sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Um Certo Orgulho e Preconceito - Tânia Picon

Um certo Orgulho e Preconceito - Fanfic de Orgulho e Preconceito
Capítulos 11 a 15
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Capítulo 11
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Elizabeth Bennet e Fitzwilliam Darcy pouco se viram e muito menos se falaram, no decorrer da semana. Jonas e Charlotte, atualmente os maiores confidentes de Lizzy, cientes de todos os fatos e cúmplices desta, por diversas vezes evitaram tal encontro. E ele não voltou a procurá-la.
Jane estava encantada com Darcy. O achara bonito, inteligente, bem-educado, não entendendo a resistência de sua irmã. Tanto Jane quanto Charles torciam por este romance.
Lizzy finalmente encontrou com William Collins. Numa noite que ele veio buscar Charlotte e entrou para cumprimentar as primas. Jane concordou com Charlotte, achando que ele estava melhor, menos chato e até mais interessante. Mas Lizzy ficou desconfiada. Notou algo estranho em seu primo. Primeiramente, não pôde identificar bem o que a incomodara, mas conforme o encontrava, pôde analisar melhor seu comportamento.
Sexta-feira era o último dia do curso de Jane e foi sem nenhuma surpresa que esta anunciou que também trabalharia no hotel. Era certo que Charles Bingley a selecionaria, visto que estavam namorando e estavam visivelmente apaixonados.
Jane agora pôde ficar no quarto com Lizzy e Charlotte, pois também participaria de um treinamento. E embora tivesse direito a outro dormitório, decidiram permanecer as três no mesmo, apesar do aperto. Quase não se viam durante o dia, e a noite tinham muito o que conversar e queriam estar juntas.
Chegou sexta-feira. Era o último dia do curso de Jane, e o dia que Charlotte e Elizabeth completariam o primeiro mês de seu programa de treinamento e avaliação. Jane saíra para jantar com Charles, para celebrarem seu novo trabalho. E Charlotte decidiu ficar com Lizzy, para não deixá-la sozinha. Iriam jantar no quarto.
As duas conversavam animadamente, quando ouviram batidas à porta.
- Ah, deve ser nossa comida! Finalmente! – Charlotte disse, levantando para atender. Mas retornou surpresa, carregando um balde com gelo e champanhe. – Tem um cartão!
E as duas correram para lê-lo, curiosas:
- “Parabéns! Cortesia do hotel.”
- Que gentileza! – Charlotte exclamou.
- Que estranho! – foi o comentário de Lizzy.
- Lizzy, não sejas desconfiada! Achei um gesto muito simpático. E nós bem que merecemos, pois demos muito duro neste mês.
- Sei não...
- Lizzy! Que mal pode te fazer? Sei que prometeu não beber mais, mas não sairemos do quarto! Vamos beber até cair.... na cama!
Lizzy deu risada. E acabou cedendo. Afinal, seus únicos planos eram deitar e dormir.
Logo em seguida, novas batidas. Desta vez era a janta.
Comeram e beberam. A garrafa já estava quase no fim, e Lizzy e Charlotte davam boas risadas. Lembravam de histórias de sua infância e adolescência. Nunca faltava assunto entre elas. E novamente, perceberam alguém na porta.
- Quem será agora? – perguntou Charlotte – Quem sabe uma sobremesa de cortesia?
- Ou um príncipe encantado! – Lizzy riu, já estava bem alegrinha.
Desta vez Lizzy foi abrir, e voltou com uma caixinha preta em uma mão e um cartão na outra.
- Acho que o príncipe encantado não cabe nesta caixinha! – Ambas acharam graça e riram.
- Charlotte! Tu escolhes! Primeiro a caixinha ou primeiro o cartão?
- O cartão! Abre o cartão!
E sem parar de rir, foi abrir o cartão. Mas tão logo abriu, fechou a cara.
- É de Darcy! – ficou branca de susto, e sentou-se na cama, sem reação.
- Deixa eu ver! – Charlotte pegou e começou a ler alto – Para Elizabeth Bennet! Hum... Espero que tenha apreciado a champanhe. Meus sinceros cumprimentos, Fitzwilliam Darcy! – ela exclamou.
Lizzy cruzou os braços, estava indignada.
- Lizzy! Não era o príncipe encantado, mas o príncipe encantado te mandou um presente! Não vais abrir?
- Não! Não quero. – ela bufou.
- Lizzy! Que desfeita! Então deixa eu abrir – Charlotte arrancou a caixinha que ainda estava nas mãos dela – um par de brincos, Lizzy! Olha!
- Não! – ela virou o rosto.
- Lizzy! Devem ter custado uma fortuna! São de ouro, com brilhantes! E vindo de quem vem, impossível serem bijuterias. E são tão lindos! Uau!
Lizzy não agüentou de curiosidade e olhou.
- Mas quem ele pensa que eu sou para aceitar um presente desses? Ele acha que pode me comprar?
- Lizzy, ele gosta de ti, amiga! Ele só quer te agradar!
- Sim, gosta de mim! Nem falou comigo a semana toda.
- Lizzy! Mas tu não quis que ele falasse!
- Não quis mesmo! Mas ele nem tentou!
- Ai, amiga teimosa e orgulhosa! Teimosa como uma mula – Charlotte riu.
- Vou lá no quarto dele devolver!
- Agora?
- Sim!
- Lizzy! Não amiga! Não pode! Você está bêbada! Não pode ir lá.
- Mas eu vou! Ele me mandou o champanhe de propósito, Charlotte. Ele sabia que se eu soubesse que era um presente dele, não beberia. Ele planejou tudo! E eu não quero esse brinco aqui por nem mais um minuto!
- Então deixa que eu vou!
- Não! Eu vou! O problema é meu!
- Amiga, acho que nem se eu te amarasse te impediria de ir! Mas pelo menos troca de roupa, tá? Não vai assim.
Lizzy riu ao se dar conta do modo que estava vestida. Estava com uma camisola velha rosa curtinha e desbotada e com um par de meias azuis até os joelhos.
Trocou de roupa, pegou a caixinha, o cartão e a garrafa para levar.
- Vai levar esta garrafa quase vazia?
- Sim!
- Não Lizzy! Para ele ver que tu estás bêbada? E depois, deixa o resto comigo que eu vou precisar para me acalmar.
Lizzy abriu a porta, mas voltou.
-Charlotte, não sei qual é o quarto dele.
- E se eu te disser que eu também não sei?
- Charlotte, eu sei que tu sabes! E mesmo que não me digas, vou até a recepção e pergunto. Acho que vai ficar chato, mas não vou desistir.
Charlotte suspirou, e acabou dizendo o número do quarto.
- Já volto! – ela disse, batendo a porta.
Lizzy subiu as escadas correndo. Apesar do quarto dele ser no último andar, estava ansiosa demais para esperar o elevador.
Bateu na porta dele com força. Estava irritada. Sem esperar, bateu novamente.
Ele abriu. Vestido de pijama, roupão e meias. Mas não estava sozinho. Pôde perceber uma mulher loira alta, de costas para a porta, sentada em uma mesa jantando.
Ele não pareceu espantado ao vê-la, apenas sorriu.
- Oh, desculpe... – ela falou – não imaginei que pudesses estar acompanhado... Só vim para lhe devolver isso... – ela estava com dificuldades para articular as palavras, a bebida a atrapalhava assim como o susto de vê-lo com outra mulher.
- Entre Elizabeth.
- Não, eu não posso...
Mas ele a puxou para dentro e fechou a porta.
- É Elizabeth? – perguntou a mulher loira. E recebendo a confirmação com um aceno de cabeça, ela foi ao seu encontro.
- Que bom te conhecer! – falou, abraçando-a – Meu irmão me falou que a idéia de me trazer de volta ao Brasil foi tua!
- Seu irmão...?
- Sim – Darcy as interrompeu, para fazer as apresentações – Esta é minha irmã Georgiana. E está é Elizabeth Bennet.
- Ah... – Lizzy não encontrava as palavras. Estava constrangida por ter invadido o quarto e interrompido os dois.
Georgiana era muito bonita e alta. Mas era mais baixa que o irmão, com um pouco menos de 1,80 metros. Seus traços eram delicados e suas feições ainda eram infantis. Parecia uma menina em corpo de mulher.
- Elizabeth! Queria tanto te agradecer! Estou tão feliz de voltar a morar com meu irmão! E foi tudo tão rápido! Tinha medo que ele mudasse de idéia, e vim antes até de escolher um colégio. As aulas estão quase começando e eu ainda não tenho colégio! E ainda encontro com aquela chata da Caroline na minha casa!
Lizzy não pode deixar de rir com esta última afirmação. Georgiana era muito espontânea, se parecendo com ela.
- Ah, meu irmão! Desculpe se falei demais! Mas estou tão emocionada, que fico tagarelando! Elizabeth, meu irmão é o melhor irmão do mundo! Estou tão contente! – fez uma pausa – E agora surge esta viagem de última hora! Ele recém chegou e vai ter que viajar novamente. E terei que ver os colégios sozinha! Todos os dez da lista que ele pré-selecionou.
