sexta-feira, 26 de março de 2010

A Filha da Minha Melhor Amiga


A filha da minha melhor amiga
de Dorothy Koomson


Sinopse
A forte relação de amizade entre Kamryn Matika e Adele Brannon, companheiras desde os tempos de faculdade, é destruída num instante de traição que marcará as suas vidas para sempre.
Anos depois desse incidente, Kamryn é uma mulher com uma carreira de sucesso, que vive sem ligações pessoais complexas, protegendo-se de todas as desilusões. Mas eis que, no dia do seu aniversário, Adele a contacta... A amiga de Kamryn está a morrer e implora-lhe que adopte a sua filha, Tegan, fruto da sua ilícita relação de uma noite com Nate.

Terá ela outra escolha? Será o perdão possível? O que estará Kamryn disposta a fazer pela amiga que lhe partiu o coração?
Uma viagem dolorosa e comovente de auto-conhecimento, uma leitura de cortar a respiração.

O livro que comoveu Portugal já na 11ª edição.
60 000 exemplares vendidos.

***
Gente, que livro maravilhoso! Eu lembro que tinha lido uma critica favorável ao livro no blog um livro do chá das cinco, então quando me deparei com esse livro para vender nem titubiei. Também li em algum lugar alguém comentando que esse era o seu livro preferido, e não é exagero. Não sei qual é o meu livro preferido - até porque já li tantos - mas esse com certeza está entre eles.
*
Como comentar o livro sem contar a história? É uma tarefa difícil. Duas amigas inseparáveis até que um passo em falso as separa. Não quero contar o que houve, porque descobrir isso é parte da graça da história.
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Um erro... Um passo em falso... E tudo muda. Errar é humano, mas as vezes não dá para voltar atrás. Nem esquecer. Ou dá? É possível perdoar?
*
Gente... O livro é maravilhoso porque os personagens são totalmente humanos. Não há vilões, nem mocinhos. Eu não consegui odiar ninguém e fiquei totalmente dividida em vários momentos. Quanto a personagem fica dividida, eu fico junto.
*
Eu admito que a minha personagem preferida nesse livro não é a protagonista. É a Tegan, a filha da sua melhor amiga. Ela é tão fofinha! E vive um momento delicado durante a história. Achei bem interessante o jeito que a escritora aborda esse tema tão delicado, a dor da perda de uma criança. Como lidar com a perda de uma criança, quando se tem sua própria perda para lidar? As duas descobrem isso juntas, e é bem fofo.
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Li em algum lugar para ler com um lencinho do lado, mas eu não chorei, apesar de ter me emocionado bastante.
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Me apaixonei pelo Nate, pelo Luke, e pela Tegan. Principalmente pela Tegan.
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Altamente recomendável, um dos melhores livros que eu já li.
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Versão para download:


Tempo de Ser Feliz - capítulos 15 a 19


Capítulo 15

- Oi George, feliz aniversário! Sei que o parabéns é atrasado, mas o que vale é a intenção – Isa abraçou e beijou o novo amigo.
- Ah, muito obrigado! – ele sorriu - E as tuas amigas? Elas vêm aqui hoje? – indagou interessado, estufando o peito.
- Como você sabe sobre elas? – Isabela sorriu.
- Gerard me comentou e disse que elas são bem interessantes! Especialmente uma morena. – fez cara de safado.
- Foi é? E ele achou a morena a mais interessante? Mas logo elas estarão aqui e você poderá tirar suas próprias conclusões.
- Mas que ótima notícia! Eu adoro mulheres brasileiras e não vejo à hora de conhecê-las! Já que eu não tive chance contigo, quem sabe eu tenha com elas, não é mesmo?
- Com elas? Então você quer as duas? – achou graça.
- Ah.... Eu não importaria em ficar com as duas! – ele debochou. – Mas não esqueça de me apresentá-las assim que elas chegarem, está bem? Quero ser o primeiro a falar com elas, para ter chances maiores. E hoje é meu aniversario e você não me negará esse presente, não é?
- Claro, George. Assim que elas chegarem, eu te apresento. Mas teu aniversário não é hoje, foi quarta-feira que eu sei. – ela implicou.
- Ah... Mas hoje é festa, então conta como se fosse. E eu quero esse presente, viu? Faço questão! – ele deu uma risada. – E você irá convidá-las para sentarem à mesa conosco. Estou contanto contigo, Isabela. – falou sorrindo e se afastando para receber seus convidados.
Isa riu. Agora gostava de George e se dava bem com ele. Ele era engraçado e bem humorado e conversar com ele era diversão garantida. Ele tinha alguns anos a mais do que os amigos, mas seu jeito jovial disfarçava bem a idade.
Naquele dia, pedira para suas amigas chegarem cedo, apenas não explicou o motivo. Queria que elas estivessem presentes quando Adam chegasse. Com elas por perto, sabia que se sentiria mais protegida e quem sabe não ficaria um pouco mais tranqüila?
“Como será esse reencontro?” – ela se perguntou por diversas vezes.
“Como será que ele me tratará? Será que ele virá conversar comigo? Não, nós já dizemos tudo o que havia para ser dito... Certamente ele não me procurará... Ou será que sim? Não, ele deve ter desistido de mim. E ele é tão lindo que certamente não lhe faltarão mulheres.... Mas e se ele se interessar pelas minha amigas? Não! Isso não... Pare de pensar besteiras, Isabela! Pensar bobagem atrai bobagem. Pensamento positivo que tudo dará certo! Sim, tudo dará certo!” – ela tentava se convencer.
*
- Sabia que eu gostaria das tuas amigas, Isa. Mas não concordo com o Gerard, achei a Karine bem mais interessante! Aliás, penso que tenho que ir ao tem país um dia: fico louco com essas mulheres brasileiras! – George falou esfregando as mãos, agitado.
- Ah... Você gostou da Kaká então? – Isa ficou satisfeita e esboçou um leve sorriso. Ficaria verdadeiramente feliz pela amiga, se algo não a perturbasse.
- Sim, e creio que iremos convidá-las para sair depois. Você não se importa, não é mesmo? Ou você se importa se as levarmos para sair? Vocês fizeram outros planos? Eu não quero atrapalhar.
- Não, não fizemos nenhum plano. E hoje está tão movimentado que creio que só sairei tarde daqui. E não acho justo elas ficarem presas por mim, já que ficarão aqui por poucos dias. – tentou disfarçar seus sentimentos e seu nervosismo – Para onde vocês pretendem ir?
- Eu e o Adam estávamos pensando em convidá-las para ir no La Bodega, uma casa noturna com musica latina. Conhece?
- Não, mas já ouvi falar. – fingiu desinteresse.
- Bom, já que você não se importa vou convidá-las, está bem? Pena que a Karine não fale tão bem inglês como a Rachel, mas penso que logo arranjarei uma maneira de me entender com ela sem precisar de palavras. – riu com cara de safado.
*
George se afastou e a deixou sozinha no balcão, olhando-o ir em direção à Karine, que o recebia com um sorriso nos lábios. Tentava não olhar para mesa. Tentava não reparar em Adam e Raquel que conversavam alegremente, trocando sorrisos e se tocando de vez em quando. Mas seus olhos não conseguiam mudar de direção. Seus olhos a traiam e ela acabava sempre olhando para lá.
“Ele nem parece a mesma pessoa que eu conheci. Quando fomos apresentados ele foi carrancudo e antipático. E agora com a Raquel, está todo amiguinho dela. Que raiva! Que mudança! E ainda vai levá-la para dançar! Desgraçado!” – ela refletia ao mesmo tempo que se controlava para não se alterar e para não bufar demais.
*
- Pelo visto tua amiga não sabe sobre o teu envolvimento com o Adam – Gerard se apoiou no balcão ao lado dela e observou, perspicaz.
- Não há nada para ela saber. Não tenho envolvimento nenhum com o Adam. – ela o encarou com seriedade e ele deu um largo sorriso.
Deixaram o assunto morrer e Isa logo comentou:
- Eles irão ao La Bodega depois, o teu convite ainda está de pé?
- Meu convite? Para que você quer ir, Isa? Para não deixar Adam ficar com a tua amiga?
- Não. Para aproveitar a noite com as minhas amigas, por que as verei por pouco tempo.
- E você pensa que me engana com essa desculpa? Pensa que eu não sei o que você pretende, Isa?
- E o que eu pretendo, Gerard? Você pode me dizer? – colocou as mãos na cintura para enfrentá-lo.
- Acho que você sabe bem... Mas pensarei com carinho na tua proposta, Isa. Talvez eu até aceite o teu convite. Mas deixo bem claro que não será por tua causa se eu aceitar. – fingiu seriedade, mas sorriu ao final.
- Ah é? E será por causa de quem? – perguntou, curiosa.
- Por causa daquela tua amiga morena gata que irá sobrar e ficar triste quando você roubar o Adam dela.
- Não vou roubar ninguém de ninguém! – exclamou, irritada.
Gerard achou graça.
- Pensando bem, Isa. Acabei de me decidir. Vamos ao La Bodega também, mesmo que esteja tarde. Penso que será uma noite bem divertida. – afirmou, malicioso.
Não completou sua frase, mas seus pensamentos foram: ou eu consolarei a Rachel, ou a própria Isabela. De qualquer forma, ficarei satisfeito.
*
- Então Isa? Você não tinha me dito que o Adam era tão gato, tão charmoso e tão interessante! Amiga, pessoalmente ele é ainda melhor do que naquela fotografia! – as três amigas brasileiras estavam juntas no banheiro e falavam em português. – Só aquela Valentine que não para de olhar para mim com uma cara feia! Se ela continuar me olhando daquela maneira daqui a pouco eu me irrito e avanço nela!
- Iria ser engraçado – Isa comentou, com um leve sorriso. Sua amiga Raquel era bem esquentadinha às vezes.
- Então você vai com a gente, Isa? E vai com o Gerard! Está bem arranjada, hein!
- Ah Raquel.... o Gerard é só meu amigo. Não tem nada entre a gente. E você e o Adam? – indagou fingindo desinteresse.
- Ah.... Eu acho ele lindo, mas não nego que eu preferia o Gerard... Se você quiser trocar, eu estou aceitando! – riu - Mas do jeito que eles são lindos qualquer um desses dois vem bem! E você? Se não está interessada no Gerard temos que arranjar logo um gatão para você também! A Kaká já se arranjou com o George, viu como esses dois são rápidos? Ele está quase agarrando ela ali mesmo.
- Ei, vocês não falem de mim que eu estou ouvindo! – Karine gritou de dentro de uma das portas do banheiro.
- E ela está quase agarrando ele também! – Isa completou, para implicar com a amiga. Agora elas se davam bem e ela notava que se divertia muito implicando com a Karine. E fazia disso seu novo passatempo.
- Mas perder tempo para quê? A vida é curta, meninas – Karine saiu do banheiro e parou ao lado do espelho com as amigas – Então? Estou bonita? – perguntou, retocando a maquiagem.
- Claro, Kaká! E eu? Agora que temos uns gatinhos para impressionar, temos que caprichar. – Raquel afirmou.
- Isa? Por que essa carinha tão triste, amiga? Você não quer que a gente saia com eles? – Karine reparou em sua expressão.
- Não é nada não, amigas. Só queria ter a metade da empolgação de vocês.... – inventou uma desculpa para explicar a tristeza evidente que ela tentava disfarçar. Mas não era nada disso....
“Adam está mesmo interessado na Raquel! Justo pela minha melhor amiga! Melhor amiga depois da Ilana, é claro. Mas como ele pode fazer isso comigo? Que raiva! Que raiva! Que raiva!”
- Ai amiga, não fica assim... Um dia o cara certo vai aparecer para ti – Karine tentou consolá-la.
- O cara certo já apareceu um dia... e morreu. – Isa sabia que aquele não era um momento para pensamentos tristes, então tentou suavizar um pouco a tensão que seu comentário trouxe, para não chatear as amigas – Mas agora eu estou aceitando também o cara errado, para me divertir um pouquinho. Quem sabe eu não siga o exemplo de vocês e me divirta hoje com o Gerard? – se esforçou para sorrir.
- Isa! Você está ai! – Melanie entrou no banheiro com Vicky. Ambas a procuravam, pois estavam preocupadas com ela. – Podemos roubar a Isa um pouco, meninas?
- Claro, fiquem a vontade!
- Isa, venha cá! – Vicky a puxou pelo braço para fora com afobação.
As três seguiram para os fundos do Pub.
- Isa? Você está louca? – Melanie indagou, apreensiva – Que história é essa de deixar o Adam sair com a tua amiga?
- É, Isa! Você não percebe que o meu irmão está fazendo isso de propósito?
- Hã? – Isa perguntou, confusa.
- É, Isa! E se você não der um basta nisso, essa história pode acabar mal! Bem mal! – Melanie emendou, apreensiva.
- Como assim?
- Isa! Você não vê? Meu irmão é louco por ti! E ele está dando em cima da tua amiga para te testar! Mas se você não interferir, isso pode acabar mal! A Rachel pode acabar magoada, você também e meu irmão também...
- É, Isa. A Rachel é tua amiga. Fale para ela como você se sente.
Ela cruzou os braços, contrariada, e falou:
- Eu não vou fazer nada, não vou falar nada. Eles são adultos, eles que se entendam! Eu não tenho nada com isso.
- Ai, meu Deus, Isa! Como você é teimosa! Então me deixa falar com ela?
- Não Melanie, se você fizer isso eu nunca mais falo com você! – ela ameaçou, irritada.
- Está bem então... Se você não quer, eu não vou me meter....
- Nem eu. – Vicky concluiu ainda preocupada com a amiga.
- E depois, eu vou encontrá-los mais tarde. Irei para lá com o Gerard.
- É? E meu irmão já sabe disso?
- Olha, a essa altura a Raquel e a Karine já voltaram para a mesa e já contaram para ele – ela sorriu, satisfeita.
- Ai, meu Deus! Vamos para lá então que eu quero ver! – Vicky falou, disparando na frente das duas. Temia pelo comportamento explosivo do irmão.

