sexta-feira, 26 de junho de 2009

O homem certo - história de Tânia - Capítulo 4




Capítulo 4

Quando um homem vem à nossa casa é de praxe que devemos oferecer algo a ele. Um prato de comida? Um vinho? Devo ser educada e seguir os protocolos a risca ou seria muito deselegante se eu o atacasse ainda na porta? E se ele ficasse com fome depois?
Por via das duvidas, optei por cozinhar uma lasanha. Até por que havia a chance dele não vir. Daí eu me contentaria com a minha lasanha preferida.
E que roupa colocar? Eu estou em casa, não faz sentido me arrumar. Mas quero parecer ser sexy sem dar na cara. Azar. Vou dar na cara mesmo. Eu quero sexo! Qual o problema em parecer sexy quando se pretende fazer sexo?
Olhei o relógio. Quinze para as oito. Sentei em frente à televisão e coloquei no meu DVD de música preferido: Ivete Sangalo. Depois do segundo cálice de vinho eu dançava sozinha no meio da sala. Não queria parecer muito ansiosa esperando por ele. Precisava me distrair.
A letra se encaixou feito luva nos meus ânimos: “Lembro daquele beijo que você me deu. E que até hoje está gravado em mim (...) Só penso em você, em querer te encontrar...”
E eu cantei, a plenos pulmões. Meus vizinhos já estavam acostumados com os meus momentos de insanidade.
Então a campainha tocou. Estranho. Não foi o interfone. O som não veio da portaria conforme esperado. Veio da minha porta mesmo. Mas como?
Eu abri a porta e me deparei com um homem alto, sexy, lindo, com lábios rosados e apetitosos e com um lindo par de olhos de um azul intenso que sorria para mim.
- Como você entrou? – eu indaguei, levemente entorpecida. A visão dele era estonteante.
Ele não disse nada. Só me entregou um vinho e um cartão.
Nele estava escrito: “Desculpe. Fui proibido de responder qualquer pergunta. Não posso falar nenhuma palavra.” - e fez com a mão gesto indicando: minha boca está selada.
- Rá! Você agora tem senso de humor? – eu ri e aceitei o vinho – Tá bom. Sei que você é um cara de poucas palavras, deve ficar confortável com o silêncio e ... – ele me interrompeu.
Só tive tempo de encostar a porta e colocar o vinho sobre a mesa. Nem tomei conhecimento. Ele me atacou!
Seus braços envolveram meu corpo de forma nada gentil. Ele tinha pressa. Ele tinha fome. Parecia que queria me engolir inteira. Da onde veio essa fúria toda? Fui eu que provoquei isso?
Que é isso? Tive que parar o beijo para respirar. Fala sério! Sim, ele só pode ser o homem certo. Ele sabe me pegar de jeito.
Seu lábio afoito, agitado, faminto, se movia sobre o meu. Sua língua invadia minha boca de maneira nada delicada. Ele era ótimo! Nossa! Eu sempre fui predadora, mas diante dele virava a presa. Um cordeirinho indefeso. E ele parecia o leão prestes a me devorar. E eu adoraria ser devorada.
Ele me entortou de uma forma ainda em pé em frente à porta que eu nem sabia que era possível. Com um braço firmava minhas costas para eu não cair para trás enquanto sua boca traçava um trajeto pelo meu pescoço, meu colo, até abocanhar meus seios ainda vestidos.
E eu estava amolecida em seus braços. Como uma marionete. Era só ele puxar as cordinhas certas para eu me movimentar conforme ele queria. Ridículo.
Afastei-me um pouco para respirar. Para voltar a ter um pouco de domínio sobre mim. Eu queria ser o leão e não o cordeiro.
Então juntei todas as minhas forças para abrir a camisa azul clara dele. Voou botão para todos os lados. E eu ri. Colei meu nariz no peito dele. Perfumado. Cheiro de banho e sabonete. Deslizei meu nariz desde o pescoço até próximo a virilha, tentando decorar cada cheiro do corpo dele.
