quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Tenho que voltar a escrever!!!

Faz um mês que eu não escrevo e eu preciso voltar a escrever!!! E agora que eu li A Mediadora, e tô com fantasmas na cabeça, quem sabe eu não me empolgue e volte a escrever a minha história com fantasmas???

Vou colar o primeiro capítulo aqui:
Título: Dois Mundos
Capítulo 1 -

As luzes apagaram quando mais um relâmpago rompeu o céu. Deus! Faça isso parar! Eu me cobri até cabeça. Os pingos continuavam batendo com força na minha janela de vidro. Devia ter fechado as venezianas. Mas agora está escuro e eu não levanto nem a pau!

Ok, não sou medrosa, mas está escuro! E se eu esmagar o Onofre? E se eu pisar no rabo do pobre coitado do bicho? Desculpa furada, eu sei. Sou mesmo medrosa, eu admito. Mas eu não era, só que agora ando meio apavorada. E eu que nem gostava de gatos e agora tenho um e ainda o coloco para dormir no meu quarto!

Um raio iluminou o quarto e eu pude ver os olhos amarelos bem abertos. O gatinho devia estar repousando em sua poltrona e ao invés disso está de olhos abertos! Meu Deus, que diabos ele está vendo que eu não consigo ver? Achei que ele me salvaria, e ao invés disso ele também me assusta!
Alguém me disse – na verdade, acho que eu li isso em um e-mail – que os gatos absorvem as energias negativas do ambiente. E minha casa é carregada! Às vezes eu sinto que alguém morreu aqui. Mas devo estar louca. Quando eu faço perguntas no vilarejo sobre os moradores anteriores, sempre me olham como se eu fosse louca. Enfim, cansei de perguntar e de tentar entender e comprei um gato. Não, errado. Eu não comprei um gato. Eu o roubei, está bem!
Foi assim... Eu li que os gatos absorvem as energias negativas, que os gatos sentem diferente de nós e conseguem ver os espíritos. Então um dia estava passando numa rua de uma cidade vizinha e o vi, o filhote de gatinho preto e branco. Num rompante de insanidade, eu freei o carro – até cantar pneus eu cantei, como uma adolescente, e quase derrapei na estrada de chão batido, mas isso não vem ao caso – abri a porta e agarrei o gato e o joguei porta adentro. Depois saí correndo como se fosse uma louca assassina ou uma criminosa. O que não deixava de ser verdade: eu era uma louca. Era uma ladra de gatos!