- Então você vai sair com o Gerard?
- E o que tem isso? Você não vai sair com a Raquel? – Isa retrucou, de má vontade.
Após tomar conhecimento dos planos de Isa, o humor de Adam mudara. Ele estava flertando com a amiga dela, ansiando por uma interferência de Isa. Estava paquerando descaradamente com a Raquel, para ver se provocava alguma reação da parte dela. Mas ficou furioso quando soube que ela também iria sair depois, e com o Gerard! Então era isso que ela queria o tempo todo: uma chance de sair com o Gerard! Então tudo que ela lhe dissera antes, tudo que ela confessara que sentia por ele, era tudo mentira! Na realidade, o que ela queria o tempo todo era sair com o Gerard! E agora era tarde para voltar atrás. Teria que se contentar em sair com a amiga dela e observá-la ao longe se divertindo com o Gerard. Teria que passar a noite com uma mulher pela qual ele não tinha interesse nenhum, enquanto a única pela qual ele se interessava estaria nos braços de outro.
- Por quê? Você está com ciúmes? Aliás, por que estaria, não é mesmo? Se você vai sair com o Gerard! E isso era tudo o que você queria, não é mesmo? Se sentir livre para sair com ele!
- Você está me machucando, Adam – ela murmurou, evitando encará-lo.
Ele percebeu que estava apertando demais o braço dela. Ele estava tão furioso, tão fora de si, que nem se deu conta da força que fazia. Estavam chamando atenção de algumas pessoas. Após saber sobre os planos de Isa, ele nem se importou em esconder o que sentia. Foi atrás dela e a enfrentou ali mesmo, atrás do balcão, sem se importar com quem estivesse vendo.
Ele reparou na expressão triste que ela mantinha no olhar e resolveu mudar sua conduta.
- Você quer conversar, Isa? Podemos ir lá fora, se você quiser.
- Não, Adam. Eu não tenho nada para falar contigo Você ficou de sair com a Raquel e eu não quero magoar a minha amiga.
- Bom, se é assim que você quer, é assim que vai ser! Pode ter certeza que nós dois teremos uma noite muito divertida! Eu e a tua amiga. Aliás, se você demorar muito para chegar pode ser que a gente nem esteja mais lá! A gente pode muito bem querer prolongar a nossa diversão na minha casa. Para ser mais especifico: na minha cama!
*
- Então Isa, vamos?
- Que horas são, Gerard?
- Acho que já passa da meia noite. Mas já podemos ir, pois orientei o Paul para cuidar de tudo e depois fechar o Pub. Qualquer coisa ele me ligará no celular.
- Gerard?
- Que foi, Isa?
- Vamos beber uma cerveja antes de ir?
- Eu não posso, Isa. Terei que dirigir. Já quase perdi a carteira de motorista certa vez por dirigir bêbado, não posso correr esse risco novamente.
- Mas você me deixa beber uma antes? Estou meio tensa, sabe? – encarou-o desta vez sem disfarçar como se sentia.
- Claro, Isa. – respondeu de um modo carinhoso - Você sabe que eu não negaria um pedido teu. Aliás, se você quiser nem precisamos ir. Podemos ficar a noite inteira aqui, só nós dois.
Ela olhou para ele e sorriu, fazendo um carinho em seu braço.
- Obrigada, Gerard. Mas elas já devem estar me esperando. Não posso mais não ir, sabe? Embora nesse momento eu prefira mil vezes ficar aqui. – resmungou.
Ele serviu a cerveja para ela.
Já fazia mais de uma hora que eles haviam saído e ela se perguntava o que estariam fazendo.... Na verdade, temia saber a resposta. Na realidade, não queria saber. Agora precisava agir como adulta e enfrentar a conseqüência de seus atos. Sabia que a culpa de tudo tinha sido dela e ela precisava encarar as conseqüências.
*
Os quatro haviam saído para a casa noturna há mais de uma hora. Mesmo o aniversário sendo de George, ele acabou saindo cedo, antes mesmo de muitos convidados terem ido embora.
Adam voltou da conversa que teve com Isa – George percebeu, embora não tivesse feito nenhum comentário para não aborrecê-lo ainda mais – visivelmente alterado, irritado e quis sair logo dali. E George não quis contrariá-lo com medo de perder a companhia e de perder a chance de ter finalmente algum envolvimento com uma mulher brasileira – seu sonho de consumo.
Logo que chegaram, Karine quis dançar, pois com aquela musica envolvente tocando não conseguia ficar parada e correu para a pista de dança. Ela era muito ativa e inquieta e adorava dançar. E George fez questão de acompanhá-la.
Raquel, embora estivesse louca para dançar também, acabou optando por ficar no bar com Adam, tomando um drink. Ele estava com um semblante tenso, com uma expressão de poucos amigos, apesar de se esforçar para se mostrar à vontade. E ela passou a analisá-lo. Pretendia conversar com ele e tentar arrancar a verdade, coisa que não conseguira fazer com Isa.
Raquel era muito observadora e viu quando Adam e Isa haviam conversado antes deles saírem. Ela reparou no quanto ele voltou alterado depois dessa conversa e estava desconfiada que existisse algo entre os dois, algo além do que Isa dissera e do que ela tencionara mostrar. E mesmo Isa tendo negado tal informação de pés juntos, com muita veemência inclusive, quando posta contra a parede por ela, Raquel ainda acreditava que a amiga lhe escondia algo. Conhecia-a o suficientemente bem e sabia o quanto ela podia ser boa em esconder e mascarar seus sentimentos.
Estavam um tempo em silêncio, ele bebendo um uísque - precisava de uma bebida forte - enquanto ela bebia uma Pina Colada, pois adorava esses coquetéis doces. Olhavam Karine e o George, que se divertiam na pista de dança, fazendo movimentos provocantes um para o outro e por vezes se encostando de forma sutil.
Adam e Raquel por vezes trocavam olhares e sorrisos ao observarem o casal de amigos, mas não pronunciavam nenhuma palavra. Então ele resolveu iniciar um papo para não aborrecê-la por mais tempo, afinal, ele a convidara.
- O que você faz da vida, Rachel? (notem que os ingleses a chamam de Rachel e não de Raquel).
- Ah, eu sou psicóloga, mas estou pensando em largar a minha profissão. – deu um suspiro.
- Ah é? Por quê? Não gosta de ser psicóloga?
- Gosto, gosto sim. Mas achei algo que eu gosto mais de fazer. – sorriu.
- O quê? – perguntou, realmente curioso.
- Escrever! Escrevi há pouco o meu primeiro romance, que surpreendentemente foi um sucesso de vendas e já está na segunda edição, acredita? – ela riu – E sabe que eu nem tentaria publicar se não fosse pela insistência de meu ex? Pelo menos isso eu devo a ele! – debochou.
- Ah é? Que legal! Sobre o que é a história?
- Ah, é um romance. E curiosamente se passa aqui na Inglaterra, sabia? Eu escrevi antes mesmo de conhecer o país, mas pesquisei muito para isso. Por isso agora quis vir para cá! Acabei me encantando pelo teu país na medida em que construía a história. E conhecer a Inglaterra acabou sendo o meu sonho, sonho que eu nem pensava em realizar, mas eu agora estou aqui!
Ele riu. Ela era bem espontânea e divertida.
- E qual é o título do teu romance?
- Ah, a tradução literal para inglês seria: “Another Time”, mas penso que fica melhor o nome: “Once Again”. O que você acha?
- Concordo, Once Again soa melhor, embora eu desconheça a história. Você tem uma versão em inglês?
- Não, mas poderia fazer. Você gostaria de ler?
Ele deu uma risada.
- Não, eu confesso que não gosto muito de ler. E muito menos romance. Mas tem um amigo meu que é editor, o Tom, estava pensando em mostrar teu livro para ele. Ele poderia ser publicado aqui na Inglaterra também, afinal a história se passa aqui, não é mesmo?
- Sério? – indagou empolgada. – Você faria isso por mim? Eu posso começar a traduzi-lo amanhã mesmo!
Ele riu.
- Claro que sim! É só me dar uma versão em inglês que eu mostro para ele. Falando nisso, como você fala inglês tão bem? Aliás, vocês duas falam, por que o inglês da Isa também é muito bom.
- Ah... Quando a gente tinha 13 anos a Isa me arrastou com ela para fazer um curso de inglês. Com 15 ela desistiu de estudar, mas eu me apaixonei pelo idioma e continuei até concluir o curso.
- Mas se a Isabela desistiu como ela fala ainda melhor que você?
- Ah, é? Ela fala melhor do que eu? Você acha mesmo? – ela debochou – É porque o ex-marido dela era americano e a sogra dela era muito chata e exigia que todos conversassem em inglês dentro de casa. Ela não poupava nem a Isa, coitadinha! E Isa teve que aprender na marra! Aliás, ela passou muito trabalho com aquela sogra, e várias vezes chegou chorando na minha casa por causa dela.
Ele deu um sorriso com o canto da boca e ficou refletindo.
- Vocês se conhecem há muito tempo?
- Sim, desde o jardim de infância. Nós estudamos a vida inteira na mesma turma e eu sei tudo sobre a vida dela. Por quê?
- Ah... Penso que você também pode me ajudar então.
- Você está interessado nela, não é mesmo?
- Sim, eu estou. Estou apaixonado por ela. – admitiu sem coragem de olhá-la.
- Eu percebi! – ela sorriu, aliviada por ele ter confessado o que era evidente.
- Sério? Está tão óbvio assim? – subiu os olhos e a encarou, sentindo-se mais a vontade após o desabafo.
- Não, claro que não. Esqueceu que o meu trabalho é analisar as pessoas?
- Hum... E ela falou algo sobre mim?
- Não. Isa é muito discreta. Eu perguntei, mas ela jurou de pés juntos que vocês não têm nada. Aliás, nem sei por que perdi meu tempo perguntando, se sabia que ela não me diria nada.
- Como não? Você não é a melhor amiga dela?
- Sou, mas você acredita que desde os 13 anos a Isa era apaixonada pelo Erik e nunca me contou nada? Claro que eu notava e percebia, mas ela sempre negava. Ela é muito boa em esconder os sentimentos, Adam. Eu posso perguntar mil vezes sobre você e ela nada me dirá.
- Hum... – ele ficou com uma expressão triste no rosto. Não havia esperanças para ele.
- Mas eu tenho uma idéia! Uma ótima idéia, Adam! Ela não me negou tudo? Então! Vou fingir que eu não sei de nada, que tal?
- Como assim, Rachel? O que você tem em mente?
- Vamos provocá-la, Adam!
- Hum?
- Sim, Isa é ciumenta e muito impulsiva, sabia? Vamos fingir que estamos juntos, que estamos interessados um no outro! Nossa, ela ficará tão irritada, tão louca da vida, que só pensará em te arrancar de mim!
- Sério?
- Claro que sim! Não dê bola para ela, finja que está interessado só em mim que logo ela estará em teus braços! Assim que eles chegarem, vamos dançar como a Karine e o George.
- Como a Karine e o George? Você tem certeza? – ele riu e ela então se virou para olhar o que eles faziam.
- Não, não era bem isso que eu tinha em mente... – ela corou e se explicou, com embaraço.
Os dois estavam agarrados na pista de dança, num beijo tão intenso que pareciam querer engolir um ao outro.
- Falando neles, Adam. Não se vire para olhar, que eles estão chegando. Preparado para atuar, meu amigo?
- Sim! – ele assentiu, agora bem humorado e bem disposto.
*
- Isa, querida! – Raquel se aproximou da amiga, a recebendo com entusiasmo. – Oi Gerard, seja bem vindo também! Vocês querem beber alguma coisa? Tem um lugar sobrando no bar, ao nosso lado. Bom, de qualquer forma eu e o Adam vamos dançar daqui a pouco e vocês poderão ficar com os nossos lugares também.
- E a Karine? Onde está ela? – Isa indagou para Raquel.
- Está lá, olha amiga! – apontou para o casal que ainda se beijava na pista de dança e sorriu. E aproveitou para confidenciar ao seu ouvido, provocando-a: - Quem sabe eu me dê bem assim também dançando com o Adam?
Isa respirou fundo e forçou um sorriso. Agora era tarde demais para voltar atrás. Agora tinha que encarar as conseqüências de seus atos e observar os dois ficarem juntos. Não havia jeito e ela teria que se acostumar com a idéia.
Gerard e Isa se juntaram a eles no bar. Isa sentou ao lado de Adam e tentou aparentar naturalidade, fingindo não estar incomodada com a situação, tentando sorrir e manter um diálogo adequado. Mas se limitava a responder as perguntas que Raquel lhe fazia.
Gerard, por sua vez, ficou em pé em frente à Isa e apesar de estar bem à vontade com a situação - pois estava era achando tudo muito engraçado - permanecia em silêncio, apenas observando e se policiando para não rir. Raquel era a que mais falava, e praticamente dominava a conversa. Trocou alguns olhares de cumplicidade com Gerard, que logo percebeu que ela sabia do envolvimento de Adam e Isa e ficou intrigado com o que ela pretendia fazer.
- Nossa, eu adoro essa musica! Vamos dançar, Adam?
- Claro! – ele sorriu e levantou em seguida, dando o braço a ela. – Até mais. – falou para os outros dois que permaneceram no bar.
- Eles nem nos convidaram. – Isa resmungou – Eu também queria dançar.
- Vai ver eles querem ficar sozinhos, Isa. – ele respondeu, sentando ao lado dela no lugar de Adam - E aliás, meu primo deve estar bem interessado na tua amiga, porque ele odeia dançar. Dançar é sempre um sacrifício para ele.
- Sério? Mas ele nem cogitou não ir!
- Para ti ver. – falou e a encarou, tentando perceber o que ela sentia.
- Então? Vamos dançar também? – indagou com ansiedade.
- Não, Isa. Eu não estou com vontade de dançar agora. – sentou de costas para a pista de danças e pediu uma bebida, fingindo desinteresse. – Vá você, se quiser.
- Não vou sozinha. E você vai beber? Mas não disse que não beberia porque está dirigindo?
- Eu disse, mas mudei de idéia. E depois, posso pegar um táxi, ou ir a pé. Eu moro aqui perto, não te falei?
- Não.
Gerard mudara de idéia. A noite iria ser longa e pelo visto muito divertida. E ele gostaria de sentar e tomar uma bebida para assistir de camarote. Raquel estava provocando Isa descaradamente, se jogando em cima de Adam, e isso era algo que ele gostaria de assistir. Estava curioso para saber o desfecho da história.
- Também quero uma bebida, Gerard. E peça algo bem forte para mim, está bem?
*
- E então? O que você está achando da minha idéia? – Raquel perguntou ao Adam enquanto dançavam, chegando mais perto ainda dele.
- Por enquanto não estou percebendo nenhum resultado. Você está?
- Sim, claro que sim. – sorriu – Isa está se remoendo por dentro. Ela está com muita raiva de nós dois.
- Você acha mesmo?
- Sim, olhe daqui a pouco e repare em sua expressão. E ela não tira os olhos de nós! Não consegue nem mais disfarçar! E olha que para ela não conseguir disfarçar é porque ela está muito alterada mesmo! – ela riu.- Adam? Posso fazer outra coisa para provocá-la ainda mais? – indagou, colocando os braços ao redor de seu pescoço, chegando com o rosto bem próximo ao dele.
- Você acha que devemos nos beijar? Mas isso não seria irmos longe demais? – perguntou, se aproximando ainda mais dela, abraçando-a pela cintura e puxando-a para mais perto de seu corpo.
- Não sei, você que sabe. Mas é uma idéia. Podíamos fazer um beijo técnico, apenas para fingir.
- Beijo técnico?
- Sim, de boca fechada. – ela riu e cochichou ao seu ouvido – É um termo muito usado nas novelas brasileiras. Mas eu não acredito muito em beijo técnico.
- Hum... Beijo técnico então, não é? – ele propôs, mas não deu tempo para que ela respondesse, pois ele aproximou seus lábios dos dela e a beijou.
O beijo era para durar pouco tempo, pois era apenas para perturbar Isa, mas ambos se surpreenderam com as sensações provocadas por ele.
- Beijo técnico, é? – Ela se afastou após alguns minutos e sorriu, com o rosto vermelho.
- Desculpa, não resisti. – ele riu.
- Bom, se era mesmo para provocarmos Isa ele tinha que parecer bem real.
- Ele não só pareceu, Rachel. Ele foi real! – sorriu.
Por alguns minutos, eles esqueceram de seu objetivo e ficaram apenas se olhando. Mas em seguida, trazidos de volta à realidade, ambos voltaram sua atenção para o bar à procura de Isa e só viram Gerard sentado, que olhava para eles fixamente de braços cruzados e aparentava estar espantado.
- E agora, Adam? Será que exageramos? – indagou, preocupada.
- Não sei. Não faço idéia. A amiga é tua, você a conhece melhor do que eu.
- Hum.... Agora não sei o que fazer. Ela deve estar indignada com a gente, Adam. Nossa, estou muito arrependida! Que grande amiga que eu sou, beijando o cara que ela gosta!
- Mas foi bom, não foi? E a culpa foi dela mesmo, não temos porque nos culpar.
- Eu sei que a culpa foi dela, mas penso que exageramos, Adam. – fitou o chão, evitando encará-lo.
*
- Oi amiga! – Karine chegou ao lado deles de mão dadas com George, com uma expressão alegre no rosto. – Nossa, as músicas daqui são muito boas, não é? – indagou, alheia aos problemas que lhe afligiam.
- Sim, são sim... – concordou sem saber o que dizia, pois não estava prestando atenção nas músicas. – Kaká, você viu a Isa?
- Ah, sim! Eu esbarrei com ela agora mesmo no banheiro, mas ela passou voando por mim, feito um raio, e nem quis conversa comigo. Não sei o que deu nela. Por isso vim aqui conversar contigo, achei bem estranho. Você sabe o que aconteceu?
- O que foi? – Adam se intrometeu na conversa ao ouvir o nome de Isa, pois como elas falavam em português ele não sabia o que diziam.
- Isa foi ao banheiro – Raquel explicou em inglês.
- Vou atrás dela então. – falou sem esperar resposta, dando as costas para o grupo.
- O que foi, Raquel? Você não parece bem. Aconteceu alguma coisa?
- Você quer mesmo saber? – respondeu gritando, para ser escutada com o alto volume.
- Claro que sim! Você tem alguma dúvida? – se virou para o George, que se mantinha calado ao lado delas - George: busca uma bebida para a gente no bar? Ah, e já chama o Gerard para cá também para nos fazer companhia. – falou num inglês pouco compreensivo e carregado de sotaque, mas ele entendeu.
George concordou e se afastou rapidamente, ansioso para conversar com Gerard. Tinha visto Adam e Raquel se beijando e estava curioso para saber o que estava acontecendo.
*
- E então? O que foi isso? – George perguntou ao Gerard, enquanto pedia as bebidas.
- Não faço a menor idéia. Mas não saio daqui enquanto eu não descobrir. Estou me divertindo muito, sabia? E a Isa estava furiosa aqui, ao meu lado. Foi muito engraçado! – riu.
- E onde ela foi?
- Olha, pelo que ela me disse foi ao banheiro.
- E eu acredito que Adam foi atrás dela. – os dois se olharam e riram.
- Essa eu quero ver. – Gerard sentou no banco virado para o movimento, cruzando novamente os braços.
- A Raquel e a Karine estão nos esperando na pista de dança. – George comentou, sentando no banco ao lado de Gerard, sorvendo lentamente a sua cerveja.
- Bom... Eu não vou sair daqui.
*
- Amiga, não acredito que você fez isso! – Karine levou a mão à boca, abafando uma gargalhada.
- Você não acha que eu exagerei? – Raquel indagou, com uma expressão aflita.
- Não acho não! Acho que foi bem feito para Isa! Ela com essas manias de não nos contar as coisas. Lembra o quanto eu fiquei indignada quando ela ficou com o Erik? Mas como eu poderia imaginar que ela era apaixonada por ele? Nunca sequer sonharia com uma coisa dessas! Espero que agora ela aprenda a não guardar mais segredo.
- E agora Adam foi atrás dela...
- Foi é? Mas vem cá, o beijo foi bom pelo menos?
- Bom? Foi ótimo, amiga! Nossa, como ele beija bem, você não tem noção! E eu não acredito que a Isa está dispensando um homem como ele!
- Ah, e você já aproveitou a chance para tirar uma casquinha, é? – Karine aproveitou a deixa e a provocou. Raquel apenas sorriu. - Ah... Deixa eu aproveitar que estamos só nós duas para te fazer uma pergunta...
- Fala, Kaká.
- George me convidou para ir à casa dele... Você acha que eu devo?
- Você que sabe, Kaká.
- Sei lá, nunca fiz essas coisas antes, mas estou com vontade, sabe? Será que eu devo?
- Você quer?
Ela assentiu, sorrindo.
- Querer eu quero, mas tenho medo.
- Medo do que, Kaká?
- Sei lá. Medo que ele me ache fácil, que ele fale mal de mim depois, mas principalmente medo de como vai ser quando a gente acordar... Sei lá, é estranho. Eu mal o conheço...
- Amiga, eu acredito que a vida é uma só e que a gente deve curtir e aproveitar. E a gente só tem mais uma semana aqui e depois iremos embora. Já pensou que hoje pode ser a tua única oportunidade de ficar com ele?
- Hum.... Do jeito que você fala até parece que é fácil, mas você só fala e não faz. – Karine estava séria e pensativa. Estava em conflito entre a razão e a emoção.
- Mas fazer com quem? Se o cara que eu acabei de beijar não está interessado em mim – Raquel resmungou.
- E aquele gato que está no bar sozinho com o meu gato?
- Teu gato, é? – zombou.
- Sim, George Michel é meu, não sabia? Ele foi feito para mim! – ela afirmou e sorriu.
- Então amiga! O que você está esperando? Vamos para o bar e você trate de ir logo para casa com ele!
- E você? Vai ficar sozinha? – inquiriu, preocupada.
- Não se preocupe comigo, Kaká. Vou tentar me entender com Gerard.
- Hum... sei...
- Me entender como amiga dele, né? Já esgotei meu estoque de beijos por hoje.
- Humrum, até parece. – debochou. – Se ele quiser te beijar você vai dizer: não Gerard, muito obrigado. Já esgotei meus beijos por hoje. Tente amanhã! – ela gracejou, implicante.
- É! – ela respondeu entre risadas.
- Então Raquel, vamos lá no bar com eles? E esperar para ver o que vai ser de Isa e Adam?
- Sim, por favor! Espero que tudo dê certo e os dois se entendam de uma vez! Isa merece ser feliz.
- Se não der certo ao menos você aproveitou o beijo, não foi?
- Sim, com certeza! – sorriu.
- Então já valeu o esforço!
- Baita esforço! – e as duas chegaram ao bar às gargalhadas.
*
- O que você pensa que está fazendo? Beijando a minha amiga daquele jeito?
Adam sentiu um puxão no braço quando ia para o banheiro. Isa o parou, enraivecida, encostando ele contra a parede, se posicionando em frente a ele.
- Por acaso ela beija melhor do que eu, hein? – ela indagou, deixando-o sem reação. Ela estava super irritada e nem pensava direito no que fazia. Chegou com o corpo próximo ao dele, prensando-o contra a parede e prendeu os braços dele com os dela.
- Hein? Ela beija melhor do que eu?
Ele não respondeu, apenas a encarou, gostando da situação. Ela chegou com a boca bem perto da dele, provocando-o. Isa roçava seu nariz em sua bochecha, quase tocando os lábios dele com os dela.
- Eu poderia te beijar agora, se você não tivesse beijado antes a minha amiga. – afirmou, num sussurro, ainda provocando-o.
Ele não agüentou mais aquela provocação. Ela o prendia, mas ele era mais forte e logo se desvencilhou. Com o braço direito pegou a nuca dela, ao mesmo tempo em que a puxou pela cintura com o braço esquerdo, e a trouxe para junto de si, beijando-a com sofreguidão.
Isa se rendeu ao beijo e se atirou nos braços dele, com a mesma urgência e com a mesma intensidade que ele sentia. Ela correspondia ao seu desejo e o queria para ela, só para ela. Não queria dividi-lo com ninguém, muito menos com sua amiga, e não havia mais como fugir disso. Era mais forte do que ela.
- Vamos embora daqui, Adam? – ela se afastou um pouco e o encarou, suplicante. – Eu quero você e não quero mais que você fique com a Raquel.
- Vamos, amor. Eu vou com você para onde você quiser.
Ao ouvir essas palavras, ela deu um sorriso e um suspiro de alívio e satisfação. Ele ainda era dela, afinal.
- Vamos para tua casa, Adam? – indagou com um sorriso maroto nos lábios, deixando evidente suas intenções.
- Claro! – ele respondeu sem pestanejar - Mas sem se despedir?
- Sem se despedir.
Já haviam perdido tempo demais e não queriam perder mais nenhum segundo sequer. Ele a puxou pelo braço e saíram apressadamente e de fininho, sem serem percebidos pelos amigos.
*
Capítulo 16
*
- Nossa Adam, que gelo está a tua casa!
- É verdade, você tem razão. – comentou e a enlaçou pela cintura, beijando-a no pescoço. - É a primeira vez que você vem aqui, Isy, e espero que seja a primeira de muitas vezes, mas não se preocupe com o frio que eu irei esquentá-la.
Ela riu e ofereceu os lábios para mais um beijo. Parou ofegante e suplicou:
- Adam? E aquela lareira ali? Não dá para ascender? Ou a calefação?
- Claro, meu amor.
- Adam... Olha só... – começou com receio, tentando se afastar dele. Seria a primeira noite deles juntos e ela queria que fosse tudo perfeito. – Eu estou fora de casa desde as cinco horas da tarde.... Será que eu poderia tomar um banho? – perguntou, com o rosto corado, meio sem graça.
- Claro que sim. E eu posso tomar junto? – indagou beijando-a novamente na boca, aprofundando o beijo mais uma vez. Não conseguiam se largar, não conseguiam mais se desgrudar. Isa se afastou um pouco e respondeu, arfante:
- Não, seu bobo. – ela sorriu. – Mas eu preciso tomar um banho, por favor!
Ele sorriu e concordou, mas manteve-a nos braços.
- Então me largue, senão não conseguirei ir. – ela suplicou, e lançou-lhe um olhar ansioso e apaixonado.
- Está bem. Eu esperei tanto por esse momento, penso que posso esperar mais alguns minutos. Mas não demore muito – ele sorriu. – Venha, eu vou lhe mostrar onde estão as coisas.
Ele seguiu para o quarto e ela foi atrás, segurando a mão dele, observando a casa.
- Até que você é bem organizado para um homem que mora sozinho. – constatou.
- Você acha mesmo? Na verdade, hoje a minha empregada esteve aqui e organizou tudo. Mas se você tivesse vindo ontem, se surpreenderia com a zona que estava.
- Ah, eu sabia! Você não tem cara de organizado mesmo. Aliás, tem cara de bem bagunceiro.
- Você também, sabia? – ele comentou sorrindo enquanto lhe alcançava do armário uma toalha branca, umas pantufas e um roupão para ela vestir após o banho.
- É, eu sou mesmo.
- Bom, agora vou deixá-la à vontade enquanto desço para ajeitar tudo para nós. Te espero lá embaixo, está bem?
- Obrigada, Adam. – beijou-lhe desta vez no rosto para não cair em tentação. Tinha sido muito difícil se afastar, mas queria estar bem limpinha e cheirosa para ele.
Ela ficou só com os seus pensamentos enquanto ligava o chuveiro. Curiosamente, não estava nervosa. Não estava aflita e nem ansiosa. Aquilo parecia tão certo que a única coisa que ela sentia era uma sensação boa. Sentia-se leve e feliz. Sentia uma paz como há muito tempo não sentia. Adam era o homem certo para ela e ela não via à hora de estar em seus braços. E com esses pensamentos e com esse estado de ânimo entrou no banho e deixou a água quente percorrer o seu corpo. E era uma sensação tão boa e tão relaxante que ela perdeu um pouco a noção do tempo.
Adam achou que Isa estava demorando demais e resolveu subir atrás dela. Estava impaciente e aqueles minutos estavam mais longos do que o usual. Entrou no banheiro sem fazer barulho e sem que ela o percebesse. E então parou em frente ao box, que era incolor, e ficou encantado a visão: Isa estava de olhos fechados e parecia bem à vontade e ele pôde visualizar todas as curvas do seu corpo. Ela era linda e ele poderia ficar horas seguidas apenas a contemplando. Mas não era apenas isso que ele queria: olhar. Ele precisava tocá-la, precisava senti-la e mais do que isso: precisava tê-la. Ele a queria de uma forma tão intensa, como nunca desejara nenhuma outra mulher antes.
Sem pensar muito, e cuidando para que ela não percebesse e o impedisse, se despiu rapidamente e entrou no box com ela. O espaço não era muito grande, mas era o suficiente para os dois. E do jeito que ele pretendia ficar, não precisava de muito espaço.
- Adam! – ela falou e sorriu quando ele chegou pelas costas dela e a enlaçou. – Você disse que me esperaria lá embaixo. – resmungou, fingindo-se ofendida quando na verdade tinha adorado a surpresa.
Ela virou o rosto para lhe oferecer a boca, mas manteve-se de costas para ele. Ele a beijou com vontade, sugando-a e a explorando com sua língua, sendo correspondido por ela com a mesma intensidade. Adam tirou os braços ao redor de sua cintura e subiu até os seios, acariciando e comprimindo os dois ao mesmo tempo. Ela também queria tocá-lo, mas sua posição não ajudava e o máximo que ela conseguia era acariciar suas coxas e corresponder ao beijo. Estavam com os corpos colados e Isa podia sentir seu membro enrijecido roçando-lhe as costas. Mordeu os lábios, satisfeita e ansiosa.
Ela continuava de costas para ele, e ele resolveu curti-la bem devagar, sem pressa. Interrompeu o beijo e pegou um sabonete e começou a ensaboá-la pelo corpo todo, ao mesmo tempo em que beijava o seu pescoço. Passava o sabonete, fazia caricias e beijava e lambia as costas úmidas, provocando inúmeros arrepios e gemidos em Isa. Depois, fez o mesmo nas pernas e no bumbum até que resolveu vir-la de frente para ele e fazer o mesmo com seu busto que parecia se oferecer a ele.
- Adam... – ela murmurou, quando ele aproximou seu rosto do dela. Mas não queria dizer nada, apenas chamá-lo para mostrar o quanto estava apreciando tudo aquilo.
- Hum? – ele perguntou, prestes a buscar o contato com a boca dela, olhando em seus olhos.
- Nada... – ela respondeu, antes de fechar os olhos e corresponder ao beijo, quando se esqueceu completamente do que iria dizer. Ele riu, mas sem afastar os lábios dos dela.
Agora nesta posição, Isa poderia tocá-lo e resolveu ensaboá-lo também. Pegou o sabonete e falou, com um olhar sacana:
- Agora é minha vez.
Ele sorriu e assentiu em silêncio, afastando um pouco os braços do corpo para permitir a aproximação dela. Ela começou a passar o sabonete primeiro no peito e conforme a água ia lavando e escorrendo o sabão, ela ia lambendo todo o caminho já limpo, fazendo movimento circulares e sensuais com a língua. E assim foi até a perna, onde desceu até embaixo, subindo por diversas vezes. E quando fazia esses movimentos de subida e descida, lambia a parte interna da coxa, próxima ao seu membro ereto, sugerindo uma aproximação que não fazia. Fazendo isso, provocava-o, e notava a sua perturbação a cada vez se afastava novamente. Então buscou suas costas e deu-lhe uma mordida forte na bunda. Queria deixar marca. Mas ele não reclamou.
Quando novamente ela se posicionou a sua frente, ele já não se agüentava mais de desejo, e não sabia quanto tempo ainda suportaria aquela brincadeira. Isa não fazia idéia do quanto lhe torturava. Pela primeira vez naquela noite, ele buscou o contato com o sexo dela, ao mesmo tempo que colocou a mão dela sobre o dele. Ambos passaram a se sentir, se tocar e se descobrir, ficando algum tempo se curtindo dessa forma.
Então Adam resolveu aprofundar ainda mais brincadeira. Sabia que precisava possuí-la logo, sabia que não ficaria mais muito tempo nisso e ele nem agüentaria mais muito tempo. Mas antes de tê-la, gostaria de lembrar de seu gosto, gostaria de sentir o seu cheiro e assim decidiu fazer. Isa não esboçou nenhuma resistência e ele então passou a explorar seu sexo com a língua, sugando-a com a boca. Ela abriu um pouco mais as pernas, para permitir melhor o contato.
- Adam? – ela suplicou, agarrando seus cabelos com força, após alguns minutos. – eu preciso de você agora. Não posso mais esperar...
Ele parou de fazer o que fazia e a fitou e com um leve sorriso nos lábios assentiu com a cabeça. Ele também a queria. Ele também não agüentava mais.
- Eu liguei a calefação Isy, o quarto já deve estar quente. Vamos para lá?
- Sim. – murmurou.
Eles desligaram o chuveiro rapidamente e correram para cama, com uma urgência crescente de ter um ao outro. Ainda não estava muito quente, apesar da calefação estar ligada há algum tempo, e eles entraram molhados embaixo dos cobertores. Ali, buscaram o contato do corpo um do outro para se esquentarem. Rapidamente, não sentiram mais frio. Não sentiriam mais frio mesmo se caísse neve dentro do quarto e mesmo se um floco de neve teimasse a entrar por debaixo das cobertas. Estavam completamente entregues um ao outro e naquele momento nada mais importava além do que eles faziam.
Antes que prosseguissem, Isa quis fazer algo que desejava e que sabia que ele queria também que ela fizesse. Sem pensar muito, desceu e agarrou o sexo dele com a boca, provando-o e sentindo o seu gosto pela primeira vez, sugando-o e lambendo-o com volúpia. Era bom. Como se fosse possível, ele cresceu ainda mais dentro da sua boca.
Ele, após um tempo, comentou:
- Se você continuar, eu não me responsabilizo. – Afirmou e sorriu, com um brilho no olhar que demonstrava tudo o que sentia.
Ela abriu os olhos e o encarou. Também achava que era a hora e parou o que fazia, se afastando um pouco dele. Subiu para encontrá-lo, beijando-o por todo o trajeto até chegar à boca, onde seus lábios se fundiram energeticamente.
Estavam de frente um para o outro e havia chegado o momento. Ele não esperou muito mais e ajeitou seu corpo sobre o dela e então a penetrou com um movimento único. Foi fácil, pois Isabela estava úmida e preparada, mas mesmo assim não pode evitar um gemido de dor. Fazia tempo que não se entregava a ninguém. Mas logo o prazer tomou conta de todo seu corpo e ela esqueceu do resto, passando a acompanhá-lo em seus movimentos. Naquele momento, se uniriam de tal forma que era como se passassem a ser apenas um ser. Naquele momento, seus corpos se fundiram e eles finalmente puderam extravasar todo desejo reprimido. Após alcançarem juntos o orgasmo, completamente saciados, adormeceram nos braços um do outro.
*
- Isa? – Adam acordou e buscou o contato com ela, beijando-a na bochecha. Já era tarde e ele tinha que levantar, pois tinha alguns relatórios para fazer. Isa apenas se mexeu um pouco, mas não despertou completamente. Ele resolveu ficar mais um tempo na cama, abraçado a ela.
Ficou um período apenas olhando para ela, encantando. Ela parecia tão serena, tão tranqüila, que ele resolveu deixá-la dormir e não perturbá-la mais. Mas no primeiro movimento que ele fez para sair da cama, ela acordou e o puxou de volta.
- Aonde você pensa que vai, seu fujão? – ela indagou sem abrir os olhos, virando-se para abraçá-lo na tentativa de mantê-lo com ela.
- Bom dia, querida. – Fez um carinho, tirando um fio de cabelo que teimava em cair sobre a testa.
- Bom dia, meu amor. – ela abriu parcialmente os olhos, o encarou e deu um leve sorriso, enquanto esfregava os olhos preguiçosamente.
- Meu amor? – ele sorriu, satisfeito por ouvir tais palavras pela primeira vez.
- Hum rum. – ela assentiu. Teriam apenas dois meses juntos antes dela ir embora, antes dela voltar para o Brasil, e ela queria viver esse período intensamente. Para isso, não precisava fingir nem esconder seus sentimentos. Não precisava disfarçar o que sentia, pois não tinha nada a perder. Iria embora de qualquer maneira – Eu te amo, Adam.
Confessou e voltou a fechar os olhos, fingindo preguiça, quando sua real intenção era evitar encará-lo, envergonhada. Ele sorriu, com alegria, se aproximou e depositou um beijo em seus lábios fechados.
- Eu também te amo, Isabela.
- Que bom – abriu os olhos e o encarou, radiante.
- Porque você demorou tanto para ficar comigo?
- Não sei, Adam. Eu tinha medo.
- Hum... Que pena, agora temos tão pouco tempo...
- É, e eu quero aproveitar cada segundo que me resta contigo.
- A Vicky me contou que um dos teus sonhos era conhecer a França, mas que você não conseguiu ir lá. Você quer conhecer comigo?
- Lógico que eu quero! Nossa, creio que nada me faria mais feliz! Quando, Adam? – indagou com ansiedade.
- Podemos passar o teu ultimo mês na França, o que você acha?
- Claro! Ótima idéia! Só tenho que estar de volta para receber a Ilana no dia 23 (de dezembro), mas até lá estou livre.
- Então combinado. Vou escolher uns locais bem legais para a gente visitar e depois te mostro, está bem?
- Sim! – ela assentiu e se jogou em seus braços. Ele era um homem perfeito e ela estava arrependida por não ter ficado com ele antes. Agora tinha que aproveitar o tempo que ainda lhes restava.
Enquanto aproveitavam para se curtir novamente, se beijando e trocando carícias cada vez mais ousadas, a barriga de Isa roncou. E por mais que ela tentasse disfarçar o ruído, ele percebeu e os dois se olharam e riram, cúmplices.
- É, faz tempo que eu não como.... – comentou, constrangida, sorrindo sem graça.
- Bom, meu amor, daqui a pouco eu mato a tua fome, está bem? Mas por enquanto tenho que matar outro tipo de fome. – afirmou, rindo com um brilho no olhar.
- É, essa minha fome pode esperar um pouco mais. Agora eu só quero aproveitar você!
- Eu sou seu, Isy. Você pode fazer o que quiser comigo.
- Está bem então. – achou graça e aproveitou para dar outra mordida na bunda dele.
- Ai! – ele resmungou.
- Você disse que eu podia fazer o que eu quiser! – ela deu uma risada. – E eu adoro a tua bunda e não resisti! Não ia perder a oportunidade, não é?
- Ok. Eu sou teu, mas mudei de idéia: você não pode fazer tudo. – ele riu, esfregando o local da mordida, que estava vermelho e dolorido.
- Você não reclamou antes.
- Antes eu estava distraído e você se aproveitou da minha distração. – fingiu estar ofendido.
- Bobo! – ela jogou o travesseiro sobre ele.
- Ah, é? – ele imitou o gesto dela. – agora vem cá!
Tentou morder a bunda dela também, mas ela fugia e se debatia e ele não conseguia pegá-la.
- Pará, seu vingativo! Não tem nada mais interessante para fazer do que me morder? – os dois brincavam e riam, mas sem sair da cama.
- Tenho sim. Vem cá que eu vou te mostrar.
Ficaram mais um tempo se curtindo e então se amaram novamente.

