quinta-feira, 25 de junho de 2009

Prólogo de A Força de Anita - História de Tânia


A Força de Anita - Brasil 1967


Prólogo

Anita tinha 17 anos quando viu um de seus pais pela última vez.
Na época, não percebia o que se passava no seu país, o Brasil. Não percebia nada a um palmo de seu nariz. Suas únicas preocupações eram fúteis: festas e obter a atenção de um namoradinho. Mas ela não se contentava com pouco: o objeto de seus sonhos era o garoto mais popular e mais atraente da escola.
Anita era ambiciosa. Linda, de uma família tradicional, e rica. Uma estudante dedicada e inteligente. Definitivamente, não se contentaria com pouco, queria o melhor para si. Um homem rico, pelo menos. E muito, mas muito bonito, de preferência. E Adriano se encaixava plenamente nessas descrições.
Desejava se casar na igreja, de branco e véu e grinalda. Um casamento em grande estilo, grandioso e pomposo, de causar inveja a todos e de preferência antes dos 20 anos. Ansiava em dar seu primeiro beijo em Adriano ainda naquela noite e oficializar seu relacionamento de uma vez por todas. Estava farta das trocas de olhares e das leves roçadas de mão ao acaso. Queria mais. Almejava se casar em no máximo dois anos. Seria uma ótima dona de casa e uma mãe dedicada. Esses eram seus sonhos e anseios. Não planejava estudar ou entrar para uma faculdade como muitas de suas amigas. Seus pais tinham dinheiro, não precisaria de uma profissão.
Naquela noite, completamente alienada ao que acontecia no seu país, arrumava seus cabelos castanhos para a reunião dançante da escola, no clube. Sua mãe a ajudava a prender seus cabelos num coque alto, firme e armado à base de muito laquê. Os cílios longos sobre seus olhos amendoados eram ressaltados pelo rímel negro, dessa vez dispensando os cílios postiços, moda da época. O vestido de tafetá rosa claro evidenciava suas curvas perfeitas. Corpo de mulher, não mais de menina. O batom rosado salientava seus lábios volumosos, convidando para um beijo. E sua mãe a ajudava, sem que Anita soubesse que talvez ela fizesse isso pela última vez.
Na hora de sair, seu pai lhe deu um longo abraço, orgulhoso da beleza estonteante de sua filha única. Consciente de que ela crescia e se tornava uma mulher. Não era mais sua menininha. Um abraço e um beijo na bochecha acompanhado de um “se divirta, minha filha”. E aquele talvez fosse o último abraço, sem que ela soubesse.
Essa era a vida da Anita até aquela noite. Seus desejos eram típicos de uma adolescente comum. Talvez fosse mais alienada e infantil do que as maiorias dos adolescentes. E essa era sua última noite naquela vida, sem que ela tivesse consciência disso.
Por que em poucas horas, seu mundo viraria de cabeça para baixo. Por que pouco tempo depois, nada mais passaria a ter sentido. Seu mundo ruiria sem qualquer aviso e nada mais voltaria a ser igual.

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