Cheguei em casa e o coloquei no chão. E pensei: bom, cá estou eu com um gato, e justo eu que nunca gostei de gatos. Nunca gostei de bicho nenhum e, para falar a verdade, atualmente eu gosto mesmo é de viver sozinha. E por isso ando irritada: por que sinto que nessa casa eu não estou sozinha! Não, eu não ouço vozes. Não, eu estou tão louca. Eu só sinto, está bem? Ah, talvez eu ouça também, não sei.
Um dia eu perdi as chaves do carro e precisava ir até a cidade comprar folhas para a minha impressora. Minha editora estava me pressionando para que eu lhes mandasse algumas páginas do meu livro e eu precisava mesmo ir até a cidade. Por que, por mim, eu nunca saio de casa, fico quietinha no meu canto. Enfim... Andei por toda a casa, quase louca já, a procura da chave. Então uma voz me disse, talvez seja a minha voz, uma espécie de voz interior, sei lá, mas o certo é que eu não pensaria nisso sozinha. A voz disse: “procura no bolso do casaco bege”. Ai! Confesso que levei um susto e foi com receio que eu segui até o meu armário.
E se a chave estivesse mesmo lá? Isso quer dizer que eu enfim comprovaria que alguém mora comigo? Mas e se esse alguém me disse onde eu posso encontrar as chaves, isso quer dizer que essa pessoa é minha amiga e que eu não devo temer sua presença, não é? Não sei, não tive tempo de pensar. Alguém bateu na minha porta. Ah! Por que alguém se incomoda de me procurar nesse fim de mundo? Será que não percebem que se eu comprei uma casa no meio do nada é por que quero ficar sozinha?
- Sta. Marques?
- Sim... – eu tentei não revirar meus olhos, impaciente. Era o Jéferson novamente. E ele estava tentando ser simpático, como sempre.
- Vim trazer o leite que a senhorita encomendou.
- Ah, não precisava se incomodar, eu já estou indo à cidade. Eu mesmo pretendia buscá-lo.
- Que isso, não é incomodo – ele sorriu, e eu logo vi que apesar de aparentar pouca idade, faltava-lhe um dos pré-molares superiores. Ele seria até bonito, se não fosse por isso. Por que homem desdentado para mim não rola. Mas bem... Não vim aqui em busca de um romance. Vim em busca de um cantinho tranqüilo para escrever. Em busca da inspiração perdida. – Foi recém tirado – ele sorriu com orgulho – Fui eu mesmo que ordenhei a vaca.
- Ah... – eu forcei um sorriso. A imagem de um homem ordenhando uma vaca não fazia parte dos meus sonhos românticos. Tive vontade de rir do coitadinho.
- Você está bem instalada aqui?
- Sim.
- Bom, há anos ninguém mora aqui... O último morador foi o irmão do Max e...
- Ah! Você sabe então o nome o nome do último morador! – constatei empolgada. Era uma informação que ninguém queria me dar. Ninguém. Embora eu já tivesse percorrido toda a cidade – que era minúscula – para saber sobre isso. Embora eu já tivesse cansado os meus pés e gasto a minha saliva e as solas dos meus tênis velhos à toa.
- Ops... – ele colocou a mão na boca e arregalou os olhos, assustado – Não era para eu ter dito isso, ele vai me matar!
- Por quê? – eu estranhei.
- Não sei. Mas ele não quer que ninguém sabia.
Meu Deus! – eu concluí boquiaberta – Deve ter mesmo ocorrido uma tragédia aqui! Alguém deve ter morrido e ele pode ser o assassino já que não quer que ninguém saiba! Será que eu devo começar a cavar o chão a procura do corpo?
Meus pensamentos disparavam em alta velocidade quando a voz me interrompeu, dizendo: “acalme-se, Érica”.
“Está bem, está bem” – eu concordei. Pelo menos a voz era minha amiga. Ou deveria ser, por que me ajudava a encontrar as chaves e dizia para eu me acalmar. Mas como tinha o som da minha própria voz, eu não conseguia distinguir seu sexo. “Você é homem ou mulher?” Eu perguntei sem resposta.
Jéferson me olhava com curiosidade. Eu devia parecer uma louca tentando conversar comigo mesma. Mas enquanto eu não falasse em voz alta, ninguém perceberia. Pelo menos, eu acho.
- Muito obrigada, Jéferson... Er... Pelo leite... Hmmm.... Mas agora eu já estou de saída, e você tem que ir...
Ele sorriu, um pouco confuso, quando eu tentei lhe pagar pelo leite.
- Não, não. Esse é cortesia da casa. – alargou o sorriso, deixando evidente a ausência de outro dente. Do outro lado. Argh! Reprimi uma careta.
O Jéferson era simpático e tentava claramente me paquerar, embora eu me fizesse de desentendida. Mas mesmo que ele tivesse todos os dentes da boca, todos os dentes branquinhos e perfeitamente encaixadinhos naquela boca grande, mesmo assim, não rolaria. Estou fechada para balanço. Não quero mais saber de outro homem na minha vida. Pelo menos, não tão cedo. Macho, por enquanto, só o Onofre.
