sexta-feira, 26 de junho de 2009

O homem Certo - História de Tânia - Capítulo 3





Capítulo 3

- Achei que você não viesse. – ele resmungou, impaciente.
- George! Mas são dez em ponto! – eu retruquei, achando graça.
- Mas você não é do tipo pontual, Lizzy. É do tipo pelo menos quinze minutos adiantada.
- Ah, é verdade. E se não fosse o trânsito infernal e a burocracia para subir no teu prédio, eu não teria perdido tanto tempo. Só faltou pedirem meu tipo sanguíneo e meu extrato bancário para me deixarem entrar. – eu bufei. – Aliás, se tivessem pedido meu extrato bancário, eu teria sido barrada ainda na porta.
- Falando nisso, qual o teu tipo sanguíneo? – ele brincou.
- O negativo. Sou doadora universal.
- Eu bem que desconfiei, Lizzy. Que você doasse para todo mundo. – ele debochou e sorriu de forma implicante.
- Rá-rá! Muito engraçadinho. – e eu bati nele com o meu casaco.
- Nossa! – pendurei meu casaco no cabide que havia no canto da sala, revelando meu traje de baixo. Uma calça jeans que realçava meu corpo e uma blusa preta com um decote provocante. O que deixou o George boquiaberto. – Mudei de idéia, Lizzy. Não vou mais deixar você ir à sala do Darcy.
- Por que não?
- Você vai ficar aqui comigo. – ele chegou na minha frente, me prensando contra sua mesa.
- Para, George. Contenha-se. Deixa de ser tarado. – e eu o afastei para o lado.
- Não posso, Lizzy. Isso faz parte da minha essência. – e ele riu – Aliás, manda lembranças minhas a Isadora, a secretária gostosa do chefinho.
Ele então me explicou onde ficava a sala de William Darcy e segui na direção indicada. Firme, forte e decidida. Agora, eu sabia o que eu queria. Não fugiria mais.
- Sim? O que você deseja? – uma loira sensual me recebeu. Seu tom de voz destoava de sua expressão. Sua voz era forçada, na tentativa de forjar simpatia, enquanto seus olhos me encaravam e me analisavam como se eu fosse uma inimiga.
- Gostaria de falar com o Sr. Darcy. – tentei fazer com a minha voz soasse como a dela, embora minha expressão não fosse tão carregada.
- Você tem hora marcada? – consultou uma agenda que havia em sua frente.
- Não. Mas sou uma velha amiga dele. Creio que ele gostaria de me receber.
- Hum... Lamento. – até parece que ela lamentava... Sua lambisgóia nojenta! - Ele só recebe com hora marcada. Quer deixar teu nome?
- Um recado?
- Pode ser também.
- Se eu fizer um recado você pode entregá-lo agora? – tentei ser simpática. Eu precisava da ajuda daquela asquerosa – Por que só vou ficar na cidade hoje e eu gostaria de vê-lo.
- Entendo. Posso entregá-lo sim. E se ele estiver disponível, ele a receberá. – Ela quis dizer: se ele estiver afim de te receber, como eu tenho certeza que não estará...
- Papel e caneta? – eu solicitei forçando um sorriso. Em poucos minutos, já esgotara minha dose diária de cinismo.
- Aqui está.
E eu sentei numa das duas poltronas brancas e macias disponíveis e escrevi:
“Estou na sala do George Wickham nesse momento. Tentei de ver, mas tua secretária não permitiu. Preciso falar contigo. Se puder, mande-me chamar na sala dele. Te esperarei por cinco minutos. Não posso ficar mais do que isso. Desculpa por ter dito que eu te odiava. Era mentira.
Beijos, Elizabeth Bennet.”
Pronto. Era isso. Arriscado, azar. Mas eu não tinha nada a perder.
Então dobrei o papel bem dobrado para que ela não pudesse ler. Ela o pegou e o colocou ao seu lado, sem a menor menção de entregá-lo durante os próximos minutos.