- Dez? – Elizabeth perguntou.
- Sim, William é um exagerado!
Ele estava sorrindo. Elizabeth achou encantador o modo como ele cuidava da irmã.
- Quero ter certeza que o escolhido será perfeitamente adequado para tua educação. – respondeu, alegremente.
- Sim! Sei só pensa no meu bem. Mas terei que ir sozinha! A menos que... - pensou
- O que, Georgiana? – Darcy perguntou, curioso.
- A Elizabeth poderia ir comigo!
- Hãã....? – Lizzy ficou sem palavras, pega de surpresa.
- Claro! Se ela quiser.... – Darcy falou
- Diz que sim, Elizabeth! Por favor! – Georgiana suplicava.
- Mas e meu trabalho...? Meu treinamento...?
Darcy sorriu ironicamente, e respondeu:
- Creio que isto não será difícil. É de fácil arranjo, se você quiser.
Lizzy não tinha como negar um pedido feito desta maneira, e acabou concordando.
- Agora sim, estou satisfeita! – Georgiana exclamou – e sinto ter que ir para o meu quarto e deixá-los, mas estou tão cansada.
Deu um beijo de boa noite no rosto de cada um e saiu.
Lizzy e Darcy ficaram sozinhos no quarto.
Ela ainda mantinha a caixinha na mão, mas a escondera para que Georgiana não a percebesse.
- Desculpa interromper vocês dois... Desculpa eu invadir teu quarto desta maneira... Eu nem pensei... – ela finalmente falou – mas vim devolver isto – falou, lhe entregando o objeto com os brincos. - São muito bonitos, mas não vou aceitá-los.
- Sim. Eu já suspeitava que assim faria – ele respondeu, sorrindo.
- Suspeitava? – ela falou, surpresa.
- Sim. Imaginei que não fosses ficar com ele, assim como imaginei que não beberia a champanhe se soubesse que era um presente meu.
- Ah....? – ela não sabia o que dizer. Estava atônita. – É.... eu não beberia... quer dizer... foi tudo planejado?
- Sim. Devo dizer que sim. Na verdade, eu estava a sua espera.
- A minha espera? Mas por quê?
- Porque, Lizzy? Porque você acha? Queria te ver. E minha irmã gostaria de conhecê-la. E eu sabia que se eu simplesmente a chamasse aqui, você não viria.
- É.. não viria... Mas.... – fez uma pausa, e pensou – e se eu aceitasse os brincos?
- Seria uma surpresa e um prazer. Eu os comprei para você, Elizabeth. E os escolhi pessoalmente.
- Oh... – Lizzy estava sem palavras. Ele planejara tudo e ela caíra em sua armadilha. – e porque a bebida?
- Para quebrar sua resistência. – falou sorrindo
Então ele a puxou para perto, sem que ela tivesse tempo de pensar e esboçar qualquer reação, e a beijou. Foi um beijo cheio de vontade e de desejos, um beijo apaixonado, um beijo com saudades.
Lizzy primeiramente não ofereceu nenhuma defesa e correspondeu ao beijo com a mesma intensidade. Mas depois de alguns minutos, tomando consciência do que faziam, se desvencilhou de seus braços, e o empurrou para longe.
- Não! Não devemos! – ela falou
- Porque não? Porque não devemos?
- Eu achei que tu soubesses porque... Eu estava certa que pensávamos da mesma maneira.
- Sim, Elizabeth... – ele estava inquieto e caminhava pelo quarto -Confesso que eu estava disposto a me manter afastado... que fazia parte de meus planos evitá-la....
- Então? O que mudou? Porque me perturbas agora?
- Por quê? Elizabeth... – parou de andar. Ficou diante dela, olhando-a nos olhos - Em vão tenho lutado, mas de nada serve. Esta última semana tem sido um tormento! Não sabes como tem sido difícil para mim.
Como ela manteve-se quieta, ele permitiu-se continuar:
- Tenho lutado contra o meu próprio julgamento, contra a expectativa da minha família, e até mesmo contra a inferioridade do seu berço...- respirou fundo, tomando coragem para continuar - Mas já não posso mais reprimir meus sentimentos, Elizabeth. E peço que ponhas um fim a minha agonia. Peço que fiques comigo!
- Oh...! Me ofendes desta maneira, com tamanha descortesia, e ainda esperas que eu fique contigo? Certamente quer que eu fique contigo no quarto! Não! Desta vez não serei tão fácil! Se é isso que pensas de mim! – falou, irritada.
- Do que você está falando?
- Já não teve o que quis uma vez? E não satisfeito, quer novamente?
Darcy estava assombrado.
- Elizabeth, você não se lembra do que aconteceu?
- Não – murmurou, desviando o olhar.
- Nada aconteceu, Elizabeth. – fez uma pausa, e continuou, sem que pudesse evitar um sorriso - Quero dizer, muitas coisas aconteceram e ouso dizer que todas igualmente maravilhosas, mas não o que você está pensando.
- Não?
-Você adormeceu. Percebi que você não estava plenamente consciente de seus atos e decidi parar, e logo você adormeceu.
- Eu.... dormi?.... E como vim parar em meu quarto?– Ela estava envergonhada e assustada.
- Eu a trouxe e a coloquei na cama.
- E.... e quem colocou a minha camisola?
Ele sorriu, confirmando que a vestira também.
- Não se preocupe, Elizabeth. Não veria nada se você não tivesse me permitido antes.
Ela o olhou com cara de braba, mas logo desviou seus pensamentos para outro fato que a deixou mais preocupada.
- E alguém me viu chegar?
- Apenas Rita. Ela me ajudou a arranjar tudo para que ninguém percebesse nossa chegada.
- Ela viu? Mas foi tão discreta! Não se deixou trair em nenhum momento...
- Sim, creio que sim. Tenho meus meios, Lizzy, Prometi a ela que se não comentasse nada a respeito, teria um emprego garantido no novo hotel.
- Oh... – Lizzy não sabia o que dizer.
Ele a puxou para mais perto, tentando beija-la novamente. Mas desta vez ela não permitiu o contato, e desviou o rosto.
- Porque me rejeitas desta forma? Sei que não é indiferente a mim.
- Não... não posso mentir tal indiferença....– parou, tomando fôlego – Mas acha mesmo que um relacionamento entre nós poderia dar certo?
Pego de surpresa, ele não pode mentir:
- Não, acho que não.
- Foi o que eu pensei.
Ficaram em silêncio.
- Quero que saibas que eu adoro o que faço, e que trabalhar no hotel é uma grande oportunidade para mim.
- Sim, compreendo.
- No início, permiti nosso envolvimento, porque desconhecia sua identidade. Mas agora... não posso mais. Entende? Está difícil trabalhar com tua presença... e, se....se... – mas não conseguiu concluir o que queria dizer.
Ele assentiu, dizendo que a compreendia.
- Desculpe, senhorita Elizabeth Bennet. Prometo que não mais a perturbarei e que nossa relação a partir de agora será puramente profissional.
Ela deu um suspiro de alívio, e retirou-se do quarto, mas não sem antes dizer:
- Obrigada. Muito obrigada pela compreensão. Boa noite, Sr. Darcy.
Elizabeth saiu do quarto, mas não conseguiu ir adiante. Encostou-se à parede ao lado da porta e fechou os olhos, sem forças para prosseguir. Levou as mãos aos lábios, lembrando do beijo. Talvez fosse o último beijo. E tal pensamento a entristeceu.
Ele faria o que ela pedira. E mesmo sabendo que era o certo a fazer, mesmo lutando contra seus sentimentos, sentia-se verdadeiramente infeliz.
Darcy permaneceu pensativo ao observá-la fechar a porta. “Sim, é melhor assim. Ela tem razão. É melhor colocarmos um ponto final nesta história agora, antes que fique complicado demais. E ela é uma excelente funcionária, não quero correr o risco de perdê-la”
E assim, com tal justificativa, tentou acalmar sua mente. Mas esta não foi suficiente para consolar seu coração. A quem ele queria enganar – pensou – ao finalmente admitir que a amava.
*
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Capítulo 12
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Fitzwilliam Darcy novamente viajou a negócios. Lizzy se perguntava se estas freqüentes viagens não tinham como principal objetivo evitá-la. Mas considerava que assim era melhor. Podia se concentrar de maneira superior em seus afazeres e sua perturbação diminuía consideravelmente pelo fato de não correr o risco de encontrá-lo. Mas para Lizzy ele nunca estava completamente ausente, pois tinha que afastá-lo de seus pensamentos diversas e diversas vezes ao dia.
*
- Lizzy! – Jonas a chamou na primeira hora do dia, logo que a viu - Deixa eu te contar a novidade! Estou muito contente! Natália está grávida!