- Oi meninas! – Isa almoçou com Adam e chegou em casa pelas 14 horas. As 18 deveria trabalhar. Karine e Raquel estavam sentadas na sala, aguardando impacientes por ela.
- Isa! Você demorou! Nossa, precisamos muito falar contigo! – Karine foi a primeira a falar, pois Raquel estava pouco a vontade. Ainda não havia conversado com a amiga sobre o beijo que dera em Adam e não sabia o que ela pensava sobre isso. Estava constrangida.
- Então podem falar, que eu agora estou aqui e sou toda ouvidos – falou, esboçando um sorriso de orelha a orelha. Estava feliz e não conseguia disfarçar.
- Pelo visto a tua noite foi boa amiga. A minha também! – Karine comentou. – E é por isso que precisamos conversar.
Raquel mantinha-se em silêncio e Isa notou a sua expressão séria.
- O que foi, Raquel? – Isa indagou, sentando-se ao lado dela.
- Pois é. Ela está assim deste que acordou. – Karine observou.
- Você não está chateada comigo, Isa? – elevou os olhos e fitou a amiga com apreensão.
- Não. Por que eu estaria, Raquel?
- Porque eu beijei o Adam mesmo sabendo que você gostava dele, porque eu fui uma péssima amiga! Ai, estou me sentindo tão culpada! – Raquel era uma manteiga derretida, muito sensível, e estava prestes a chorar.
- Raquel, não fica assim não, querida – Isa a abraçou, tentando consola-la. – O Adam já me explicou, sei que a intenção foi boa. É claro que eu não gostei de ver vocês dois se beijando, mas se não fosse por isso eu não teria ficado com ele, sabe? Era como se eu precisasse disto para acordar. E se o motivo foi bom, eu te perdôo.
- Sério? Sem ressentimentos?
- Sem ressentimentos. Eu te adoro, amiga.
- Eu também te adoro. Nossa, que bom! – suspirou, aliviada e a abraçou.
- E além do mais, ninguém é tão parecida comigo como você. Como eu poderia viver sem a minha única amiga que não gosta de futebol, feito eu? Sem a minha companheira de expulsão de sala de aula no colégio? Sem a minha amiga maluquinha?
- É verdade! – Raquel enxugou uma lágrima, emocionada. E abraçou mais a amiga. – Nossa, ainda bem que você não ficou braba comigo, Isa. Estava tão preocupada! Nem dormi direito.
- Bom meninas, agora que eu já assisti essa cena melosa de vocês – Karine colocou o dedo na goela fingindo nojo – Posso falar?
- Claro, Karine. Agora pode. – Raquel autorizou, faceira.
- Ainda bem, porque daqui a pouco o George vem me buscar. Nós vamos ao aeroporto, trocar minha passagem. Na verdade, não será bem uma troca, porque não tenho previsão para a volta.
- Trocar a passagem? Você vai ficar aqui comigo? – Isa indagou, excitada, esfregando as mãos.
- Você não vai mais voltar, Kaká? – Raquel perguntou, surpresa.
- Não sei. Não tenho planos nenhum. Eu e o George colocaremos uma mochila nas costas e viajaremos pela Europa. Ele sempre quis fazer isso, só não tinha arranjado companhia. E eu adorei a idéia, estou tão empolgada!
- E para onde vocês vão, Kaká?
- Não sei, Isa. Acredito que primeiro iremos para Amsterdã, mas depois vamos percorrer tudo: França, Itália, Espanha, Portugal... Vamos para onde o vento nos levar. Ele vai levar a guitarra e se oferecer para tocar nos bares e cafés, eu também tentarei arranjar um bicos por aí. Sempre tive vontade de mudar de vida, fazer uma loucura, fugir de casa, sei lá. E o que pode ser mais perfeito que percorrer a Europa com George Michel?
- Eu também vou para França mês que vem com o Adam, quem sabe a gente se encontre por lá?
- É, quem sabe.
- E para Amsterdã, Kaká? Por que primeiro lá?
- Ah Raquel, foi idéia do George. Ele é meio maluco e diz que sempre quis provar o famoso bolo de maconha. Eu não curto drogas, mas tenho curiosidade de pelo menos sentir o cheiro. Gosto de imaginar os sabores pelo cheiro. Bom, isso vocês sabem, não é?
- Sim, Kaká. Sabemos. – As três riram. Karine sempre cheirava os novos alimentos antes de provar.
- E quando você vai? – Isa indagou.
- Amanhã de manhã. Já estou com a mala pronta, iremos assim que acordamos. Aliás, tenho que acabar de arrumar minhas coisas. Vou subir para não me atrasar, depois nos falamos, está bem?
- Sim, Kaká, pode ir. – as duas a autorizaram.
- Que loucura, não é? – Raquel comentou assim que ficaram sozinhas. Isa riu e respondeu:
- Olha, não estou nada surpresa. A Kaká sempre foi meio imprevisível. E certo está ela, que curte bem a vida.
- E então, Isa? Como foi a noite com o Adam?
- Ótima, perfeita e maravilhosa!
- Que bom! Quero saber os detalhes!
- E você e o Gerard? Imagino que vocês ficaram sozinhos por bastante tempo.
- Sim, nós ficamos sozinhos e conversamos muito. E ele é tão legal, Isa! E tão charmoso também! Nossa, que homem amiga! – revirou os olhos e suspirou, sonhadora.
- Ele é lindo mesmo, e querido também. E eu adoro o Gerard.
- Isa, amanhã eu vou sair com ele. Ele me convidou para fazer um passeio de bicicleta e de noite ficou de cozinhar para mim. E hoje a noite eu gostaria de ir ao Pub e ficar com vocês. Eu não quero ficar sozinha em casa em um sábado a noite. Sei que você não terá tempo para me dar atenção, mas eu não me importo de ficar sentada sozinha numa mesa. Melhor sozinha lá do que em casa. E eu fico tomando um vinho e observando o movimento. Sei que a especialidade da casa é cerveja, mas eu prefiro vinho.
- Eu sei que você prefere vinho, Raquel. – fez uma pausa refletindo sobre o que a amiga havia falado – Ficar sentada observando o movimento ou observando o Gerard?
Raquel riu.
- Ah, os dois. Quero reparar como ele é, se ele é mesmo um galinha como todos dizem e se vale a pena eu me envolver com ele. Sabe? Eu sinto que posso me apaixonar facilmente por ele, por isso preciso ir devagar.
- É, um pouco de cautela faz bem.
- Um pouco, não é, Isa? Mas não em exagero como você fez com o pobre do Adam.
- É, eu devia ter ficado com ele antes. Ele é tudo de bom!
- Então aproveita o tempo que te resta.
- Com certeza! E o teu livro, Raquel? Já começou a tradução?
- Mais ou menos, tentei um pouco agora de manhã... Mas está sendo bem mais difícil do que eu pensava. Talvez eu não consiga terminá-lo a tempo, talvez eu também precise trocar a minha passagem e prolongar a minha estadia.
- Que bom, amiga. Eu vou gostar de tê-la comigo mais tempo. Pode ficar aqui o tempo que quiser.
- É, eu sei que pela tua parte não teria nenhum problema, mas creio que a Vicky não vai com a minha cara.
- Por que Raquel? Não é apenas impressão tua?
- Acho que não, Isa. Sinto que ela me olha de um jeito esquisito.
- Será que ela sabe que você ficou com o John e está com ciúmes?
- Será que é isso? Mas faz tanto tempo! Imagina, eu tinha 24 anos e ele 19, já faz 6 anos! Ficar com ciúmes disso é ridículo!
- Nossa, já faz 6 anos? Nem parece, passou tão rápido!
- Lembra como foi, Isa? Lembra do reveillon, quando a gente alugou uma casa no litoral de Santa Catarina?
- Sim, na praia da Ferrugem! Nossa, foi muito bom! Aquela praia é linda demais!
- É. Ia mais gente e na última hora todo mundo desistiu.
- Sim! Nossa, que saudades daquela época! No fim fomos nós duas, o John, o Erik, a Ilana e aquele namoradinho que ela tinha na época. Como era mesmo o nome dele? Eles ficaram tão pouco tempo juntos que eu não me recordo...
- Era Jeferson, não era?
- Claro, isso mesmo. Que memória, amiga!
- E eu fiquei segurando vela, tinha só casal e eu e o John.
- Mas você foi parceira e não desistiu da viagem.
- Mas desistir por quê? Eu estava tão empolgada com a viagem, não conhecia Santa Catarina, e estava planejando essa viagem há tanto tempo!
- Sim, eu sei. Você foi e daí acabou se aproximando mais do John.
- Claro, só tinha ele para eu conversar! Você e o Erik só queriam saber de namorar, e a Ilana e o Jeferson também. E o John era novinho, mas já era bem gatinho. Dava para o gasto! – ela sorriu.
- Bom amiga, sinto te dizer que se você já achava ele gatinho naquela época, quero ver o que achará dele agora. Ele voltou melhorado da Austrália: engordou um pouquinho e está com mais cara de homem.
- Ah é? Ele está mais bonito do que o Gerard? – indagou interessada.
- Ah, não sei. Eu acho, não é? Por que ele está a cara do Erik.
- Então quem deveria se interessar por ele é você. – ela zombou.
- Não! Que é isso! Seria como cometer um incesto, ele é como se fosse meu irmão.
- Hum... Mas você não sabe o que está perdendo, Isa. Ele é bem gostosinho! Se naquela época ele já sabia o que fazer, imagina agora mais velho e mais experiente.
- É. Nada me tira da cabeça que você desvirginou o meu cunhadinho. Sua pedófila!
- Pedófila nada – ela retrucou, rindo – ele já era maior de idade!
- Imagina se a Vicky te ouve falando isso!
- Pois é. Mas já que ela não gosta de mim mesmo, se não der certo com o Gerard, posso ir para Londres encontrar o John. Sempre é bom ter uma opção de reserva.
- Você não presta, amiga! – Isa a cutucou e as duas deram sonoras gargalhadas.