Subi meu rosto de volta, no sentido contrário. De baixo para cima. Mordiscando sua barriga, seu peito, seu pescoço. Até grudar meu lábio no dele. Enfiei meus dedos entre seus cabelos com vigor, puxando-o para junto de mim. Agora era eu que queria engoli-lo. Eu queria tudo.
- Will?
- Shiiii... – ele colocou os dedos sobre meus lábios.
- Mas... – então ele me calou com um beijo.
- Eu também não posso falar?
- Hum hum...
- Eu... só... ia dizer... para gente ... ir para o quarto... – eu enfim consegui pronunciar entre os beijos. Ele não me dava descanso.
Então ele me pegou no colo sem interromper o beijo. E ainda no corredor, jogou minha blusa para longe. Atirou-me sobre a minha cama, e se inclinou sobre mim. Depois começou a lutar com o meu sutian. Uma briga injusta. Dez a zero para o sutian. E eu comecei a rir.
- Quer ajuda? – eu debochei.
- Não. – ele grunhiu e tentou abrir meu sutian com os dentes.
- Há-há-há. – eu não pude evitar. Eu tive que rir. – Quer uma tesoura? – eu brinquei me contorcendo de tanto rir.
- Fica quieta. – ele ordenou. Impaciente e concentrado no meu sutian.
- Ei! Você não pode falar! – ele me ignorou e me virou de bruços.
- Pronto! Você estão livres da prisão. – ele se curvou sobre os meus seios desnudos e falou com se conversasse com eles. – A propósito, vocês são lindos. Os dois.
Tive vontade de rir, mas essa passou em seguida quando senti a boca quente dele contornando meus mamilos. Nossa! E eu estremeci. Muito, mas muito bom.
- Will? – eu resmunguei de novo. Mas novamente ele não me deixou falar. Subiu a cabeça com seus lábios em fogo trilhando a linha do meu busto até a minha orelha, onde murmurou:
- Shiii...Quietinha. – sua língua circundou minha orelha e depois rumou em busca da minha língua. Ele era quente. Que paradoxo. O homem da máscara fria na verdade era uma chama ardente. Queimava. Cálido e picante.
E era lindo também. E gostoso. Saboroso. Pelo menos até onde eu tinha visto. Isso me lembrou que eu tinha algo a fazer. Eu queria ver mais.
Minhas mãos decididas e firmes baixaram do peito dele até a região da virilha. Apalparam. Alisaram. Ele era mesmo tudo! Másculo. Saudável. Rígido e intumescido. E pronto para a ação.
Meus dedos ágeis livraram as calças do cinto. Abriram a braguilha. Tiraram a cueca branca.
- Ah, Lizzy... – ele gemeu e disse o meu nome ao sentir meu toque. Isso foi o máximo.
Eu queria gritar quando ele invadiu minha parte sensível. Quando seus dedos roçaram e depois se esbaldaram em mim. Mas me limitei a cravar as unhas em suas costas.
- Eu quero um pedaço de você... – eu resmunguei com minha voz trêmula.
- E eu quero você inteirinha... – ele sussurrou com uma voz mansa e incrivelmente sensual. Nossa! Eu estremeci.
Sua boca feroz distribuiu beijos pelo meu corpo todo. Todo mesmo. E eu amoleci. Inerte e indefesa como um cordeirinho. Ele me tirava tudo. Meu fôlego. Minhas forças. Meu raciocínio. E me dava muito em troca. Batimentos acelerados. Arrepios pelo corpo todo. Fogo. Desejo. Tesão. Uma vontade louca de morrer ou de me unir a ele de uma vez. Tudo ao mesmo tempo.
Nossa! Que homem é esse? Ele é mesmo o homem certo? Nunca, mas nunca mesmo, ninguém teve esse efeito sobre mim. Eu só pensava: eu vou morrer se isso acabar e eu vou morrer se isso não acabar. Mas eu quero mais. Eu quero tudo! Eu quero morrer. Eu não me importo...