Natália era a esposa de Jonas. Estavam casados há 7 anos e há 2 tentavam engravidar sem sucesso. Os médicos consultados não encontraram nenhum problema com os dois. Mas a gravidez simplesmente não acontecia. Lizzy a vira algumas vez, em breves instantes, quando esta passava rapidamente pelo hotel. E mesmo se vendo pouco, simpatizaram muito uma com a outra.
Natália era uma mulher pequena, com menos de 1,60 metros de altura, tinha cabelos castanho-claros cacheados, e belos olhos verdes. Lizzy a considerou uma mulher bonita. Era elegante, bem educada e falante e tinha 32 anos.
- Vamos sair para comemorar, Lizzy. E ela escolheu um rodízio de pizzas, pois anda com um grande apetite e quase não sente enjôos, aproveitando para se fartar. Lizzy, você tem que sair com a gente. E a Natália está louca para conhecê-la melhor. Mas nesta semana já marcamos tantos compromissos, que penso que só poderemos sair semana que vem. Quem sabe na próxima sexta-feira, Lizzy? Você está livre na sexta que vem?
- Claro, Jonas. E mesmo que não estivesse, daria um jeito de ficar, pois penso que é algo muito importante. Parabéns, papai! – Lizzy sorriu, lhe abraçando.
- Sim! Serei pai! Estou tão emocionado! E quero que convides Charlotte e seu namorado, pois com as nossas armações para evitar seu encontro com aquela pessoa, nos tornamos além de cúmplices grandes amigos.
- É, eu sei – Lizzy sorriu – Obrigada, vocês foram ótimos amigos. Não sei se algum dia conseguirei retribuir tamanha amizade. Mas penso que há algo que posso fazer por Charlotte, e que tu poderás me ajudar.
- Eu? O que você tem em mente, Lizzy?
- Podes convidar seu irmão Eduardo para esse jantar.
- Meu irmão Eduardo? Não estou entendendo...
- Jonas, te contarei algo que suspeito, mas não podes falar para ninguém, sob hipótese alguma. Pois pode não passar apenas de uma desconfiança infundada de minha parte.
- Sim, Lizzy. Estou ouvindo atentamente.
- Desde que vi meu primo William Collins, namorado de Charlotte, achei seu comportamento delicado demais, suas maneiras um tanto afetadas, e estou desconfiada....
- Que ele seja gay! Lizzy, coitada de Charlotte, se isto for verdade! – Jonas estava admirado – Lizzy, não havia percebido. Mas agora pensando, faz sentido! Sabe, com um irmão gay, entendo um pouco do assunto, e creio que possas ter razão. – Jonas estava boquiaberto.
- Sim. E um de meus melhores amigos em Porto Alegre é gay. E ele sempre me disse que um gay sempre sabe como identificar outro. Por isso pensei em convidar teu irmão, para que ele possa analisar meu primo. Porque não poderei me perdoar se isto for realmente verdade e Charlotte um dia vier a sofrer.
- Sim, claro! Certamente faremos isto! E Jane? Podes convidá-la também? Apesar de não conviver muito com ela, a acho uma mulher adorável.
- E ela também gosta de ti, Jonas. Mas sinto dizer que ela não poderá ir, pois já tem um compromisso para fim de semana que vem. E devo dizer que é algo muito importante e inadiável: Charles Bingley a levará para Minas Gerais para apresentá-las a seus pais!
- Oh! – Jonas ficou surpreso e satisfeito por ouvir esta informação – Então este relacionamento está ficando mesmo sério!
- Sim! Creio que sim! Querida irmã! Não poderia estar mais feliz por ela! – fez uma pausa – Acho que amanhã não nos veremos, Jonas. Amanhã e sexta-feira sairei com Georgiana para procuramos um colégio. Apesar dela ser irmã de quem é, penso que será bem agradável.
- Sim. Concordo. Georgiana sempre me pareceu muito simpática, apesar de ser um pouco tímida. Então aproveite sua folga nos próximos dois dias. Acho que sair um pouco da rotina lhe fará muito bem.
Lizzy sorriu.

Sobre o fato de Jane Bennet ser apresentada aos pais de Charles Bingley, algumas considerações abaixo.

Fitzwilliam darcy ficou surpreso ao saber que seu amigo Charles Bingley planejava levar Jane Bennet à Minas. Já o vira inúmeras vezes empolgado por outras mulheres, mas logo em seguida se desinteressando. E não considerava que desta vez seria algo diferente.
- Então desta vez é sério? – perguntou alarmado – Nunca o vi apresentar ninguém a seus pais.
- Sim, meu amigo! Desta vez é diferente! Até já comuniquei meus pais. Minha mãe recebeu tal notícia com satisfação, visto que sempre quis conhecer uma namorada minha. Meu pai está um pouco desconfiado, mas creio que perderá todas as resistências ao conhecê-la. Jane é encantadora!
- Mas, Charles, você tem certeza que isto é o certo a fazer? Acha mesmo que ela é uma mulher adequada para você?
- Adequada? – Charles o olhou admirado – Fitzwilliam Darcy! Meu amigo tolo e preconceituoso! Se penso que ela é adequada? Não apenas adequada, mas Jane é a mulher perfeita para mim!
Darcy não sabia o que dizer, ficou perplexo com o comentário do amigo.
- Mas quantos anos ela tem?
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- E vocês já pretendem casar?
- Casar? Não. Ainda não fizemos planos neste sentindo. Estamos apenas nos conhecendo – fez uma pausa, sorrindo com cara de bobo e apaixonado – Mas não me imagino casando com qualquer outra mulher que não seja ela. Ela é a criatura mais bela, mais adorável, que eu jamais vi!
Tal conversa ocorreu sábado, no dia que Darcy viajaria novamente, e um dia depois de tal encontro no quarto do hotel.
Darcy ficou pensativo.
Se pensasse um pouco como ele, poderia ter agido diferente. Se não fosse tão tolo e preconceituoso – como Charles bem disse- agora poderia ter um pouco da felicidade do amigo. E não pôde deixar de invejá-lo.
Mas não! Tanto o preconceito dele, quanto o orgulho de Elizabeth Bennet – ele tinha plena consciência disto – foram os culpados. E agora parecia tarde demais.... agora parecia que tudo estava perdido. E que seria condenado eternamente a sentir o que sentia: um vazio, como se faltasse um pedaço de seu próprio corpo. Estava melhor antes de conhecê-la.
E assim viajou sem pressa de voltar. Procurando evitar ao máximo um novo encontro com ela. E passaram dois meses quase sem saber um do outro.
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Outra consideração sobre a apresentação de Jane Bennet aos pais de Charles Bingley.
- Lizzy querida! Acorde, Lizzy! – Jane a chamou eufórica
Lizzy abriu os olhos sonolenta e com dificuldades sentou na cama para ouvir. Olhou o relógio na cabeceira e falou de forma mal humorada:
- Jane, são quase duas da madrugada! E amanhã é segunda, temos que acordar cedo. – ela resmungou.
- Sim, eu sei, Lizzy. Mas preciso te falar! Não posso me controlar – Jane estava agitada, exageradamente feliz.
- Hum... pelo visto é algo muito bom...
- Sim, Lizzy! – olhou para o lado, e viu que também acordara Charlotte – Charlotte! Desculpa te acordar! Mas estou tão ansiosa! Precisava contar para alguém!
Charlotte deu um bocejo, e se sentou para ouvir, já sorrindo. Não parecia se importar por ter sido acordada. Estava bem disposta e curiosa para ouvir Jane.
- Charles me convidou para conhecer seus pais! Iremos para Minas no dia 22! As passagens já estão compradas! Estou tão nervosa, tão nervosa! E se eles não gostarem de mim?
- Irmã querida! Penso que isto é algo impossível! Já viu alguém não gostar de ti?
- Não sei.... mas o que vocês acham disto? Conhecer os pais não indica suas boas intenções?
- Claro que sim! – falou Charlotte, sorrindo.
- Jane! Será que ele quer casar contigo? – Lizzy falou
- Não sei, Lizzy. Nos conhecemos há pouco tempo... E nem pensamos no assunto. Ainda é muito cedo, mas.... – parou de falar, e suspirou apaixonada - ... se isto acontecer um dia, creio que serei a pessoa mais feliz do mundo.
- Que bonitinho. Minha irmã está apaixonada.
- E ele também, Lizzy. – Charlotte falou – E penso que formam um lindo casal. Tão fofos.
Jane era só alegria.
- Bom, agora podem voltar a dormir.
Elas riram, e Lizzy então indagou:
- E quanto aos nossos pais, Jane? Quando contarás a eles que tu estás namorando? Não vais poder adiar esta conversa para sempre.
- Não.... sei que não... Mas gostaria de adiá-la o máximo possível.
- Ela tem medo que nossa mãe assuste Charles! – Lizzy riu, falando para Charlotte.
- Sim, quem não teria?– Charlotte respondeu.
- Mas penso que não precisa mais esperar, Jane. Charles está tão encantado por ti que acho que nem irá reparar em qualquer outra coisa.
- Espero que não, Lizzy. – Ela suspirou resignada – mas ainda não estou preparada para contar.