- Isa! – Raquel atendeu o telefone e reconheceu a voz eufórica de Raquel – Isa! Acabei, amiga! Acabei de traduzir meu livro!
- Que bom, Raquel. E você quer que eu veja ainda hoje como ficou a versão em inglês?
- Sim, se você puder! Eu estou nervosa! Nem dormi, passei a noite toda escrevendo! Fiquei super inspirada depois de passar a noite com o Gerard. Valeu a espera amiga, foi maravilhoso!
- É, que bom! E quais são teus planos agora? Já que ainda está sem a passagem de volta.
- Ah, decidi ser como a Karine. Estou sem planos e sem data definida para voltar. Por enquanto vou curtir o Gerard e cuidar bem para que ninguém se aproxime do meu homem. Sabia que eu vou trabalhar no Pub no teu lugar? Já começo o meu treinamento amanhã mesmo. Aliás, quando vocês irão para França?
- Ah, só daqui a três semanas. Mas Raquel, eu vou morar com ele, viu? Não volto mais para a nossa casa e você terá que arranjar outro lugar para morar.
- Ah, viu? Eu estava certa, não estava? Eu disse que a Vicky não gostava de mim!
- É, você estava certa. O John comentou com ela que vocês ficaram juntos naquele verão. Também que idéia a dele contar isso para ela!
- Não tem importância Isa, a Claudia me convidou mesmo para ficar com ela. E eu também posso passar algumas noites com o Gerard. Não me importo nem um pouquinho de ficar aqui na casa dele – gracejou.
Elas riram no telefone.
- Passo aí daqui a pouco, Raquel. A gente conversa melhor pessoalmente e eu vou querer todos os detalhes, viu?
- Está bem. Estou te esperando, só vou tomar um banho rápido para acordar.

- Raquel, já falei com o Adam e ele marcou da gente se encontrar com o Tom ainda nesse fim de semana em Londres. Você está preparada para isso? (Tom era o editor amigo de Adam).
- Claro que sim, Isa. Um pouco tensa, mas preparadíssima!
- Sua tradução está perfeita! E a história também, é claro, embora eu já saiba ela ao de cor! E se ela for publicada e fizer sucesso, Raquel? Já está pensando no próximo romance? Porque se é isso mesmo o que você quer fazer, já deve começar a pensar em outro.
- Sim! Já estou cheia de idéias na cabeça, só basta sentar e começar a escrever. Só não trouxe o meu computador. Mas se tudo der certo, comprarei um novo e começarei a escrever aqui na Inglaterra mesmo. Por que só consigo escrever num computador que seja só meu e que eu possa carregá-lo para onde eu for.
- Eu lembro que você carregava seu computador para cima e para baixo e que ele já estava caindo aos pedaços. – ela comentou, achando graça da lembrança.
- É verdade! – ela riu.
- Então, vamos para Londres no fim de semana? Vamos encontrar o Tom e o John?
- O John também? – indagou, com euforia.
- Claro, né? Ou você pensa que eu irei para Londres e não irei ver meu irmãozinho?
- Que a Vicky não saiba disso!

