felicidade e o estado de euforia em que ele se encontrava, fizeram-no curtir muito desta vez.
O casal viajaria em Lua de mel apenas na outra semana. Iriam fazer um cruzeiro pelas ilhas Gregas, e como logo se informaram, deveriam evitar viajar entre 20 de julho e 20 de agosto, pois essa era uma época em que o país fervia com turistas. Era verão, e o calor intenso atraía uma multidão.
Lizzy decidiu se arriscar numa viagem de navio, apesar do medo de enjoar com a sacudida do barco. Não conseguiu resistir ao analisar o roteiro, as paisagens paradisíacas e as maravilhas oferecidas dentro do próprio navio: bares temáticos, danças de salão, discoteca, biblioteca, piscina, solarium, jacuzis, espectáculos tipo Broadway todas as noites e espetáculo de patinação no gelo. E, além disso, a pista de patinação era aberta a todos, fora do horário dos espetáculos, e Lizzy apreciava muito tal exercício.
Resolveu fazer a viagem mesmo grávida, apenas garantindo que sua cabine seria a mais alta dentre todas disponíveis e, sendo assim, sentiria menos o balanço do mar. E agora que entrara no quarto mês de gestação, os enjôos diminuíram consideravelmente.
O vôo, partindo de São Paulo, chegaria primeiramente a Atenas e no outro dia sairiam de lá rumo ao Porto de Pireus. Nos quatro primeiros dias, conheceriam as ilhas de Mykonos, Kusadasi, Patmos, Creta e Santorini, passando o dia em terra e apenas retornando ao navio para dormir.
Mykonos é uma das ilhas mais populares da Grécia e Santorini, dentre as mais de 2000 ilhas gregas, é considerada a mais bonita, sendo um típico cartão postal da Grécia: com mar azul e telhados brancos.
Aos olhos de Lizzy, as ilhas pareciam-lhe um sonho: as águas eram compostas de um azul translúcido e a antiguidade das construções possibilitavam uma visão espetácular. Ela estava radiante, tanto pela emoção de enfim conhecer a Grécia (seu grande sonho), mas ainda mais pela companhia de Darcy. Agora que estavam juntos, não pretendia separar-se nunca mais dele. E o feliz casal, aproveitando muito o passeio, desfrutando de momentos inesquecíveis a dois, tiraram inúmeras fotos para mostrar à família e aos amigos. Os últimos dois dias, passariam em Atenas.
No final de dezembro, com oito meses de gestação, nasceram as filhas de Elizabeth Bennet e Fitzwilliam Darcy: Sofia e Ana. Sofia em homenagem a falecida Sr. Darcy, a pedido de Georgiana, e Ana, em homenagem a aquela que previa o futuro.
Jonas e Ana, funcionários dos hotéis de São Paulo e de Porto Alegre, logo foram promovidos, por influência de Lizzy, recebendo um salário maior. Jonas passou a ocupar a função criada inicialmente para treinar Elizabeth, tornando-se necessária com a sua ausência, e Ana ocupou o cargo deixado livre pela Sra. Austen, com a sua aposentadoria.
O filho de Jonas, Bernardo, nasceu dois meses antes das meninas Darcys e as crianças, com idades próximas, criaram-se juntas. Lizzy, mesmo trabalhando em outro hotel, manteve o contato e amizade com ele e com sua esposa Natália. As meninas, conformem cresciam, passaram a disputar entre si as atenções de Bernardo, brigando por diversas vezes por sua causa.