A boca dele depois de percorrer meu corpo grudou na minha boca novamente. Senti meu gosto em sua saliva. Meu gosto misturado com o gosto dele. Sua língua agora frenética e ensandecida. Se ele demorasse muito, eu imploraria por ele. Ele tinha razão. Eu não me contentaria só com um pedaço. Eu o queria inteiro. Se fosse possível, eu queria que ele entrasse inteiro dentro de mim.
Mas não precisei pedir, nem esperar. Meu homem certo sabia o que fazer. Meu homem certo se ajeitou sobre mim, afastou minhas pernas e num movimento único se enfiou para dentro de mim. Nossa!
- Tudo bem? – ele sussurrou no meu ouvido de forma gentil.
Abri os olhos e ele me encarava. Lindo, sensual e preocupado. Preocupado em me fazer feliz? Oh! Eu vou mesmo morrer!
Eu pisquei, tentando focar aquele rosto tão perto do meu.
- Sim... – podia ter dito: tudo ótimo! Tudo maravilhoso! Eu estou no paraíso, será que eu morri? Mas eu me limitei a dizer sim e a sorrir. Ele continuava encaixado em mim. E parecia tão feliz quanto eu. Nossa!
Por favor, tenha algum defeito! Por favor, faça algo errado! Ejaculação precoce? Qualquer coisa! Eu supliquei em pensamento. Caso contrário, não saberei mais viver sem você...
Mas ele não tinha defeito. Pelo menos não nesse sentido.
Ele era homem. Ele me dominava. Comandava. Virava-me do avesso. Se ele quisesse que eu plantasse bananeira, eu plantaria. Eu faria qualquer coisa. Eu me fatiaria em pedaços para satisfazê-lo. Mas ainda bem que ele não era adepto de maluquices. Duas ou três posições diferentes nos bastaram. E ele sempre perguntava se estava bom para mim. O homem certo era querido. Um sonho. O que reforçava a hipótese de eu ter morrido ainda no início e estar no paraíso.
Respirações aceleradas. Ofegantes. Movimentos sincronizados e cada vez mais intensos. Velocidade aumentando. Velocidade acelerada. Calor. Muito calor. Batimentos descompassados. E o ápice. Uma explosão. Fogo. Paixão. Arrebatamento. Acho que eu vi estrelas. Ou o teto desabou.
Então pausa. Hora do descanso. Respiração normalizando. Desacelerando. Corpos cansados e suados, agora lado a lado. E um silêncio gostoso. Ele deitado de barriga para cima, eu com uma perna e um braço enroscada nele. E eu adormeci. Exausta. Sem força.
Quando abri meus olhos alguns minutos depois ele me observava dormir, deitado ao meu lado. Tão tranqüilo, sereno e lindo.
- Oi... – eu me ajeitei melhor para olhá-lo.
- Oi. – ele respondeu num sussurro, no mesmo tom de voz que eu.
- Quanto tempo eu dormi? – me espreguicei e apoiei a cabeça em seu peito.
- Não muito. Uns vinte minutos.
- Ah... – eu bocejei – Eu tô com fome. – comentei já me sentando. – Vamos comer?
- Eu tenho que ir.
- Não! – Ops. Melhor não parecer desesperada e louca por ele – Quero dizer, eu fiz lasanha. Janta comigo antes de ir?
- Tá bom. – seu rosto estava meio avermelhado, seu cabelo desgrenhado, mas ele estava exageradamente sexy. Perigosamente sexy.
Ele sentou-se à mesa e eu o servi.
- Teu vinho tá quente – eu constatei ao observar a garrafa largada sobre a mesa – Aceita outro vinho?
- Depende do vinho.
- Ah é, esqueci que você é esnobe – eu alfinetei – Não devo ter nenhum que satisfaça seu paladar apurado.
