quinta-feira, 25 de junho de 2009

A Garota do Metrô - conto de Tânia - completa


Feito para a comunidade Orgulho e Preconceito Fanfics - Com Lizzy e Darcy
A garota do metrô

Todos os dias Elizabeth Bennet saía do trabalho pontualmente às 18 horas e pegava o metrô das 18:10. Subia e sentava sempre no mesmo lugar, ou próximo a ele, quando seu assento preferido não estava disponível. E assim que se sentava, abria um livro e afundava o rosto nele, apenas voltando à realidade quando perto da sua parada. Não precisava ficar cuidando o trajeto – já conhecia o tempo do trem ao de cor - não olhava nada ao redor, esquecia-se do mundo e apenas prestava atenção ao que lia. De vez em quando parava de ler para ceder à passagem para quem quisesse sentar ao seu lado, mas logo em seguida voltava os olhos para o livro. Esse era o seu tempo de ler – uma de suas atividades favoritas-, pois sempre que chegava em casa tinha tantos afazeres que simplesmente não conseguia fazer mais nada.
E essa era a sua rotina: ia do trabalho para casa, e da casa para o trabalho e assim passavam-se os dias. Nos finais de semana visitava seus pais e via sua irmã mais velha, Jane, e seu marido. Mas durante a semana a única companhia que tinha era de seu gato amarelo Félix que sempre a recebia na porta do apartamento. O gato era um ótimo companheiro e dormia com ela na cama, amenizando suas longas noites de solidão.
Naquela noite, sairia um pouco da rotina: iria jantar com sua amiga Charlotte, que estava ansiosa para lhe entregar seu convite de casamento. Quem diria: Charlotte casaria enquanto que ela continuava solteira e nem sequer namorado tinha! Ela, a mais bonita da turma de faculdade (como todos enfatizavam sempre) continuava solteira e sem nenhuma perspectiva de arranjar um namorado, sem nenhuma paquera sequer. No trabalho praticamente só havia mulheres, e os únicos homens disponíveis ela só encararia se estivesse muito desesperada. Mas esse não era o caso: ela sentia-se muito bem sozinha. E se seguia sua rotina do trabalho para casa, diariamente, sem fugir muito disso, como arranjaria um namorado? Onde conheceria alguém?
- Lizzy! - Charlotte chegou pouco depois da amiga, sentando-se na mesa com ela. – Então amiga? Como vão as coisas?
- Tudo normal. Sem nenhuma novidade. – os dias pareciam sempre iguais.
- Ah... Mas eu tenho um amigo para te apresentar. Acho que ele é perfeito para ti! – discorreu empolgada, com um sorriso nos lábios.
- Não, Charlotte! Nem vem que eu não caio mais nessa, nunca mais irei deixá-la marcar um encontro para mim! – fez uma careta lembrando-se do tormento que foi seu encontro com Tom, “um desses amigos” arranjados por Charlotte. – Estou muito bem sozinha.
- Sei... Mas posso te dar um conselho, amiga? Você promete que irá me ouvir dessa vez? Por favor? – ela suplicou.
- Dependo do conselho. Mas prometo que te ouvirei e se for viável tentarei segui-lo.
- Assim, Lizzy... Lembra da vez que eu fui contigo até o teu trabalho e nós voltamos juntas de metrô? Eu reparei em algumas coisas... Eu reparei em como você age... E acho que posso te dar um conselho, Lizzy.
- Hum... O quê? – levantou os olhos do cardápio e a encarou, curiosa.
- Lizzy, amiga, você simplesmente não olha para os lados, não nota o que se passa ao teu redor... Se alguém se sentar ao teu lado no metrô todos os dias você é capaz de nem perceber...
- Ah, que é isso, Charlotte, não é bem assim...
- É assim sim, e você sabe que é.
- É... talvez seja assim, mas essa é a única hora que eu tenho para ler...E eu adoro ler...
- Lizzy, eu sei que você gosta de ler, mas me promete uma coisa?
- O que Charlotte?
- Todos os dias, a partir de amanhã, você irá levantar os olhos do livro e olhar ao redor por pelo menos 5 minutos.
- 5 minutos? Está bem, Charlotte. Acredito que consigo fazer isso por cinco minutos – respondeu, achando graça do pedido desconexo da amiga.