- Sim! Assim que ela souber, acho que no mesmo dia pega um avião para cá. – Lizzy falou
- Talvez na mesma hora – Charlotte comentou achando graça.
- Tenho certeza disso. – Jane replicou.
- E acredito que ficará por aqui até vê-los perfeitamente casados. Até já a imagino dizendo: “Jane bem empregada e com um marido rico, o que mais posso querer?” – imitou o tom de voz exagerado da mãe.
- Esse é o meu medo, Lizzy.
E elas deram boas risadas. Adoravam a mãe que tinham, mas temiam pelo seu comportamento que com tanta freqüência as embaraçava.
Tal conversa ocorreu domingo, um dia depois que Darcy viajara, e dois dias depois de tal encontro no quarto do hotel.
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Capítulo 13
*
Georgiana não estava mais hospedada no hotel desde que o irmão partira, tendo preferido retornar a sua casa, mesmo com a presença de Caroline. Cedo da manhã, ela passaria lá para buscar Elizabeth.
- Lizzy! – Georgiana exclamou contente ao ver a nova amiga entrando no carro – Que bom que estás aqui! Eu tinha medo que desistisse. Sei que meu convite a pegou despreparada, e que visitar dez colégio não é algo verdadeiramente agradável.
- Estás enganada, Georgiana. – respondeu sorrindo - Ainda não tive tempo de conhecer a cidade e acho que adorarei tal passeio.
Georgiana deu um suspiro e respondeu:
- Espero que sim... Já eu penso que olhar tantos colégios será algo chato demais...
Lizzy riu.
Georgiana logo começou a mostrar o roteiro traçado pelo irmão. Iriam ver três escolas pela manhã e a tarde somente duas, por serem mais distantes.
Pelo caminho, Georgiana foi descrevendo a cidade para Lizzy, o que deixou esta última bem satisfeita. Porém, as visitas aos colégios foram realmente um suplício, tal como Georgiana previra.
Todas as escolas faziam questão de ter Georgiana Darcy em seu quadro de alunos, pois sabiam que se tratava de uma menina rica e de uma família tradicional. E Lizzy achou irritante a bajulação com a qual foram tratadas.
No primeiro colégio visitado, Lizzy ainda estava deslocada, desconhecendo o que era importante saber sobre o assunto. Mas já a partir do segundo, pôde compará-los, e fazer muitas perguntas pertinentes, tal como sobre o ensino de idiomas, qualificações de professores, números de disciplinas, horas de aulas, e etc. Georgiana a olhava agradecida.
Ao final da manhã já estavam cansadas. E de tarde ainda iriam a mais duas escolas.
- O que você acha, Lizzy? Estou tão confusa! Não consigo decidir! São tão diferentes!– Georgiana exclamou ao final do dia – Cada uma tem algo que me agradada. Aprender alemão, francês ou italiano? Ou todas essas línguas? Escola religiosa ou não? Se eu quero ter aula de natação, ou prefiro uma academia de ginástica completa? Se quero participar de trabalho voluntário, ou quantas horas quero ficar na escola?.... Tantas coisas a considerar! Não sei o que pensar! O que você acha? Estou tão confusa!
Lizzy suspirou:
- Não sei. Não sei o que te dizer. É muito difícil mesmo. Quem sabe amanhã não teremos mais sorte? – Lizzy tinha sua própria opinião, mas preferiu se calar. Decidiu não palpitar, pois tinha medo que Fitzwilliam Darcy não aprovasse a escolha.
No outro dia, Lizzy acordou menos animada. Não pela companhia, pois descobriu apreciar muito Georgiana, mas sim por estar farta destas visitas. E só haviam visto a metade...
Georgiana e o motorista apareceram para apanhar Lizzy no mesmo horário do dia anterior, pontualmente. Mas no primeiro colégio visitado, uma surpresa ao saírem do prédio:
- É este, Lizzy! Encontrei! Não tem como ser nenhum outro! É neste que eu quero estudar! – Georgiana falou de maneira eufórica.
Lizzy sorriu e suspirou aliviada.
Georgiana continuou:
- Aulas de pianos com a Sra. Marly Jones! Uma das melhores pianistas brasileiras! O que mais posso querer, Lizzy? – fez uma pausa, assustada – E se meu irmão não aprovar minha escolha? E se ele fizer alguma objeção? Você precisa falar com ele e convencê-lo!
- Eu? – falou, sem disfarçar seu espanto e nervosismo.
Georgiana riu, percebendo que não era algo que agradaria Lizzy.
- Por favor, Lizzy! Me ajude! Fale com ele para mim!
- Ai, Georgiana... Se fizer mesmo questão que ele saiba minha opinião, eu lhe escreverei um e-mail. Mas não me peças mais do que isto, por favor. – Lizzy suplicou.
- Um e-mail? Sim! Pode ser também! Vou ligar para ele agora para dizer que encerraremos nossas visitas, que já está decidido.
- Ligar para ele? – Lizzy perguntou, receosa
- Sim. Ele está em algum lugar do Nordeste, mas está com seu celular particular, que poucos têm o número, aguardando minha ligação.
- No nordeste? – perguntou, entre aflita e curiosa
- Sim... Pelo que pude perceber, foi uma viagem de última hora. Ouvi uma conversa dele ao telefone. Parece que William foi para lá investigar algo relacionado com algum desvio de verbas. Escutei-o falando sobre alguém que estava nos roubando, e que era uma pessoa de sua confiança. Mas isto foi tudo, pois ele não quis me contar.
- Ah....
Estavam no carro e Lizzy não pôde deixar de escutar o telefonema, angustiada por não ter certeza se Georgiana cumpriria sua promessa e não a faria falar com Darcy. Mas enfim respirou aliviada ao vê-la finalmente encerrando a ligação.
- Pode mandar o e-mail para ele, Lizzy. Primeiramente ele disse que não era necessário, que confiava plenamente na tua escolha. Mas depois penso que ficou curioso e acho que agora aguarda teu e-mail com certa impaciência. – Georgiana sorriu com malícia.
Lizzy confirmou com a cabeça, não evitando um suspiro.
“Escrever para ele? Como farei isto? Serei mais sucinta e direta possível. Curta e grossa!”- pensou. E não pode deixar de se sentir nervosa e ansiosa pelo fato.
- Lizzy! Creio que teremos tempo livre agora! Você tirou folga para o dia todo, não é mesmo?
Lizzy sorriu e fez que sim.
- Então... – ela continuou – Vou ligar lá para casa e avisar que iremos almoçar. Caroline está lá, mas tenho planos para fazer com que ela saia, e penso que você poderá me ajudar.
- Eu? – Lizzy estava surpresa, e ouviu atentamente o que Georgina tinha a dizer. Seu plano poderia não dar certo, mas tinha que admitir que a idéia era boa.
Por mais que tivesse certeza que não gostaria de Caroline, e que provavelmente a detestaria, sua curiosidade para conhecê-la era o sentimento que prevalecia.
- Sabe, Lizzy – Georgiana continuava – fui um dia com ela até sua casa e você não acreditaria no que eu vi! A casa está toda esburacada! Sério, Lizzy! Ela está demolindo tudo, trocando todos os canos! E acho que desnecessariamente, só para justificar sua permanência na minha casa. Considero que isto não é paixão, é uma doença! E mesmo assim, que vá para a casa do irmão dela!
Lizzy ria, achava a situação divertida, mas não ousava fazer nenhum comentário.
- Podemos aproveitar o resto da manhã para visitar algum ponto turístico, o que você prefere: Estação da luz e o museu da língua portuguesa, a vista do edifício Itália, ou o Masp?
- Ah, gostaria de conhecer todos. Mas como só há tempo para um, deixarei que escolhas o da tua preferência.
E foram juntas ver a vista do terraço Itália, um restaurante que permitia a subida de visitantes, e por estar em um dos prédios mais altos da América Latina - com 165 metros de altura - proporcionava uma bela vista da cidade.
*
A casa dos Darcy’s era branca, de esquina e recuada, com um grande jardim em frente e cercada por grades da cor verde. As flores conferiam uma visão agradável, além da própria beleza da casa. Lizzy ficou encantada pelo colorido proporcionado pela união de diferentes espécies de flores. Podia perceber a presença de rosas, orquídeas e lírios, entre outras que desconhecia. E como não poderia deixar de ser, a residência dos Darcys era enorme, ocupando quase uma quadra inteira.
- Minha mãe adorava flores – Georgiana falou, ao notar a admiração da amiga – E até hoje mantemos este jardim da mesma forma como ela o deixou.
- Com este sol, Caroline deve estar na piscina – Georgiana falou, contornando a casa e indo em direção aos fundos. Lizzy a seguia sem dizer uma palavra, atônita, observando a mansão com surpresa.
Mas Caroline não estava lá, e as duas entraram na casa.
- Anda, Lizzy! Quero que conheças tudo antes do almoço! Só sinto por não poder te mostrar o quarto do meu irmão, pois Caroline está instalada lá.