- Melanie, nossa estou muito curiosa para saber a novidade!
- Ah, Isa! Ainda não posso contar, o Adam Bill pediu segredo.
Melanie olhou para os lados e viu que ninguém estava reparando nelas. Mesmo sendo sexta-feira, o dia do encontro habitual no Pub, Melanie e Bill tinham ligado para todos os seus amigos para confirmar sua presença. Tinham um comunicado importante a fazer.
- Mas acho que posso contar para você antes, Isa. Não estou mais me contendo, estou tão feliz! Nossa, você não tem idéia de como eu estou feliz! – discorreu empolgada, com um sorriso de orelha a orelha.
- Melanie, amiga! – arregalou as sobrancelhas, com euforia – É o que eu estou pensando?
Ela assentiu, com um sorriso iluminado seu rosto.
- Você está grávida, amiga? – cochichou em seu ouvido.
- Sim, estou sim!
- E quando você soube?
- Na verdade, eu tive a confirmação apenas hoje, mas estava desconfiada há alguns dias. Mas não contei para ninguém, porque queria ter certeza antes. E foi tão difícil não te falar, eu quis te ligar tantas vezes! Mas o Bill fez questão que eu não falasse para ninguém, e eu acabei cedendo.
- Por isso você cancelou as nossas aulas?
- Sim! Por que eu sabia que eu não me agüentaria e te contaria!
- Ah... Mas eu senti tua falta. Senti saudades.
- Pois é, Isa. Eu também senti saudades. Só que como eu te disse, se eu engravidasse não iria mais para o Brasil. Não preciso mais aprender português, mas a gente pode continuar se encontrando, não é? Ou agora você só quer saber do Adam?
- Alguém falou de mim? – ele chegou abraçando Isa pelas costas.
- Eu falei que a Isa agora só quer saber de você e não tem mais tempo para as amigas! Seu monopolizador de Isa! – ela debochou e os três deram risadas. Adam deu um beijo no rosto da namorada que olhou para ele e sorriu, apaixonada.
- Cadê o Thompson? Eu quero falar com ele. Preciso saber detalhes sobre a viagem que vocês fizeram para a França, ainda estou traçando o nosso roteiro. – Adam indagou.
- Ah, mas pode perguntar para mim. Eu estava com ele, esqueceu?
- Obrigado, Melanie, mas quero que seja surpresa para Isabela e você certamente contaria para ela.
- Está me chamando por acaso de fofoqueira, Adam Simons? – Melanie o provocou com uma mão na cintura, fingindo-se ofendida.
- Não, não é nada disso. – ele respondeu meio embaraçado.
- Estou brincando, bobinho. – ela afirmou bem humorada e eles riram. – Ai está meu querido marido.
Thompson chegou e se juntou ao grupo.
- Onde está Dilan? Só falta ele! Nem parece o mesmo, sempre atrasado agora. E o George? Tinha que viajar justo agora? Ele também devia estar aqui – Bill Thompson resmungou.
- Ah, Dilan deve estar falando com a minha irmã. Ele e Ilana conversam todos os dias pelo Skype quando ela chega do trabalho. E pela diferença de fuso horário isso faz com que seja tarde aqui. Viram? O atraso é por um bom motivo.
- Menos mal então. Pegue Adam – estendeu ao amigo um charuto, que esse recusou.
- Não obrigado, eu não fumo.
- Ah, mas hoje vai ter que fumar! É tradição na minha família oferecer um charuto aos amigos quando... – percebeu que iria falar demais e calou-se – Ah... ainda não posso contar! Apenas aceite um, Adam. E o Dilan que não chega? – indagou impaciente, passando a mão por diversas vezes nos cabelos e se mexendo com agitação.
- Acalme-se, querido. Ele já vem. Venha, vamos sentar na mesa com Vicky e Valentine. Elas já estão nos esperando. – Melanie comentou, puxando o marido pela mão.
- O que será de tão importante que ele tem para nos dizer? – Adam perguntou a Isa quando enfim ficaram a sós.
- Você nem desconfia, meu amor?
- Ah, sei! – ele pensou um pouco e sorriu com tal possibilidade. – Isa?
- Que foi?
- Já que ainda temos um tempinho, vamos lá nos fundos?
- Aonde, Adam? – se fingiu de desentendida.
- Lá onde tudo começou, lembra?
- Claro que eu lembro. – ela confirmou e sorriu para ele.
- Então? Lembro que eu tive muita vontade de te pegar nos braços e te beijar naquele dia.
- Mas não fez! – ela riu.
- É, mas hoje pretendo fazer.
- Está bem, eu deixo.
Rumaram em direção à mesinha escondida que havia atrás do Pub. No mesmo local em que um dia tomaram uma cerveja só os dois. No mesmo local em que começaram a se conhecer e se interessar lentamente um pelo outro.
- Raquel? – antes de saírem passaram pela amiga que neste dia estava trabalhando no lugar de Isa. Estava em treinamento para substituí-la em definitivo, se tudo desse certo e ela ficasse na Inglaterra – Nós vamos lá para fora, está bem? Você pode nos chamar assim que Dilan chegar? Só falta ele.
- Claro, Isa. – ela respondeu solicita e se apoiou no balcão para observar melhor o casal feliz que se afastava. Ficou satisfeita ao perceber que finalmente a amiga havia superado a dor pela perda de Erik. Que ela voltara a ser a mesma Isa de sempre: bem disposta e sempre com um sorriso nos lábios. Além disso, o brilho no olhar que se apagara com a morte de Erik agora reascendia com força total.
*
Capítulo 17

*
Isa, Adam e Raquel saíram cedo rumo a Londres. Raquel e Isa tinham um encontro com Tom ainda pela manhã numa cafeteria situada no centro da cidade. Adam faltaria ao encontro, pois aproveitaria a oportunidade para visitar a filial que a sua empresa mantinha em Londres. Haviam chegado algumas peças novas que prometiam facilitar muito a linha de produção e ele estava ansioso para vê-las. Provavelmente isso lhe tomaria o dia todo e ele só as reencontraria no final da tarde. Então Raquel e Isa fizeram planos de passar o resto do dia na companhia de John.
Chegaram à cafeteria antes do horário agendado. Adam fez questão de enfatizar que Tom era um grande amigo seu, amigo de longa data, e que elas poderiam se sentir a vontade com ele sem a necessidade de formalidades. Impaciente, Adam não esperou até a chegada de Tom e se despediu apressadamente.
Isa e Raquel decidiram pedir uns waffers com capuccino enquanto aguardavam por ele. Haviam saído cedo de casa e já estavam famintas. O waffers exalava um aroma delicioso assim como o café, contagiando o ambiente e abrindo ainda mais os seus apetites.
Raquel estava sentada de frente para a porta, enquanto Isa ficara de costas.
- Como saberemos quem ele é? – Raquel indagou com ansiedade.
- Nós não saberemos quem ele é, mas ele sabe quem a gente é. Ele virá até nós, Raquel. – Isa tomou um gole do café, despreocupada, queimando a ponta da língua.
- Ah é? E como ele sabe quem a gente é? – arqueou levemente a sobrancelhas, enquanto assoprava o seu café cuidando para não repetir o gesto de Isa.
- Porque o Adam mandou um foto nossa por e-mail para ele. Eu estava junto e vi. – ela sorriu.
- Acho que o que ele queria mesmo era exibir a namorada – deu um sorriso maroto.
- É, talvez. Que delícia esse waffer, não é? Me alcança a geléia, Raquel?
- Ué? Achei que você não gostasse de geléia. – a amiga estranhou.
- Eu não gostava. Aprendi a gostar com o Adam.
- Cada namorado um hábito novo adquirido – Raquel filosofou em voz baixa, sem esperar resposta.
Isa assentiu com a cabeça, enquanto saboreava o seu café.
- Amiga – Raquel se apoiou sobre os cotovelos, se aproximando mais do centro da mesa para cochichar – entrou um homem agora olhando para os lados como se procurasse alguém. Será que é ele? Se for, ele é um gatinho.
Isa virou-se para olhar e o homem as viu. Sorriu e seguiu em sua direção. Ele tinha os olhos de um azul intenso e traços delicados que lhe davam um ar jovial. Sua face era bem simétrica e seu rosto era tão agradável de olhar que era difícil desviar os olhos dele. Apesar de ter quase trinta anos, aparentava recém ter passado dos vinte.
Parou na frente delas e se apresentou. Não precisaram trocar nem meia dúzia de palavras para que elas reparassem no quanto ele era tímido. Ele parecia não perceber o quanto era bonito e suas roupas, seu comportamento acanhado e medroso, acabavam mascarando essa beleza e deixando ele sem graça. Isa teve vontade de ajudá-lo de alguma forma, mas não sabia como fazê-lo. Sempre sentira atração por homens quietos e retraídos, e sentiu compaixão por ele. Raquel, ao contrário, sempre gostara dos mais atirados, do tipo cafajeste mesmo, feito o Gerard, e se ela não estivesse interessada no fato que Tom talvez publicasse seu livro, certamente passaria a ignorar sua presença.
Tom sentou-se ao lado de Isa e de frente para Raquel.
- E então Raquel? Você é brasileira? – ele iniciou uma conversa e indagou a única coisa que sabia a seu respeito.
- Sim, sou sim. Aliás, nós duas somos – sorriu tentando ser simpática.
- Ah, sim. Então você está namorado o meu amigo Adam? – ele perguntou para Isa, curioso - Achei que ninguém seria capaz de fisgá-lo. Como você conseguiu essa proeza?
- Ah... Não sei. Aconteceu.
- E ele está tão bem disposto Isabela, nem parece mais o mesmo. Adam costumava ser tão mal humorado! Nós, os seus amigos, só temos que te agradecer.
- Ah... Eu também estou feliz. Pena que tenho que ir embora, mas não vamos pensar nisso agora... E então me conta? Você e o Adam se conhecem há bastante tempo?
- Sim. Desde crianças. A gente era vizinho e tinha uma turma legal no bairro que andava sempre junta.
- Ah, é? E quem fazia parte dessa turma?
- Eu, Dilan e Valentine Stevens, Adam Simons, Bill Thompson, George Michel, o Mark Malone...
- Mark? O que agora namora a Kate do Dilan?
- Sim, o próprio. E eu acredito que depois disso eu seja o único que ainda mantém o contato com ele.
- E o Gerard? Também andava com vocês? – Raquel que até então se matinha calada ousou perguntar.
- Não. O Gerard não. Ele e a sua família moravam na Escócia e ele se mudou para cá e deixou a sua família há apenas 6 anos.
- Ah... Mas ele nunca me disse nada... – ela resmungou. Por que Gerard se negava a falar sobre sua vida? Por que sempre que ela perguntava algo, ele mudava de assunto?
- Ele não gosta de falar sobre isso, Rachel. Não sei bem o que aconteceu, mas parece que ele não fala com a mãe desde aquela época. – Tom explicou.
- Ah! Eu não sabia! – Raquel se calou novamente e ficou refletindo sobre o que ouvira. Já estava apaixonada pelo Gerard e não saber nada sobre sua vida era perturbador.
- Então, Tom? Me conta mais. Quem mais fazia parte da turma? – Isa perguntou interessada, queria conhecer cada detalhe da vida de Adam.
- A Vicky, a minha irmã Roberta, a Gláucia...
- Espera aí, a Roberta e a Gláucia? A minhas alunas de português? E a Roberta é tua irmã? – Isa se admirou.
- Você conhece a minha irmã e a Glau? – perguntou surpreso.
- Sim! – os dois acharam graça e sorriram, enquanto Raquel parecia entediada e alheia à conversa.
Logo após, Tom voltou-se a ficar retraído e pensativo. E Isa lhe observou com atenção e se perguntou qual seria o motivo desse comportamento.
- Você conhece a Glau... – ele murmurou, deixando transparecer seu sentimento.
Raquel pediu licença e foi ao banheiro e Isa aproveitou que eles estavam sozinhos, e indagou:
- Você gosta da Glau? – ela foi direto ao ponto, sem rodeios, deixando-o sem reação.
- É, Isa. Mas ninguém sabe. – ele murmurou, desconcertado, olhando para o chão.
- Temos muito em comum, sabia Tom? Eu sempre fui mestre em esconder meus sentimentos. Acho que eu posso te ajudar.
- Como? Se eu nunca mais a vi...
- Tenho uma idéia. Dia 26 de novembro é o aniversário do Adam, podemos fazer uma festa para ele, então convidamos a Glau e você irá também. Que tal?
- Mas o Adam não gosta de festas, ele nunca concordaria.
- Esse é o Adam antes da Isabela. O novo Adam deve gostar de festas. – ela riu.
- Não sei não... – ele comentou, ainda incrédulo.
- Raquel, amiga! – ela voltou à mesa – O que você acha de fazermos uma festa no teu aniversário? Trinta anos, amiga! Temos que comemorar.
- Mas e se eu ainda estiver aqui? Não conheço quase ninguém. Como poderia dar uma festa, Isa? – ela balbuciou, confusa.
- Simples. Olhem a minha idéia: Adam faz aniversário dia 26 de novembro e Raquel no dia 28, a gente pode fazer uma festa só! O que vocês acham?
Surpresos com a proposta, Tom e Raquel trocaram olhares animados.
- Sim! – Isa prosseguiu, empolgada – Que ótima idéia a minha! Faremos uma festa só. Adam não poderá negar dar uma festa para a pessoa que nos fez ficar juntos.
- É, visto por esse ângulo... – Tom concordou – Talvez assim ele aceite.
- Que ótima idéia, Isa! Adorei! – Raquel discorreu, excitada, pois adorava festas. – E o meu livro, Tom? Você ainda quer?
- Claro que sim! Prometo olhá-lo depois com um carinho especial. – sorriu. – Adorei conhecê-las, mas agora tenho que ir.
Tom estava feliz com a possibilidade de reencontrar seu grande amor. Pegou o livro de Raquel e prometeu ligar assim que lesse.
Logo que ficaram sozinhas, Isa comentou:
- Legal ele, não é? Mas agora vamos ligar para o John e avisar que estamos indo.

- John! Te acordei, querido? Mas já são quase meio dia! – Isa gracejou ao telefone. A voz de sono de John não deixou dúvidas de que ele dormia.
- Sim, Isa. – ele bocejou - Estou trabalhando a noite e ontem fui deitar tarde. E agora estava dormindo no sofá da sala ao lado do telefone, esperando vocês me ligarem.
- Bom amore, só liguei para avisar que estamos a umas dez quadras daí e estamos indo a pé.
- A pé? E como você conseguiu convencer a Raquel? Pensei que pegariam um táxi.
- Como eu convenci a Raquel? – piscou para a amiga que estava ao lado. – Ela não é mais a mesma, John! Ela arranjou um namorado esportista e agora é praticamente uma atleta.
- Ah é? Que mudança!– ele zombou e abafou mais um bocejo. – Bom, estou esperando vocês então.
Ficou um pouco desanimado, pois como elas viriam a pé demorariam mais a chegar. E ele estava ansioso para revê-las.

- Oi John! – Isa chegou esbaforida. – Viemos tão rápido que eu preciso de um copo de água.
- Claro, Isa. Venha comigo que eu te sirvo.
- Ei! E eu? Não vai nem me dar um abraço de oi? A gente não se vê há mais de um ano e você só dá atenção para Isa? – Raquel resmungou e prontamente ganhou um beijo no rosto e um abraço.
- Saudades, querido!
Ele sorriu e serviu água para as duas.
- E então, Raquel? Quer dizer que você está de namorado novo? Que o Gustavo já era?
- Ih! Gustavo? Quem é Gustavo mesmo? – brincou - Ah, mas eu não diria que estou namorando com o Gerry... A gente ainda está se conhecendo. Sabe aquela fase do início em que tudo é maravilhoso? No início, John, tudo são flores. Mas vamos ver... Por enquanto, ele ainda me parece maravilhoso.
- Mas se der certo, você pretende ficar aqui com ele? – John franziu as sobrancelhas, curioso.
- Não sei. Se valer a pena eu fico, por que não? Isso se der certo a minha carreira de escritora, pois a vantagem de ser escritora é que eu posso trabalhar em qualquer lugar.
- Mas tem que estar muito apaixonada para largar a família, os amigos e viver num país estranho. – ele comentou.
- Olha só quem fala! – Isa interferiu – Você não está namorando a Vicky? Garanto que se você ficar mais tempo com ela irá amá-la de verdade e mudará de idéia. Quem sabe você não acabe virando um legitimo inglês?
- É, John! – Raquel concordou.
- Não, comigo não funciona assim. Penso que sou imune ao amor. Nunca amei ninguém e creio que nunca amarei.
- Ah, John! Até parece! – Raquel debochou. – Fala isso porque a mulher certa ainda não apareceu.
- É, talvez. – ele concordou. – Ou já apareceu e eu não percebi.
- Mas você não está namorando a Vicky? – Isa repetiu a pergunta, desta vez com preocupação. Sabia que Vicky estava muito apaixonada por ele e até aquele momento Isa acreditava que ele se sentia da mesma forma.
- Namorando não. Estamos nos conhecendo. – olhou para a Raquel e piscou, repetindo sua expressão - Desde o começo eu deixei a ela bem claro que eu não queria me envolver. Aliás, nem era para vocês saberem disso e ela nem deveria ter contado nada. – ele resmungou, contrariado.
- Ainda bem que o Erik era bem diferente de ti. Senão eu sofreria nas mãos dele. – Isa zombou.
- Mas é que Erik teve sorte de te achar, Isa. Se surgisse na minha vida alguém feito você tudo seria bem diferente. – John acabou de falar e a encarou com uma expressão indecifrável no rosto.
- Ah... – Isa baixou os olhos e corou, sem saber o que dizer. – Mas a Vicky é ótima...
Raquel achou que aquelas palavras soaram como uma declaração de amor, mas resolveu observar melhor John antes de tirar conclusões precipitadas.