Fitzwilliam de Bourgh voltou à França, e Charlotte, depois de um tempo, mudou-se para ficar com ele. Mas permaneceu somente um mês em Paris, pois não se adaptou ao país. Estranhou a comida, os hábitos, o clima tão diferente do brasileiro, mas, principalmente, sentiu enormemente a falta de seus amigos e parentes. E a presença constante da sogra, Catherine de Bourgh, fazia-na ansiar ainda mais pelo retorno. Fitzwilliam trabalhava o dia inteiro e, Charlotte, deslocada por não dominar o idioma, sentia-se sozinha. Acabou voltando ao Brasil e eles, aos poucos, foram deixando de se falar. E não se viram por mais de três anos, quando voltaram a se encontrar. Charlotte nunca pôde esquecê-lo, sendo ele o seu único verdadeiro amor. Foi uma paixão fulminante, arrebatadora, jamais substituída em seu coração. Mas mesmo assim, ela não ficou esperando por ele. Como costumava dizer: enquanto o homem certo não voltava, ela divertia-se com os errados, porém não era capaz de amá-los.
Eduardo Prates e William Collins assumiram-se, enfim, como namorados. Mas o namoro não durou muito, pois William Collins depois de confessar a si mesmo o fato de ser gay, após anos de autocontrole, logo caiu na promiscuidade. Descobriu o que era bom e queria tirar o atraso.
George Wickman, como souberam através do pai de Charles Bingley, que mantinha contato com a família Wickham, acabou preso na Argentina, sob a acusação de desfalques e sonegação de impostos. Nunca mais voltaram a vê-los e ele jamais voltou a perturbá-los.
Georgiana concluiu o colégio e em seguida ingressou na faculdade. Apesar do interesse crescente pela organização de eventos e o interesse pela música, decidiu-se, por fim, pelo curso de administração de empresas. Seu namoro com o Thiago durou apenas um ano, mas depois dele, muitos outros namorados vieram. Até que conheceu aquele que seria o último, com quem se casou. Nessa altura, seu irmão e Lizzy já tinham três filhos: as meninas gêmeas e o caçula, Fitzwilliam. Jane e Charles Bingley, por sua vez, tiveram dois meninos, o mais velho nascido no mesmo ano de Fitzwilliam Darcy Júnior e o outro, dois anos após.
O Sr. e a Sra. Bennet moraram em Porto Alegre até o final de suas vidas. Lídia e Kitty continuaram namoradeiras até os trinta anos, quando enfim sossegaram um pouco. Mary, mais retraída que as irmãs mais novas, teve um único namorado com o qual se casou.
Lizzy e Darcy, por nenhum momento deixaram de se amar, embora por algumas vezes tenham tido vontade de matar um ao outro. A convivência de um casamento – como aqueles que já tiveram tal experiência bem sabem – é complicada, por vezes parecendo até impossível. Brigas existem sempre, não há como evitar. E o que seria de um casamento sem o prazer de fazer as pazes após uma acalentada discussão? Casar é complicado sim, conviver é muito difícil, mas no fim das contas: o amor compensa tudo. E enquanto houver amor, companheirismo e fidelidade, o resto a gente supera.
****
Um complemento – no meio de tudo isso:
*
Lizzy e Darcy caminhavam com as filhas pequenas ao redor do lago negro. Adoravam Gramado, localizado na serra gaúcha, e costumavam visitar a região duas vezes ao ano.
- Mamãe, mamãe! Compra chocolate? – Sofia gritou, puxando-a pela barra de sua blusa.
- E eu quero um balão! Olha mamãe, aquele balão em forma de usinho – Ana não pronunciava o “r”, e dizia usinho ao invés de ursinho.
- Hum... O que você acha, meu amor? – Perguntou à Darcy. E sem ouvir a resposta, indagou às filhas – Mas o que vocês preferem, filhas: andar de pedalinho, chocolate ou balão? Vocês não podem querer tudo.
- Eu quero tudo, mamãe. – Ana resmungou.
- Eu também – Sofia imitou a irmã.
- Sua mãe está certa, vocês não podem querer tudo que vêem. – Darcy afirmou, sorrindo para a esposa.
- Hum... – elas ficaram pensativas, trocando olhares e conversando entre si. Lizzy achava graça ao vê-las tomando as suas próprias decisões. Suas filhas estavam crescendo rápido demais, constatava, com certo pesar.
Mas foram interrompidas por uma senhora que se aproximou delas.