Cruzei meus braços sobre o meu peito.
- Será que você pode fazer isso agora? – eu sacudi o bilhete – Por favor, é importante.
- Só um minuto.
Mas eu fiquei parada na frente dela, firme e rígida, como uma estátua.
- Ah, que legal. Deixa eu ver o que você está fazendo. – fingi interesse e tentei bisbilhotar o trabalho dela, tal como eu odiava que fizessem comigo. Ela revirou os olhos, impaciente. E rapidamente se levantou e foi até a sala dele.
Ah! – e eu sorri, vitoriosa. Devia ter saído dali, mas algo me impediu de me mover e me fez esperar por ela. Não sei por que.
- Oh! Você ainda está ai. – ela fingiu surpresa. – Tudo bem, me poupa do trabalho de ir até a sala do George. Você pode entrar agora.
Sério!? Meu peito se encheu de alegria, empolgado. E meu estomago se revirou, nervoso. Mas eu não demonstrei. Não daria o braço a torcer na frente daquela loira aguada.
- Obrigada – mas não pude evitar. Meu sorriso vitorioso escapou sem que desse tempo de barrá-lo.
Quando eu entrei na sala, ele estava parado em pé, em frente a janela e de costas para mim. E se mexia de maneira agitada. Parecia nervoso.
Pronto! Meu nervosismo acabou. Ele parecia tão indefeso! Uma presa fácil. E eu o queria. Agora eu sabia.
Tranquei a porta da sala dele. Ele ouviu meus passos e não se virou. Eu era uma aranha prestes a atacar. Eu teceria uma teia ao redor dele e ele seria incapaz de escapar.
- Você não devia ter vindo... – ele murmurou, sem desviar os olhos da janela.
- Então por que você me deixou entrar?
- Eu não sei. – e enfim ele me encarou com aquele lindo par de olhos azuis.
- Por que você não me tirou da cabeça desde sábado, não é?
Ele me olhou e não disse nada. Parecia surpreso. Triste e perdido. Como um cãozinho sem dono.
- Você sabe que a gente não deveria, mas não consegue me esquecer, não é? – eu falava por mim. Mas via no rosto dele que ele se sentia da mesma forma. – Tudo bem. A gente pode dar um jeito nisso agora.
- Não. – ele tentava soar firme, mas suas feições traiam seu real sentimento.
- Eu também não queria isso, sabia? – eu já me aproximava dele, colando meu corpo pelas suas costas. – Mas não tem um único dia que eu não acorde e não pense em como poderia ter sido se eu tivesse aceitado o teu convite.
Ele respirou fundo e não fugiu de mim. Eu era cruel quando queria. Meus braços das suas costas passaram para frente. E eu circulei o seu corpo me enroscando nele como uma cobra e fiquei em sua frente.
Ele mantinha-se rígido e então fechou os olhos, evitando meu olhar.
- Covarde! Olhe para mim e negue que me quer. – silêncio – Abra os olhos, William.
Então ele abriu. E não demorou um segundo sequer do instante que ele abriu os olhos até o momento que seus lábios se apossaram dos meus.
- Eu te quero, Lizzy. Eu te quero tanto! – ele desabafou entre beijos urgentes. Seus lábios devoravam os meus. Suas mãos invadiram por debaixo da minha blusa de forma afoita. Seu toque nos meus seios, na minha barriga, no meu pescoço. Tudo era intenso e forte com ele. Nossa! Meu estômago gelava, eu me arrepiava e ficava sem fôlego, tudo ao mesmo tempo.
- Eu te quero, William. Aqui e agora. Eu quero tudo. – de predadora eu passei a presa. Estava entregue.
- Não, Lizzy. Aqui não. – ele pareceu voltar a si e me afastou um pouco.
- Por que não? – eu supliquei. Eu precisava dele. Ele não podia me rejeitar. A rejeição doía tanto que ficara estampada em meus traços.