- Nossa, John! Como você está prendado! Você está cozinhando divinamente bem! – Isa comentou ao final do almoço que ele preparou para elas.
- Sim, Isa! O que você esperava? Agora ele está trabalhando como cozinheiro de um restaurante chique! – Raquel brincou.
- Não sou um mero cozinheiro, sou auxiliar de um grande chef, Raquel. De Louise Claudet. – ele a corrigiu.- E estou aprendendo tanto que pretendo montar meu próprio restaurante assim que voltar ao Brasil. Você também cozinha bem, Isa, poderia trabalhar comigo. O que você acha?
- Hã...
- Que ótima idéia, John! – Raquel intercedeu vendo a perplexidade no rosto da amiga – Isa ainda está meio perdida, procurando um rumo para seguir. Penso que seria ótimo para os dois. E acho que é melhor do que dar aulas de inglês.
- Claro, John... – Isa murmurou, surpresa com a proposta, depois de quase ter se engasgando com a bebida que tomava – Nunca pensei realmente em cozinhar profissionalmente, mas se fosse no teu restaurante eu teria o maior prazer. E quando você irá voltar para casa?
- Ainda não sei, Isa. Mas acredito que não ficarei mais por muito tempo não. Talvez eu volte na mesma época que você. Ou talvez antes.
- Que bom, John! – Isa se animou - Já que provavelmente as minhas duas melhores amigas me abandonarão e ficarão por aqui, a Ilana e essa amiga desnaturada aí, pelo menos terei o meu irmãozinho de novo por perto.
- Não sou teu irmão, Isa. – ele retrucou aborrecido - E agora que o Erik morreu não somos sequer parentes. Nem cunhado, nem irmão. Mas quero continuar por perto e ser um grande amigo.
- Hum... – Isa estranhou essa reação, mas concordou com a cabeça para não prolongar o assunto.
Raquel, por sua vez, assistia a tudo calada e atenta.
- E então? Temos o resto da tarde para passear, para onde você pretende nos levar, John? – Raquel indagou, tentando romper o clima levemente constrangedor que havia sido criado pelo último comentário de John.
- Hoje tirei a tarde de folga para ficar com vocês. Posso ir em qualquer lugar. Aonde vocês querem ir?
- Ah, eu gostaria de ir ao museu de cera, que eu ainda não conheci – Isa propôs, empolgada.
- Ah, eu fui com a Kaká. Mas não tive tempo para ver tudo, pois fecha a 17:30 e nós chegamos as 17 horas. Adoraria ir de novo. – Raquel comentou, deixando Isa satisfeita.
- Então combinado. – John concordou - Vamos ao Madame Tussauds, o famoso museu de cera de Londres.
- Oba! Eu vou tirar foto com o Johnny Deep! – Isa afirmou, excitada.
- E eu com o Brad Pitt e com o George Clooney.
- Eu prefiro morenos e não gosto de velhos. – Isa replicou, implicando com a amiga.
- Mas o George Clooney não é velho!
- Para novo ele não serve, amiga.
- Nem para velho! – Raquel fez uma careta.
- E eu então quero tirar uma foto com a Angelina Jolie – John resolveu entrar na brincadeira.
- Angelina Jolie, John? Ela é muito velha para ti! – Raquel debochou, provocando-o.
- O amor não tem idade, Raquel. – ele respondeu, dando risadas.
- E depois nós iremos encontrar o Adam! Sabia que eu já estou com saudades dele, Raquel? John, você irá adorar conhecê-lo! – falou sem pensar e suspirou apaixonada.
John respondeu monossilabicamente e fechou a cara. Isa percebeu, se aproximou dele e confidenciou:
- John, querido. Eu nunca esquecerei teu irmão. Nunca ninguém ocupará o lugar dele no meu coração, viu? Isso não é uma competição. Nunca amarei ninguém como eu amei o Erik. Mas estou feliz de novo, entende?
Ele a olhou e assentiu com a cabeça. Entender ele entendia, só que não gostava da idéia.
- Tente conhecê-lo, John. Faça um esforço, por favor! Por mim! Ele é legal, você gostará dele. – ela suplicou, agarrada em seu braço.
- Está bem, Isa. Acho muito estranho te ver com outro, mas prometo tentar.
- Obrigada, querido. – deu um beijo no rosto dele.

- Adorei o passeio! Os bonecos são perfeitos! – Raquel exclamou, encantada.
- Sim, lindos! Também adorei! Me senti mesmo ao lado do Johnny Deep. Que homem mais maravilhoso! – Isa suspirou.
- Controlem-se, meninas – John debochou. – E agora? O que vocês duas querem fazer?
- Ah, eu estou com fome. – Isa afirmou, passando a mão na barriga e olhando para os lados a procura de um local para comer.
- Que bom que eu vim de tênis, caminhamos um bocado, não é? Ainda bem que a Isa me convenceu a não vir de salto alto.
- Sim! Imagina! Você a essa hora estaria com bolhas nos pés e estragaria o nosso passeio! – Isa riu, se apoiando no ombro da amiga.
- Nossa, eu realmente estou cansada! Vamos parar um pouco para descansar, John? Por favor! – Raquel suplicou.
- Ué? Mas a Isa me disse que agora você era praticamente uma atleta! – ele zombou – Mas pelo visto continua a mesma Raquel preguiçosa de sempre.
- Ah... – ela resmungou e fez uma careta.
- Só mais um pouco, Raquel. Tem uma cafeteria há duas quadras daqui.
- Oba! Comida! E o que tem de bom lá, John? – Isa indagou com interesse enquanto puxava a amiga pelo braço para apressarem o passo.
- Ah, tem um cheese cake com cobertura de frutas vermelhas que eu adoro. Lá tudo é bom, só que é meio caro.
- Ah, isso não importa. Já estou quebrada mesmo. – Isa gracejou.
- Então eu faço questão de pagar para vocês. Sou eu que estou convidando.
- Ah, não John. Eu não vou aceitar. – Isa negou.
- Isa, acho que teu celular está tocando. – Raquel avisou.
- Ah sim. Na verdade não é meu, o Adam me emprestou para poder me ligar. – se atrapalhou para pegar o aparelho que estava no bolso do casaco, deixando-o tocar até quase cair a ligação – Vão indo na frente, que eu já encontro vocês, está bem?
- Sim, Isa. – Raquel concordou e puxou John pelo braço, já que ele não queria se afastar.
- Oi meu amor! Onde você está? Já estou com saudades! - atendeu o telefone com um sorriso no rosto e uma expressão apaixonada.
John observava atento, de cara amarrada.
- Você está dando bandeira, John. – Raquel chamou sua atenção.
- Hum?
- Você está dando bandeira – ela repetiu.
- Não sei do que você está falando. – ele se fingiu de desentendido.
- Está bem, se você não quer falar, não fale. Mas está mesmo dando bandeira.
Ficaram alguns segundos em silêncio e então ele falou:
- Pois é, não sei o que pensar, Raquel. – ele a encarou com uma expressão triste, como se pedisse por socorro – É tudo tão novo para mim, estou tão confuso, não sei mais de nada, Raquel... Mas quando eu soube que ela estava namorando de novo, parece que meu mundo desabou, entende? Parece que as coisas pararam de fazer sentido e que tudo virou de cabeça para baixo. Não sei mais de nada, Raquel. – ele baixou os olhos, envergonhado, mas precisava desabafar. Precisava contar para alguém aquilo que estava pesando em seu peito. Aquilo que estava lhe tirando o sono e lhe consumindo por dentro.
- Você me entende, Raquel? Você não acha que eu estou maluco? Eu estou quase enlouquecendo! Isa era a mulher de Erik, não acho que seja certo eu me sentir assim, mas não consigo mudar como me sinto. No início achava que era um sentimento de posse pelo meu irmão, que eu me sentia assim porque não queria que ela o esquecesse tão rápido. Mas agora eu não creio que seja apenas isso, sabe? O que eu faço, Raquel? Por favor, me ajude! O que eu faço? – ele indagou, suplicante.
Ela abriu a boca para dizer algo, ia tentar ajudá-lo a compreender seus sentimentos, mas Isabela se juntou a eles novamente e a conversa teve que ser desviada.
Alheia a tudo, Isa comentou, com um sorriso:
- Adam vai nos encontrar na cafeteria.
Raquel sorriu para amiga, disfarçando como se sentia naquele momento. Disfarçando a apreensão que sentia após aquela confissão. Não queria que amiga percebesse o que estava acontecendo. Não queria que ela nem ao menos desconfiasse dos sentimentos de John. Certamente Isa ficaria muito confusa. E com certeza era melhor que ela não soubesse de nada. Isa estava começando a viver novamente, estava começando a ser feliz novamente, e ela protegeria a amiga e não deixaria que nada atrapalhasse essa nova fase da sua vida.

Foi uma tortura para John conhecer Adam e fingir que estava tudo bem. Foi uma tortura para ele perceber a intimidade dos dois, a troca de carinho e de olhares, mas, principalmente, perceber que Isa estava apaixonada por ele. O amor estava estampado na face dos dois. Mas John sabia que ela iria embora e voltaria para o Brasil e sabia que quem estaria lá com ela para consolá-la quando ela se sentisse sozinha e estivesse triste seria ele. E ele seria paciente e esperaria por ela. Nunca se apaixonara antes, nunca amara nenhuma outra mulher, mas saberia esperar pelo momento certo para agir.
Naquele momento, resolveu que queria voltar para o Brasil. Decidiu que ligaria para sua mãe ainda naquela noite e teria uma longa e verdadeira conversa com ela. Diria como se sentia desde a perda do Erik, de como precisava ter seu próprio espaço, que os amava, mas que queria ter sua liberdade. Seria sincero e diria como aquele excesso de zelo às vezes lhe sufocava. Diria que estava carente e que precisava tê-los por perto e que voltaria, mas desta vez para morar em sua própria casa. Alugaria um apartamento até se ajeitar e logo começaria a planejar o seu restaurante. Sabia que seus pais tinham dinheiro para investir, mas para isso ele precisava mostrar que agora era responsável e que tinha a cabeça no lugar. Talvez fosse difícil convencê-los disso, mas o fato de Isa trabalhar com ele contaria muito a seu favor. Seus pais confiavam em Isabela.
E quem sabe ele voltando agora já estivesse tudo encaminhado para o final do ano, quando Isa finalmente chegaria? Se o restaurante estivesse pronto ela poderia trabalhar com ele e eles se veriam todos os dias, quando John teria enfim a oportunidade perfeita para conquistá-la.
- E então, John? Você vai ao meu aniversário, não é? – Raquel tirou-o de seu devaneio.
Estavam ainda os quatro sentados na mesa da cafeteria, onde John mantinha-se mais calado com que o costume. Adam tinha concordado prontamente com a proposta da festa, pois estava fazendo tudo para agradar Isa nesse pouco tempo que teriam juntos.
- Acredito que não, Raquel. Estou pensando em voltar para casa. Penso que a minha mãe precisa de mim.
- Isso é verdade, John. – Isa intercedeu. – Eu e a Sarah temos nos falado muito por telefone e ela sempre comenta o quanto sente a tua falta.
- Pois é... E agora eu já tenho motivo para voltar, pois já sei o que eu quero da vida.
- Como assim, John? – Isa indagou, curiosa. Falavam em português e Adam não participava da conversa. Mas parecia não se importar, pois olhava fascinado para Isa que dialogava num idioma que ele não entendia uma só palavra.
Raquel o encarou, aflita pelo que ele diria. Não tinham acabado a conversa, e ela não sabia o que esperar de John.
- Meu restaurante, Isa! Esqueceu? Quero voltar logo para abrir meu restaurante.
- Ah... Então você estava falando sério? – ela arqueou as sobrancelhas, surpresa.
- Sim, Isa. Estou falando muito sério. – ele afirmou e sorriu.
Adam fitou Isa, surpreso, querendo saber sobre o que eles falavam, já que percebeu que a notícia a deixara entusiasmada.
- Ele vai abrir um restaurante, meu amor. – explicou a ele em inglês, sorrindo. – E eu irei trabalhar lá.
Adam por um lado ficou feliz por ela, mas por outro sentiu que a realidade logo chegaria e eles teriam que se separar. Evitava pensar nesse dia, evitava pensar no que fariam quando esse dia chegasse, porém sabia que logo teriam que encarar a realidade.
- Bom gente, vou indo então. Trabalho a noite. Foi um prazer, Adam. – John estendeu a mão e tentou ser simpático. – Tchau, Isa – a beijou na face. – Tchau, Raquel.
- Espera aí, meu amigo! Aonde você pensa que vai? Precisamos ter uma conversinha antes, não acha? – Raquel levantou e saiu atrás dele, demorando vários minutos para voltar.
- Enfim sós. – Adam segurou o queixo de Isa e depositou um beijo úmido em seus lábios. Ela fechou os olhos, como se precisasse disso para viver. – Fiquei com saudades, sabia?
- Eu também. – ela murmurou, com um sorriso terno e apaixonado.
Trocaram um abraço apertado.
- Vamos logo para casa, Isa? – ele indagou, ansioso. – Estou louco para ficar com você e a Meggy já deve estar se sentindo abandonada.
- Tomar um banho bem quente, deitar na cama e ficar bem abraçadinho – ela completou, tão ansiosa quanto ele.
- É, mas não apenas isso. – ele comentou, malicioso. – quero mais do que um simples abraço na cama.
- Hum... – ela riu e concordou com a cabeça. Depositou mais um beijo nos lábios dele.
- Eu te amo, Isa.
- Eu também te amo, Adam Simons.

- Adam, você não acha que eu engordei? – Isa parou na frente do espelho se analisando.
- Não. Você está linda como sempre.
Ela riu e se jogou nos braços dele.
- Mas eu engordei sim! Esse novo anticoncepcional está me fazendo tão mal, que quando eu chegar no Brasil vou parar de tomá-lo. Não vou precisar dele mesmo lá. – comentou, deitando para a cama e se alinhando nos braços dele.
- Hum... E quando eu for te visitar? Não vai precisar?
- Ah... – ela sorriu - Daí a gente faz tabelinha, usa camisinha... Sei lá, Adam. A gente decide. Mas eu não quero mais tomar isso, estava tão bom sem. Só se a gente for morar junto no futuro, mas até lá não vou tomar nada.
- Claro que a gente irá morar junto no futuro, Isy. Acha que eu vou te deixar ficar longe de mim?
- Shiiii – pediu que ele se calasse, colocando o dedo indicador sobre a sua boca – A gente combinou não falar disso. Vamos aproveitar o presente, amor.
- Está bem. – ele concordou com um sorriso nos lábios.
Jogaram-se um nos braços do outro e trocaram um beijo ardente e apaixonado.
- Telefone, Adam. – Isa murmurou, sem afastar os lábios dos dele.
- Ah... Deixa tocar....
- Mas pode ser importante. – o telefone silenciou, mas em seguida recomeçou a tocar.
- Que insistente! – Adam resmungou, cerrando os dentes.
- Vai lá, amor. Eu não vou fugir. – ela riu.
- Está bem. Pelo visto ele não irá parar de tocar mesmo. – resmungou, aborrecido por terem sido interrompidos.

- O que foi, Adam? Quem era?
Ela reparou em sua expressão alterada. Ele estava com os olhos arregalados e parecia que tinha visto um fantasma.
- Era o Mark. Ele e Kate terminaram... – sentou-se na cama ao lado dela, pensativo. Não conseguia raciocinar com clareza e temia por Dilan. E se Kate voltasse a procurá-lo?
- É? E o que ele queria? – ela indagou, boquiaberta.
- Não sei. Marcamos de nos encontrar amanhã no horário do almoço. Você se importa se eu não almoçar com você amanhã, Isy?
- Não, claro que não. Nossa! O que será que ele quer? Estou muito curiosa!
- Certamente voltar a ser nosso amigo, agora que ele está sozinho.
- Hum... Quem sabe? – ela comentou e os dois ficaram refletindo, cada um perdido em seu próprio pensamento. Mas em seguida, esqueceram suas preocupações e voltaram ao que faziam antes de terem sido interrompidos.
*


**
Capítulo 18

- E então, meu amor? O que Mark queria?
Isa estava ansiosa para saber o conteúdo da conversa e aguardava impaciente pela sua chegada. Pela manhã tinha dado aula para Roberta e Gláucia e pela tarde saíra para passear com Meggy pela cidade.
Caminhou tanto até se cansar, até sentir suas pernas doerem e até Meggy implorar por colo. Depois trabalhou um pouco no jardim, podando galhos e plantando algumas mudas, coisa que havia aprendido com John. Mas esqueceu de colocar luvas para mexer a terra e acabou ficando com as unhas pretas, tendo que deixá-las bem curtinhas. Olhou para suas mãos e se amaldiçoou pela sua distração. Resolveu então passar um esmalte colorido para tentar disfarçar. Quem sabe um marrom cor de terra? Sorriu, achando graça.
E a noite esperaria Adam com um jantar bem romântico. Faria um risoto com presunto de parma, queijo camembert e hortelã. Adorava fazer risotos e sempre adicionava ingredientes novos, criando suas próprias receitas. Sempre esperava por Adam com um prato diferente, não apenas risotos, mas todos os tipos de comida.
Estava adorando essa vida de dona de casa e recebia Adam sempre com uma surpresa, pois tinha tempo para isso. Mas sabia que chegando ao Brasil retornaria a sua rotina normal, retomaria à vida de trabalhadora, à correria louca do dia-a-dia. Ela não gostava de ficar parada e estava sempre inventando algo para fazer.
“E se Kate voltasse a procurar Dilan?”- ela se perguntava, temerosa, enquanto procurava ocupar sua mente com outras coisas.
“E Ilana? Ela devia estar aqui! Ela deveria estar ao lado de Dilan, deveria cuidar do que é dela. Mas quem sou eu para falar? Eu mesma deixarei o Adam sozinho...”
- O que eu te disse, Isa. Ele queria retomar a nossa amizade. Achei muita cara de pau da parte dele e muito atrevimento também! – ele bufou, irritado só de lembrar. Cruzou os braços sobre o peito, num gesto de indignação.
- Adam, meu amor, não seja tão rancoroso. Eu acredito que todos merecem uma segunda chance. Ele errou, mas você também não foi muito diferente dele, ou esqueceu que você também ficou com a Kate?
- Hum? – ele franziu as sobrancelhas, refletindo. – É, mas ninguém sabe.... – baixou os olhos, envergonhado.
- Então! Só porque ninguém sabe não quer dizer que não aconteceu. Aliás, você não iria contar para o Dilan? E se ele ficar sabendo por outra pessoa?
- Por quem, Isy?
- Não sei, pela Kate, por exemplo. Será que ela não voltará a procurá-lo?
- Sabe, Isy... Por vários momentos eu pensei em contar para ele, por várias vezes eu estive com as palavras na ponta da língua, prestes a falar, mas algo sempre me impedia e me fazia recuar. Mas agora me sinto mais forte com você do meu lado, meu amor. Agora com seu apoio acredito que eu consiga. – a encarou com uma expressão apaixonada.
- Que bom, amor. – Ela chegou perto dele e lhe abraçou pelas costas, por trás do sofá. Ficaram um pouco em silêncio, com ela agarrada ao seu pescoço. – E o Mark? Você não acha que ele merece uma segunda chance, como gostaria que Dilan fizesse contigo?
- Sim. Você está certa. Vou ligar para ele convidá-lo para minha festa. – girou o pescoço para trás, para olhá-la nos olhos, buscando sua aprovação.
Ela assentiu com a cabeça, com um sorriso leve no canto dos lábios. Saiu das costas dele e pulou para a frente do sofá, no colo dele, e desta vez deu um largo sorriso.
- Eu te amo, Adam! – ela o fitou com uma expressão de satisfação. – E penso que você está fazendo a coisa certa.
- Que bom. O que seria de mim sem você para me aconselhar? – ele passou a mão nos cabelos dela e ficaram um tempo se encarando e sorrindo, com ele acariciando o queixo dela.
- Adam! A comida! Quase esqueço dela! A comida pode queimar! – ela levantou num sobressalto.
Ela achou graça e levantou atrás dela.
- Não tem importância, Isy. Se queimar a gente pede uma pizza. – comentou seguindo-a pela sala. Era bom ser recebido sempre com comida pronta e Isabela cozinhava divinamente bem. Mas não se importaria se não tivesse nada para comer, desde que ela estivesse presente.
- Ah, não queimou – Isa parecia uma criança sorrindo e Adam gravou aquela expressão, mais uma das expressões dela que ele guardaria para sempre em sua memória.
- Venha, vamos comer!
Ela o chamou e ele o seguiu, satisfeito.