- E eu esqueci que você é implicante. – ele retrucou. Mas estranhamente ele ria, bem humorado. Provavelmente o George estivesse certo e o problema de Darcy fosse mesmo falta de sexo.
Comemos em silêncio. Era melhor não falarmos nada. A gente se entendia melhor assim. De vez em quando a gente se olhava e sorria.
- Esse vinho é bom. – ele comentou rompendo o silêncio – E a lasanha também.
- É a minha preferida.
- Não é um pouco de pretensão ter sua própria lasanha como preferida?
- Mas sou eu que faço. Então eu coloco nela tudo que EU gosto. Qual o problema?
- Ainda assim é estranho. – ele comentou com um leve sorriso debochado.
- Sabe o que é estranho?
- O quê?
- Você não vai gostar de ouvir.
- Mesmo que eu não vá gostar, sei que isso não te impedirá de dizer.
- É verdade.
- O que é estranho, Lizzy?
- Que quando eu te conheci a primeira vez você não sorria.
- E?
- E agora você não para de sorrir.
- E?
- Isso quer dizer que eu te deixo feliz! – eu sorri com uma expressão deslavada.
- Há-há-há. Você é convencida e cara de pau.
- Sou mesmo. E agora, como você vai aprender a viver sem mim?
- Por que eu vou ter que viver sem ti?
- Por que sim.
- E se eu não quiser?
- Você não tem escolha.
- Hum.
- Eu não sou o tipo de mulher que namora, William. Gosto de ter minha liberdade.
- Mas a gente não pode se encontrar de vez em quando?
- Não.
- Por que não?
- Por que você não é qualquer um, William.
- Como assim?
- Por que você é o homem da minha vida e eu logo ficaria perdidamente apaixonada.
- Você é bem direta, hein?
- Sou mesmo. Não tenho nada a perder. E depois, eu não quero mais te ver.
- Nunca mais?
- Não.
- Tem certeza?
- Tenho.
- E como você vai aprender a viver sem mim, Lizzy? – ele repetiu minha pergunta.
- Como sempre vivi.
- Ai é que você se engana. Você nunca mais vai me esquecer. – e ele sorriu. Com a mesma expressão deslavada que eu. – Nunca mais. – ele repetiu, agora em tom de ameaça.
- Rum. – eu resmunguei levemente exaltada – Não daria certo, Will.
- Por que não?
- Tua família é dona do que mesmo?
- De uma faculdade particular, de uma fábrica de peças de automóveis, de uma construtora de imóveis e somos sócios majoritários da D&B advocacia, que meu pai comprou para mim.
- Isso quer dizer que se você fosse médico teu pai te compraria um hospital? – eu ironizei.
- Provavelmente. – ele respondeu com naturalidade e eu fiz uma careta.
- Então, Will! Você é irritantemente rico! Eu odeio pessoas ricas. – eu rosnei - E você é muito esnobe para o meu gosto.
- Como você é preconceituosa, Lizzy! Bom... Eu não vou mover uma única palha nesse sentido. Não vou procurá-la. Não vou atrás de você. Pode estar certa disso.
- Tudo bem – eu o interrompi.
- Ainda não terminei! – ele elevou o dedo indicador da mão direita – Mas você virá atrás de mim.
- Não vou não. – eu cruzei meus braços, contrariada.
- Você nunca vai me esquecer.
- Petulante e arrogante. – eu grunhi - Convencido.
- Agora eu vou indo. – rumou para o quarto para acabar de se vestir e eu fui para a cozinha para ver se me acalmava lavando os pratos. Com a raiva que eu sentia, eu era capaz de quebrar todos os pratos juntos na cabeça dele.
- Um último beijo? – ele se inclinou sobre mim e propôs.
- De jeito nenhum. – eu cruzei meus braços, decidida.
- Eu sei que você me ama, Lizzy.
- Nojento! – eu fiz uma careta repulsiva.
Então ele foi embora rindo de mim. Que ódio! Mas saiu da minha vida para sempre. Ou pelo menos era o que eu esperava. Ou não.

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