sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Um Certo Orgulho e Preconceito - Tânia Picon

Um Certo Orgulho e Preconceito - fanfic de Orgulho e Preconceito
Capítulos 6 a 10.
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Capítulo 6
*
Demorou uns quinze minutos para ele vir atrás e sentar ao seu lado. Durante este período, Lizzy se acalmou. Seu coração desacelerou, voltando aos batimentos normais, e ela então pode refletir:
“Se estou sentindo tudo isto só com a expectativa, imagina o que sentirei com o beijo.“ – E se deu conta que tinha uma necessidade urgente de beijá-lo.
“Preciso deste beijo! Mas e se ele ficou ofendido pelo jeito que eu saí? E se ele não me quiser mais? E se ele não tentar mais nada?”
E começou a se desesperar com a idéia.
“Preciso saber como vai ser. Tenho que fazer alguma coisa. Agora já é tarde para voltar atrás... ”
“Preciso deste beijo, de qualquer jeito.”_ conclui ao perceber que ele se aproximava.
**
Darcy chegou em silêncio e sentou na toalha. A cesta ficou entre eles, um em cada ponta. Colocou sua camisa sem dizer uma palavra. Estava sério, como se estivesse contrariado. Lizzy percebeu, mas fingiu que estava tudo bem.
- Estava te esperando! O que tem nesta cesta? Estou morrendo de fome! – disse sorrindo e olhando para ele. – Acho que seria capaz de comer um daqueles bois do caminho inteirinho!
Ele a olhou e deu um sorriso com o canto da boca. Não conseguia ficar brabo com ela.
- Nem eu sei. A Lourdes que preparou.
- Posso abrir?
Fez que sim com a cabeça, ainda não estava muito à vontade para falar.
Lizzy abriu a cesta e tirou uma bolsa térmica. Viu ao fundo algumas frutas, como maça, banana e uvas, mas não se interessou por elas pelo momento. Pegou também dois copos, dois pratos e guardanapos de tecido extremamente brancos. E abriu a bolsa térmica para ver seu conteúdo.
- Hum... Suco! E bem geladinho ainda! E tem dois! Do que será que são? – e não esperou a resposta – Tirou a tampa das garrafas e foi cheirar. Hum... laranja! – e fez uma careta – Esse eu não quero, não me traz boas lembranças. – e olhou para ele.
Ele não pode deixar de rir ao lembrar de certa ocasião. Mas continuou calado. Então ela falou:
- Ultimamente não me dei muito bem com suco de laranja. E prefiro não correr esse risco, afinal tua camisa está tão branquinha!
E ambos deram risadas.
- Deixa eu ver de que sabor é o outro – Lizzy continuou – Hum... pelo cheiro acho que é de melancia. Vou provar – e colocou no copo e bebeu um gole – Muito bom! Posso escolher este?
- Claro, Lizzy – ele já estava mais relaxado, e parecia estar voltando ao normal.
- E para comer? O que será que tem? – E achou uns sanduíches na bolsa térmica – Do que será que eles são?
- Não faço a menor idéia, Lizzy.
- Posso escolher primeiro?
- Claro!
E Lizzy resolveu escolher pelo cheiro. Tinha quatro sanduíches, todos diferentes, mas com aromas igualmente deliciosos.
- Hum... todos parecem tão saborosos! Vou fechar os olhos e pegar um na sorte.
E foi o que fez. E comeu com tal entusiasmo que Darcy ficou admirado. Enfim também escolheu um sanduíche e ambos ficaram em silêncio.
- Hum... que delícia! Estou satisfeita!
- Com apenas um? Mas isto é muito pouco para quem disse que comeria um boi inteiro!
E riram.
“Consegui “- pensou Lizzy contente – “Consegui deixá-lo à vontade. Mas será que ele vai tentar me beijar de novo? “
- Eu vou comer mais um. – Darcy disse, enquanto pegava outro sanduíche – Este está ótimo também! Quer um pedaço?
- Não, obrigada. Já comi o bastante.
Lizzy resolveu guardar seu prato na cesta e viu algo na bolsa térmica que chamou sua atenção.
- O que tem neste potinho? Parece interessante... – disse, retirando-o em seguida e logo abrindo a tampa – Mousse de chocolate! Será isto mesmo? – perguntou, enquanto seus olhos brilhavam.
- Deixa eu ver. Sim! – Darcy pegou um para ele também, parecia surpreso e feliz - Lourdes fazia para mim quando eu era criança. Os melhores mousses que eu já provei!
- Hum... acho que é o melhor mousse que eu já comi também! Não posso esquecer de dar os parabéns a ela quando voltarmos.
Ambos acabaram de comer.
Lizzy sentou ao lado dele.
- Estou tão feliz! O dia foi tão agradável! Me diverti bastante. Muito obrigada! – ela disse, beijando o rosto dele.
Ele ficou surpreso, mas permaneceu imóvel.
- Estou tão cansada! Quero ver como estarei amanhã. Ando tão sedentária, não tenho tempo para fazer exercício. Imagina a dor no corpo que eu sentirei! O cavalo já me deixou dolorida só da ida, e ainda tem a volta! Mas não posso reclamar de nada, está sendo ótimo! Vamos descansar um pouco antes de voltar?
Ele fez um sinal afirmativo com a cabeça.
- Que bom! – ela colocou o braço em volta dele e apoiou a cabeça em seu ombro para descansar. Ficaram em silêncio.
Darcy em seguida a abraçou e a trouxe para junto dele, para que ela se acomodasse melhor. Ela ficou com a cabeça apoiada em seu peito, envolvida em seus braços, e ficaram um tempo nesta posição. Estava tão confortável, que Lizzy quase adormeceu.
- Lizzy? - Darcy chamou
- Que...? - Ela disse, sem abrir os olhos.
- Temos que ir daqui a pouco.
- É? – levantou a cabeça e olhou para ele.
Seus olhos se encontraram e ele não pode mais resistir. Tinha muita vontade de beijá-la.
Colocou a mão em seu rosto e disse:
- Desta vez não a deixarei fugir.
Ela deu um sorriso. Queria este beijo e não estragaria novamente o momento.
E ele a beijou.

Começou como um beijo suave, seus lábios de se tocando de leve, com a boca entreaberta. Suas línguas se encontraram, e o beijo foi se tornando profundo, exprimindo todo o desejo que sentiam. Lizzy estava completamente entregue. Nada pensava, era como se o mundo parasse. Sentia sensações que não saberia descrever.
O abraço foi se tornando mais apertado, seus corpos foram ficando mais unidos. Ele lhe acariciava as costas e a trazia para mais perto. Algumas vezes subia as mãos para o pescoço, e Lizzy se arrepiava a cada toque. Estavam sentados ainda.
Lizzy envolvia o corpo dele com os braços, e o apertava com força. Era muito intenso o que sentia. Vez que outra acariciava seu peito, outras vezes suas costas, subindo as mãos até o pescoço e baixando até a cintura. Queria descer as mãos, mas não o fazia.
Então eles deitaram, de frente um para o outro, sem se largarem por nem um segundo. As carícias foram ficando mais ousadas. Lizzy estava sem fôlego, seu coração disparava, e ela não tinha consciência de mais nada.
O beijo demorou vários minutos. Estavam completamente entregues um ao outro. Era difícil pensar no que faziam. Lizzy não oferecia nenhuma resistência. Naquele momento, pertencia completamente a ele. Então ele falou ao seu ouvido:
- Lizzy? – falou bem baixinho
- hum? – ela perguntou, mais parecendo um gemido.
- Acho que devemos parar.
Ela se deu conta do que faziam. Como se levasse um susto, afastou-se um pouco dele.
“Nossa o que foi isso? O que está acontecendo comigo? Se ele não parasse.... se ele não parasse, certamente eu não lhe ofereceria nenhuma resistência.” - Lizzy pensou.
- Sim... – ela respondeu meio tonta. – Devemos sim...
E deitou-se um pouco com as costas para o chão. Ficou olhando para o céu. Ele a imitou, deitando próximo a ela, mas com um espaço entre eles.
Ambos aos poucos foram se recuperando. Retomando o fôlego. Precisavam de um tempo para refletir, para se recompor.
Alguns minutos depois, Lizzy se acalmou e passou a procurar por ele. Só agora percebeu que ele deitara a seu lado, e que parecia estar na mesma situação que ela.
Foi então para perto dele e deitou com a cabeça em seu ombro. Ficaram olhando juntos para o céu.
- Acho que está na hora de irmos. Senão ficará tarde. – Darcy falou, sem se mexer.
- Que horas será que são?
- Não tenho idéia. Deixa eu ver no meu relógio – e levantou para olhar as horas. O relógio estava no bolso de sua calça. – São 15 horas!
- Sério! - Lizzy levantou rapidamente – Nossa, que tarde! O tempo passou voando!
- Também achei.
Vestiram-se rapidamente, guardaram tudo, e logo já estavam pronto para voltar.
- Vamos apostar uma corrida? – e sem esperar resposta saiu em disparada.
Ele, pego de surpresa, saiu atrás, e demorou um pouco para alcançá-la.
Ele chamava por ela, mas ela estava tão distraída com seus pensamentos, que não percebeu. Estava de olhos fechados, curtindo a brisa que vinha com o movimento do cavalo, e nem olhou para trás.
- Lizzy! – ele gritava. Ela percebeu e diminuiu o ritmo.
Ele a alcançou, emparelhou seu cavalo com o dela, e puxou suas rédeas para reduzir a velocidade.
- Elizabeth! Sua irresponsável! Nunca mais faça uma coisa dessas! Não vê que pode ser perigoso?