- Vicky, é você? O que houve? – Isa percebeu que havia algo errado apenas ouvindo a primeira palavra dita por ela ao telefone.
- Isa? – ela murmurou. – Vem aqui em casa me ver? Eu não estou legal.
- Claro, querida.
- E traz a Meggy. Estou com saudades dela. – ela suplicou.
- Pode deixar. – desligou o telefone e se arrumou rapidamente. Colocou Meggy na coleira e logo as duas estavam prontas para sair.
“O que será que John aprontou?” – ficou refletindo pelo trajeto, deixando Meggy guiá-la desta vez, certa de que ele era a causa do sofrimento da amiga.
Sabia que esse dia cedo ou tarde chegaria, sabia que John faria Vicky chorar e ela se sentia culpada por isso. Ela os apresentara e fora conivente com seus encontros à noite no quarto dela, fingindo que nada via. E sabia que eles ainda mantinham contato após ele ter ido morar em Londres. E não havia tentado impedir nada disso.
Apressou o passo para chegar mais rápido, mas sua bota com salto alto fazia com que fosse mais devagar do que desejava.
“Ah, homens!”- suspirou olhando para o cima, procurando o sol entre as nuvens. O dia estava frio e cinzento.
“Só mais algumas quadras”- refletiu, se encolhendo de frio e apressando mais o passo.
Agora Meggy ficara para trás e Isa a puxava para andarem mais rápido. A cachorrinha dava pulinhos e corria fazendo um esforço com as patinhas geladas.
“Acho que preciso aprender a dirigir. Mas não sei andar pelo lado errado na rua e certamente causaria um acidente.” - ela riu com seus próprios pensamentos, chamando a atenção das pessoas que cruzavam por ela pelo caminho.
“E daí se eu estou feliz e quero rir andando sozinha na rua? Será que essas pessoas nunca viram alguém feliz antes?”- continuou sem se importar com os olhares e sem interromper o sorriso. Resolveu também assobiar para espantar o frio.
Logo parou em frente de sua antiga moradia e percebeu que Vicky aguardava por ela na janela.
- Isa! – Vicky abriu a porta e se atirou nos braços dela. Estava com os olhos vermelhos e inchados de tanto chorar.
Entraram logo na casa, buscando se aquecer. A temperatura da rua girava em torno de 6 graus celsius. Meggy foi a primeira a entrar, pois já conhecia o caminho. A cachorrinha ficou bem parada em pé, feito uma estátua, em frente à lareira para se aquecer.
Isa e Vicky sentaram no sofá e Isa imediatamente se agarrou numa manta de lã. O frio estava intenso e ela estava decidida a não voltar a pé. Desta vez pediria socorro e ligaria para Adam buscá-la.
Vicky fez um chá quente para Isa, temendo que ela apanhasse um resfriado.
- Já sei, Isa. Sem leite. Já aprendi que os brasileiros não costumam tomar chá com leite – Trouxe duas xícaras e ofereceu uma a ela, forçando um sorriso. Isa aceitou com prontidão e logo sorveu um grande gole para tentar parar de tremer.
- Isa! Sinto-me tão culpada por tirá-la de casa com esse frio! Mas eu precisava desabafar! E tinha que ser contigo, porque você é a única das minhas amigas que conhece bem o John...
- O John! Rá! Eu sabia! O que ele aprontou dessa vez? – indagou, aborrecida.
- Ele esteve aqui hoje pela manhã, Isa. Ele embarcará para o Brasil amanhã mesmo.
- Ele esteve aqui, é? – ela estranhou – Mas ele nem me ligou, nem foi me visitar...
- Ele veio para falar comigo, Isa. Devolveu as nossas fotos, os presentes que eu dei para ele e em seguida foi embora.
- Devolveu os presentes? – ela elevou a voz, indignada – Mas que falta de educação!
- Sim.... – ela baixou a cabeça, triste. – Um relógio que eu dei para ele, gastando praticamente todo o meu salário do mês, e uma faca toda especial que eu mandei fazer para ele cozinhar. Quer ver?
Isa concordou com a cabeça, contraindo o canto da boca, num gesto de reprovação.
- Você não devia ter gasto teu dinheiro, Vicky. – Isa comentou observando os objetos que pareciam valiosos. A faca tinha o cabo de madeira, mesclando tons claros e escuros. Havia uns desenhos nas bordas em tons mais claros e no centro do cabo havia o nome dele talhado: John Taylor. O relógio não dava para ver direito, pois ainda estava na embalagem original, mas parecia ter sido caro.
- Eu sei! Mas eu gostava dele! Como iria saber que ele não gostava de mim? – ela falou com um desespero evidente em seu tom de voz.
- E o pior é que você nem vai poder aproveitar essa faca, já que tem o nome dele escrito. – Isa afirmou, pensativa.
- Eu sei, e eu quero dá-la a você, Isa. Para você levar ao Brasil e usar com ele no restaurante. Se você não aceitar, irei jogá-la no lixo. – cruzou os braços e bufou, indignada.
- E o relógio?
- Ele nem usou, nem sequer tirou da caixa. Vou tentar trocar na loja por algo para mim.
- Hum... Não imaginava que o John seria capaz de agir assim. Não parece o mesmo John que eu conheço... Ele sempre foi tão amoroso, tão carinhoso.
- É. Nem parece o John que eu pensava que conhecia. O John que eu amava sequer existe, foi apenas fruto da minha imaginação. – fez uma pausa, com os olhos baixos.
- Hum... – Isa simplesmente não sabia o que dizer, ainda estava tentando entender o motivo que levara John a agir daquela maneira. Devolver os presentes era um gesto tão ofensivo!
- Mas se ele não se deu o trabalho de tirar o relógio da embalagem, é porque nunca gostou de mim. E ele me enganou direitinho! – enxugou as últimas lágrimas que ainda teimavam em escorrer pelo rosto, molhando algumas pontas dos cabelos loiros. Os olhos castanhos naquele momento haviam perdido um pouco do brilho, irradiando tristeza – Nossa, Isa... Você não tem idéia de como eu estou com raiva dele! E com raiva de mim mesma por ter sido tão burra, tão ingênua!
- Calma, Vicky. Isso vai passar! E você sabia que ele iria embora um dia.
- Sim, Isa. Eu sabia que ele não pretendia ficar aqui para sempre e que um dia voltaria para casa. E sabia que teria um oceano inteiro entre a gente e que esse mesmo oceano acabaria nos separando. Mas não sabia que ele seria tão cruel! Achava que nos separaríamos trocando juras de amor e seriamos para sempre uma lembrança boa na mente um do outro. – olhou para a Meggy que agora se ajeitava no sofá ao seu lado e pedia por carinho, arrancando um fraco sorriso dela.
- Nossa, Vicky! Como você fala bonito. E eu não sabia que você era tão romântica. – também acariciou a cachorrinha que estava entre as duas e pedia atenção.
- Eu era, Isa! Não sou mais. E sabe que ele me disse que seria melhor para mim se a gente não mantivesse mais o contato? Melhor para mim, como se ele não fosse nem um pouco afetado! – exclamou, exaltada - Que eu seria mais feliz se apagasse ele completamente da minha lembrança! Você acredita que ele teve a capacidade de me dizer isso? Que ele não era uma boa pessoa e não servia para mim! Acredita que ele me disse até que não prestava? – parou de gritar e ficaram em silêncio, só ouvindo o barulho da lenha que queimava na lareira.
- Hum... não sei o que dizer, Vicky. Sinto-me tão culpada por ter te apresentado a ele. Mas eu realmente desconhecia que ele era assim... Simplesmente não consigo entender... Algo deve estar errado, não pode ser. John não me parece bem.
Isa estava confusa demais com a situação. Refletia, refletia, mas não conseguia chegar a nenhuma conclusão. John devia estar muito atordoado e preocupado com algum problema grave para dizer que não prestava. E não entendia porque ele não a procurara, já que estivera em sua cidade.
- Não, Isa. Você não teve culpa nenhuma. Desculpa se a fiz se sentir culpada, não foi essa a minha intenção. Eu apenas precisava desabafar e te dar a faca. – ficou pensando e então teve uma idéia - Tenho um filme muito bom, Isa. Vamos assistir para esquecermos esse assunto? – ela suplicou, ansiando por companhia.
- Sim, Vicky. – ela sorriu, mais aliviada. – Penso que Adam só poderá me buscar mais tarde e eu não quero voltar a pé com esse frio. Posso ficar bastante tempo aqui.
- Que bom – devolveu o sorriso e levantou rapidamente, colocando o filme logo com receio que Isa mudasse de idéia e fosse embora.
Nos minutos antes do filme começar, Isa ficou pensativa.
“O que será que deu em John para ele agir assim? Que estranho. Algo deve ter acontecido com ele, mas o quê?”
Mas em seguida desviou seu pensamento para outro assunto, para as palavras de Vicky que ficaram martelando em sua cabeça:
“E sabia que teria um oceano inteiro entre a gente e que esse mesmo oceano acabaria nos separando.”
“Um oceano inteiro entre a gente...” – ela repetia em sua mente, preocupada.
“O mesmo oceano que ficará entre eu e o Adam.”
“Será que seremos capazes de superar essa distância?” – ela se perguntava, nervosa.

- Fiquei muito contente por receber esse convite – Dilan chegou à casa de Isa e Adam sorrindo e carregando uma garrafa de vinho tinto do tipo cabernet sauvignon, pois sabia que Isa era apreciadora da bebida. Estava com a ponta do nariz vermelha, como no dia em que conhecera Isa, e com um gorro de lã preto enfiado na cabeça com alguns fios loiros teimando em sair pelos lados – Até que enfim vou conhecer os teus dotes culinários, Isa, depois de ouvir Adam fazer tanta propaganda. E pelo cheiro ele não deve ter exagerado nem um pouco nos elogios.
- Ah... – ela ficou sem graça. – Eu ainda estou aprendendo e por enquanto estou numa fase experimental, misturando temperos e tentando criar novas receitas. Adam está sendo minha cobaia, Dilan. E o coitadinho já provou cada prato ruim!
- É. – Adam concordou, rindo e balançando a cabeça. – Como a comida de ontem.
- Ele ia mesmo comer o que eu fiz ontem, Dilan. E estava fingindo que estava bom. – ela achou graça – Mas quando eu provei! – fez uma cara de nojo.
- Ela misturou carne com mel e geléia de morango. – ele explicou, dando risada. – Mas não deu muito certo.
- Pensei que ficaria bom! – ela riu com ele. – Mas ficou horrível.
- E você iria comer, Adam? – Dilan indagou, incrédulo e dando risada com o casal.
- Sim! Eu não queria que ela ficasse chateada.
- Mas daí eu quase briguei com ele, Dilan. Como vou acreditar nele, se ele não me disser a verdade? Imagina se eu chego a servir um negócio desses no meu restaurante! Iria ficar sem clientes. – ela debochou.
- Está bem. Não minto mais. Olha que dizer sempre a verdade pode ser perigoso para um casal – Adam zombou, fingindo uma seriedade inexistente, mas depois abriu um largo sorriso, mostrando vários dentes.
Dilan assistia a cena em silêncio, satisfeito com a demonstração de intimidade e cumplicidade dos dois. Aquele não parecia seu amigo Adam. Nunca imaginou ele se relacionando dessa forma e estava muito feliz por ele.
- Que cara é essa, Dilan? – Adam percebeu que estava sendo analisado.
- Nada, meu amigo. Só estava me lembrando que certa vez eu disse que a Isabela era a mulher perfeita para ti e pelo visto eu tinha razão. Vocês parecem que foram feitos um para o outro. – ele comentou sem disfarçar seu entusiasmo.
- Hum... - Adam apenas emitiu um resmungo, sem jeito.
- Então, Dilan? Você está com fome? Vamos comer? – Isa interrompeu a conversa, pois percebeu o embaraço de Adam.
- Claro – respondeu passando a mão na barriga – Mas serei o único convidado? Que honra!
- Sim, Dilan – ela sorriu com simpatia. – Primeiro, porque se não fosse por você eu nem teria conhecido o Adam e eu quero te agradecer por isso. E depois, porque ele tem um assunto importante para tratar contigo. Aliás, dois assuntos importantes. – enfatizou, fazendo um gesto com a mão ressaltando o numero dois.
- Ah, é? E pode me adiantar o assunto, Adam? – Dilan indagou, curioso.
- Não, de jeito nenhum. – Isa respondeu por Adam. – Nada de assunto sério agora para estragar o meu jantar. – ela ordenou.
- Sim, senhora. – Adam afirmou, debochado, e Dilan riu, concordando com a cabeça.

- Hum.... Isa! Estava tudo excelente! Quando será a inauguração do teu restaurante? Não perco por nada desse mundo! – Dilan comentou ao fim do jantar, limpando a boca no guardanapo.
- Ainda não sei, Dilan. Estou dependendo do John, mas eu estou tão empolgada com a idéia! Antes eu tinha medo, mas agora não vejo a hora! Se não der certo, ainda tenho o meu plano B, que é dar aulas de inglês. Descobri que adoro dar aulas. – ela discorreu, sorridente.
- E você é uma excelente professora, Isa. Até consegui conversar com Ilana alguma coisa em português, o que parecia impossível para mim antigamente. Mas você fez milagre e eu consegui aprender.
- Que bom. Por isso é meu plano B, pois ainda prefiro cozinhar. Eu adoro dar aulas, mas amo cozinhar.
Adam assistia mudo à conversa, como se mantivera em quase todo o jantar. Estava chegando o momento de ter aquela temida conversa com Dilan e ele estava deveras preocupado. Não tinha idéia de como ele reagiria àquelas informações e temia perder a amizade dele.
- Bom, meus queridos, eu vou limpar a cozinha e hoje dispenso a ajuda, pois vocês têm muito que conversar.
- Boa sorte, meu amor – cochichou ao ouvido de Adam ao passar por ele e aproveitou a oportunidade para depositar um beijinho carinhoso em sua bochecha. Ele deu um leve sorriso com o gesto dela.