No dia seguinte, Lizzy seguiu sua rotina normalmente, mal se lembrando da conversa do dia anterior. Mas quando o trem já estava na metade do caminho até sua casa, lembrou-se do pedido de Charlotte. Cinco minutos – ela repetiu para si mesma – creio que cinco minutos não me farão tanta falta assim. Penso que o livro pode me esperar por cinco minutos – reforçou tal pensamento, já levantando a cabeça para olhar ao redor.
Um homem de meia idade dormia com a cabeça escorada na janela, uma mulher brigava com sua filha pequena que não queria ficar quieta num banco próximo ao dela, um homem mastigava um resto de sanduíche de boca aberta – que nojo, ela pensou, desviando rapidamente os olhos.
Em menos de dois minutos, já tinha observado quase todos os cantos do trem em movimento e logo perdeu o interesse. E ainda faltavam três minutos, constatava vendo os lentos ponteiros de seu relógio de pulso, impaciente para voltar ao seu romance.
Ok Charlotte, o que eu não faço por você – pensou, resistindo bravamente a vontade de voltar ao livro.
E então algo chamou sua atenção: nos últimos bancos, nos assentos disponíveis na parte de trás do trem, havia um homem sentando lendo um enorme jornal. O jornal em que ela trabalhava! Concentrou toda atenção sobre ele e quando viu já havia passado mais de três minutos. E nesse tempo todo ele sequer se mexeu ou tirou os olhos do jornal. Ele parecia com ela – concluiu, achando graça.
Ficou esperando - mesmo tendo passado mais de cinco minutos - ele virar a página. Queria ver se enxergaria o seu rosto, pois tudo que conseguia ver até aquele momento eram suas mãos. Belas mãos – e pelas mãos imaginou que o resto também fosse bonito. E ele não tinha aliança, percebeu rapidamente.
Então ele fez um movimento e virou uma página, mas mesmo virando a página, pouco se mexeu e ela não pôde ver nada além do jornal. Cansou de esperar, e logo voltou sua atenção para o livro. Amanhã teria mais cinco minutos e quem sabe visse algo diferente? E quem sabe amanhã conseguisse ver melhor o homem do jornal? Sim – era assim que o chamaria daquele dia em diante: o homem do jornal! E será que alguém a chamava da “garota do livro”- conclui por fim, com vontade de rir.
No dia seguinte, tão logo subiu no metrô, percebeu que ele já estava lá: sentado, no mesmo lugar, com um jornal em frente ao rosto. Curiosa, resolveu “gastar” seus cinco minutos antes mesmo de iniciar a leitura. Mas como no dia anterior, não conseguiu ver nada, e logo voltou sua atenção ao livro. E assim passou a semana inteira, sem que ela conseguisse ver a face do “homem do jornal”.
Charlotte tinha razão – concluiu olhando para ele – quantas pessoas podem ter reparado em mim sem que eu sequer as notasse.
Mas na semana seguinte algo aconteceu: um toque de celular! Ela virou logo para trás, na esperança que fosse o celular do homem do jornal. E era! Mas ele atendeu sem tirar o jornal de sua frente.
Como ele consegue fazer isso: atender o celular sem largar o jornal? – ela pensou, com raiva e com vontade de correr até lá e arrancar o jornal. Mas então se acalmou, ouvindo pela primeira vez a voz dele.
A voz do homem do jornal era simplesmente linda! E ela logo imaginou aquela voz rouca ao seu ouvido, aquela voz rouca falando exclusivamente para ela. E pela conversa de trabalho, deduziu que ele deveria ser advogado.
Só posso estar ficando louca – puniu-se em pensamento – sonhando com um homem que eu sequer vi! E resolveu que não olharia mais para ele, estava cansada de ficar imaginado o que havia por trás daquele jornal.
E assim passaram-se os dias, e diariamente, por mais que não quisesse, ela gastava os seus cinco minutos inteiros olhando para ele. Já conhecia três de seus pares de sapatos, já conhecia seu estilo de calça – porque calças, sapatos e as mãos, era tudo o que ela conseguia ver. Era tudo o que o enorme jornal deixava descoberto. Mas havia perdido a esperança que ele espontaneamente largasse o jornal e já fazia planos de sentar-se ao lado dele. Fazia planos de iniciar uma conversa, só para conseguir olhar para ele. Mas sempre que tencionara fazer isso, lhe faltava coragem. E afinal, o que diria?
Um dia, sem que ela precisasse se esforçar para isso, o que ela mais desejava aconteceu. Simplesmente aconteceu quando ela já estava desistindo... Após mais de três semanas de intensa curiosidade, ela finalmente o viu.