Ela olhou para ele, fez uma cara de quem não compreendia.
- Perigoso?
- Sim, ainda hoje você não sabia nem subir em um cavalo. E agora acha que pode controlá-lo sozinha? E se ele não lhe obedece? Hein? Nesta velocidade! – ele falava aos berros, estava muito zangado.
Ela olhou para o chão. Parecia uma criança que descobrira que fez algo errado e que estava arrependida.
- Desculpe... eu não me dei conta.
Depois de um minuto em silêncio, ele falou:
- Me desculpe também, Lizzy. Fui um tanto grosseiro. Mas se algo acontecesse com você eu não poderia me perdoar. – Fez um pausa - Agora não saia mais do meu lado.
E assim continuaram o resto do caminho, lado a lado.
Durante o trajeto de volta, Lizzy falou sobre sua vida. Contou sobre sua família, em especial sobre Jane, mostrando o quanto se sentia ligada a ela, e omitiu alguns detalhes sobre sua mãe e o comportamento de suas irmãs mais novas.
*
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Capítulo 7
*
Chegaram, e Lizzy foi tomar banho. Colocou o vestido florido rosa e as sandálias de salto baixo. Era curtinho e mostrava suas pernas. Tinha também um decote nos seios que apesar de não muito revelador, era bastante insinuante. Secou o cabelo, colocou a mesma maquiagem leve de antes e desceu. Todas suas coisas já estavam preparadas para irem embora.
Sentiu um cheirinho irresistível e o seguiu até a cozinha. Chegou à porta e se deparou com Lourdes tirando um bolo do forno.
- Oi! Senti o cheiro e vim atrás. Posso entrar?
Lourdes se virou para ela e falou:
- Claro!
- Queria agradecer pelo nosso lanche. Estava perfeito. E o mousse de chocolate! Acho que foi o melhor que eu já comi na vida.
- Muito obrigada! E também fiz esse bolo para vocês. Já vão embora? Quer que eu embrulhe para levar?
- Se possível, gostaria de comer agora. Esse cheirinho me deu fome.
- Lógico! E leve um pouco para o Sr. Darcy também. – Ela cortou várias fatias e colocou em um prato – Vocês foram ao lago?
Lizzy respondeu que sim balançando a cabeça. Não podia falar, pois já estava com a boca cheia.
- Fico feliz em saber. Suspeitei que fossem, mas não tinha certeza. Sempre que ele passava o dia lá com seu pai, eu costumava recebe-los com um bolo e ele adorava. Nunca deixava esfriar. Por isso lembrei de fazer. Leve para ele, por favor? Ele está na varanda a sua espera.
Darcy estava sentado na varanda em frente da casa, aguardando-a.
- Já está pronta? – olhou o relógio. – Que rapidez!
- Eu sou uma mulher rápida – brincou, alcançando a ele o prato com as fatias de bolo.
- Sim, de fato é. Estava planejando esperá-la por pelo menos mais trinta minutos. – falou enquanto pegava o prato e provava uma fatia do bolo. – A Lourdes pensa em tudo! Esperar-nos com um bolo! Lembro da minha infância.
- Sim, ela me contou. Mas prove, está uma delícia, bem quentinho!
Ele concordou com ela.
- Agora temos um tempo livre – falou depois de engolir um pedaço – e gostaria de lhe mostrar algo que acho que irá gostar.
- Mais surpresas, suponho!
- Sim. – e sorriu
Acabaram de comer, Lizzy lambeu os dedos, que nem criança.
Ele levantou e ela o seguiu. Caminharam lado a lado. Em pé, Lizzy batia quase em seu ombro. Não se considera baixa, mas ele devia ter quase 1,90 metros de altura. Ele pegou sua mão, e eles foram de mãos dadas, como dois namorados.
- Vamos até aquele galpão lá em cima. - Apontou para o local. Não era longe, ficava a uns 200 metros, mas era uma subida íngreme. – Fiquei sabendo que uma ovelha deu cria, e foi colocada lá, separada dos outros animais.
Ela o olhou com curiosidade.
- Uma ovelha?
- Sim, já viu filhote de ovelha?
- Nunca. Devem ser tão fofinhos!
- De fato são. – E deu uma risada – Achei que iria gostar de ver.
Ela soltou sua mão e o abraçou pela cintura. Ele colocou o braço em seu ombro e passaram a caminhar abraçados. Chegaram ao galpão e Lizzy avistou a pequena ovelha.
- Que bonitinha! Será que posso chegar perto?
O filhote estava só, e Darcy olhou para os lados a procura da mãe.
- Enquanto ele estiver sozinho, sim. Mas se a mãe dele chegar deve evitar, pois ela pode não gostar e te machucar.
Lizzy olhou para ele como necessitasse de estímulo para se aproximar do animal. Estava curiosa, mas tinha medo que a mãe dele aparecesse.
- Pode ir Lizzy, eu fico cuidando para ti.
Ela se aproximou da ovelha e a tocou.
- Que fofinha! – sorriu - mas ela é muito fedida, não é?
Ele riu:
- É. Algumas ovelhas têm esse cheiro forte de gordura.
Ela fez uma careta, mas voltou a acariciar o animal.
- Agora vamos sair daqui antes que a ovelha mãe volte. – Lizzy disse, indo na direção dele. E assim fizeram.
- Gostou? _ele perguntou.
- Sim, muito. – e iniciaram o trajeto de volta.
*
Lizzy parou no caminho, e o fez parar:
- Tenho que te confessar algo. Posso te falar a verdade?– Ele assentiu com um movimento de cabeça – Seu convite me pegou de surpresa. Se eu tivesse tido tempo para pensar, para formular qualquer desculpa, certamente não viria.
Ela parou de falar e ele a olhou. Mas algo em seu olhar a permitiu continuar:
- Porque no primeiro instante em que o vi, as suas maneiras me convenceram de que era um homem arrogante, pretensioso e devotando a maior indiferença pelos sentimentos dos outros.
Baixou os olhos e depois completou:
- Eu precisava te dizer isso.
Ele respondeu:
- Já sabia que pensava isso de mim, Lizzy. Ouvi sua conversa ao telefone. De certo modo não estava errada. Não posso me justificar pelo meu comportamento quando nos conhecemos. Mas a verdade é que eu não tenho o talento que muita gente possui de dirigir facilmente a palavra a pessoas que nunca vi anteriormente.
*
Ficaram parados em silêncio. Ele a puxou para perto e a beijou. Este foi um beijo mais calmo. Um beijo de trégua. Como se selasse a paz entre os dois.
O dia foi ótimo, mas já estava na hora de irem embora. Logo estavam dentro do helicóptero. Lizzy havia experimentado tantas emoções durante o dia, que agora o medo de voar parecia insignificante.
Os dois estavam à vontade, como dois namorados. E Lizzy se sentiu segura para perguntar:
- E sua namorada?
- Quem?
- Caroline! Também ouvi tua conversa no telefone, esqueceu?
Ele parecia não querer falar, mas Lizzy queria saber.
- E sei que se não fosse por ela, esse passeio não teria ocorrido. Estou pensando até em agradecê-la, se a encontrar um dia.
Ele riu.
- Se ela tomasse conhecimento deste fato, decerto enlouqueceria. Mas ela não é mais minha namorada. Não mais.
- E o que ela faz na sua casa?
- É uma praga na minha vida! Mas em consideração ao seu irmão, não posso colocá-la para fora.
- Seu irmão?
- Sim, nos conhecemos há muitos anos, e Charles é um dos meus melhores amigos. Foi assim que conheci Caroline. Desde nova ela me enchia de atenções, mas eu nunca me interessei por ela.
- Se não se interessou, porque namoraram?
- Acho que falta do que fazer... estava sempre sozinho, não tinha ninguém que me interessasse, e ela estava sempre ali, se mostrando disponível. Sempre me cobrindo de atenções,... mas eu nunca a estimulava, nunca a encorajei nem lhe dei esperanças.
- Então? Como ela virou tua namorada?
- Um dia eu bebi demais e acordei com ela ao meu lado. Não me lembrava de nada, mas o fato estava feito.
- Começaram a namorar por causa de uma bebedeira?
- Sim, eu devia isto ao seu irmão. Quando acordei ao seu lado, me senti um tremendo cafajeste. Fiquei desesperado, não sabia o que fazer.
- E quando foi isto?
- Há um ano atrás.
- Durante um ano ficou com ela sem gostar dela? – Lizzy estava assombrada com tal fato
- Sim.... E como foi difícil! Nunca passei tanto tempo fora como neste período. Viajo muito a trabalho, mas neste ano aumentei as viagens consideravelmente. Até quando não necessitava. E às vezes inventava viagens e me hospedava no hotel.
“Por isso todos o conheciam”- Lizzy pensou.
- Então porque continuou namorando ela?
- Porque era mais fácil e eu me acomodei com a situação. Todos estavam satisfeitos com tal arranjo. Charles parecia contente. E até para mim havia algumas conveniências: tinha ao meu lado uma mulher dedicada, que me ajudava a organizar jantares, receber meus convidados e organizar meus eventos. Até minha tia que costuma implicar com todo mundo a considerava adequada.
- Adequada?
- Sim. Educada, de boa família e de boa fortuna, isto é o que minha tia considera adequada. Principalmente de boa fortuna! E minha tia é tão desagradável quando quer! E assim eu ficava em paz. Como vê, tudo parecia perfeitamente bem, exceto por um detalhe.
- Que detalhe? – Lizzy tinha até medo de perguntar, mas sua curiosidade era grande.