- Ah... – embora quisesse negar, na verdade adoraria conhecer o quarto de Darcy. E Georgiana percebeu seu interesse, sorrindo disfarçadamente – Sua casa é muito bonita, Georgiana.
- Sim. Também acho. Foi minha mãe que a decorou e eu nunca permiti nenhuma mudança. Sabe, desta forma é como se eu pudesse sentir sua presença, como se ela estivesse sempre perto de mim. Sinto tanto por não conhecê-la, Lizzy.
Lizzy a abraçou de modo carinhoso. E foi com esta cena que Caroline se deparou ao finalmente se encontrarem.
Caroline parou a porta, estagnada. Surpresa ao observar a intimidade de Georgiana com uma estranha. Sabia que ela, morando tantos anos fora, quase não tinha amizades no Brasil. E estava convencida da timidez excessiva da cunhada, conformada por ter que conviver com o jeito retraído dela, sempre distante. Pois nas inúmeras vezes em que tentou se aproximar, foi prontamente repelida. E antes que Lizzy pudesse perceber sua presença, já havia sido analisada de cima a baixo.
- Caroline, você está ai? O que está fazendo parada na porta? Nos espionando, por acaso? – Georgiana falou, contrariada. Não gostou de ver Caroline observando-as daquela maneira.
Caroline achou sua cunhada um tanto insolente, mas tinha planos de conquistá-la, e não de desagradá-la, e então ignorou tal fato.
- Imagina, Georgiana querida! Acabei de chegar! Só não quis entrar apressadamente e atrapalhar vocês.
Lizzy não precisou ouvir nenhuma palavra pronunciada por ela para confirmar o que já suspeitava: não gostou de Caroline.
Caroline era uma pessoa bem educada, com modos distintos, mas aparentemente superficial. Sempre foi rica, nunca precisou trabalhar e nem batalhar pelas coisas. Para ela, todos deveriam fazer suas vontade e agradá-la. Era esnobe, antipática e arrogante. E Lizzy percebeu isto apenas com o primeiro olhar.
Nascida e criada em Minas Gerais, na capital Belo Horizonte, Caroline Bingley se mudou para São Paulo ansiando por uma aprovação no vestibular da USP para o curso de administração de empresas. Visava assumir os negócios da família juntamente com o irmão. Mas após três tentativas mal sucedidas, sem muito esforço da parte dela – deixo bem claro, pois ela é inteligente – acabou perdendo o interesse por estudar. Seu passatempo preferido passou a ser participar e organizar eventos de qualquer porte, desde que com pessoas selecionadas. Costuma sair-se bem tanto na preparação de jantares íntimos até de coquetéis para mais de quinhentas pessoas, o que se tornou interessante aos olhos de seu hoje ex-namorado Fitzwilliam Darcy.
Caroline tinha uma estatura mediada, olhos verdes, e cabelos loiros tendendo ao ruivo, como seu irmão. Lizzy achava que não devia ser feia, mas não conseguia ter certeza por causa da maquiagem pesada. Aliás, tudo nela era exagerado. Sua vestimenta não era nada discreta, e mesmo em casa, estava sempre carregada com inúmeros apetrechos.
- Georgiana, estava a sua procura, pois o almoço está sendo servido. – Caroline enfim falou. Virou-se para Elizabeth, não disfarçando sua antipatia – Quem é ela?
- Ah, muito prazer. Sou Elizabeth Bennet. - falou sorrindo. Mas seu modo educado não foi correspondido.
- Ah... – ignorando Lizzy, virou-se para Georgiana, franzindo as sobrancelhas – Já a conhecia?
- Não. A conheci semana passada. Ela é amiga do meu irmão. – falou de propósito para irritar Caroline. Lizzy disfarçou um sorriso.
Caroline sentiu o sangue subir, mas controlou-se e perguntou:
- Amiga de seu irmão? Mas eu conheço todas suas amizades e posso dizer que nunca ouvi falar dela antes. – falou, fingindo tranqüilidade.
- Na verdade, sou funcionária do hotel. E foi lá que conheci Georgiana. Estou apenas ajudando-a, a pedido de seu irmão, a procurar uma escola adequada.
Caroline suspirou aliviada e enfim disse:
- Mas Georgiana, meu amor, podia ter pedido a mim. Eu teria prazer em procurar um colégio com você.
Georgiana deu um sorriso amarelo como resposta.
Sentadas a mesa, Georgiana deu seqüência ao plano, tal como combinou com Elizabeth.
- Caroline, como andam as obras da sua casa?
- Ah, está bem pior do que a última vez que a viu. Não podes imaginar a bagunça em que se encontra.
- Então não planejas deixar nossa casa tão cedo? Sabe, Caroline, embora não pareça, eu sei o que pretendes. E devo dizer que me agradaria muito vê-la namorando novamente o meu irmão – mentiu, esboçando um sorriso. Para ela era difícil tal fingimento, mas precisava fazer um esforço para auxiliar o irmão que tanto amava - e que acho que estender sua permanência aqui só serviria para prejudicá-la.
Caroline fitou-a, curiosa. Lizzy as observava em silêncio, se policiando para não rir.
- Como assim? Não estou entendendo.
- Sei que meu irmão gosta de você ainda, minha cunhada. Mas acho que ele está se sentindo sufocado. Você deve dar espaço para ele, Caroline. Tenho certeza de que se deixá-lo um pouco livre, sem vê-lo, sem procurá-lo, sumindo por um tempo, ele em seguida sentirá sua falta e virá atrás de você.
- Você acha mesmo? – Caroline parecia ter achado tal idéia interessante.
- Com certeza. Acho que em uma semana você o teria de volta. Talvez um pouco mais, pois meu irmão é meio lento para essas coisas. Mas no máximo em um mês, ou dois, penso que ele se veria apaixonado novamente.
Caroline sorria alegremente, pensando nesta possibilidade.
- Ou quanto sumisse o perfume do travesseiro – Lizzy enfim comentou, e Georgiana a olhou agradecida.
- O que? - Caroline a fitou, não disfarçando seu desprezo.
- Sim, o cheiro do travesseiro – Georgiana interveio – É uma metáfora, Caroline. Como no filme “Como perder um homem em dez dias”.
- Não vi este filme. Não sei a que vocês se referem. – Respondeu a contragosto.
- O casal termina, ela vai embora da casa dele, e algum tempo depois, não sei bem quanto, ele a procura. Pois o perfume que ela colocou no travesseiro dele desapareceu, e ele, com a ausência do cheiro, percebe que sente falta dela, e que a ama. – Lizzy explicou divertida.
- Sim, isto mesmo. Entende aonde eu quero chegar, Caroline? Se o fizer sentir saudades, penso que meu irmão correrá para seus braços novamente.
Caroline suspirou visivelmente agradada com a idéia, e respondeu:
- Vou pensar.
Lizzy e Georgiana se olharam satisfeita. Eram cúmplices. E estavam torcendo para que Caroline agisse conforme tinham previsto.
Durante a tarde, Caroline procurou evitá-las, pois não considerava Elizabeth Bennet uma companhia adequada, visto que era apenas uma funcionária do hotel. E por isso, insignificante, não merecendo sua atenção. E além do mais, o fato de perceber sua intimidade com sua ex-cunhada, vendo o modo como se relacionavam – parecendo duas grandes amigas - fazia com que sentisse incomodada.
Georgiana fez questão de mostrar o álbum de fotos da família. E Lizzy ao ver uma foto de Darcy quando criança, não pode evitar um comentário:
- Nossa! Que gracinha! Ele já era lindo desde pequeno! – disse automaticamente, sem pensar. Mas ao perceber que falara demais, levantou as sobrancelhas, e levou a mão à boca, assustada.
Georgiana riu, mas agiu de forma discreta, não fazendo nenhum comentário. O dia inteiro estava analisando Elizabeth Bennet. Queria saber se o sentimento que seu irmão nutria por ela era mútuo. E não precisava deste último comentário para confirmar o que já tivera certeza.
O resto da tarde passaram na piscina, aproveitando o dia ensolarado e quente. Georgiana emprestou um biquíni a Lizzy. Era um pouco maior dos que estava acostumada, mas serviu bem.
Na despedida de Elizabeth, Georgiana tocou no assunto que adiara durante todo dia:
- Obrigada pela companhia, Lizzy. Foi muito agradável! Mas agora tenho que te falar que pretendo abusar um pouco mais de você.
Lizzy a olhou, curiosa.
- Em menos de dois meses será a inauguração dos hotéis de Florianópolis e o de Minas Gerais, conforme o previsto – prosseguiu – Apenas o daqui de São Paulo é que atrasará um pouco, por alguns problemas surgiram durante as obras. Penso que demorará quase um mês a mais – suspirou - Mas mesmo assim, manteremos o cronograma inicial. A data de inauguração já foi divulgada e a imprensa, os fornecedores e até os investidores já estão no aguardo. Então faremos uma cerimônia de inauguração com um coquetel de lançamento, na mesma data em que foi definida anteriormente. E meu irmão, Lizzy, quer que eu me envolva mais com os negócios da família, e colocou em minhas mãos organizar tal evento – fez uma pausa e respirou fundo – mas não darei conta disto sozinha, precisarei da tua ajuda.