Uma mulher de meia idade entrou no trem com uma criança que mais parecia sua neta. Uma menina linda, com cabelos loiros cumpridos e encaracolados, que aparentava ter por volta de seis anos de idade. Uma criança com um encantador sorriso no rosto, que parecia se divertir com uma pequena boneca que trazia à mão. Uma criança alegre e simpática, que cativava e seduzia quem estivesse por perto.
Se a menina não tivesse entrado nos cinco minutos que Elizabeth tirava para observar ao redor, com certeza não repararia nela. Mas naquele momento, Elizabeth prestava atenção e a seguiu com o olhar. A seguiu e percebeu quando ela se dirigiu para sentar ao lado do homem do jornal. E vendo a criança ao seu lado, aquela criança linda e encantadora, ele baixou o jornal e iniciou uma conversa com ela.
Elizabeth não acreditou, e não conseguiu disfarçar seu espanto: ele enfim baixou o jornal! – fixou o olhar sobre ele, sem conseguir desviar. O homem atrás do jornal era lindo! Com os cabelos castanhos e olhos de um intenso azul, feições agradáveis e simétricas, ele era simplesmente perfeito! E sorria para a criança, e seu sorriso parecia o sorriso mais belo do mundo!
Elizabeth fixou os olhos sobre ele, sem perceber direito o que fazia, sem conseguir disfarçar. Apenas não conseguia não olhar para ele, estava paralisada, e só o que queria fazer naquele momento era continuar olhando. Estava boquiaberta, atordoada, e sua expressão revelava tudo o que sentia naquele momento. E foi então que ele a viu.
O homem do jornal virou-se para a frente e percebeu os olhos dela fixos sobre ele. Era claro e nítido que ela já o observava há algum tempo. E por alguns segundos, seus olhares se cruzaram. Antes que Elizabeth, envergonhada, como se tivesse sido pega em flagrante, rapidamente baixasse o rosto e fingisse prestar atenção ao seu livro. Seu coração batia com agitação e precisou de vários minutos para voltar ao normal. Tomou fôlego e coragem, e novamente virou para trás.
Desta vez, ele mantinha o jornal ao seu lado e fitava uma janela, parecendo distraído, com um suave sorriso no rosto. Ele estava sorrindo – Elizabeth constatou, sem vontade de desviar os olhos. Por que será que ele está sorrindo? – ela se perguntava, agitada e nervosa. Então ele novamente olhou para ela, e desta vez ela não desviou o rosto tão rápido. Ficaram se encarando por quase um minuto, quando por fim a vergonha venceu e ela baixou a cabeça. Tentou retomar a leitura, mas não conseguiu prestar atenção em mais nada.
O homem do jornal era lindo e olhara para ela! E agora, como seria nos próximos dias? Como seria nas próximas vezes em que se encontrassem? Mas já era sexta-feira e teria que esperar passar o fim de semana para descobrir.
Durante a semana seguinte, ele continuou a ler o jornal, apenas cuidando para deixar o rosto descoberto, e ela continuou a ler seu livro, ou fingindo que lia. E por várias vezes durante todos os dias que se encontraram, trocavam olhares. Às vezes ela percebia que ele a olhava e às vezes ocorria o contrário. E por vários momentos seus olhares se cruzavam.
E assim, com esse clima de paquera no metrô, a sexta-feira chegou novamente. Só que nessa sexta-feira, ele não desceu em sua habitual estação e sim antes dela. E ao passar por ela, bateu delicadamente em seu braço e lhe estendeu um cartão, que ela demorou um pouco mais que o normal para pegar, pois ficou sem reação com a surpresa. Ele apenas sorriu e nada disse, ao lhe alcançar o cartão, e logo se afastou e saiu do trem em seguida sem virar para trás.
Elizabeth ficou o resto do trajeto com os olhos fixos no pequeno cartão branco acinzentado. Tinha o tamanho exato de um cartão de visita, mas estava escrito à mão.
“Encontre-me sábado no bar do Joe às 20 horas.” – embaixo havia o endereço e uma sigla que devia ser o nome dele: W. D.
Ela não conhecia a rua, nunca havia ouvido falar no tal de bar, mas estava decidida a ir. Iria de qualquer jeito! Afinal, não era um encontro com um homem qualquer, era um encontro com ele: o homem do jornal. O homem W.D. do jornal! Tentava imaginar o nome dele pelas iniciais, mas não chegou a nenhuma conclusão e logo desistiu e decidiu chamá-lo de o homem W.D. lindo do jornal.