Bom, voltando ao Onofre... Eu me vi em casa, com um gato roubado e assustado parado no meio da sala, me olhando com uns olhos amarelos pequenos arregalados. Então ele levantou a cabeça e miou. Um miado fininho de gato bebê. E se enroscou nas minhas pernas. E então eu percebi a minha insanidade: o que estou fazendo quando tenho horror a gatos? Tenho pavor de gatos! Normalmente, um gato se roçando em mim é estimulo suficiente para me fazer correr em disparada. Mas eu lembrei daquele e-mail: “um gato quando se roça em suas pernas, está tirando suas energias negativas. E por isso ele dorme tanto, para repor as energias perdidas.” Fechei meus olhos e me concentrei para não sentir medo. Para não entrar em pânico. Pensando bem, até que ele é fofinho.
A voz, minha amiga, nunca mais se manifestou desde que o Onofre chegou. Não sei por que, mas eu a chamo de amiga. Deve ser por que nunca me dei muito bem com homens. Nunca tive um amigo homem, para falar a verdade, só namorados. Sempre gostei muito de homens, mas não acho que eles servem para serem amigos, pelo menos não meus. Por que depois de um vinho e de uma boa conversa eu fico tentada a beijá-los na boca. Isso é, se eles tiverem todos os dentes, é claro. Também não costumo beijar qualquer um. Mas os homens que eu conheço costumam ter todos os dentes, pelo menos eu acho, por que para falar a verdade, nunca fiz nenhum exame minucioso... Talvez eu devesse ter estudado odontologia, já que tenho uma leve obsessão – talvez não tão leve assim – por dentes. Enfim... Como no momento atual não quero mais saber de homens para nada, só para me trazerem leite em casa e olhe lá - e de repente para consertar a minha torneira que está pingando há mais de um mês e que eu não fui capaz de arrumar sozinha. – então digo para mim mesma que o espírito que vaga nessa casa é de uma mulher. Opa! Quem falou em espírito? Eu não disse nada... Foi só uma idéia... Que espírito o quê, deve ser apenas fruto da minha imaginação.
Bom, continuando... No dia da visita do Jéferson eu peguei mesmo meu carro – troquei meu carrão novo zero quilômetros por uma caminhonete velha para agüentar as buraqueiras desse fim de mundo – e fui até a cidade. Comprei papéis para a impressora, comida para o Onofre e para mim também. Agora estou mais acostumada com o gato, mas acho que a voz não gostou dele, por isso parou de se manifestar. Pelo menos eu ando menos assustada, fato que faz com que eu não me importe tanto quando vejo um pêlo negro no sofá da sala. Os pêlos brancos eu não enxergo, pois o sofá é claro.
E quando eu estava na cidade, tive a brilhante idéia de procurar o Max e perguntar pelo irmão que morou na minha atual casa. Quando eu enfim o encontrei, ele estava em sua oficina, embaixo de um carro, coberto de graxa. Eu, garota recém chegada da cidade grande, não me acostumo com essas coisas de fim de mundo, por que eu não consigo entender como alguém pode se encher de graxa por puro prazer! Por que ele é dono de meia cidade – talvez isso não queira dizer nada, por que a cidade é realmente minúscula – mas bem, o que eu fiquei sabendo é que o único supermercado é dele, a única farmácia também, assim como o único posto de gasolina e essa oficina mecânica. Ele deve ser o homem mais rico desse fim de mundo e mesmo assim parece que adora se enfiar embaixo de um carro e se cobrir de graxa! E bem... Devo admitir que ele fica muito sexy coberto de graxa!
Ai, meu Deus! Se eu estou achando essa imagem sexy, um cara enfiado embaixo de um carro de calças jeans negra de tanta sujeira, que eu só vejo a bunda – e que bunda! - eu devo estar com algum problema. Talvez sejam os quase 9 meses sem sexo! Nove meses? Tempo suficiente para nascer um bebê! E isso não devia ser tão difícil, já que pretendo nunca mais me relacionar com homem nenhum durante o resto da minha vida. Até pensei em comprar um cinto de castidade e jogar a chave fora para não cair em tentação, mas como tenho alergia a metal, não achei isso uma boa idéia... Bom... Talvez exista um cinto de castidade de acrílico... Hmmm... Posso me informar a respeito...
- Precisa de alguma coisa? – ele me viu e saiu de debaixo do carro e sorriu para mim. Eu engasguei. Meu Deus, ele tem todos os dentes! E que dentes mais lindooooos!
Havia uma mancha em sua bochecha, negra como seus cabelos. Oh! Que vontade de passar o dedo e limpar aquela sujeira! Ou de lambê-la! Eca! Passar a língua numa mancha de graxa não deve ser nada bom... Realmente, acho que eu preciso ser internada em um manicômio... Primeiro eu ouço vozes, depois quero lamber graxa... E se o Rui soubesse que eu tenho um gato, ele certamente me internaria... Isso me lembra de algo: nunca mais tocar no nome desse cretino!
O Max ficou parado esperando uma resposta, mas eu esqueci por que eu estava ali.
- Er... Bem... Ããa... Sim, estou bem instalada...
Esqueci de dizer que eu comprei a casa dele, apesar de ter sabido disso há pouco tempo, pois a venda ocorreu pelo intermédio de uma imobiliária. Mas eu preferia mil vezes ter negociado com ele! Não, não. Péssima idéia. Eu não ouviria nada do que ele falaria, pois só ficaria olhando para aquela boca linda dele sem prestar atenção em uma única palavra, e eu sou uma ótima negociante, consegui um bom desconto com aquele corredor gordo. Imagina negociar com o Max! Se ele dissesse algo como:
- Bom, estou querendo um milhão pela casa, sabe? Eu quero comprar uma Ferrari vermelha para andar com a capota arriada e com os meus cabelos esvoaçando ao vento, apesar de saber que a casa vale um décimo desse valor, você aceita?
E eu, com uma cara abobalhada, responderia:
- Sim! Sim! Sim! – eu aceitaria qualquer coisa!
Argh! Para que mesmo eu estou aqui se não quero saber de homens? Devo ficar o mais longe possível dele, para o meu próprio bem estar. Ah, lembrei! Vim perguntar sobre o irmão dele! O último morador... E é importante. Muito importante, senão não estaria aqui.
- Ah... Bom... – eu prossegui, pois ele me olhava como se esperasse por isso – Tem uma torneira pingando, mas tirando, isso está tudo bem.
- Torneira, é? – ele franziu o cenho, intrigado – A da pia da cozinha?
- Sim. – murmurei.
- Mas eu a consertei antes de vender. Continua pingando é?
- Hum rum.
- Se quiser, posso dar uma passadinha na tua casa amanhã.
- Não, não! – eu neguei com ênfase demais. Ele na minha casa, consertando a pia, de bunda para cima, não seria uma boa idéia – Não, precisa, obrigada. Olha – ele me olhava de maneira simpática quando eu iniciei a frase – fiquei sabendo que o último morador foi o teu irmão – automaticamente, ele fechou a cara. Seus músculos faciais endureceram. Ai, meu Deus! Pelo visto eu não devia ter tocado no assunto! Mas já estava feito, então eu, corajosa, prossegui – Bem... Er... Por acaso alguma mulher morava com ele?
- Por quê? – ele questionou seco.
- Ããã...
Como dizer: sabe, é que eu acho que tem um espírito vagando na minha casa, e acho que é de uma mulher, mas talvez seja apenas impressão minha, não sei.
- Acho que a decoração tem um toque feminino, e queria saber aonde mandaram fazer as cortinas da sala, por que eu gostaria de encomendar outra igual para o quarto de hóspedes. – não sei da onde eu tirei isso, mas saiu tão natural! Então eu fiquei esperando pela resposta. Qualquer informação ou dica.
- Ah... – ele aliviou seus traços e ficou pensando. – Posso perguntar sobre isso para você.
Ok, ok. As cortinas na verdade eram horrorosas, mas eu não me importaria nem um pouco em ter que colocar outra igual no quarto de hóspedes para continuar com a farsa. E afinal de contas, eu não receberia nenhuma visita. Não foi para ficar sozinha e para ninguém me achar que eu me escondi nesse fim de mundo?
- Então foi teu irmão que morou lá? – me encorajei para perguntar.
- Não. – ele fechou a cara de novo. Ai, que saco! E pelo visto não planejava falar mais nada. E agora sua expressão evidenciava que pretendia se ver livre de mim o mais breve possível. Não restava mais nada do olhar amigável com o qual ele me recebeu.
- Er... Então tá, né? Vou indo por que acho que vai chover, e meu carro pode atolar... E sabe como é, né? Achar um guincho por aqui deve ser difícil... – eu era mesmo boa em arranjar desculpas plausíveis! Uau! Deveria ter me separado antes do Rui para explorar esse meu lado, por que ele sempre falava com as pessoas por mim. Ou talvez fosse eu que me escondia nas costas dele. Bem, isso não vem ao caso... E eu prometi que não pensaria mais nele!
O Max andou pela oficina e revirou a mesa dele cheia de tralhas, enfim voltou e me entregou um cartão.
- Que isso? – indaguei curiosa.
- O número do meu serviço de guincho, para o caso de você precisar.
Quase ri, eu juro! Numa visita rápida de poucos minutos quase contratei um guincho – que eu não preciso, pelo menos eu acho, pois minha camionete apesar de velha tem tração nas quatro rodas – e quase encomendei cortinas cor de abacates horrorosas! Patético! Despedi-me apressada, antes de fazer mais alguma besteira.
E agora eu volto à cena inicial. Eu, no meu quarto, a falta de luz provocada pelo temporal, com o cobertor cobrindo até a cabeça. De repente, fosse bom ter um homem ao meu lado novamente. Ele me abraçaria e o medo passaria. Ou não. Mas como eu não tenho ninguém, apenas um gato que parece tão assustado quanto eu, começo a rezar sem parar, intercalando “Pais Nossos” e “Aves Marias” para tentar adormecer. Enquanto rezo, peço por proteção divina, imaginando uma espécie de mosquiteiro luminoso e celestial impedindo que qualquer ser do mal se aproxime de mim. E ainda sim, sinto que não estou sozinha...
Mais um relâmpago rompe a escuridão, e eu imagino ter visto um vulto em pé, na beira da cama. Então abro a gaveta do móvel do lado da cama e tiro dela uma lanterna – colocada ali devido ao meu recente pavor do escuro. Agora com a luz, consigo me acalmar. Vejo que não há ninguém no meu quarto, mas não a apago. Com a lanterna ligada, finalmente consigo dormir, ainda rezando “Pai Nosso” e “Ave Maria”, e sem coragem suficiente de colocar meus pés no chão ou minha mão para fora da cama.

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