- Minha ajuda? – Lizzy indagou, assombrada – Mas eu não entendo nada do assunto!
- Não é nada demais Elizabeth. Teremos uma equipe para nos auxiliar, que nos darão diversas sugestões e apenas escolheremos entre as opções. Até que eu entenda mais sobre o assunto e tenha as minhas próprias idéias.
- Hum... Entendo. Mas porque eu?
- Porque você é funcionária do hotel e meu irmão escolheu você, Lizzy.
- Oh! - Tal frase pegou Elizabeth de surpresa, ela não conseguiu pronunciar uma única palavra.
Georgiana sorriu, e continuou:
- Creio que você não tem como negar um pedido de meu irmão – fez uma pausa - Mas ele acha que você é a pessoa mais adequada para isto. Ele confia em você, Lizzy. Desculpa não ter tocado antes no assunto, mas tive medo de te aborrecer.
Ficaram em silêncio.
Então Georgiana perguntou:
- Então, o que você acha? Posso contar contigo?
- Sim, pode sim. Mas já aviso que não entendo nada do assunto, acho que mais atrapalharei do que ajudarei.
- Não seja tão modesta, Lizzy. Tenho certeza que se sairá muito bem. Mas está ciente que Caroline estará presente?
- Sim.
- E sabe que ela a odiará, por você estar ocupando uma função que costumava ser dela?
- Sim... Já imaginava – respondeu. – Mas não ligo a mínima para o que ela pensa, Georgiana.
- Que bom, Lizzy. Nem eu. Mas minha tia Catherine de Bourgh também estará presente. E já te adianto que ela também não gostará nada de te ver ocupando o lugar de Caroline.
Lizzy suspirou. Não estava ocupando o lugar de Caroline. Pelo menos não da forma como gostaria.
*
*
Capítulo 14
*
Lizzy estava há mais de trinta minutos em frente do computador, estagnada, e não conseguia concluir o e-mail. Tinha um monte de tarefas a cumprir, mas não podia se concentrar em mais nada, somente pensava sobre o que teria que escrever. Tudo o que tinha feito até o momento era:
Para: fitzdarcy@pemberley.com
De: lizbennet@pemberley.com
Assunto: Escola de Georgiana
Respirou fundo, suspirando.
O dia anterior mexera muito com ela. Descobriu que a companhia de Georgiana Darcy era muito agradável e que o fato de ser rica não impedira uma grande afinidade entre elas. Georgiana era simples, simpática e Lizzy se surpreendeu pensando que adoraria poder chamá-la de irmã.
E estar na casa dele – e que casa, diga-se de passagem! – era como se pudesse conhecê-lo um pouco melhor, e tal fato fazia com que se sentisse mais próxima de sua realidade. Era como se finalmente pudesse crer que um envolvimento entre eles era algo viável e perfeitamente possível. E vendo as fotos de sua infância, não pôde deixar de sonhar com seus próprios filhos.
“Querido Fitzwilliam Darcy,
Não posso mais me calar! Estou morrendo de saudades! Penso em ti diariamente e tenho que te dizer algo que está me matando: eu te amo, te amo, te amo, te amo, te amo!”
Escreveu sem pensar. Todas as palavras que estavam engasgadas, entaladas em sua garganta, saíram automaticamente. Tinha optado por se calar, não desabafando e não dividindo com ninguém seu sofrimento. E isto a estava sufocando, consumindo todas suas energias.
Mas não teve coragem de enviar. Estava alterada, mas não insana.
- Elizabeth! Você ainda está ai? Porque a demora? – Alberto a chamou de volta a realidade.
E com o susto, Lizzy deletou rapidamente o que havia escrito.
- Ah... Desculpe Alberto... Estava distraída, não o vi chegar.
- Temos muito o que fazer hoje, Elizabeth.
- Sim, eu sei.... – respondeu gaguejando – Mas.... O Sr. Darcy me pediu.... Tenho que escrever um e-mail a ele.
Alberto a olhou, curioso.
- Sobre a escola da Georgiana.... que a gente visitou ontem...
- Ah... – Alberto ficou desconfiado. Elizabeth ultimamente estava sendo muito solicitada pelos irmãos Darcys. Mas não fez nenhum comentário – Bom, se é um pedido do Sr. Darcy.... Mas Lizzy, se apresse, está bem? – falou saindo da sala, deixando-a sozinha.
Lizzy suspirou, e por fim escreveu sem pensar muito, mordendo o cantinho do lábio:
“Sr. Darcy,
Creio que a escola preferida por Georgiana é uma boa escolha, perfeitamente adequada para sua educação. Os professores são bem preparados e penso que as disciplinas oferecidas lhe darão um bom conhecimento. E a falta do ensino de algumas línguas, que sei que gostarias que ela falasse com fluência, pode muito bem ser compensada por alguma aula extra num curso especifico para isto.
As aulas de pianos me pareceram alegrá-la imensamente, e acho que a sua felicidade por si só já justifica essa decisão.
Obrigada pela confiança,
Elizabeth Bennet.”
Darcy aguardava com ansiedade o e-mail de Elizabeth, como sua irmã lhe prometera. Inicialmente, achava que ele não era necessário, pois não tinha como duvidar da decisão das duas mulheres que mais amava.
Sim, agora estava plenamente consciente que amava Elizabeth Bennet. Não mais lutando contra seus sentimentos, e não mais podendo negar a intensidade deste amor. Todas as resistências anteriores, todas as barreiras que havia pensando existir entre eles, já não importavam.
“Que se dane o resto do mundo! Que me importa o que os outros pensam? A única coisa que eu preciso para ser feliz é tê-la ao meu lado!”
E como estava com saudades de Elizabeth, ansiando por notícias dela, sentia uma necessidade urgente de receber tal e-mail. Mesmo que fosse um e-mail formal, mesmo que ela não lhe escrevesse nada de extraordinário, precisava saber dela!
E desde cedo checava sua caixa de e-mail a cada minuto. Mas quando este finalmente chegou, não pode deixar de se sentir desanimado. Já esperava que fosse assim, direto, sem nada demais, mas tinha esperanças de perceber algum interesse por parte dela.
Mas a última frase: “Obrigada pela confiança” ficou ecoando em seus pensamentos. “Sim, Lizzy. Confio em você. Como não poderia? Entregaria minha vida a você!” – pensou.
Darcy demorou uma semana para responder tal e-mail. Não pela falta de tempo, mas porque não sabia como fazê-lo. Achava que não seria adequado escrever o que realmente gostaria. Pelo menos não por enquanto, antes de conversarem.
Finalmente escreveu:
“Para: lizbennet@pemberley.com
De: fitzdarcy@pemberley.com
Assunto: Re: Escola de Georgiana
Cara Sta. Elizabeth Bennet,
Desculpe a demora para responder teu e-mail, tenho andado um pouco atarefado. Minha viagem está se prolongando mais do que eu gostaria, e ainda não tenho previsão de quando poderei retornar. Mas assim que for possível, pretendo agradecê-la pessoalmente pela atenção que tens dedicado a Georgiana.
Claro que eu confio em tua escolha, Elizabeth. Nunca duvides disso.
Não querendo abusar mais de ti – mas já o fazendo - peço que olhes por minha irmã enquanto eu estiver fora. Quero que faças com que ela se sinta segura para tomar suas próprias decisões. A ajude no que for necessário, Elizabeth. E não se preocupe se inicialmente não souberem bem o que fazer na organização deste evento, pois tenho certeza que vocês duas se sairão muito bem.
Obrigado por tudo,
Fitzwilliam Darcy.”
E esta foi toda a comunicação que tiveram neste período de separação, pois Elizabeth optou por não responder seu e-mail. Era perigoso demais.
*
- Lizzy! Vem aqui, preciso lhe falar um momento!
Ela sorriu e seguiu em direção a ele. Certamente Jonas queria comentar algo sobre o jantar da noite anterior.
- Adorei a Natália, Jonas. Ela é um amor. – ela disse alegremente.
- Sim, ela também apreciou muito a tua companhia – fez uma pausa, olhando para os lados. E como não viu ninguém, prosseguiu – Mas é sobre outro assunto que quero te falar.
Ela o olhou, curiosa.
- Sobre o primo Collins? – perguntou ansiosa, elevando um pouco a voz.
- Lizzy! Fale baixo! Quer que Charlotte nos ouça? – Jonas a repreendeu assustado. E novamente certificou-se que estavam sozinhos.
- Não! – Ela arregalou os olhos, tapando a boca com a mão – Tem razão. Não me controlei. Mas estou muito curiosa!
Ele sorriu.
- Na verdade, Lizzy, não tenho muito para te contar.
- Não? Como assim? – perguntou aflita – ele é ou não?
- Meu irmão não teve certeza. Ele acha que sim, mas acha que Collins está em conflito.