Chegou ao bar quinze minutos antes da hora marcada, olhou em volta e não o encontrou. Resolveu então sentar no balcão e pedir uma coca cola com limão e gelo. Não beberia nada de álcool, queria estar completamente lúcida quando ele enfim aparecesse. Acabou seu refrigerante e ficou distraída brincando com o copo vazio, fazendo movimentos circulares com um dedo sobre um cubo de gelo.
Reparou novamente nas pessoas ao redor, para ver se a sua roupa era mesmo adequada ao ambiente. Levara um longo tempo para decidir o que vestir, e ainda não estava bem certa da escolha. Fazia calor durante o dia, e a noite a temperatura caia um pouco. Optou por um vestido preto de alçinha com um detalhe em branco na região do busto e um insinuante decote. O vestido terminava na altura no joelho e combinavam com o preto de seus sapatos quase sem saltos. Não gostava de usar saltos e era assim que ele a vira todos os dias, então não precisava colocar um sapato mais alto e ficar desconfortável apenas para conquistá-lo. Para finalizar a escolha, colocou um casaco fininho de mangas cumpridas branco. O casaco era mais curtinho e amarado bem no meio com um laço. Deixou seus cabelos compridos e castanhos soltos. Ele sempre a via de cabelos presos – será que gostaria de vê-los soltos?
E assim ficou, distraída e brincando com o cubo de gelo e quando ele por fim derreteu pediu outro copo de coca cola.
- Oi. Desculpa, eu demorei um pouco... – ele enfim chegou, agitado, mas pontualmente no horário marcado. Estava com os cabelos esvoaçados, provavelmente por ter corrido para conseguir chegar. E seus olhos estavam ainda mais brilhantes e azuis do que ela se lembrava.
Olhos lindos – ela pensou e conclui que facilmente se perderia naquele olhar.
- Oi – ela respondeu, sorrindo timidamente, sem desviar os olhos do dele.
Ele chegou próximo a ela, mas ficou indeciso quanto ao lugar onde se sentar. Reparou numa mesa vazia num canto, onde teriam mais privacidade. E ele parecia nervoso, talvez mais nervoso até do que ela. Olhou para ela e olhou para a mesa e Elizabeth logo percebeu sua intenção.
- Você quer sentar lá? – ela indagou, já que ele se mantinha em silêncio, parecendo pouco a vontade. E se ele fosse mais tímido do que ela, como eles conversariam?
- Hum rum. – ele concordou sem dizer mais nada e então ela se levantou e ele a seguiu.
Sentaram-se à mesa e ele pediu uma dose de uísque, que bebeu rapidamente, num gole só. Ela então colocou os cotovelos sobre a mesa, apoiando a cabeça num dos lados, passando a olhar fixamente para ele. Ele percebeu e correspondeu ao olhar.
- Como é o teu nome?
- Meu nome? – ela indagou achando graça do inusitado da situação. Estava num bar, com um homem que não sabia sequer o nome e que também não sabia o nome dela. – É Elizabeth Bennet. – ela respondeu, sorrindo.
- Você fica linda sorrindo – ele observou, fitando-a com atenção. Parecia encantado por ela. Tímido, mas fascinado. – Meu nome é William Darcy.
- W. D. – ela frisou, lembrando das iniciais do cartão.
- É – ele respondeu, sem saber como continuar a conversa – Você vai querer terminar a tua coca cola? – inquiriu, observando o copo ainda pela metade.
- Não sei, por quê?
- Por que gostaria de te levar a um lugar.
- Um lugar? Para onde? – indagou, curiosa.
Ele deu um leve sorriso como resposta, deixando-a em suspense. Mas ela sabia que podia confiar nele. Mesmo sem conhecê-lo direito, o seguiria para qualquer lugar.
- Não quero mais terminar a minha coca cola. Podemos ir, se você quiser.
- Está bem,vamos então. – ele levantou, depositando dinheiro sobre a mesa para pagar a conta. Ela não reclamou e deixou que ele pagasse sua parte também, gesto que não aceitaria de nenhum outro homem. Mas naquele momento, estava inebriada e não reclamaria de nada que ele fizesse.
- Para onde nós vamos? – repetiu a pergunta ao chegarem fora do bar.