- Por que em cinco minutos eu receberei um cliente. – então ele explicou com um sorriso doce.
- Ah tá. – e eu relaxei - Vai lá em casa de noite?
- No subúrbio? – ele provocou.
- Hum rum.
- Vou sim. – daí ele pensou e foi olhar a agenda – Hoje eu não posso. Tenho um compromisso. Nem amanhã... Hum.... – continuou a folhear a agenda – Quem sabe quarta?
E enquanto ele estava de costas para mim eu tirei minha máquina fotográfica – meu instrumento de trabalho – da bolsa e aproveitei que ele estava distraído e tirei uma fotografia dele.
- Não! – ele colocou os braços sobre o rosto, para escondê-lo. – Você por acaso é repórter e veio aqui para me espionar e descobrir meus segredos?
Parecia uma piada, mas ele falava sério.
- Você é meio idiota, hein Darcy? – eu me irritei. – Por acaso tem mania de perseguição?
- Me dá essa câmera aqui!
- Claro que não! Estão as fotos do meu trabalho!
- Então eu vou chamar os seguranças, para te arrancar a força.
- Idiota! Não sei como eu pude me interessar por você! Só posso ter problemas mentais para achar que você é o homem certo.
- Hum?
- Você nem considerou a hipótese de eu estar apaixonada por você e querer um foto de recordação, não é? Já vem com uma idéia absurda que eu sou uma repórter espiã! Não é isso?
- Hã...
- Idiota, débil mental. Você é doente, Darcy. O mundo não gira na tua volta. Você pode ser o dono dessa empresa, mas não é o dono do mundo.
- Só estou cansada de pessoas aproveitadoras... É difícil ser rico Lizzy, a gente nunca sabe em quem confiar... – ele baixou a cabeça, envergonhado. – Desculpa...
- Tudo bem. Vou te dar um trabalho a menos. Não precisa confiar em mim, já que nunca mais nos veremos.
- Não. – ele me segurou pelos braços, impedindo a minha saída. – Eu acho que também estou apaixonado por você.
- Ah é? – então eu sorri e voltei para a frente dele.
- Embora eu tenha lutado contra isso...
- Eu também.
- Você lutou contra isso? Por quê? - e ele novamente soou arrogante. Como se perguntasse como alguém teria alguma objeção a respeito de gostar dele. Como se ele fosse o máximo. O melhor partido do mundo.
- Ah! – eu logo percebi – E você lutou contra isso por quê?
- Eu perguntei primeiro. – ele ainda segurava meu braço.
- Por acaso por eu não ser adequada a você? Por você ser tão rico e eu não? E como você sabe sobre a minha família? Você não sabe nada sobre mim!
- Sei sim. Eu pesquisei.
- Idiota! – e eu puxei meu braço com força, me desprendendo dele.
- Teu nome não consta na lista telefônica.
- Não.
- Eu procurei.
- Meu telefone está no nome da minha irmã. – eu retruquei.
- Que irmã?
- Pesquise e descubra!
- Tá bom. – e ele sorriu.
Eu estava tão irritada! Sai batendo os pés, tamanha a minha fúria. Ao alcançar a porta, decidi voltar:
- Você me irrita muito! Argh! – eu rosnei enfrentando-o novamente - Mas tenho uma última pergunta.
- O quê? – ele estava escorado na escrivaninha e apesar de eu estar morta de raiva, eu ainda o desejava.
- Você é capaz de fazer sexo sem falar?
- Há-há-há. – ele então gargalhou.
- Se a resposta for sim, eu ainda te espero lá em casa quarta a noite.
- Tá. – ele assentiu com a cabeça.
- Mas na primeira palavra eu te expulso da minha casa. – eu ameacei.
- Tá bom.
- As 20 horas.
- Ei? Não vai me dar teu endereço?- Não vou ser tão fácil assim. Pesquise. Pesquise e descubra, William.

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