- Os momentos em que ficamos sozinhos eram uma tortura para mim. E estava ficando cada vez pior. Já estava com medo de me tornar um alcoólatra, pois ultimamente era apenas bêbado que suportava nossos momentos de intimidade.
- Oh! E ela não percebia?
- Decerto que sim. Mas acho que ela ainda tinha esperanças de me conquistar. E eu tentei Lizzy, só Deus sabe como eu tentei gostar dela! Mas não deu. Parece que quanto mais eu me esforçava, mais meus sentimentos iam na direção oposta.
- Entendo, acredite que sei bem como se sente. E vocês moravam juntos?
- Não, nunca.
- E o que ela faz na sua casa? – Lizzy estava incrédula e se compadecia tanto por um quanto pelo outro.
- Nem me lembre disso! Acho que ela percebeu que eu iria terminar e num gesto de desespero alegou um vazamento em seu apartamento e se mudou para minha casa. Mas esta sua última tentativa de me prender, foi o que me afastou completamente.
- Nossa!
- Só Deus sabe o que eu tenho passado, Lizzy! Como me amaldiçoou por ter tomado aquela bebedeira! Nunca falei com ninguém sobre isto. Ninguém sabe como eu de fato me sinto. E há tanto tempo não me sinto tão livre como hoje. – Fez uma pausa.
Lizzy colocou suas mãos sobre as dele, querendo transmitir o seu apoio através deste gesto.
Ele retomou o assunto:
- Inclusive quero ver se hoje mesmo dou um basta nesta história! Marquei uma reunião de negócios hoje às 20 horas com o Charles na minha casa, e quero ver se faço com que ele a convença a sair. Sinto pelo que ele possa pensar, mas agora cansei de pensar nos outros e vou começar a pensar mais em mim.
Olhou em seus olhos e continuou:
- Gostaria de te levar para jantar. Mas como vê, tenho esse compromisso. E amanhã bem cedo irei viajar.
- Não vai voltar mais para o hotel?
- Não. Meu quarto foi liberado assim que sai. A essa altura as suas amigas já devem estar de volta e perfeitamente instaladas.
- E se Caroline não sair? Vai passar a noite com ela? – se controlou, para não demonstrar o ciúmes que sentia.
- Sim, correrei esse risco. Mas se ela estiver em meu quarto, dormirei no quarto de hospedes. E trancarei bem a porta!
Ela riu. E mesmo ele garantindo que não queria nada com ela, uma pontadinha de ciúmes permaneceu ao imaginar os dois na mesma casa.
- Vai viajar amanhã? E quando voltará?
- Não sei ainda. Pretendia ficar uma semana, mas talvez tenha que estender a viagem por mais uma.
- Ah, entendo. – Ela ficou triste. Lembrou que ele costumava viajar para fugir de Caroline, e imaginou se ele não estivesse aumentando a viagem para fugir dela também.
- Quando eu voltar posso te procurar no hotel? Você ainda estará lá, não é?
- Sim, espero que sim. Espero estar no mesmo lugar.
- E se quiser estará, Lizzy. Só vai depender de você querer ou não – Ela não entendeu seu comentário, mas não quis perguntar. Ele tinha medo do que ela faria quando descobrisse quem ele era.
E ficaram em silêncio pelo resto da viagem. Lizzy adormeceu em seus braços até pousarem. Ele estava pensativo, não conseguia relaxar completamente. Pensava no que conversavam, em como passaram o dia e no que ele ainda teria pela frente – “Longo dia”- pensou- “mas ainda não acabou.”
*
Desceram no mesmo prédio de antes e Darcy olhou no relógio:
-Ainda são 18 horas, tenho algum tempo até meu compromisso. Gostaria de ficar um pouco mais comigo?
Ela respondeu com um sorriso, não disfarçando sua felicidade diante de tal idéia. Não queria que o dia acabasse.
- Sim. Mas para onde iremos com tão pouco tempo?
- Tenho uma idéia. Não iremos a lugar algum, ficaremos aqui mesmo.
- Aqui?
- Sim. Tenho algumas salas neste prédio. Costumo fazer alguns eventos e receber alguns clientes aqui, e acho que uma delas é bastante apropriada para levá-la.
Desceram para buscar as chaves na portaria com o Telmo. Lizzy só agora reparou nele. Era um senhor calvo, de baixa estatura, e possuía um pequeno bigode branco. Ficou feliz ao ver Darcy e não demorou para lhe alcançar as chaves.
Pegaram o elevador, descendo no décimo quinto andar. Ela o seguiu pelo corredor e pararam diante de uma porta branca.
*
Lizzy pode reparar que a sala era longa. Havia uma mesa ao fundo que comportava umas vinte pessoas sentadas. Perto da porta, à direita, estavam dois sofás azuis impecavelmente novos e organizados, um de três lugares e outro de dois. E do lado esquerdo podia perceber um bar, que parecia perfeitamente equipado.
Foi para este último que eles se dirigiram. Tinha um balcão alto, com tampo de granito cinza e que continha alguns bancos com o estofado em couro preto. Atrás do balcão, ela avistava vários tipos de bebida.
- Gostaria de um drinque para fecharmos nosso dia com chave de ouro?
- Depende. O que pretendes me oferecer?
- Estava pensando em um champanhe. Aceitas?
- Oh sim. Estou com algumas dores no corpo, e certamente a bebida me ajudará a relaxar.
Ele lhe alcançou uma taça, e logo trouxe o champanhe já aberto em um balde de gelo. Colocou entre os dois e serviu.
- Antes faremos um brinde – Lizzy falou – ao nosso dia, que foi maravilhoso.
Ele sorriu.
Brindaram e logo beberam.
*
Ao acabar a primeira taça, Lizzy falou:
- Primeira taça, primeiro segredo.
Ele a olhou com curiosidade, e ela continuou.
- Tenho algo para te contar.
- Pode falar. Estou ouvindo.
- Lembra que eu disse que achava que o nome William não combinava contigo?
- Sim, lembro perfeitamente – ele riu.
- E por acaso notou que eu nunca te chamei por nome nenhum?
- Nunca? – Ele ficou pensativo, tentado se lembrar – não, na verdade não reparei.
- Pois é.... nunca te chamei por nome nenhum. E preciso achar um nome para te chamar.
Ele riu de seus comentários.
- Na verdade, Lizzy, meu nome não é William.
- Não? – ela inquiriu, levantando às sobrancelhas, curiosa.
- É Fitzwilliam.
- Fitzwilliam? – Ela perguntou, incrédula.
- Sim, é um nome que esta na minha família há várias gerações. Na verdade, não o considero muito bonito, e o considero demasiado longo para usá-lo. Mas mesmo assim, é um nome de tradição. E pretendo mantê-lo se algum dia tiver um filho.
Ela ficou pensativa e repetiu o nome para observar melhor seu feito sonoro:
- Fitzwilliam... – continuava meditando – De fato não o considero um nome feio, e acho que têm um certo charme. Mas penso que também não combina contigo.
- É mesmo? E o qual nome você acha que combina comigo? – perguntou, entre sorrisos.
- Darcy! – fez uma pausa, e continuou - Sempre achei impessoal tratar as pessoas pelo sobrenome, e todos o chamam assim de forma tão formal... Mas acho Darcy o nome mais adequado. Posso chamá-lo assim?
- Claro Lizzy.
- Ok, Darcy.
*
E ela serviu outro copo de champanhe. E quando terminou este também, ela falou:
- Segunda taça, segundo segredo!
Ela o surpreendia novamente, e ele falou:
- Acho que vou sempre te dar bebida quando quiser alguma informação – e falou rindo, com um sorriso lindo e com seus olhos azuis brilhando, encantados por ela.
- Tenho algo que eu queria te contar, mas estava com vergonha. É sobre mim...
- Sobre você? Sobre o que, Lizzy?
- Sobre minhas experiências anteriores – ele a olhou, queria que ela soubesse que o que fizera no passado não tinha importância.
- Não precisa me contar nada, se não quiser, Lizzy.
- Mas eu quero. E minha história de certa forma se assemelha a sua com Caroline.
Ele ficou curioso, mas a deixou falar sem pressioná-la. Lizzy tomou coragem e prosseguiu:
- Eu estava na faculdade, tinha 19 anos e não me interessava por ninguém. Todas minhas colegas de turma namoravam, e eu ficava sempre sozinha. Mas não queria ficar com ninguém. Então minhas amigas começaram a me pressionar para que eu ficasse com o Breno, um colega nosso. Breno estava sempre no meu pé, me cercando de atenções, assim como Caroline com você.
Ele sorriu, pensando na situação, no quanto era semelhante.
- Eu não queria nada com ele, mas estava cansada de ficar sozinha e resolvi tentar. Breno era até interessante, bonito, se vestia elegantemente e eu pensei: “porque não?” Posso dar uma chance para ele e quem sabe no meio do caminho eu me descubra apaixonada.
Fez uma pausa e bebeu o último gole da taça. Então continuou:
- E eu tentei! Não chegamos a namorar, era mais um casinho. Eu não queria nada sério, mas ele sim. E cada noite que eu dormia, eu esperava acordar apaixonada. E acontecia justamente o contrário. Isto durou quatro meses, quatro longos meses! E ele cada vez mais apaixonado por mim. Suas atenções comigo iam aumentando! Mas quanto mais ele tentava, mais eu me sentia sufocada. – Ela olhou para ele – acho que dá para perceber bem o meu desespero.
- Sim Lizzy, consigo imaginar perfeitamente.
Ela assentiu e prosseguiu:
- Então ele começou a me pressionar para transarmos. E eu pensei: porque não? Já tenho 19 anos e ainda sou virgem. E se o sexo for maravilhoso, posso acabar finalmente amando-o.