- Para lá – apontou para o lado direito. Ele estava sério, parecia preocupado.
- Mas vamos a pé?
- Sim. O local que eu quero te levar fica há uma quadra daqui. Escolhi o bar do Joe por ser perto.
- Ah... – seguiram calados, lado a lado. Até que ele parou em frente a uma galeria de arte.
- É aqui que nós vamos? – ela indagou, um pouco surpresa.
- É sim. Nesta semana estou expondo meus quadros. – ele respondeu, com um olhar perdido na parte de dentro.
- Você pinta? – perguntou espantada e empolgada ao mesmo tempo. Nunca imaginaria que o homem atrás do jornal era um artista!
- Nas horas vagas.
- E o que você faz nas outras horas?
- Sou advogado. E você?
- Eu sou jornalista. Escrevo uma coluna semanal naquele jornal que você sempre lê e outras reportagens sobre os acontecimentos diários.
- Sério? Mas não me lembro de ter lido nada no teu nome: Elizabeth Bennet... – repetiu o nome, tentando recordar de alguma vez ter visto o nome dela no jornal.
- É que eu uso meio que um pseudônimo. Assino com outro nome.
- Qual?
- Liz Stevens, que é o meu sobrenome do meio. Não gosto de ser reconhecida.
- Você é a Liz Stevens? – inquiriu, assombrado. – Nossa, eu adoro a tua coluna! Quem poderia imaginar? – ele a encarou e sorriu, extasiado e encantado. Quem diria, a garota do metrô era uma de suas escritoras favoritas!
Sentiu-se mais disposto, mais seguro para enfim convidá-la para entrar. Durante o tempo todo estava nervoso, esperando por esse momento. Mas agora estavam ali e era tarde demais para voltar, ele não podia mais desistir. Tomou coragem e a convidou para entrar.
- Vamos?
- Sim! – ela respondeu, com os olhinhos brilhando, encantada por ele. Ela estava ansiosa para ver seus quadros, para conhecer um pouquinho mais sobre o seu homem do jornal.
Nos primeiros quadros de sua exposição havia figuras humanas, paisagens e animais de diversas espécies. Pinturas retratadas com uma impressionante fidelidade, dignas de um verdadeiro profissional e não de um pintor amador.
- Nossa! – ela comentou, sem tirar os olhos das telas, admirada – Você pinta muito bem. É a sua primeira exposição?
- É sim – ele respondeu, chegando pelas costas dela, quase encostando seu corpo no dela – Nunca me senti pronto antes para expor. Mesmo essa galeria sendo da minha família e estar disponível para mim, não me achava bom o suficiente.
- É? – ela pensou um pouco, e enfim virou-se para ele e o encarou - E agora, por que resolveu expor?
- Digamos que eu encontrei a coragem que eu precisava nesses últimos dias.
- Ah... – voltou então a fitar os quadros, sem saber o que pensar. Será que veio dela a coragem que ele precisava? Não, não podia ser. Ela concluiu, sem querer se iludir. – E há quanto tempo você pinta?
- Há um ano.
- Seus quadros são lindos! – virou-se novamente para ele, maravilhada pelos quadros e pela proximidade com aquele homem. Ele era alto, e em pé, frente a frente, ela batia quase em seu ombro. Devia ter vindo de salto – pensou – para ficar mais próxima a ele.
- Isso que você ainda não viu os meus preferidos. Eles estão em destaque em outro setor.
-Ah é? Então o que a gente está esperando, vamos lá agora! – ela exclamou, já querendo ir. Mas quando estava saindo, ele a segurou pela mão, fazendo-a parar.
- Espere – ele pediu, parecendo novamente nervoso.
- O que foi?
- Não sei o que você achará deles, não sei se devo te mostrar...
- Ah... – ela ficou com receio que ele não quisesse mais mostrá-los e estava tão curiosa, tão ansiosa, que simplesmente não ficaria mais parada esperando pela iniciativa dele. Com um movimento rápido, soltou a mão presa e rumou em seguida para onde pensava que fosse o outro setor. Mas o que viu – quem poderia imaginar - a deixou estática, boquiaberta, sem reação.

Havia cinco quadros com a reprodução perfeita de Elizabeth, mais parecendo uma fotografia, e em cada um ela segurava um livro diferente à mão. E o título acima deles: “A garota do metrô.”
Os livros que eu li no último ano! – concluiu em pensamento, atônica – então ele já me observa há um ano e eu não percebi?
