quinta-feira, 25 de junho de 2009

Prólogo de Outra Chance - História de Tânia


Outra Chance - História de Tânia


Prólogo

- Você vai mesmo para São Paulo estudar, Raquel? – observei o seu rosto e ele mantinha uma expressão melancólica.
Os passos na areia tornaram-se mais lentos. Abaixei-me para pegar uma concha cor de rosa que parecia bonita. Quebrada. Joguei-a para longe, na direção do mar.
- Vou. – evitei seu olhar. Era a minha vida, meus planos. Eu não podia simplesmente desistir de tudo. – Eu e a Lia viajaremos no início do mês que vem. Até já arranjamos um dormitório na cidade universitária.
- E vai me abandonar? – sabia que essa pergunta viria em seguida. Sua voz estava trêmula. Infeliz.
- Não, Matheus. – com dificuldades, meu rosto virou-se em direção ao dele. O mar estava agitado. As ondas velozes quebravam nas rochas com força. O vento soprava bagunçando meu cabelo. Afundei meu pé na areia, em busca de distração. – A não ser que você não me queira mais... - Eu estava insegura, apesar de tentar não deixar transparecer.
Há pouco tempo a gente namorava. Quase três meses. E nos conhecíamos há apenas sete. Nenhuma promessa ainda trocada. Nenhum plano havia sido feito. Mas eu já o amava tanto que não podia imaginar a vida sem ele. Era inconcebível.
- Não, Raquel. Eu te quero sim. – Sua mão se encaixou à minha e a gente continuou caminhando de mãos dadas. Um silêncio estranho no ar. Respirações entrecortadas, alteradas. Os dois a espera de quem romperia o silêncio. De quem falaria primeiro. Quem tomaria a iniciativa. Nossa vida prestes a ser definida naquele momento.
- Você vai esperar por mim? – eu enfim tive coragem de perguntar. Era a pergunta mais fácil a ser feita. A mais inofensiva, pelo menos.
Eu gostaria de saber se ele me amava. Ele nunca dissera que me amava. Era cedo. Pouco tempo de namoro. E eu gostaria de contar que eu decidira que não queria mais continuar virgem e que planejava passar minha primeira noite com ele antes de viajar. Isso se ele dissesse que me amava. Era a condição, pré-requisito. Mas eu não podia contar isso a ele. Não sem saber se ele realmente me amava.
E se ele não me amasse? Daí tudo estaria acabado e perdido. Eu iria para a faculdade em pedaços. Ficaria morta sem ele. Mas conheceria gente nova e com o tempo superaria. Só que eu não queria superar... Eu queria o Matheus. E queria estudar também. Era possível ter as duas coisas? E essa angustia me corroia enquanto caminhávamos.
- Você quer que eu te espere? – ele respondeu com seus olhos de um lindo azul penetrando os meus. Parecia tão carente e desanimado! E ao mesmo tempo tão lindo! Como eu o amava. Desde a primeira vez que o vi no balcão da locadora eu o amei. Apenas nunca havia dito isso a ele. Só que precisava dizer. Mesmo que eu não fosse correspondida. E a coragem para isso?
- Quero, Matheus. Claro que sim. – Será que você não percebe o quanto eu gosto de você? Eu pensei, mas fui incapaz de falar.
- Ah, Raquel... Eu tenho tanto medo... – ele suspirou e olhou para o céu, para as nuvens que se aglomeravam sobre as nossas cabeças. – Acho que vai chover.
- É... – eu murmurei. Não estava interessada em chuva. Podia cair um raio sobre a minha testa que eu não me importaria. Só o que me interessava naquele momento era saber se ele me amava e se manteríamos nosso relacionamento mesmo a distância. Sabia que seria difícil, porém não imaginava mais minha vida sem ele. E quatro ou cinco anos, o provável tempo do meu curso de psicologia, passariam logo. O tempo não teria significância se o nosso amor fosse mesmo verdadeiro como eu acreditava que era.
Mas os primeiros pingos chegaram já espessos, forçando a gente a procurar por abrigo. Só naquele instante percebi o quanto havíamos caminhados. Estávamos longe de tudo.
Corremos de mãos dadas embaixo de uma chuva cada vez intensa. Seus pingos vigorosos doíam nas minhas costas. Cortavam-me tal como lâminas de facas. Mas não fomos para o lado de nossas casas, seguimos em direção oposta. Sabíamos que ali perto havia uma casa abandonada. A casa que eu costumava temer e que chamava de casa da bruxa. Esquecida do mundo. Em frangalhos. Sem janela, sem porta. Mas que no desespero serviria como abrigo.
