domingo, 3 de janeiro de 2010

Errata de pé de página



Adoro esse texto da Lya Luft, li pela primeira vez em 2008, e o levei comigo na agenda durante todo o ano de 2009, e agora vim postar um trecho pra vocês. Talvez, assim como eu, vocês passem a levá-lo consigo a partir de agora.

Beijocas!

Errata de pé de página

"Por todas as vezes em que desviamos o olhar lúcido ou recolhemos o dedo denunciador,
pagaremos um alto preço, durante um tempo incalculavelmente longo. E não haverá erratas"

A vida deveria nos oferecer um lugarzinho no rodapé da nossa história pessoal para eventuais erratas, como em tese de doutorado (as que não são plágio). Pelas vezes em que na infância e adolescência a gente foi bobo, foi ingênuo, foi indesculpavelmente romântico, cego e teimoso, devia haver uma errata possível. Como quando a gente acreditou que se fosse bonzinho ganharia aquela bicicleta; que todos os professores eram sábios e justos e todas as autoridades decentes; e quando a gente acreditou que pai e mãe eram imortais ou perfeitos. E que aquele namorado não estava saindo com a outra menina, e a melhor amiga não contaria nossos segredos.

Devia haver erratas que anulassem bobagens adultas: botei fora aquela oportunidade, não cuidei da minha grana, fui onipotente, perdi quem era tão precioso para mim, escolhi a gostosona em lugar da parceira alegre e terna; fiquei com aquele cara porque com ele seria mais divertido, mas no fundo eu não o queria como meu amigo e pai de meus filhos. Ofendi aquela pessoa que me faria bem e corri atrás de quem logo adiante ia me passar uma rasteira. Profissionalmente não me preparei, não me preveni, não refleti, não entendi nada, tomei as piores decisões. Ah, que bom seria se essas trapalhadas pudessem ser anuladas com uma boa errata. Em geral, não podem.

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