Em quatro deles, menores, ela estava de cabeça baixa, lendo com concentração. Em um desses quatro, ela deixava escapar um sorriso no canto dos lábios, em outro, parecia estar com vontade de chorar. Então era isso: ele conseguiu captar e retratar o que ela sentia com cada livro!
E havia um quadro maior, central, diferente dos outros: nesse ela não olhava para os livros, nesse ela estava virada, reparando em algo que havia em suas costas. E a expressão que fazia? Nem ela percebeu que fazia aquela expressão naquele momento. Que vergonha – ela constatou – ao ver sua própria imagem bem desenhada.
- E esse quadro? – ela indagou, apontando para o quadro, sem acreditar no que via. Ainda estava atônica, de boca aberta, e não conseguia desgrudar os olhos das imagens.
- Foi na semana passada. – ele respondeu, simplesmente, sem maiores explicações.
- Foi de quando eu te vi pela primeira vez, eu sei. – ela riu, ainda sem coragem de olhar para ele. – Que vergonha, eu nem consegui disfarçar o que senti quando te vi...
- E o que você sentiu? – ele tomou coragem, chegando mais próximo a ela.
- Fazia três semanas que eu te olhava, mas você nunca baixava aquele jornal e eu não conseguia ver o teu rosto... E eu fiquei tão surpresa quando finalmente te vi, que pelo visto nem consegui disfarçar...
- Três semanas? Tudo isso? E como eu não percebi? – ele falou quase junto ao ouvido dela. Ela ainda mantinha-se de costas para ele, mas ele estava cada vez mais próximo e praticamente colara seu corpo no dela. Apenas poucos centímetros os separavam naquele momento.
- É... – ela não conseguiu dizer mais nada, senti-lo tão perto a desconcertava. Não conseguia racionar com clareza, apenas ansiava por ficar ainda mais próxima dele. E para disfarçar o que sentia, mantinha os olhos fixos nos quadros. Mas já não olhava para eles, já não via mais nada.
Ele – parecendo ler seus pensamentos – tocou inicialmente de leve em seu ombro e em seguida espalmou sua mão sobre ele. E esse simples toque provocou um turbilhão de sensação em ambos. Ela fechou os olhos, esperando pelo que viria em seguida. Encolheu-se um pouco, como resposta involuntária àquela mão presa ao seu ombro. E quando por fim relaxou, jogou propositalmente seu corpo para trás, acabando de vez com a barreira que havia entre eles.
Ele, rapidamente, enlaçou-a pela cintura com ambos os braços, comprimindo um pouco mais seu corpo contra o dela. E ao menos tempo em que fazia isso, depositava suaves beijos em seu pescoço. Elizabeth, com a proximidade, apoiara a cabeça sobre o peito dele, inclinando um pouco o pescoço e deixando-o exposto e oferecido a ele.
Nenhum dos dois falava nada, não precisavam de palavras naquele momento. E não havia nada a ser dito: aqueles quadros diziam tudo por eles.
Ela girou um pouco a cabeça para olhar para o rosto dele, enquanto que ele mantinha os braços em torno dela. Seus olhos se encontraram por poucos segundos, mas logo em seguida desviaram seu foco de atenção. E os olhos passaram a focalizar a boca um do outro, tão próxima de si. E rapidamente, romperam a distância que ainda havia entre os lábios, comprimindo o lábio de um contra a boca do outro. Ambos estavam inebriados, apaixonados e entregues. E ao provar aquele beijo, tiveram certeza que nunca mais iriam querer saber de nenhum outro.
O beijo começou suave, com um toque sutil de lábios. Mas o desejo de ambos era intenso, e logo passaram a se devorar através daquele beijo. Com movimentos frenéticos de língua, beijavam-se com voracidade. Ele apertou a nuca dela durante o beijo, como se tentasse trazê-la para mais perto ainda. E ela envolveu o corpo dele num abraço apertado, cravando por vezes as unhas em suas costas. Se pudessem, devorariam um ao outro ali mesmo, em pé, no meio da galeria. Mas ouviram vozes e tiveram que se separar. Soltaram-se rapidamente, como que trazidos de volta à realidade.
Assustados: olharam-se, como se buscassem explicação para a intensidade daqueles sentimentos. Olharam-se, e descobriram o mesmo espanto estampado na expressão do rosto do outro. E então relaxaram e riram, cúmplices e conscientes da reciprocidade de seus sentimentos.