- Mas que lindas meninas, que gêmeas mais lindas que vocês são!
Lizzy sorriu, mas ficou de olho. Suas filhas costumavam a chamar a atenção onde iam, e ela já estava acostumava com esse tipo de abordagem. E mãe coruja como ela era, sentia-se lisonjeada. Apenas Darcy ainda ficava incomodado, pois não se sentia a vontade com estranhos.
- Quantos anos vocês têm, meninas?
Ana mostrou os quatro dedinhos para a mulher.
- Quatro aninhos?
Ana assentiu, orgulhosa.
- Já sou gande. – Falou, sem pronunciar o “r”
- É grande, Ana – Sofia corrigiu.
- Então: gande.
A mulher riu.
O casal se aproximou das filhas e cumprimentou a senhora, que logo se despediu e se afastou.
- Então, crianças, já escolheram o que querem?
- Pedalinho, pai! – Sofia comentou.
- Eu quero anda no patinho blanco. – Ana acrescentou, apontando para um deles.
- É cisne, filha. – Lizzy corrigiu.
- Cisne – Ana repetiu a palavra, acrescentando-a mentalmente ao seu vocabulário.
- Só teremos que esperar a tia Jane, ela ficou de nos encontrar aqui.
- Ah... Ela demora, mamãe? – Sofia perguntou, já nervosa. Era a mais agitada das duas.
- Não sei, minha filha.
- Então vamos apostar uma corrida, papai? – Sofia suplicou, já estava cansada de ficar parada.
- Oba! Eu também quelo! – Ana exclamou, já se juntando aos dois.
- E eu? Vão me deixar sozinha? – Lizzy reclamou às filhas – Não posso correr com esse meu barrigão.
- Ah, mamãe, você fica com Fitz. – Sofia disse e se afastou.
- Que filha espertinha! – Lizzy riu com o comentário dela.
- Lizzy, posso ir com as meninas? Ou você não quer ficar sozinha? – Darcy abraçou a esposa e deu um beijo no rosto dela. Estava receoso de deixá-la sozinha, mesmo que por alguns minutos, com a pesada barriga de sete meses.
- Pode ir, ficarei bem. Eu não estou doente, estou apenas grávida – ela sorriu. – Vou sentar naquele banquinho e os olharei daqui. Logo Jane chegará.
Dito isso, ele se afastou. As meninas já aguardavam por ele impacientes, a alguns metros à frente.
- Vem papai!- elas gritaram em coro.
E Lizzy ficou sozinha, observando contente a sua linda família. E logo teriam um novo integrante.
- Jane! Que bom que tu estás aqui. Porque tanta demora, querida?
- Ah, Lizzy! Boas notícias! A gente foi ao médico antes e eu confirmei que estou grávida. De dois meses! – exclamou eufórica.
- Oi Lizzy! – Charles a cumprimentou apressadamente, e correu ansioso atrás de Darcy para contar a boa notícia.
Lizzy ficou sentada com a irmã, conversando com ela ao mesmo tempo em que observava Darcy e Bingley se divertirem com as crianças. Os dois, felizes, pareciam estar de volta à infância. Tio Charles comprou balões para as sobrinhas e os quatro os jogavam ao ar, correndo em volta do lago.
- E Char, Jane? Conseguiu falar com ela?
- Sim! Acho que a acordei, mas consegui falar com ela – riu, satisfeita.
- E aí? – Lizzy indagou, curiosa.
- Tudo certo! Eles se acertaram, Lizzy. Fitzwilliam retornará ao Brasil e desta vez em definitivo.
- Que bom, minha irmã. Fico tão contente por Charlotte! Acho que ela agora poderá ser tão feliz como a gente.
- Sim, espero que sim, porque eu estou tão feliz! – exclamou, colocando a mão sobre a barriga.
- Eu também! – Lizzy repetiu o gesto de Jane e ficou em silêncio olhando a sua linda família.
*
FIM

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