- E isso aconteceu? – ele perguntou.
- Não! Pelo contrário! Foi horrível! Queria desistir no meio e ele não deixou. Praticamente me obrigou. Foi estúpido comigo, um pouco agressivo, e acabou me machucando. Foi a pior experiência de minha vida! – parou de falar por alguns segundos - Mas depois de tantos anos já não o culpo. Acho que naquele momento ele percebeu que eu nunca o amaria e por isso se descontrolou. E eu resolvi nunca mais fazer nada que não quisesse. E esta foi minha única experiência amorosa. Como pode perceber, sou praticamente uma virgem. – Disse rindo para tentar quebrar o gelo, querendo amenizar um pouco a tensão que tal revelação causou.
Ele não sabia o que dizer e ficou calado.
- Pode me servir mais uma taça?
*
E Lizzy passou a beber sua terceira taça. Continuavam em silêncio, mas ela bebeu rápido, em poucos goles e logo falou:
- Terceira taça, terceiro segredo!
- Mais um segredo? Estou até com medo de tal revelação!
Ele estava parado em pé ao seu lado, escorado no balcão, e ela estava sentada em um dos bancos. Ela o puxou para perto, posicionando-o em sua frente, e colocou os braços ao redor do seu pescoço. Ela sorria e o olhava nos olhos. Então falou:
- Estou caidinha por você!
Ele estava surpreso, não esboçou reação por alguns segundos, e então sorriu, abraçando-a pela cintura. Antes que ele pudesse prosseguir, ela falou:
- Não se preocupa que não estou bêbada, apenas mais corajosa. Sei perfeitamente o que quero – ela colocou as pernas ao redor do corpo dele, como num abraço. E com um movimento rápido das pernas, o trouxe para junto dela. Tinha urgência e necessidade de senti-lo. Seus corpos se encaixaram perfeitamente, não deixando dúvidas de sua intenção. – Sei o que quero. E quero você, Darcy.
*
*
Capítulo 8
*
Lizzy acordou no hotel com uma dor de cabeça. Olhou no relógio ao lado da cama e viu que eram 6 da manhã, e não conseguiu mais dormir. Continuou deitada, pensando.
“Nossa, o que foi o dia de ontem?”- e se arrepiou só com as lembranças.
“Tudo maravilhoso, apenas que....”- e percebeu, assustada – “que não me lembro como vim parar aqui”
Ainda não estava completamente desperta, suas lembranças eram confusas e a dor de cabeça a atordoava.
“O que foi que eu fiz? Perdi completamente a noção das coisas! Eu me lembro, estou me lembrando....”- e tal idéia a atormentava – “Eu bebi demais... acho que falei demais... e me atirei em cima dele!“
Tal fato acabou deixando-a nervosa, ansiosa e completamente acordada.
“E se ele me achar muito oferecida? E se ele pensar que eu sou sempre assim? Mas também posso nunca mais vê-lo, e foi tão bom! Não me arrependo de nada!”
“Nunca na vida senti algo parecido, e não tinha porque me privar. E o problema de resistir a uma tentação é que a gente pode não ter outra chance.”
“Pode ser que eu nunca mais o encontre. – pensou com tristeza – Não espero nada dele. Ele é uma pessoa importante. Deve conhecer várias pessoas mais adequadas a ele do que eu. E a sua namorada... sua tia... pelo que ele contou, quero distância delas!”
“Não me arrependo de nada “– concluiu, e se sentiu melhor com tal pensamento.
“Apenas uma coisa ainda me atormenta... eu não... eu não consigo me lembrar...”
“Lembro das coisas que disse... lembro como ele correspondeu... ele também me queria! – pensou, esboçando um sorriso, e sentando na cama – ele me queria como eu o queria! “
“O jeito que ele me beijou, a fúria com que me jogou no sofá!...tudo o que ele fez! Ele talvez me queria mais do que eu a ele!”- Sorriu satisfeita.
“ Ele tirou meu vestido...e foi tão bom, tão bom.... mas eu estava nervosa, nervosa como nunca! E continuei bebendo – se deu conta – bebendo de nervosa.... “
“Como fui burra! Bebi tanto que agora não me lembro!”
“Como posso ter feito isto? Como posso não lembrar de algo que deve ter sido maravilhoso?”
... Mas que raiva!!!! Não consigo me lembrar! Não me arrependo do que fiz, do que falei... até porque não posso voltar atrás para mudar. Mas me arrependo de beber, por não conseguir lembrar!”
*
Ainda estava escuro, o dia recém começava a clarear e Lizzy não conseguia mais dormir. Resolveu levantar. Charlotte dormia na cama ao lado, e ela decidiu ir ao banheiro, tentando não fazer barulho. A cabeça latejava a cada passo.
Perto da porta do banheiro, algo desviou sua atenção. Havia um bilhete em cima da mesa com seu nome. Estava dobrado e parecia não ter sido aberto. Seu coração disparou, pensando de quem poderia ser. E o pegou com certa ansiedade.
“Oh, é de Charlotte.” – apesar de adorar a amiga, não pode deixar de sentir um certo desânimo. – “Deve ser sua resposta ao meu.”
Como estava escuro no quarto, o levou para ler no banheiro.
“Querida Lizzy,
Planejava passar o dia todo contigo, já que também estou sentindo falta das nossas conversas. E por isso voltei ao hotel ontem às 9 da manhã.
Amiga, não posso disfarçar a minha surpresa ao me deparar com teu bilhete. Como me sinto mal!
Creio que tenho sido uma amiga ausente e me culpo de não a ter escutado. Não posso acreditar no fato que possas planejar um passeio, e eu sequer suspeite com quem.
Prometo a partir de hoje estar sempre disponível quando quiseres me contar algo.
Meu comportamento não merece desculpas, pois a tenho negligenciado e dado preferência a uma pessoa que convivo a menos tempo.
Temos que conversar, amiga!
Agora são 18 horas e eu já estou de saída. Esperei ansiosa por ti o dia todo. Não me agüentei e tentei te ligar, mas teu celular estava desligado, o que aumentou minha curiosidade.
Com o coração partido já te adianto que não voltarei cedo. E não tem como ser diferente, já que meu namorado vai viajar e não o verei durante a semana inteira.
Ah, já ia esquecendo: Jane ligou! E tenho boas notícias: ela fará o curso! Ela queria te dar a notícia pessoalmente, mas também não conseguiu te ligar. E te confesso que ela ficou tão curiosa quanto eu para saber sobre o teu misterioso passeio.
Beijos da amiga que muito te quer,
Charlotte”
“Charlotte querida. Sempre tão dedicada. Imagina, se considerar negligente! Negligente sou eu, que não sei com quem ela namora – e riu – Mas de hoje isto não passa!”
Terminou de ler e resolveu tomar um remédio para a dor de cabeça antes de entrar no banho.
No chuveiro, ficou perdida em seus pensamentos. Lembrando do bilhete de Charlotte, de sua estimada irmã que chegaria, e principalmente, pensando no Sr. Darcy.
- Lizzy! Você está ai? Posso entrar?
O chamado de Charlotte a trouxe de volta a realidade. Já estava no banho há quase uma hora.
- Claro, Charlotte!
- Lizzy querida, desculpa perturbar teu banho. Acordei e fiquei te esperando sair, mas como tu não saia nunca eu fiquei preocupada e vim verificar se está tudo bem.
- Sim, Charlotte. Esta tudo bem... só uma dor de cabeça que estava me matando. E fiquei um pouco mais no banho para ver se diminuía.
- Um pouco mais no banho, Lizzy? Tu já está há quase uma hora ai dentro! Se tivesse uma banheira, pensaria que tinha se afogado.
Lizzy não pode deixar de rir do comentário da amiga.
- Estou falando sério, Lizzy. Fiquei preocupada! E agora estou atrasada.
- Desculpa, Charlotte. Perdi a hora – disse se enrolando em uma toalha e saindo do chuveiro.
- Você está péssima, Lizzy! Que olheiras! Que cara de cansada!
- Estou cansada mesmo, minhas pernas estão me matando. Acho que foi do cavalo...
- Cavalo? – Charlotte perguntou curiosa e incrédula - Como assim cavalo? Por onde você andou Lizzy? E com quem?
- Ih.... Longa história, Charlotte. – bocejou ainda sonolenta – Tem tempo agora?
- Na verdade não, estou atrasada. Mas pode ficar ai no banheiro e me contar enquanto eu tomo banho.
- Mas Charlotte, eu também tenho que me arrumar, esqueceu? Encontro contigo depois, no quarto.
Quando Charlotte saiu do banheiro, Lizzy estava quase pronta para descer.
- Lizzy! Estou muito curiosa! Não vai fugir sem me contar onde estava ontem o dia todo.
- Ai, Charlotte. Já disse que a história é longa... Quer ver? Ontem eu voei de helicóptero, andei de cavalo, nadei num lago, comi bolo de chocolate, participei de um piquenique, tomei champanhe, beijei na boca.... – discorreu enumerando os fatos.
- Beijou na boca, Lizzy? Na boca de quem?
Lizzy ria. Sabia que amiga ficaria surpresa.
- Te conto agora mesmo se tu me contar o nome do teu namorado – propôs com empolgação.
- Claro, Lizzy! Meu namorado.... – abruptamente se calou – Ai... Não dá para falar assim... Quero conversar depois com calma...
- Então depois com calma te falo também o nome de quem eu beijei.
- Ah, Lizzy... Tudo bem então... – suspirou derrotada - Quem sabe hoje a gente almoça no quarto? Não vou agüentar até a noite.