Não falamos nada. Não combinamos. Apenas sincronizamos nossos passos para o mesmo destino e em poucos minutos entrei naquele local esquecido do mundo. As paredes antes brancas estavam mofadas e pichadas com uma tinta preta. Mas não havia cheiro ruim conforme eu esperava. Até era agradável. Não havia mais vidro e algumas goteiras forçaram-nos a ficar em um canto. E eu me abracei no Matheus. Estava molhada e com frio, mas nada disso tinha a menor importância. Eu estava com ele.
Ele tirou a camisa úmida e eu grudei meus olhos em seu peito desnudo. Eu o queria. Mas tinha antes que saber se ele me amava.
- Penso que você também deve tirar tua roupa. – apontou para o meu vestido encharcado com um leve constrangimento. – Você pode pegar uma pneumonia... – se explicou embaraçado.
- É. – eu concordei já corando e sem pensar muito removi meu vestido. Não havia sentido ter vergonha dele. Ele era o meu namorado, o meu Matheus. Mesmo assim, meu coração se acelerou ao me perceber só de calcinha e sutian diante dele.
- Você também deveria tirar tua bermuda. Tá muito molhada.
- Não. – ele negou meio apressado, colocando as mãos em frente à bermuda.
- Mas Matheus... – eu levantei as sobrancelhas ao observá-lo.
- Não posso, Raquel. Você não entende... – reparei que ele tentava não olhar para o meu corpo, mas eu o conhecia bem. Eu sabia que ele estava se esforçando por mim. Eu sabia o quanto ele me desejava desde que começamos a namorar. Não antes disso, antes ele não percebia. Mas o Matheus me respeitava, esperando eu me sentir pronta. Só que ele ignorava que eu estava mais do que pronta.
- Isso quer dizer que...? – não completei minha frase. Não tinha coragem suficiente para isso. Mas um sorriso malicioso escapou dos meus lábios. – Tira a bermuda, Matheus. – eu ordenei ao mesmo tempo envergonhada e sorridente.
- Tem certeza? – ele recuou meio surpreso e me encarou. As palavras ficaram subentendidas.
- Tenho sim. – eu reforcei minha afirmação com um movimento de cabeça.
Então ele lentamente abriu os botões com suas mãos tremendo um pouco, deixando-a cair sobre seus pés. Ficou só de cuecas deixando o seu desejo evidente. Não me assustei, não desviei o olhar. Estava curiosa. E depois: parecia tão certo.
Por alguns segundos, ele me analisou. Observou minha expressão como que para se certificar. E depois, lentamente me enlaçou pela cintura. Com calma, seus lábios se apossaram dos meus. E eu, inexperiente, me deixei conduzir.
Chovia forte. Os pingos batiam energeticamente naquele teto aparentemente frágil. Simulando como se ele fosse desabar a qualquer minuto e cair sobre nossas cabeças. Mas nada disso importava. O Matheus me beijava e me fazia ofegar. O Matheus passava suas mãos pelo meu corpo pela primeira vez e era tão bom.
- Eu te amo, Raquel. – ele comentou ao estender sua camisa sobre o chão, me fazendo deitar sobre ela. No mesmo instante, removia minha última peça de roupa.
- Eu também te amo, Matheus. – e ele sorriu para mim. Seus olhos continham um brilho especial. Lindo. E eu sempre me lembraria dele.
- Nunca mais vamos nos separar, tá? – ele passou as mãos nos meus cabelos, deitando-se nu ao meu lado. Fechei meus olhos, segurando uma lágrima. Poderia haver no mundo felicidade maior?
- Tá.
- E agora você vai ser minha. Hoje e para sempre.
- Tá.
Então ele me beijou novamente.
E foi assim... Minha primeira vez foi na casa da bruxa. Com chuva forte. Sobre um chão sujo. Com paredes mofadas e pichadas ao redor. E doeu, doeu muito. E minhas costas ficaram esfoladas pelo desconforto daquele piso. Mas eu não me importei. De alguma forma, foi incrivelmente romântico. Eu amava e era amada. E com o passar dos dias, ficaria cada vez melhor.
Ficamos todos os dias juntos até eu ir embora. E prometemos ser um do outro para sempre, firmando inclusive um contrato de exclusividade. O que era sem propósito, pelo menos para mim, por que eu não queria ninguém além dele.

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