- Meu irmão, você está ai... Viemos te convidar para jantar com a gente – Uma loira de aproximadamente 20 anos de idade entrou na galeria afoitamente, segurando pela mão um homem alto que a seguia, que pelo visto devia ser seu namorado. Entrou tão rapidamente, que nem percebeu que ele estava acompanhado.
- Oi Georgiana. – ele respondeu, sorrindo com um semblante tranqüilo com há muito tempo não exibia. – obrigada pelo convite, mas já tenho programa para hoje. Esta é a Elizabeth.
Só após essa introdução, Georgiana reparou em Elizabeth que estava parada perto deles.
- Você? – Georgiana balbuciou, confusa, fitando-a dos pés as cabeça, não disfarçando o seu assombro – Mas você é a garota do metrô! E eu achei que você nem existisse!
Falou sem pensar, dizendo o que lhe veio à cabeça. E logo se calou, embaraçada por ter falado demais.
- Desculpa meu irmão, desculpa Elizabeth... – prosseguiu, atrapalhada, dando passos para trás. E logo se retirou, de maneira tão afoita quanto chegou.
Elizabeth achou graça e começou a rir assim que ela saiu. E agindo dessa forma, acabou com qualquer constrangimento que ele pudesse sentir com o comentário da irmã.
- Bom, onde foi que nós paramos? – ele indagou, se aproximando novamente dela.
- William? Qualquer um pode entrar aqui? – ela indagou, após parar de rir.
- Sim, qualquer um. A galeria é aberta a visitantes.
- Hum...Eu penso que não é adequado a gente... bem, você sabe. – se explicou, atrapalhada.
Ele recuou um pouco, se distanciando dela para pensar. Se continuasse tão próximo a ela, não racionaria e a tomaria nos braços imediatamente. Porque a vontade que tinha era de agarrá-la ali mesmo, sem se importar com mais nada.
- Venha, Elizabeth. – após refletir por um momento ele lhe estendeu o braço, como um convite, o que ela aceitou com prontidão.
De mãos dadas, ele a levou para uma sala, que parecia ser um escritório. Entraram, e ele trancou a porta atrás deles. Não acendeu a luz e ela pôde observar alguns poucos móveis através da fraca iluminação que vinha da janela semi-aberta.
Tão logo fechou a porta, se apossou novamente dos lábios dela. E assim, sem se largarem, sem se desgrudarem por nenhum segundo, foram juntos até a escrivaninha, onde se apoiaram. Darcy colocou Elizabeth sentada sobre a mesa e encaixou seu corpo no meio das pernas dela, comprimindo-o, apertando-a. E Elizabeth teve que se apoiar sobre os braços para não cair para trás, pela pressão que ele fazia sobre ela. Aproveitou essa posição para tirar seu casaco, sem encerrar o beijo, sem deixar de beijá-lo.
Sem o fino casaquinho branco, seus ombros ficaram a mostra e seu decote na região do busto mais evidente. Ambos expostos, se oferecendo a ele. E ele não precisou de convite para tocá-los tão logo os viu. Começou acariciando a região da nuca e do pescoço, passando para os ombros, com movimentos agíeis de suas mãos. Logo em seguida desceu e se deteve por mais tempo na região dos seios. Baixou as alças do vestido para deixar o caminho livre para suas investidas e em seguida, com precisão de um amante experiente, abriu o sutiã, atirando-o para cima da mesa, junto com o casaco branco. Parou de beijá-la por alguns segundos, para observar atentamente seu objeto de desejo. Em seguida, olhou para ela e sorriu, satisfeito, e buscou novamente seus lábios. Acariciou ambos os seios ao mesmo tempo, um com cada mão, e ficou um tempo sentindo-os, sem pressa.
Elizabeth, inebriada, fora de si, abriu de forma afoita a camisa dele, com tanta urgência que acabou arrancando um botão. Queria senti-lo, queria tocar em sua pele, queria ele cada vez mais próximo. Sem deixar de beijá-lo, inclinou um pouco a cabeça para conseguir observar seu peito agora exposto. E ficou satisfeita com a visão que obteve de sua barriga perfeita: magra e um pouco definida. Pouco definida como ela gostava, já que não era muito fã de homens musculosos. Sorriu, radiante, sem desgrudar seus lábios dos dele, e em seguida passou a explorar aquele peito agora desnudo.