- No quarto? Tenho uma idéia melhor e mais agradável do que ficar trancada no quarto. Podemos almoçar naquele jardinzinho que vemos da janela. Já fui ali, é bem agradável e tranqüilo. Com certeza, não seremos incomodadas.
- Boa idéia, Lizzy. – sorriu.
- Agora vou indo, que estou morrendo de fome. Nem lembro se eu jantei ou não ontem.
*
Lizzy tomou café, e se surpreendeu com a fome que estava. Depois, ao passar por Jonas na recepção, ele a chamou:
- Lizzy! Vem aqui um pouquinho! Sei que eu uma vez te falei da importância de ser discreta neste emprego, mas não estou conseguindo me controlar.
Ela riu. Sabia a que ele se referia. Era o único que vira os dois, e era até o momento o único que sabia sobre ela e o Sr. Darcy.
- Lizzy! Desculpa a indiscrição e o atrevimento, mas tenho que comentar: você não é boba, hein garota! Para onde você foi com o homem? Não, não precisa me contar isto. Tenho que ser discreto! Mas justo com o homem, com o poderoso chefão?
- Poderoso chefão? Com assim? – arqueou as sobrancelhas, confusa.
- Vai dizer que não sabe, Lizzy? O nosso poderoso chefão! O dono deste hotel, e não só deste, de todos os hotéis da rede Pemberley!
Lizzy ficou branca, sentiu as pernas bambas, quase desfalecendo. Só não caiu, pois pôde apoiar-se no balcão.
- O Sr. Darcy é o dono do hotel? – balbuciou assombrada
- Lizzy querida, vai dizer que não sabia?
- Não... – por mais que ela quisesse ser discreta, não pôde se controlar, e lágrimas começaram a correr em seu rosto.
- Venha cá Lizzy, sente aqui!
Ela tremia de nervosa.
- Vai dizer que você não sabia?
- Não, ninguém me disse... Ele não me disse...
- Ai, essa minha mania de discrição! Devia ter contado para você quem ele era. Agora poderia ter evitado essa situação. Olhe só para você! O que eu posso fazer por você, Lizzy?
- Nada. Agora ninguém pode fazer mais nada por mim...
O que Lizzy sentiu era imensurável. Ninguém poderia supor a dor que tal descoberta lhe causara. Ele não era só importante, mas era muito importante. E era o chefe dela. Era o dono do hotel!
Era como se todo o dinheiro dele se colocasse entre os dois, formando uma barreira intransponível, afastando-os mais e mais. Como se todo esse dinheiro reforçasse o fato que ele nunca seria dela.
“Oh, foi com ele que eu esbarrei em Porto Alegre!”
E tal fato a deixou mais nervosa. Jonas estava preocupado, mas a deixou sozinha para atender um cliente.
Lizzy ficou só com seus pensamentos, escondida atrás do balcão:
“Eu esbarrei com ele! Como pude não me virar para olhar? Se o tivesse visto, nada disso estaria acontecendo... E ele deve ter me visto. Mas não, não deve ter me reconhecido... Ou será que sim?”
“Agora tudo faz sentindo! Chegar no meio da noite e querer um quarto. Claro, todos os quartos são dele! E por isso toda aquela preocupação de todos em lhe agradar”
“Mas como ele pôde fazer isso comigo? Como ele pôde esconder-me uma coisa destas? Ele sabia que eu não sabia quem ele era. Como pôde me mentir?”
“E eu confiei nele! Como pude?”
“Os momentos que passamos juntos... ele deve ter se divertido sabendo o que eu pensaria quando descobrisse quem ele era! Deve ter rido muito às minhas custas!”
“Ai, que raiva, que raiva, que raiva!”
Lizzy estava se acalmando quando Jonas voltou, e vendo sua preocupação, falou:
- Jonas, estou perdida. Acho que me apaixonei... E vou precisar da sua ajuda... Posso contar com você?
- Claro, Lizzy. Me sinto tão culpado! Mas o que eu posso fazer?
- Nada demais. Apenas me ajudará a evitá-lo. Esta história tem que parar aqui, Jonas. Já foi longe demais. Tenho que vê-lo o menos possível. E preciso deste emprego!
Jonas assentiu com a cabeça.
- Elisabeth, você está ai! Estava a sua procura. – O Alberto apareceu na recepção. Então percebeu que ela estivera chorando, e falou: - O que houve, Lizzy? Você não esta se sentindo bem? Algum problema com a sua família?
- Não Alberto, obrigada pela sua preocupação. Minha família está muito bem.
- Então....? – mas não concluiu a frase, pois achou melhor não se intrometer. E Jonas fez um sinal para ele por trás de Lizzy, sem que ela percebesse, que significava problemas amorosos.
- É que acabei de receber uma notícia... Desculpa Alberto, mas logo ficarei bem. Não vou deixar algo tão insignificante afetar meu trabalho. Só... Posso te pedir uma coisa?
- Sim, Lizzy – Alberto respondeu.
- Me libera por alguns minutos para falar com Charlotte. Preciso falar com Charlotte...
- Charlotte? Bom, se isto a fará se sentir melhor, é claro. Ela está no último andar. Está com uma decoradora vendo as suítes presidenciais. Pode ir, Lizzy. Mas não demore muito.
Lizzy subiu correndo pelas escadas, pois não conseguiu esperar pelo elevador.
- Charlotte! Você está ai! Estava a sua procura.
- Lizzy! Estamos definindo a decoração do novo hotel de São Paulo. Queremos que sejam padronizados e que esteja tudo perfeito. – e fez uma pausa, percebendo que sua amiga não se encontrava bem – Mas o que aconteceu, Lizzy? Que palidez! E esses olhos vermelhos? Andou chorando? – e Charlotte se virou para as duas mulheres que estavam com ela – Podem indo ver o outro quarto, que eu as encontro depois.
- Lizzy, amiga... O que foi que houve, querida? O que você tem? Ah, só pode ser.... é sobre o passeio de ontem, não é mesmo?
Lizzy confirmou com a cabeça, cruzando os braços e mordendo o cantinho dos lábios.
- Com quem você estava, Lizzy? Quem você beijou? Quem fez isso contigo, querida? – Charlotte estava evitando falar tu, para perder o sotaque de gaúcha.
- O..... o Sr Darcy.
- O Sr Darcy? – Charlotte não disfarçou a surpresa – Fitzwilliam Darcy? Ele mesmo, Lizzy?
- Sim.... Tu sabes quem ele é?
- Claro, Lizzy! Todo mundo sabe! Como eu não iria saber?
- Na verdade.... Eu não sabia... Acabei de descobrir...
- Oh, Lizzy – Charlotte pegou as mãos da amiga – não sei o que te dizer.... A gente devia ter conversado.... Se eu tivesse te contado, teria evitado isso.
- Tu é a segunda pessoa que me diz isso....
- Ai amiga.... Beijou o Sr. Darcy! E me falaram que ele é lindo! Mas como surgiu a idéia do passeio? Não entendo! Achava que não gostavas dele! Fiquei sabendo que o considerava arrogante, petulante... Fiquei sabendo...
- De início achei isto, sim. Morri de raiva dele! Mas depois... Bom, não importa mais o que eu achei depois, pois agora estou morrendo de raiva de novo! – e pensou um pouco – Mas como tu sabes o que eu pensei sobre ele? Não te contei nada...
- Jane. Jane me falou ao telefone. Ela estava curiosa e queria mais detalhes. Mas eu desconhecia completamente o assunto.
- Ah, minha querida irmã! Acho melhor não comentarmos nada com ela. Não quero lhe causar preocupações. Jane é tão boa! Promete, Charlotte? Promete que não vai contar nada a ela?
- Sim Lizzy, se assim desejas. Mas agora quero saber de todos os detalhes.
E Lizzy contou tudo. Tudo o que se lembrava. E decidiram manter os planos para o almoço, pois Charlotte ainda não tivera oportunidade de lhe falar sobre seu misterioso namorado.
Não demorou muito, e Lizzy voltou a descer, saindo à procura de Alberto. Não podia se dar ao luxo de deixar problemas pessoais interferirem em seu trabalho. Ainda estava em avaliação, e mesmo que não estivesse, tinha que ser profissional.
- Jonas, viu o Alberto?
- Não, Lizzy. Vejo que você já esta melhor. Fico feliz, já que fiquei tão preocupado! E me sinto tão culpado... Resolvi não ser mais discreto, Lizzy. Pelo menos não com você. E como a vejo mais calma, gostaria de lhe contar algumas coisas.
Lizzy olhou no relógio, e viu que já estava atrasada.
- Vou ser breve, prometo. O Sr. Darcy fez uma reserva para daqui a duas semanas. Disse não saber se precisará ou não do quarto, mas fez a reserva por precaução.
- Duas semanas? Mas então Caroline ainda esta na casa dele?
- Lizzy, acho que sim. E pelo que pude perceber, ela não tem a menor intenção de sair.
- Como assim, Jonas? Ele fez algum comentário?
- Não, ele não.... Mas ela esteve aqui.
- Ela esteve aqui?
- Sim... Ela esteve aqui ontem apenas meia hora depois que vocês saíram. Eram aproximadamente sete horas, e ela veio acreditando que neste horário ele ainda estaria no quarto. E não consegui convencê-la do contrário. Ela fez um escândalo, Lizzy! Tive que levá-la até o quarto. As malas dele ainda estavam lá, arrumadas, pois mais tarde alguém viria buscar. E ela ficou esperando por ele por três horas! Não sei fazendo o que, mas ficou lá. Tão obstinada! E se vocês voltassem, não sei o que seria de mim. Certamente o Sr. Darcy ficaria furioso! Mas resolvi correr o risco, achando que vocês não retornariam tão cedo. E acertei, graças a Deus! Aliás, a que horas vocês chegaram? Eu não estava mais aqui.