- Conflito? Como assim?
- Que ele ainda não admite tal fato, que luta contra sua vontade.
-É?
- Sim. Eduardo tem quase certeza que Collins é gay, apesar de achar que ele nunca teve um relacionamento com um homem. Que ele ainda não se assumiu e que é uma pessoa infeliz por isso. Amargurado e torturado por tentar esconder de si mesmo seus próprios sentimentos. De lutar contra algo que ele não pode mudar. Compreende?
Lizzy suspirou. Compreendia bem mais do que ele podia supor. Lutar contra suas emoções e sentir-se atormentada por isto era algo que ela estava completamente habituada.
- Eduardo me comentou que gostaria de continuar a analisar sua personalidade. Ele tem a pretensão de ajudá-lo porque já passou por um período semelhante. – faz uma pausa, respirando fundo. Não sabia se a amiga estranharia ou não o que lhe pediria – Ele quer o celular de William Collins, Lizzy. E visto que eles se deram tão bem ontem à noite, acho que não teríamos porque negar este pedido. Você tem o número?
- Acho que sim, deixa eu ver... – Lizzy respondeu, confusa. Mas não demorou a encontrá-lo na memória de seu celular - Sim. Aqui está.
Jonas tomou nota do telefone.
- E Lizzy, mas uma coisa.... Não sei se foi impressão minha, pois conheço Charlotte há pouco tempo.... Mas a achei muito quieta ontem, mais retraída do que o normal. Não sei se ela é sempre assim na companhia de Collins...., nunca pude observá-los juntos antes.
- Sim! Nem eu! – falou de maneira brusca, nervosa - Mas concordo plenamente contigo. Para mim ela não parecia à vontade, como se algo a perturbasse. Pobre Charlotte! O que será que se passa em sua cabeça?
Mas isto era algo que Lizzy não ousava lhe perguntar.
Tal jantar ocorreu no dia 22 de fevereiro. No mesmo dia que Jane Bennet e Charles Bingley pegaram um avião com destino a Minas Gerais, mais precisamente, para a capital Belo Horizonte.
*
No dia 3 de março, iniciariam as aulas de Georgiana. Ela então aproveitou sua última semana de férias e pegou um vôo para Fortaleza.
Charles Bingley e Jane Bennet seguiram de Minas Gerais direto para o Nordeste Brasileiro. Tinham planos de se encontrarem com os irmãos Darcys e também de aproveitarem a viagem para Charles mostrar a Jane detalhes administrativos dos oito hotéis da região.
- Querido irmão! Que saudades! – Georgiana se atirou em seus braços logo que o viu esperando por ela no aeroporto. Darcy a recebeu com a mesma alegria.
Ele estava mais bonito do que nunca.
- Está bronzeado, meu irmão! – ela comentou
- Sim. Tive alguns momentos de folga e aproveitei para ir à praia.
- E está um gato! Pena que Elizabeth não possa te ver agora! Certamente não resistiria aos teus encantos.
Ele sorriu com tristeza.
- E como ela está? – perguntou melancólico.
- Está bem. Tem me ajudado bastante e tem sido uma ótima companhia.
- E o que você acha dela? Gosta dela? – falou, deixando trair certa ansiedade.
- Sim! Gosto muito! Sabia que ela me ajudou a me livrar de Caroline?
- É mesmo? – contestou incrédulo. – Caroline foi embora?
- Sim! Um dia depois que visitarmos os colégios. Mas não quis te contar antes para te surpreender – sorriu satisfeita – A idéia foi minha.
E Georgiana contou a ele o que haviam feito. Ele ficou admirado com a esperteza de sua irmã. Tinha que afinal admitir que Georgiana não era mais uma garotinha.
Charles e Jane se juntaram a eles dois dias após a chegada de Georgiana. As duas mulheres nunca haviam se visto anteriormente, apesar de já simpatizarem uma com a outra. Pois era como se já fossem amigas pelo intermédio de Lizzy. E como os quatro passaram muito tempo juntos, logo elas estavam perfeitamente entrosadas.
Darcy, por sua vez, estava pouco a vontade com a presença de Jane. Sempre sentira dificuldades para conversar com alguém que pouco conhecia, – falha que estava se esforçando para modificar - mas sua semelhança com a irmã fazia com que ficasse mais retraído e até um pouco melancólico.
E na primeira oportunidade que Charles e Darcy ficaram sozinhos, eles conversaram.
- Darcy, meu amigo. Estou te achando um pouco mais quieto que o normal. Meio cabisbaixo. Algo o perturba?
- Não, meu amigo. Só estou cansado. Está investigação está consumindo mais tempo e energia do que eu gostaria. – mentiu.
- Sim – Charles suspirou, fingindo acreditar – Mas então é verdade? Estamos sendo mesmo roubados?
Ele assentiu com a cabeça, calado.
- E creio que essa pessoa desvia dinheiro há mais de dois anos, meu amigo. Ainda estou seguindo seus passos. E cada vez percebo maior o rombo. Mas ele foi muito esperto, quase não deixou rastros. Penso que será difícil incriminá-lo.
- Hum... – Charles pensou um pouco – Mas como é possível tamanha ingratidão? Como ele pode retribuir desta maneira tudo o que nossas famílias fizeram por ele?
- Não sei, Charles. Mas nem todas as pessoas são boas como você pensa. – fez uma pausa - Mas peço que não comentes nada com ninguém, pelo menos por enquanto. Não até que eu consiga provas suficientes para condená-lo.
- Claro! E nem te preocupe com nada! Fique por aqui o tempo que for preciso, que eu cuido do resto.
Darcy sorriu aliviado, e respondeu:
- Sim, obrigado, Charles. Acho que só voltarei a tempo para o coquetel de inauguração. Assim que concluir aqui, sigo para Londres. Minha tia Catherine está solicitando minha presença por lá.
*
*
Capítulo 15
*
- Elizabeth, telefone para você. – Alberto lhe falou, alcançando o aparelho.
Era cedo da manhã, e ela recém tinha descido para começar o novo dia de trabalho.
- Lizzy? É você? – Ela reconheceu a voz de Georgiana – Estou passando ai para te pegar em trinta minutos, tá? Beijos, tchau! – E desligou, sem dar tempo para qualquer resposta.
- Estou tão ansiosa! – Georgiana falava agitada, com o carro em movimento - O tempo passou tão depressa! Nem parece que a cerimônia de inauguração já é hoje à noite! Acho que está tudo bem, não achas?
Lizzy assentiu.
- Acho que dará tudo certo! Mas quero passar lá agora para vermos os últimos detalhes. – ela falava e gesticulava muito.
- Mas Georgiana? Já vimos os últimos detalhes ontem a noite!
- Sim! Eu sei.... mas quero ter certeza! Algo pode ter mudado desde ontem.
Lizzy deu risadas, e completou:
- Sim, com certeza! Deve ter havido alguma grande mudança! – ironizou, cutucando-a e sorrindo.
Georgiana também sorriu e relaxou um pouco.
- Meu irmão chegou ontem de madrugada – fez uma pausa, cruzando os braços, e olhando para a amiga - mas eu ainda não o vi.
Lizzy não esboçou nenhuma reação. Apenas depois de um tempo levantou as sobrancelhas e perguntou:
- É? – mas estava em choque, não sabia com reagir. E Georgiana a observava, divertida. Lizzy não percebia, achava que disfarçava bem, mas era claramente visível que estava apaixonada por ele.
Estavam no salão de festas há quase quarenta minutos, vendo os últimos detalhes, como Georgiana dissera - que na realidade não eram os últimos detalhes, eram todos os detalhes!
Lizzy, antes tranqüila, estava agora bem nervosa – talvez mais do que Georgiana. Diversas vezes, parava e contava até dez para se acalmar. Mas fingia não saber o que realmente a afligia. Só que na verdade sabia bem, mas estava evitando pensar no assunto...
Ela estava de costas quando ouviu uma voz conhecida, se aproximando:
- Ah! Vocês estão ai? Estava procurando por vocês!
Não precisou se virar para saber de quem se tratava. Fechou os olhos e respirou fundo. Precisava ganhar tempo.
Ela não se encontrava ao lado de Georgiana no momento, mas percebeu quando esta correu para abraçar o irmão.
- William! Que saudades! – falou alegremente, e ele correspondeu com o mesmo entusiasmo.
Ela enfim se virou para observá-los, lentamente. E seus olhos se encontraram. Ele largou a irmã e seguiu em direção a ela. Georgiana, querendo deixá-los sozinhos, arranjou uma desculpa e se afastou.
Estavam finalmente frente a frente, após dois meses de separação. Lizzy pensava que era impossível, mas o achou ainda mais lindo.
Ele estava vestido de forma casual, e como não estavam mais no verão, trajava uma camisa social de manga cumprida, com os punhos levemente dobrados. Era uma visão irresistível. E seus olhos estavam ainda mais azuis.