Ela subiu um pouco as pernas, colocando-as em volta da cintura dele, como num abraço. E assim, apertou-as, encaixando ainda mais o corpo dele no dela. Sentindo, dessa forma, o que esperava por ela.
Ele então baixou as mãos e voltou sua atenção para a região das coxas, agarrando-as sob o vestido. Subiu o vestido dela, deixando-o concentrando na região da cintura, com as partes de cima e de baixo do corpo dela praticamente desnudas, exceto pela presença da pequena calcinha rosa de algodão. Buscou o contato do sexo dela ainda sob a calcinha, o que fez com que ela se contraísse um pouco e soltasse um pequeno gemido.
Não se agüentando mais, Elizabeth baixou as mãos para baixo da cintura dele, tocando pela primeira vez naquilo que mais queria. Ficou satisfeita ao senti-lo, por constatar que era muito mais que do esperava. Ele pegou a mão dela e a guiou até seu zíper, ao mesmo tempo em que a ajudava a desafivelar seu cinto. E assim, deixou suas calças caírem aos pés, ficando somente de cuecas, que ela logo tirou também. Então o caminho ficou livre para ela tocá-lo como deveria e como ela queria, deixando-o completamente fora de si. Enlouquecido, Darcy logo arrancou a calcinha dela, jogando-a para longe. E tudo isso sem largarem os lábios um do outro, tudo isso devorando um ao outro através de um beijo.
Mesmo com pouca luz, pararam para se olhar. Olharam-se por poucos segundos e se entenderam sem precisar de palavras. Sabiam que aquilo era muito mais do que sexo. E nesse olhar, entenderam que estavam prontos para ser um do outro. Estavam prontos para se entregar um ao outro.
Darcy recebeu aquele olhar como uma autorização, e com ansiedade, aproximou-se ainda mais dela, buscando encaixar seu corpo no dela. Com agilidade, a penetrou rapidamente, logo ficando dentro dela. Começou com movimentos mais lentos, para que ela o acompanhasse também. Mas logo percebeu que ela sentia-se da mesma forma que ele, ela o apertava e o comprimia cada vez mais com as pernas. Então ele intensificou os movimentos e era tanto desejo acumulado, tanto sentimento reprimido por aquela mulher, que ele sabia que não se agüentaria muito mais. Ele a queria há tanto tempo! E sem mais agüentar, logo chegou ao êxtase, explodindo numa descarga de emoções dentro dela.
- Desculpa Elizabeth... – ele se desculpou sem jeito – Foi tão rápido... Eu não conseguia mais me agüentar... Mas eu te quero há tanto tempo...
Ela o encarou, sorrindo, não havia o que desculpar. Ela estava feliz, como nunca estivera antes.
- Na próxima vez você promete que faz melhor ainda? – ela indagou, sorrindo. Havia um brilho intenso em seu olhar.
- Prometo. – ele respondeu, decidido. – E pode ser daqui a pouco. – ele concluiu, relaxando e sorrindo também.
- Mas aqui? – ela indagou, olhando para os lados, percebendo onde eles estavam. – Vamos para a minha casa?
- Hum rum – ele concordou. Ele sabia que a casa dela era a mais perto da galeria e tinha pressa de estar novamente em seus braços.
Logo estavam vestidos e ele tentava se arrumar do melhor jeito possível colocando a camisa sem botão. Ela olhou para ele e riu, lembrando do botão arrancando.
- Posso ficar com um desses? – ela indagou, ao passar pelos quadros.
- Pode ficar com todos, menos com esse. – apontou para o quadro maior – Esse é meu, para eu sempre recordar da primeira vez que você me olhou.
Ela concordou e escolheu um para ficar com ela.
- Te entrego durante a semana, está bem?
- Sim.
Eles saíram da galeria de arte de mãos dadas, como dois namorados.
- Vamos pegar um táxi? – ela indagou, ao chegar à rua e perceber o adiantado da hora.
- Não, vamos de metrô. – ele respondeu decidido. E como se lesse os pensamentos dela, acrescentou - Mesmo que esteja tarde, penso que devemos ir de metrô. E depois, você não precisa ter medo, desta vez estará comigo.
- É – ela concordou. Olharam-se e riram. Realmente era a melhor decisão.
O homem do jornal e a garota do metrô subiram no trem e pela primeira vez sentaram juntos. Subiram pela primeira vez juntos para nunca mais se separar.


FIM








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