- Na verdade, eu não sei... mas ele tinha um compromisso as 20 horas, então não deveria ser tarde.
- Não sabe? Como assim?
- Ai, Jonas.... Vou te dizer, mas não me condene por isso, por favor. Eu bebi demais ontem... E não me lembro como cheguei aqui.... Só tenho um pouco de vergonha em pensar que alguém possa ter me visto...
- Hum... antes das 20 horas? Vou tentar descobrir algo com a Rita, que estava no lugar da Estela. Ontem fiquei além do meu horário com ela, para lhe passar algumas dicas e informações importantes. E ironicamente uma das dicas que lhe dei foi sobre a importância da discrição! Mas vou tentar igual. Vou estender meu horário novamente para lhe ensinar alguma outra coisa, e tentarei entrar no assunto. E tem que ser hoje, porque acho que terça-feira a Estela retorna.
- Sim! Por favor! Estou louca para saber, mas não quero chamar atenção.
Lizzy já queria sair, mas Jonas continuou:
- E tem mais uma coisa que você deve saber, Lizzy.
- O que?
- Ele vem sempre aqui. Como a casa dele é aqui em São Paulo, este hotel funciona como um hotel matriz. É para cá chegam todas as informações a respeito dos outros. E a sala que ele costuma usar é bem próxima a do Alberto, onde você costuma ficar. Entende o que quero dizer, Lizzy?
Lizzy fez que sim com a cabeça, enquanto novamente mordia o cantinho da boca.
- Você deve se preparar, Lizzy. Deve estar preparada para encontrar com ele diversas vezes.
Lizzy ficou nervosa com a última informação, mas logo se recompôs.
- Obrigada, Jonas! Agora tenho que ir. O trabalho me espera! E tenho que inscrever a minha querida irmã Jane no curso antes que as vagas terminem.
E assim se iniciou uma grande amizade. Jonas Prates se tornou amigo e confidente de Elizabeth Bennet.
Como Lizzy se atrasou para começar a trabalhar, acabou perdendo o horário do almoço. A conversa com Charlotte teve que ser adiada novamente, e elas então combinaram um jantar.
*
*
Capítulo 9
*
- Lizzy, desculpa te fazer esperar!- Charlotte entrou no quarto correndo, meio esbaforida. E vendo que Lizzy já a aguardava pronta para saírem, falou:
– Acabei me atrasando. Mas me visto rapidamente. Para que horas são as reservas?
- Para daqui a vinte minutos.
Haviam combinado jantar em um restaurante, não muito distante do hotel.
- Charlotte, que bom que sairemos! Passo tanto tempo aqui dentro, e estou precisando espairecer um pouco. Ando tão tensa, preciso me distrair!
Charlotte sabia bem a causa de tal tensão, mas não esboçou reação, preferindo não retomar o assunto da manhã. Sabia que a chatearia com mais perguntas. E se Lizzy quisesse falar, ela estaria pronta para ouvir.
- Hum... vamos ver esse cardápio... Tudo parece ótimo. Vamos tomar um vinho, Lizzy? Eu certamente irei querer uma taça.
- Não, para mim não, obrigada. Ainda não estou perfeitamente recuperada. E fico nervosa só de ouvir a palavra taça.
Charlotte riu.
O vinho de Charlotte chegou, antes que tivessem definido os pedidos. Ela o provou, como se precisasse deste para tomar coragem, e falou:
- Olha só, Lizzy. Quero que saibas que não te contei ainda o nome do meu namorado apenas por julgar necessárias maiores informações, e não por considerá-lo digno de um grande segredo. Tenho certeza que te surpreenderás, mas te digo antecipadamente que ele está mudado, muito mudado. Completamente diferente das nossas recordações de infância. Aliás, nem o reconheci inicialmente. Ele está mais magro, mais apessoado.
- Ele quem, Charlotte?
- Sei que achará o fato de certa forma engraçado, já que costumávamos fugir dele quando crianças. Ele sempre estragava nossas brincadeiras e era um completo chato.
- Quem? – pensou um pouco - Meu primo William! Não acredito, Charlotte! – e não pôde deixar de rir, ao se surpreender com tal revelação – É dele que estamos falando, Charlotte? De William Collins?
- Sim, Lizzy – Charlotte estava envergonhada, com o rosto corado, e desviou os olhos.
- Desculpa, Charlotte. Mas não pode me julgar por estar tendo esta reação. Primo, Collins! Quem diria! E você não o suportava! Acho até que tinha mais aversão a ele do que eu!
- Sim, creio que sim. – Charlotte foi descontraindo-se, começando a sorrir – Mas ele era realmente insuportável! Sempre querendo nossa atenção! Lembra quando nos escondemos dele dentro do armário? Quase não respirando para não fazer barulho.
- Sim! Lembro perfeitamente! – ambas riram e Lizzy continuou- E Jane... Pobre Jane! Tinha pena dele e era a única que lhe dava atenção.
- Sim! E então ele se considerou apaixonado por ela e lhe escreveu uma declaração de amor! – Charlotte continuou
- Sim! Como posso esquecer! Jane aos 11 anos recebendo sua primeira carta de amor. E o pavor surgindo em seu rosto à medida que lia cada palavra!
As duas amigas davam sonoras gargalhadas ao recordarem tais fatos.
- E então ganhamos mais uma companheira de fuga!
- Sim, Lizzy! E lembra que numa reunião dançante Jane dançou a noite toda com o Paulinho, e tu, sem par, teve que dançar com William?
- Sim! Como posso esquecer! Ele depois se considerou apaixonado por mim e me perseguiu durante anos!
Ficaram em silêncio, mas Lizzy, tentando amenizar a situação e consolar a amiga, disse:
- Mas isso faz tanto tempo, Charlotte... E não o vejo há pelo menos 5 anos, desde que ele se mudou com seus pais para cá.
- Sim! Nem eu! Mas já te aviso que ele esta mudado! Está bem mais interessante!
- Que bom, amiga. Fico Feliz ao te ver feliz.
Na realidade, Lizzy duvidava de tal afirmação. Mas resolveu aguardar para formar uma conclusão quando o encontrasse.
Os dias foram passando sem novidades. Lizzy tentando pensar em Darcy o menos possível, evitando falar nele e se punindo cada vez que o fazia. Apesar de ter passado apenas um dia com ele, não conseguia tirá-lo da cabeça. Não controlava seus pensamentos, e muito menos seus sonhos. E todas as noites, desde domingo, sonhava com ele. Mas estava decidida a esquecê-lo.
Finalmente chegou o dia do curso de Jane. Era segunda-feira, dia 28 de janeiro, e faltava exatamente uma semana para o dia da reserva de Darcy.
Lizzy acordou cedo, ansiosa para rever sua irmã. Ela chegara no dia anterior, tarde da noite, e foi direto para a casa da tia. Conversaram somente por telefone.
- Bom dia, Jonas! – chegou à recepção ainda mastigando um pedaço de pão – Estou tão contente! Que horas são? Não vejo a hora de Jane chegar! Ela ficou de vir mais cedo!
- Bom dia, Lizzy. Fiquei sabendo de alguns detalhes sobre este curso...
Jonas era o seu melhor informante. Conhecia a todos, e desta forma se inteirava de muitos assuntos. E o que julgava interessante, transmitia a Lizzy. Como quando contou a ela sua prometida conversa com Rita. Na verdade, não exatamente a conversa, mas sua impressão sobre esta:
- Lizzy, Rita não me disse nada! Não consegui arrancar uma só palavra sobre o assunto! Mas desconfio que ela viu alguma coisa. Tenho quase certeza que ela sabe de algo e não quis me falar. Pena que a Estela voltará, pois com mais alguns dias eu daria um jeito de descobrir!
E como na terça-feira, um dia depois, a Estela voltou a assumir seu cargo na recepção, eles não conseguiram saber se Rita de fato presenciara ou não a sua volta ao hotel.
- Você estava certa, Lizzy! Será uma ótima oportunidade para sua irmã. Charles Bingley vai estar entre os alunos, e estará de olho em quem se destacar. Sabe quem é ele, Lizzy?
- Sim! Quer dizer, ouvi falar... Sei que é o irmão de Caroline e amigo de Darcy, ou melhor, do Sr. Darcy – se corrigiu, pois deveria se referir a ele com formalidade, esquecendo toda a intimidade que tiveram naquele dia.
- Sim. Mas mais do que isto, ele de certa forma também é dono do hotel. De uma parte dele. Seu pai era muito amigo do falecido Sr Darcy, e eles fizeram alguns investimentos juntos. Calculo que uns 20% pertença a sua família, o que não é pouco, Lizzy.
- Não, claro que não. Mas seu pai também morreu?
- Não. Ele e sua esposa moram em Minas Gerais. Mas Charles Bingley está praticamente assumindo seu lugar. E devo dizer que está fazendo um excelente trabalho.
- E ele vai estar presente todos os dias de curso? – uma pontinha de pavor a percorreu, pensando na hipótese de Darcy ter comentando algo a seu respeito.
- Sim. Pelo que ouvi falar sim. Escutei que ele pretende selecionar entre os alunos futuros funcionários. Por isto estou dizendo: grande oportunidade para tua irmã!
- Sim – Lizzy estava sorrindo, não disfarçando sua felicidade – E imagina se Jane for escolhida! Mas quantos alunos são?
- Muitos, Lizzy. Creio que muitos! Talvez mais de duzentos.