Lizzy não sabia o que falar. Apenas o olhava. Ele parou a sua frente, separado dela por apenas alguns centímetros. Podia sentir sua respiração, seu perfume. E ele também não dizia nada.
E ficaram assim por alguns minutos, apenas se fitando. Como se não houvesse necessidade de romper o silêncio. Como se as palavras não fossem necessárias.
Estavam distraídos, encantados um com o outro.
Ele enfim sorriu e falou. Seus olhos brilhavam de satisfação:
- Obrigado, Elizabeth.
- Hã....? – ela murmurou
- Obrigado pelo que tens feito pela minha irmã – Pegou a mão dela e a levou aos lábios.
- Hum.... – ela não conseguia articular as palavras. Apenas o olhava. E ele manteve a mão dela presa a sua, suspensa no ar, sem a largar por um longo tempo.
E passos começaram a ser percebidos ao longe. Um “plac, plac, plac...” cada vez mais sonoro e próximo. Batidas de sapatos irritantemente altas.
Mas eles pareciam não se importar, e continuavam percebendo apenas um ao outro.
Mas o “plac, plac, plac” parecia proposital. Como se fizesse questão de chamar-lhes atenção. E como não teve sucesso, logo foi seguido por um estridente grito:
- Fitzwillliam! O que você está fazendo? Estamos atrasados!
Ele se virou, assustado. Esquecera completamente sua tia Catherine!
Esquecera que ela ficara esperando por ele no carro. Ele pretendia entrar por breves minutos com a desculpa de cumprimentar Georgiana – mas ansiando em ver Lizzy -, porém perdeu totalmente a noção de tempo. E sua tia ficara aguardando por ele e certamente estava impaciente.
E agora ela vira tudo, e ele temia por sua grosseria com Elizabeth.
- Vamos! – ela ordenou, ignorando completamente a presença de Lizzy.
Lizzy olhava com surpresa, ora para um, ora para outro.
Darcy tentou apresentá-las, mas sua tia respondeu:
- Não temos tempo para isto agora! – e saiu, virando-lhe às costas.
Darcy ficou parado, atônito. Sua tia fora rude e mal educada, e a repreenderia depois por isto. Mas agora precisava se desculpar com Lizzy.
Ficou parado por alguns segundos, envergonhado, sem saber o que dizer.
Mas logo se aproximou dela, e falou:
- Desculpe por minha tia.... não sei o que te dizer...
Ela respondeu gentilmente:
- Não tem importância.... já esperava isto.... – fez uma pausa – Sabe, a fama de tua tia já tinha chegado aos meus ouvidos – Ela sorriu.
Era como não houvessem sido interrompidos. Lizzy estava agora completamente relaxada, olhando novamente em seus olhos.
Isto fez com que ele se sentisse mais a vontade, e ele retribuiu o sorriso, satisfeito.
Mas a lembrança de sua tia lhe trouxe de volta a realidade, e visando evitar um novo escândalo, se despediu de Elizabeth.
Antes de sair, se aproximou dela, beijando-lhe o rosto suavemente.
- Nos encontramos à noite? – ele perguntou alegre.
- Sim – ela também não disfarçava seu contentamento.
Ele saiu.
Ela continuou por alguns minutos, parada na mesma posição, com a mão beijada encostada ao rosto, suspirando.
Durante todo o tempo, Georgiana os observava escondida. E como estava longe e ninguém podia lhe ver, dava pulinhos de alegria.
- Lizzy! – Georgiana gritou, a tirando do transe. – Pronto! Creio que agora esteja tudo perfeito! Comida perfeita, decoração perfeita, bebidas perfeitas.... – falava, enumerando nos dedos. – Tudo perfeitamente, perfeito! Eu acho... – sorriu amarelo.
Ficou pensativa, então deu um salto, levando a mão à testa e depois à boca.
-Lizzy! E nós? O que vestiremos? Também temos que estar perfeitas!
- Oh...! É mesmo! - Lizzy ficou chocada, arregalando os olhos.
Estavam há tantos dias envolvidas com os preparativos, tão absorvidas com pequenos detalhes que lhes consumiam energia e tempo, que sequer tinham se lembrando que teriam que vestir algo. E não imaginavam como poderiam ter negligenciado tal assunto, que agora lhes parecia a coisa mais importante do mundo! Elas - mais do que todo o resto - deveriam estar perfeitas!
E tal idéia parecia assustadora.
- Oh! Ainda não são dez horas, vamos para o shopping agora! – Georgiana falou, enquanto puxava Lizzy pelo braço sem aguardar resposta.
Mas esta ida de última hora ao shopping não estava sendo nada agradável para ambas.
Apesar de ser de manhã, o horário de menor movimento, o fato de ser sábado não fazia que esse menor movimento fosse realmente pouco movimento. Não! Estava cheio, barulhento, e era quase impossível enxergar uma roupa, quanto mais ainda prová-la.
- Arf! – Georgiana bufou, um gemido incompressível, ao saírem de uma loja – O vestido era lindo, Lizzy! – reclamou, rosnando.
- Sim! Mas dois mil reais por aquele pedaço de pano, Georgiana?
Georgiana a olhou, irritada.
- Lizzy! Mas é o hotel quem pagará! É para um evento do hotel! Não é justo que você pague por ele.
Lizzy suspirou.
- Eu sei, eu sei. Mas um vestido de dois mil reais? E toda essa fortuna por um vestido simples daqueles! Mesmo se fosse um espetáculo, mesmo assim eu não me sentiria a vontade usando um vestido com esse preço.
- Tudo bem, Lizzy – Georgiana falou, conformada. – E qual o preço para você se sentir a vontade?
- Ah.. – pensou - Uns duzentos reais.
- Duzentos reais, Lizzy! _ Georgiana gritou, desesperada. Estava prestes a arrancar seus cabelos.
Realmente, fazerem compras juntas estava sendo um verdadeiro suplício.
“Devia ter tirado as medidas dela e comprado eu mesmo. Mas que organizadora de eventos incompetente que eu sou! “ – Georgiana pensava, se amaldiçoando.
Essa jornada lhes consumiu mais do que a manhã e já eram duas da tarde, e estavam no segundo shopping, com os estômagos roncando, quando o que parecia impossível aconteceu.
- Prove esse, Lizzy! - Georgiana ordenou, lhe alcançando o vestido.
Lizzy o agarrou, já procurando pela etiqueta com o preço.
Georgiana respirou fundo. Já estava de saco cheio e queria ir embora. Agora já não mais importava se elas não estivessem perfeitas, desde que simplesmente tivessem o que vestir.
- Lizzy! Esta loja está em liquidação! Nada custa mais do que quatrocentos reais. Prove de uma vez, ok? – falou, não disfarçando sua irritação. Adorava a nova amiga, mas tinha que admitir que ela era um pouco teimosa, sendo por isto difícil de lidar.
- Ok – Lizzy pegou o vestido da cor grafite e o levou para dentro do provador.
Georgiana sentou-se num pequeno pufe branco, em frente à porta em que Lizzy se encontrava, e abafou um bocejo, esfregando os olhos cansados.
- E então, o que achas? – Lizzy perguntou para uma Georgiana distraída.
- Lizzy! Você está simplesmente linda! – respondeu boquiaberta, com os olhinhos brilhando.
O vestido era da cor grafite e quando em movimento brilhava conforme a luz. Era frente única e terminava na altura do joelho.
- Eu também gostei! – falou, enquanto girava em frente do espelho, parecendo uma criança com um presente novo.
- E eu? Será que tem um para mim parecido com este? Acho que ia ser legal se ficássemos parecidas, já que juntas receberemos os convidados.
- Parecido? Mas não ia ficar estranho?
- Parecido, Lizzy. Não igual! – Ela replicou, procurando entre os vestidos. – Tipo esse!
Era um vestido azul marinho, do mesmo tecido de Lizzy, mas do tipo tomara que caia.
- Lindo, Georgiana! Prove de uma vez! – Lizzy respondeu eufórica.
E as duas ficaram satisfeitas olhando seus reflexos no espelho.
Mas os minutos de alegria duraram pouco, ao se depararem com outra dúvida:
- E os sapatos, Lizzy? Que sapatos usaremos? – Georgiana suspirou resignada.
Mas logo a vendedora apareceu com sapatos da própria loja, que combinavam perfeitamente com os trajes escolhidos.
Lizzy desta vez nem perguntou o preço, estava exausta. Não tinha mais forças para percorrer mais nenhuma loja. E também não argumentou quando escutou baixinho a vendedora dizendo que o preço do seu vestido era trezentos e cinqüenta reais, quase o dobro do valor estipulado por ela.
Seus pensamentos agora voavam longe, em outra direção: “ele me achará bonita!” – suspirou, feliz.
Almoçaram no shopping em que estavam. E em seguida saíram apressadas, pois às 15 horas tinham horário no cabeleireiro.
Lizzy achava graça que disso Georgiana não esquecera, agendando o horário com antecedência. Não podia compreender quando um cabelo impecável e mãos e pés imaculáveis tinham se tornado mais importantes do que a própria vestimenta.

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