- Duzentos? – ficou desapontada
- Sim, ele foi muito bem divulgado. E como todos sabem que o hotel está em expansão, acho que tal curso se tornou deveras atrativo.
- Que pena! Duzentos... Mas não vou perder as esperanças... Será que eu conto isto a ela, ou ela ficará nervosa?
Mas Jonas não teve tempo de responder, já que Lizzy avistou sua irmã ao longe e foi ao encontro dela.
Correram uma em direção a outra e se abraçaram.
- Jane, que saudades!
- Lizzy, que bom te ver! Porto Alegre ficou tão sem graça sem ti! E papai... Papai está inconsolável com a tua ausência. E agora que eu vim, pareceu ainda mais triste. Acho que ele tem medo que eu também acabe ficando por aqui.
- Oh, Jane! Mas quem sabe ele não está certo? Quem sabe este curso não seja uma seleção e tu sejas escolhida! Queria tanto que trabalhássemos juntas!
Jane sorriu diante de tal afirmação.
- Charlotte! – Jane correu em direção à amiga. – Como tu estás bem! Está diferente! Bem melhor, devo dizer!
- Sim! Ela está namorando! – Lizzy falou.
Charlotte ficou vermelha e tentou mudar de assunto.
- Namorando? Que bom Charlotte! Depois quero saber de tudo.
E ficaram as três conversando. Jane contando como estavam todos em Porto Alegre, e Lizzy e Charlotte falando sobre o hotel. Sobre a rotina de trabalho, as pessoas que trabalhavam, e todas as informações que acreditavam relevantes para Jane saber. Queriam que ela soubesse o máximo possível para se destacar.
Nem perceberam passar o tempo, e logo Jane teve que ir para o curso.
Encontraram-se novamente na hora do almoço. Era difícil Lizzy e Charlotte conciliarem seus horários, mas como era o primeiro dia de Jane, ambas se esforçaram para isto.
Sentaram as três numa mesa de canto. E duas mesas adiante, se viam três homens sentados. Lizzy percebeu que o mais novo deles olhava para sua irmã.
- Jane! Recém chegou e creio que já conquistou um admirador! – Lizzy falou. Charlotte riu.
Jane se virou para olhar e ele percebeu que estavam falando a seu respeito.
- Lizzy, que vergonha! Ele viu que falávamos dele!
- Jane, não seja boba! Ele não para te olhar!
- Sim, Lizzy. Já havia percebido. E confesso que também o olhei algumas vezes. E que em alguns momentos nossos olhares se cruzaram – Jane sorriu, um sorriso discreto, pois estava envergonhada.
- Jane! – e todas sorriram
- Mas fala baixo, que ele está sentando com os meus professores – Jane cochichou.
Lizzy e Charlotte franziram a sobrancelha, e Lizzy falou:
- Será que ele é o Charles Bingley?
- Quem? – Jane perguntou
- Um dos donos do hotel. – Charlotte afirmou.
- Sim, ficamos sabendo que ele estaria presente durante o curso. – Lizzy comentou.
- Dono do hotel? Mas ele é tão novo! – Jane comentou com surpresa.
- Na verdade é do pai dele, ele é o herdeiro de uma parte menor – Charlotte explicou em tom de voz baixo para não serem escutadas – Mas devo te dizer que o dono da maior parte tem a mesma idade dele. Não é, Lizzy?
- Sim... – agora foi a vez de Lizzy ficar com o rosto corado.
- Amigas, vou tentar descobrir quem ele é. Esta curiosidade está me matando... – Charlotte saiu da mesa, sorrindo - Volto já!
Mas não precisaram esperar por seu retorno, pois logo em seguida perceberam que o homem perguntava algo a Alberto, que respondia apontando em sua direção. Ele parecia surpreso, mas como Alberto reforçou sua indicação, se levantou e seguiu para a mesa delas.
Lizzy e Jane esperaram mudas por ele, curiosas para saber sua intenção.
- Então você é a famosa Elizabeth Bennet? Deixa eu me apresentar, meu nome é Charles Bingley – E estendeu a mão para cumprimentá-la.
Lizzy retribuiu seu gesto, mas não pôde disfarçar seu assombro.
- Famosa, eu?
- Sim! Creio que saibas a que me refiro. Um amigo me falou muito bem de você.
Jane a olhou com surpresa, percebendo que a irmã devia ter lhe omitido certos fatos.
Mas Lizzy não precisou responder, pois as atenções de Charles se voltaram para sua irmã, e ela então os apresentou:
- Esta é minha irmã, Jane.
- Sua irmã? – perguntou curioso e satisfeito – Oh, muito prazer!
E começaram a conversar um com o outro, ignorando completamente a presença de Lizzy.
Charles foi muito atencioso e convidou Jane para conhecer o hotel. Jane aceitou com prazer, e os dois saíram.
Charlotte voltou, e perguntou:
- Nossa! O que eu perdi?
- Olha! Eles estão encantados um com o outro – falou, observando-os se afastar. – Acho que minha querida irmã não terá dificuldade de se destacar nem entre mil alunos. – gracejou.
Charlotte confirmou balançando a cabeça e as duas sorriram felizes.
Jane pôde economizar o dinheiro destinado ao táxi de volta, já que, desde o primeiro dia, Charles lhe ofereceu carona. A casa de seus tios era distante, praticamente do outro lado da cidade, e apesar dela recusar com veemência tal oferecimento, não querendo lhe causar transtorno, não conseguiu dissuadi-lo.
E ainda na segunda-feira, no primeiro dia de curso, Lizzy recebeu um telefonema quando se preparava para dormir:
- É Jane! – exclamou com surpresa, atendendo o celular.
- Lizzy! Já estás dormindo? Desculpa, mas não pude esperar até amanhã, preciso te falar!
Lizzy sorriu, já imaginando o tema de tal conversa. Charlotte sentou-se a seu lado, curiosa.
- Lizzy! Estou tão contente! Charles é exatamente como um rapaz deve ser - disse ela -, sensato, bem disposto e animado. E que modos os seus! Tão simples e revelando uma boa educação a toda a prova. - disse, como se quisesse justificar o que diria em seguida.
- Sim, Jane. Pelo pouco que pude observar dele, concordo perfeitamente.
- Lizzy... Ele me levou até a casa de nossos tios, que gentileza! Chegando lá, desceu e abriu a porta do carro para mim! Como podes ver, um perfeito cavalheiro! E na despedida, Lizzy, ele me deu um beijo.
- Um beijo? Um beijo no rosto?
- Não, Lizzy! Na boca. Lizzy, estou tremendo até agora! E com muita vontade de repetir este beijo! Diversas, e diversas vezes!
- Penso que é algo perfeitamente possível. Jane, fico tão contente! Tão feliz por ti! E já imagino mamãe dizendo: minha filha com um bom emprego, e namorando um homem de fortuna! – pausa para risadas - Jane, creio que teremos que aturar juntas o assunto Londres e França!
- Espero que sim, Lizzy! – Jane falou sorrindo – Mas não imagines coisas por enquanto. Foi apenas um beijo. E entre um beijo e um namoro há uma enorme distância.
Lizzy sorriu. Mas não concordava com a irmã.
Durante a semana, Charles e Jane almoçaram sempre juntos, às vezes com Lizzy e/ou Charlotte, algumas vezes sozinhos. E ele lhe dava carona todas as noites, e sempre as finalizava com um beijo. Igualmente apaixonados, já na sexta-feira se comportavam como um perfeito casal de namorados.
Chegou sábado e Lizzy passaria a noite sozinha. Jane jantaria com Charles Bingley, e Charlotte iria encontrar com William Collins, que retornara de viagem.
- Lizzy! Fico tão culpada em te deixar sozinha! Tem certeza que não quer que eu lhe faça companhia? Posso perfeitamente cancelar meu jantar.
- Não, Jane! De jeito nenhum! Não deves fazer esta desfeita a Charles. E, além do mais, não me sentirei sozinha. Ficarei perfeitamente bem na companhia de meus livros.
- Sim, Lizzy. Se não a conhecesse poderia duvidar de tal afirmação. Mas tem certeza que não quer que eu fique?
- Jane! Te proibido de falar novamente nisto. Vá de uma vez, está me deixando nervosa!
Jane suspirou contrariada, mas acabou indo. Charles já devia estar a sua espera.
-Charlotte! Ainda não está pronta? A que horas ele vem te buscar?
- Ah, só daqui a uma hora. – Charlotte sentou ao lado de Lizzy. Queria ter uma conversa com ela, e estava apenas aguardando a oportunidade de ficarem sozinhas.
- Lizzy, acho que não voltarei hoje para dormir. E penso que não poderemos adiar mais esta conversa.
Lizzy baixou os olhos, sabia a que ela se referia.
- Não queria falar na frente de Jane, pois não sei o quanto você contou a ela.
- Sim, e fez muito bem. Falei a ela o mínimo possível. Tenho medo que ela comente, mesmo que sem querer, algo com o Charles. Pelo que ela deu a entender, acho que os dois torcem pelo nosso namoro.
- Será? Mas Caroline não é a irmã dele?
- Sim, mas parece que na verdade ele não estava satisfeito com este relacionamento. Ele apenas consentia em silêncio para não chatear o amigo. E embora não comentasse, percebia sua infelicidade e as armações de sua irmã. Pelo menos foi o que Jane me disse, mas eu me fingi desinteressada...
- Então descobriu o Sr. Darcy falou a teu respeito?
- Não, claro que não. Nem quis perguntar.
- Ah, Lizzy! Você é tão cabeça dura! Está decidida mesmo a esquecê-lo?
- Sim! Determinada. – respondeu com firmeza – E Jonas concorda comigo que é o melhor a ser feito. Ele viu como eu fiquei naquele dia, Charlotte. E dar continuidade a tal relação certamente afetaria o meu trabalho.
- Trabalho, Lizzy? É nisso que você está pensando? – Charlotte estava incrédula, mas fez uma pausa. Sabia que Elizabeth Bennet era teimosa e obstinada. – E como você pretende tratá-lo? Fingir que nada aconteceu?
- Sim. Pretendo ser fria e indiferente, uma relação perfeitamente normal entre chefe e funcionária.
- Lizzy, tem certeza?
- Sim! E não me olhe desse jeito, Charlotte. Não tenho mais raiva dele por ele não ter me contado quem ele era. Agora consigo compreender bem tal fato. Ele devia estar cansado de tanta formalidade, tanta bajulação. E tinha medo que se me contasse, eu mudasse meu comportamento.
- Sim, Lizzy. Ele pode ter pensado isto. Mas eu, a conhecendo bem, tenho certeza que mesmo sabendo sua identidade, você agiria exatamente da mesma forma.
Lizzy riu, e comentou:
- Sim, acredito que sim.
Charlotte continuou:
- Amiga, se é isso que tu queres, estarei ao teu lado. – Charlotte continuava misturando tu com você, tentando perder o sotaque de gaúcha, mas por vezes, o “tu” surgia naturalmente.
E quando Charlotte deixou o quarto, Lizzy afundou a cabeça no travesseiro e desatou a chorar. Pôde relaxar tão logo se viu sozinha. E pela primeira vez em dias, deixou todo sofrimento trancado se exteriorizar. Permitindo que muitas lágrimas saíssem livremente.
Um choro de ansiedade, medo e desespero. Um choro acumulado, controlado, guardado há vários dias.
E por fim se acalmou e pôde dormir tranqüila. E sentiu-se mais forte, preparada para enfrentar o que viesse pela frente.
*
*
Capítulo 10
*
- Lizzy, hoje será um dia muito especial. Você sabe porquê? – Alberto falou.
- Não.... – Lizzy não sabia a que ele se referia. Só o que lhe vinha a mente é que hoje Darcy chegaria. Não lembrava, não pensava em mais nada. Hoje o veria novamente! O resto não importava. Estava nervosa.
- Nesta semana completa um mês que você está trabalhando conosco. E devo dizer que estou muito satisfeito com o seu trabalho, Elizabeth.- fez uma pausa – Mais precisamente, você completará um mês na sexta-feira, dia 8 de fevereiro. E como parte no nosso cronograma, a sua aprovação nesta etapa faz com que entremos em uma nova.
- Ah... Nem percebi que um mês se passou...
- E a partir de hoje lhe será introduzida uma nova modalidade: a contabilidade. Uma área a que apenas funcionários de extrema confiança têm acesso. Hoje lhe mostrarei como se faz o controle de toda movimentação financeira deste hotel. Tudo o que entra e o que sai deve ser registrado, Elizabeth. Pequenos centavos esquecidos podem fazer diferença. E uma de suas futuras funções será supervisionar o controle desta movimentação. Tanto no computador, como no livro-caixa.
- Livro-caixa?
- Sim. O falecido Sr. Darcy não confiava plenamente em computadores e fazia questão de manter o registro escrito. Hábito que ainda conservamos.
Alberto ensinou a Elizabeth tudo sobre o programa de computadores que utilizavam, um programa desenvolvido com exclusividade para o hotel. Ela teve facilidade em aprender e logo passaram a analisar os livros-caixas.
- Aqui nesta sala está o livro deste ano e o do ano anterior. Teremos que buscar em outro local os mais antigos. Quero que os compare e identifique as mudanças.
Para chegar a esta outra sala, tinham que passar pela recepção. Os livros estavam guardados em um depósito, perfeitamente trancados e organizados.
- Deixa eu ver... – Alberto falou enquanto os escolhia – Pegaremos os do ano 1980, 1993, 1999, 2003... você acha que agüenta carregar mais um, Elizabeth? Eu estou com uma hérnia de disco, e meu médico me proibiu de carregar peso.
Lizzy pegou o livro para senti-lo.
- Sim. Eu agüento mais um, se formos direto para sala.
Alberto consentiu com a cabeça e pegou o livro do ano de 1987.
E Lizzy saiu carregando cinco livros de três centímetros de altura empilhados em seus braços. Mas não foram direto para a sala. Pararam no meio do caminho.
- Sr. Darcy! – Alberto falou, ao ver ele se dirigindo a eles. – Que bom vê-lo de volta!
E começaram a falar de algum assunto do hotel.
Lizzy não ouvia nenhuma palavra que eles diziam. Estava parada, paralisada pelo choque, com uma pilha de livros pesando os braços. Queria se esconder atrás deles. Queria que ele não visse que era ela quem os carregava. Mas não havia como. Tomou coragem, e o olhou. E o cumprimentou apenas com um levantar de sobrancelhas. Nenhum sorriso. Estava séria e decidida a permanecer assim.
Ele correspondeu ao gesto com a mesma seriedade. Seu rosto deixou trair certa surpresa, mas se manteve distante. Era como não se conhecessem.
E Lizzy falou:
- Vou para sala, Alberto. Está pesado.
Apenas neste momento, Darcy percebeu os livros. Os havia visto, mas não se deu conta do esforço que ela fazia. E foi em direção a ela, oferecendo sua ajuda.
- Desculpa, não me ofereci para segurá-los. Quer que eu leve para você?
- Não, obrigada. Posso carregá-los perfeitamente sozinha. – E saiu virando-lhe as costas, sem olhar para trás.
Alberto se despediu e seguiu Elizabeth.
- Elizabeth, acho que você foi um pouco rude com o Sr. Darcy.
- É? Nem percebi... – essa foi sua resposta. Estava alterada. Não conseguia sequer pensar, quanto menos formular uma desculpa.
Darcy permaneceu um tempo imóvel, e ficou alguns minutos no mesmo lugar, pensando. Jonas o observava da recepção.
Durante as duas semanas que permaneceram separados, Darcy pôde refletir. Elizabeth Bennet mexera com ele. Nenhuma mulher jamais se aproximou do que sentira por ela e com ela. Seu jeito, seu comportamento –tudo- o encantou. Diferente de todas as outras que conhecera. A achara adorável. Com ela se sentira perfeitamente à vontade. Ao seu lado, se sentira livre e feliz como nunca. E durante aquele dia, experimentou prazeres nunca antes vivenciados.
Mas essas lembranças ao mesmo tempo que o seduziam, o torturavam. Lizzy não era adequada a ele. Esta palavra tão usada por sua tia Catherine se encaixava perfeitamente à situação. Sentia que aquele amor representava um rebaixamento, pela inferioridade de Lizzy. E os obstáculos que enfrentariam, a resistência da sua família, pareciam insuperáveis.
Darcy havia se preparado para este encontro, imaginando-o diversas vezes. Planejava manter-se distante. Planejava dar um fim a este relacionamento, mesmo contrariando seu desejo.
Mas nunca, em nenhum momento, concebeu a idéia de ser tratado por ela desta maneira. Nunca esperava frieza e indiferença da parte dela. Nunca imaginava que ela não visse vantagens em um relacionamento com ele.
Estava esperando lamúrias, choro e decepção. Estava preparado para perseguições, artimanhas e súplicas. Tal como Caroline fazia. E tantas outras haviam feito.
Mas o comportamento de Elizabeth o surpreendera e o desarmara. Não conseguia entender como ela podia tratá-lo desta forma. Estava curioso, e resolveu procurá-la.
Parou em frente à porta do local onde Elizabeth se encontrava, mas não conseguiu ir adiante. Foi até sua sala. Pensou. Ligou o computador e decidiu escrever um e-mail. Era mais fácil. Todos os computadores estavam interligados em rede e permanentemente conectados a internet. E se ela usava o computador, tinha um e-mail do hotel.
Mas não conseguiu escrever. Não havia o que escrever. Então decidiu voltar à sala, e desta vez entrou.
Elizabeth estava em frente ao computador, com os livros a seu lado. Ele parou a porta. Ela levantou a cabeça para olhá-lo, curiosa. Mas o silêncio permaneceu.
- Sim, Sr. Darcy. O que o Sr. deseja? – sua vontade era ignorá-lo por completo, mas ele era o chefe. Tinha que lhe dar um mínimo de atenção.
- Estou procurando por Alberto – foi a única coisa que ele conseguiu pensar. Estava confuso.
- Como podes ver, apenas eu estou aqui. – respondeu de forma insolente. E ficou aguardando a resposta.
Novo silêncio. Mas ele não ia embora. Lizzy estava cada vez mais nervosa, mas mantinha-se aparentemente calma.
- Posso retomar meu trabalho? Tenho muito o que fazer. – ela enfim falou.
- Sim... – ia saindo, mas voltou para dizer – Minha irmã Georgiana voltará ao Brasil ainda nesta semana.
- Ah.... – ela não soube o que falar.
Novo silêncio.
Então Darcy pediu licença e se retirou.
Lizzy fechou os olhos assim que ele se afastou, respirando fundo. E se controlou para não chorar. “É difícil, muito difícil – pensou – mas tem que ser assim.”
Darcy saiu da sala mais perplexo do que entrou. Queria entender o motivo de tal comportamento. O que causara esta mudança. Na última vez que a vira, ela parecia tão entregue. Parecia tão fascinada por ele quanto ele por ela.
E se ele agia assim agora, era porque tinha motivos. E ela, que motivos teria?
Tinha certeza que ela agora sabia quem ele era. E não entendia como tal informação a repelia.

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