Adam e Dilan sentaram na sala e Meggy preferiu ficar com eles no aconchego do sofá.
- Adam! Estou tão surpreso por você! Nunca imaginei te ver numa relação como essa. Vocês se dão tão bem, parecem se entender tanto e em apenas... Um mês? É isso? Vocês estão juntos há apenas um mês? – perguntou, espantado.
- Sim, Dilan. Isso mesmo. Sabe o que é? A gente tinha apenas dois meses para ficarmos juntos antes dela ir embora, então estamos tentando aproveitar ao máximo esse pouco tempo. Sabe? Já na primeira semana ela veio morar comigo e desde então mantemos uma vida de quase casados. Sei que é um pouco rápido, mal nos conhecíamos, mas não tinha como ser diferente. Não tínhamos tempo a perder.
- Sim, entendo. Mas estou surpreso. Você sempre foi tão racional, nunca te imaginei fazendo algo nesse estilo. Não parece você.
- Eu sei. Também estou surpreso – deu um leve sorriso - É que eu nunca me senti assim, Dilan. Nunca senti o que sinto por ela antes.
- Hum... Eu te entendo, Adam. Também me sinto assim em relação à Ilana. – ele riu – E eu a amo intensamente, apesar de conhecê-la pouco. Ilana é a mulher mais perfeita, mais completa e mais maravilhosa que eu já conheci.
- E kate?
- Kate já era, meu amigo.
- Você tem certeza? Porque a Ilana se parece tanto com ela, que eu pensei...
- Mas a semelhança é apenas física, Adam. A personalidade é completamente oposta. Ilana é doce, meiga e gentil. É sincera, verdadeira e incapaz de ferir uma pessoa. Ilana não é capaz nem de matar uma mosca. – ele sorriu, com um brilho intenso no olhar.
- Hum... – Adam ainda não estava totalmente convencido e Dilan percebeu.
- Lembra, Adam, que Val tinha uma gata quando criança? Lembra da Suzy, a nossa gata que durou apenas um ano?
- Qual?
- Aquela que caiu do telhado e quebrou a coluna, ficando com os olhos revirados? Lembra? A Suzy, aquela gatinha da Carol?
- Ah, sim. – ele fez um esforço e lembrou, confuso. – Por que isso agora, Dilan?
- A Suzy era uma gata cinza tigradinha, dessas que parece que tem a letra M na testa, sabe? De olhos verdes, bem peluda e bonita, que estavam dando numa Pet Shop e a Val se apaixonou por ela e a trouxe para casa. Só que ela era uma gata muito anti-social, que não gostava de colo e fugia sempre que ela tentava pegá-la. A gata não queria companhia e era muito antipática, só fazia o que queria e nunca fazia questão de aguardar ninguém e a Val começou a ficar com raiva da gata. Um dia esbravejou que não queria mais aquela gata e queria uma gata que fosse ao contrário dela.
- Ao contrário?
- Sim, com a personalidade oposta. E logo em seguida a gata caiu do telhado e morreu e um mês depois o Tobias apareceu lá em casa.
- Ah, do Tobias eu lembro. Ele morreu no ano passado com 17 anos.
- Sim, esse mesmo! E ele fisicamente era igual a Suzy: peludo, tigrado, com a letra M na testa e com os mesmos olhos verdes! Mas a personalidade era totalmente oposta: ele era dócil, carinhoso e companheiro. Era um gato muito afetivo. E conhecendo então o Tobias, quem iria querer saber da Suzy? Entende o meu ponto de vista, Adam? Entende o que eu quero dizer? Agora que eu conheci a Ilana, o que iria querer com a Kate?
- Que bom, meu amigo. Por que o que te tenho para te contar é relacionando à Kate.
- Kate? – indagou, curioso – Mas o quê você pode ter para me dizer sobre a Kate?
- O Mark me ligou no início da semana, Dilan. Ele e a Kate terminaram e ele quer voltar a ser nosso amigo. Primeiramente eu não aceitei, mas a Isa me aconselhou a me dar uma chance a ele. Ela disse que todos merecem uma segunda chance e eu então o convidei para o meu aniversário.
- Eu verei o Mark novamente no sábado? – inquiriu, boquiaberto.
- Sim, Dilan. Mas você não precisa falar com ele se não quiser. Não precisa nem cumprimentá-lo se não se estiver com vontade. Ninguém está esperando que você faça isso.
- Hum... E a Kate? Ela não será convidada, não é?
- Claro que não, que idéia! Só o Mark. E eles não estão se falando, pois ela aprontou com ele também.
- Ah, é? E o que ela fez?
- O Mark encontrou-a transando com o chefe dele em seu escritório.
- Transando com o chefe dele? Mas isso é demais até para ela! Não esperava que ela fosse capaz de tanto.
- E agora parece que ela está namorando o chefe do Mark. – ele riu.
- Adam, não ria de uma coisa dessas! Pobre do Mark! – levou a mão à boca, espantado, levantando levemente as sobrancelhas.
- Pobre do Mark? Você diz isso depois de tudo que ele aprontou com você? – perguntou, incrédulo.
- Sim. Penso que isso já foi castigo o suficiente e agora eu já consigo perdoá-lo.
- Perdoá-lo? Bom, se você é capaz de perdoá-lo, espero que seja capaz de me perdoar também.
- Perdoar você? Um amigo tão querido? Mas por que eu deveria perdoar você, Adam?
- Porque eu também fiquei com a Kate, Dilan. – baixou os olhos e prosseguiu em voz baixa – Bem no início do relacionamento de vocês, mas nunca tive coragem de te contar.
- Hum...
Adam subiu os olhos e encarou Dilan. Ficou confuso ao perceber um sorriso no rosto do amigo.
- Meu amigo, Adam, eu já te perdoei por isso há muito tempo. – ele confessou e sorriu. – Que bom que você enfim me contou, esperei tanto por isso. – suspirou, aliviado.
- Como assim?
- Numa das primeiras brigas a Kate jogou isso na minha cara e eu fiquei com raiva de você por um bom tempo. Lembra que eu não fui no teu aniversário no primeiro ano que eu estava com a Kate? Lembra que eu passei a te evitar por um período?
- Ah! – ele recordou, com espanto – Eu pensei que fosse por influência dela, nunca imaginei que você estivesse me evitando. – fez uma pausa - E Dilan, eu estava com tanto medo de te contar. Tinha tanto medo de perder a sua amizade...
- Adam, você tem que fazer muita besteira para perder a minha amizade. – ele riu, inclinando a cabeça para trás. Era um sorriso sincero e simpático.
Surpreso com a situação, Adam se levantou e os dois selaram a amizade com um abraço.


**
Capítulo 19

Já eram quase três da tarde e Raquel nem sentira o tempo passar, de tão entretida que estava com o seu novo romance. Dessa vez era uma história mais complexa e mais dramática, mas sem perder o enfoque romântico. Só a barriga roncando soava feito um relógio, chamando atenção para o adiantado da hora. Não havia comido nada após o café da manhã que Gerard lhe levara na cama. Estava dormindo há três noites seguidas na casa de Gerard e metade de seus pertences estava na casa de Claudia e a outra metade na casa de Gerard.
Resolveu fazer um sanduíche, pois estava inspirada e não queria perder tempo preparando algo mais elaborado. Abriu a geladeira e colocou tudo que encontrou rapidamente dentro do pão, que ficou tão alto que quase não coube na boca. Se olhou no espelho no trajeto de volta para a escrivaninha e ficou um tempo reparando em seu novo visual, em seus cabelos antes negros recém pintados de vermelho. Gostou do que viu e logo esqueceu o assunto e voltou a sentar para escrever, com as pernas cruzadas sobre a cadeira e o sanduíche do lado, cuidando para não derrubar no computador. Mesmo sabendo que não era um hábito muito inteligente, pois vivia sujando o teclado, adorava comer ao lado do computador. Chupou os dedos lambuzados de maionese e limpou no guardanapo.
Passaram mais um par de horas até que ela foi tirada novamente de sua concentração pelo tilintar do telefone. Pode ser o Tom – pensou, esperançosa – mesmo sabendo que não era ele. Tom ficara de lhe dizer pessoalmente o que achara do seu romance na festa do dia seguinte, no seu aniversário de 30 anos. Mas quem sabe tivesse mudado de idéia e ela não agüentava mais de ansiedade. E ficaria gorda de tanto chocolate que estava comendo para aplacar o seu estado de nervos.
“Trinta anos, imagina!” – se olhou novamente no espelho no trajeto rumo ao telefone se achando com cara de 20 e não de trinta. Não se sentia com trinta. Não mesmo!
- Alô – falou, atendendo a ligação.
- Raquel, que bom que você está ai – reconheceu a voz de Gerard do outro lado da linha.
“E onde eu estaria?” - Pensou, mal humorada por ter sido interrompida num momento crucial de seu romance.
- Sim, estou aqui. – ela respirou fundo antes de responder para não dar uma resposta atravessada. Sabia que às vezes falava sem pensar e isso poderia soar como grosseria.
- Olha só, a Rebeca me pediu carona para levá-la na festa de Adam amanhã e eu não consegui dizer não. Você se importa de ir com a tua amiga Claudia, como você tinha planejado antes?
- Não – ela respondeu secamente sem conseguir acreditar no que tinha ouvido.
- Está bem. Então depois nos falamos em casa. Beijos, Raquel.
Ela bateu o telefone com força, quase quebrando o aparelho. Por alguns minutos ficou estática, sem reação, boquiaberta. Ficou com tanta raiva que perdeu a concentração e a vontade de escrever. Começou a caminhar pela casa, andando em círculos e espumando de raiva.
“Mas quem ele pensa que é? Pensa que eu vou aceitar um desaforo desses? Ele prefere levar a ex na festa a me levar? No meu aniversário me faz uma desfeita dessas? Quem ele pensa que é?”
Começou a catar suas coisas pela casa para ir embora de vez. Não era mais criança e não tinha mais paciência para esse tipo de comportamento. E se ele achava que ela iria ficar triste por isso, estava tremendamente enganado. Estava recém solteira e de saco cheio para agüentar desaforos de homens.
“Eu vou é embora daqui”- pensou, decidida.
“Um homem tem que ser muito homem para me fazer abrir mão de novo da minha liberdade. E tem que me merecer muito!” – refletia, indignada.
“Estou me sentindo como naquele funk: Agora eu tô solteira e ninguém vai me segurar.”
“Falando em música, vou gravar um CD para dançar muito amanhã.” “Melhor assim, não terá ninguém para me controlar e eu vou beber e dançar até cair!”
Arrumou as coisas, pediu em táxi e foi para a casa da Claudia. De banho tomado e mais calma, logo voltou a escrever, como se nada tivesse acontecido. Estava recém solteira e não precisava desse tipo de problema. E não se deixaria abalar por tão pouco.
Gerard chegou em casa de madrugada e ficou surpreso quando não encontrou Raquel e nem as coisas dela. Como estava tarde, resolveu que não a procuraria. Pelo menos não naquele momento.
“Talvez seja melhor assim” - ele pensou, olhando o seu reflexo no mesmo espelho que ela costumava se admirar.
Naquela tarde tinha reencontrado Rebeca ao acaso e a achara encantadora: ela estava linda, com os cabelos soltos e caindo sobre o rosto pelo efeito do vento. E ele ficara confuso após esse reencontro. Vê-la tinha despertado novamente o interesse dele por ela e ele precisava refletir e descobrir o que realmente queria da vida. Não era mais nenhuma criança e precisava escolher uma mulher e ficar apenas com ela. Desta vez seria para valer – ele dizia a si mesmo ainda em frente ao espelho. Dessa vez estava decidido a se casar e ter filhos logo. Por isso precisava pensar bem para escolher a mulher certa. Precisava escolher entre duas candidatas igualmente maravilhosas, pelo menos em sua opinião.

- Que bom que esquentou um pouco, não é meninas? Melhor 15 graus do que 5. E isso que nem é inverno ainda! – Raquel comentou, ao chegar ao salão de festas com Claudia. Elas carregavam vários pacotes: garrafas de refrigerantes, alguns copos e plásticos descartáveis, guardanapos de papeis, entre outras coisas, que formavam uma enorme pilha sob os seus braços já cansados. E Raquel, que se equilibrava sob o sapato de salto vermelho, ficou descalça tão logo chegou, passando a andar só de meias no piso gelado.
Isa já aguardava por elas enfeitando o lugar e ouvindo música há mais de trinta minutos. E estava tão distraída que nem sentiu o tempo passar. No momento, estava em pé sobre um banco alto de madeira, pendurando um balão grande em uma luminária do teto.
- Sim, que bom que esquentou. – Isa recebeu as amigas sorrindo e correu para auxiliá-las com as compras.
- Balões? Parece festinha de criança. – Raquel observou os balões prateados e incolores que já estavam pendurado e outros espalhados pelo chão. Fez uma careta e colocou os braços na cintura, numa atitude de reprovação.
- Ah, eu gosto de balões. - Isa se justificou rindo, parecendo não se importar.
- Eu gostei. – Claudia concordou, satisfeita.
- Acho que a noite esfria – Raquel comentou, alienada aos outros assuntos. – Será que esse salão é frio? Quero dançar muito, inclusive funk, e roupa demais atrapalha.
- Funk, amiga? – Isa e Claudia se entreolharam, intrigadas.
- Sim, até gravei um Cd com duzentas musicas para a gente dançar. Vamos ouvi-lo agora?
- Duzentas? Nossa! – Claudia levou a mão à boca, abafando uma gargalhada.
Raquel nem esperou pela autorização e colocou o Cd para tocar. Antes da primeira musica, explicou:
- Começa com umas músicas internacionais para não assustar os “gringos”. – zombou - Depois vem as brasileiras para daí sim esquentarmos a festa! E botarmos para quebrar. – afirmou, com um sorriso no rosto, feito criança que queria aprontar – E a primeira musica, para começar com chave de ouro, tinha que ser a da minha formatura!
- Maluquinha! – Isa fez um gesto com a cabeça indicando que concordava com a escolha.
- E a próxima? Qual é a próxima? – Claudia indagou, curiosa.
- Não, Raquel. Não passa essa, deixa tocando. – Isa pediu.
- A próxima é uma que a Isa adora e depois vem a música da tua formatura, Claudia. Ou achou que eu não me lembraria? Mas, Isa, deixa eu passar e mostrar para vocês as musicas que eu escolhi? Deixa, por favor? – suplicou, com uma carinha pidona.
Isa não teve como negar o pedido e Raquel logo se apressou em adiantar o CD, mostrando música por música. Suas amigas ficaram surpresas com algumas escolhas do extenso repertório.
- Você pretende tocar isso? – Isa indagou, nervosa. Já conhecia a amiga e sabia que teria que dançar com ela. E como era seu aniversário, não poderia negar tal pedido. Mas ficou tensa, pois sabia que os ingleses não estavam habituados com aquele tipo de música e muito menos com aquele tipo de dança. Arregalou as sobrancelhas e abriu a boca quando a amiga assentiu. Não sabia o que dizer.
- Acho que o Adam não vai gostar... – foi o único som que saiu de sua boca.
- Ainda bem que o Eduardo já está acostumado. – Claudia riu, reparando no semblante tenso de Isa – E também já conhece bem a Raquel! – debochou.
- Mas não conhece tão bem como o Adam, não é? – Isa implicou, trazendo a tona a lembrança do beijo.
- Ah, amiga. – Raquel se desculpou e logo arranjou um argumento para se defender – Foi por uma boa causa. E eu tinha que fazer um test drive para ver se eu aprovava o teu namorado. Não ia deixar qualquer um namorar a minha melhor amiga! – riu, debochada.
- Boa essa! E eu beijei antes o teu: o Gerard. Só que ele não passou no meu primeiro teste. – ela retrucou, entrando na brincadeira – Então eu tive que tirar uma contraprova e beijá-lo outra vez. – riu.
- Ah... Mas ele não é meu namorado. Ele que fique com a Rebeca dele. – fez uma careta e mostrou a língua. – Falando nisso, Isa, é verdade que o Adam convidou vários amigos dele? – arqueou as sobrancelhas, interessada.
- Sim, Raquel. – Isa respondeu, achando graça da pergunta indiscreta da amiga. – Só não se envolva com o Mark, que ele não presta, está bem?
- E com o Dilan, que é da Ilana. – Claudia lembrou de sua melhor amiga e suspirou, com saudades. – Bem que ela podia estar com a gente, não é mesmo?
- O Mark é bonito, Isa? – inquiriu, retomando o assunto.
- Não sei, Raquel. Nunca o vi. E é claro que eu não iria perguntar isso para o Adam. – ela gracejou.
- Hum...
- Ela não toma jeito, Claudia. Foi só eu dizer que ele não presta para ela se interessar por ele!
As três amigas concordaram com a afirmação e riram. Terminaram de arrumar tudo e se despediram, marcando o retorno para as 19 horas, antes que o primeiro convidado pudesse pensar em chegar.

Isa e Adam foram os primeiros a chegar. Ela estava com uma bota preta e calça da mesma cor. Na parte de cima, trajava um casaco de couro também preto, 7 oitavos, e uma blusa de um tecido grosso, azul bic. Mais tarde, quando esquentasse ficaria com a que atualmente estava escondida sob esta: uma blusa também azul, só que de um tom mais claro, mas mais decotada e com as mangas na altura dos cotovelos.
Adam estava com um casaco de couro marrom, um blusão de cashmere vermelho e uma camisa social branca de manga comprida que aparecia somente a gola. Vestia calca jeans. Mesmo com roupas mais informais, estava sempre elegante e bonito. Nesse dia, os fios mais rebeldes dos cabelos castanhos escuros estavam perfeitamente disciplinados com um pouco gel. E seus olhos pareciam ainda mais azuis.
Apaixonados, os dois ficaram namorando um pouco, aproveitando a privacidade do salão ainda vazio para trocar algumas carícias e beijos mais demorados. Viajariam para França já no dia seguinte. O tempo passava rapidamente, parecendo querer atropelar os dois. Sabiam que logo Isa teria que voltar para casa. Evitavam pensar nisso, mas tal pensamento vinha sempre à tona, em suas mentes. “Como poderiam viver um sem o outro?” e “Como suportariam a saudade?”. E o pior deles: “Quando se veriam novamente?”. Perguntas sem respostas, que pareciam asfixiar os dois.
Pararam de se beijar e ficaram se olhando, como se um fosse capaz de ler a mente do outro.
- Esse vai ser o melhor aniversário da minha vida. – ele enfim comentou, agarrado a ela.
Ela sorriu, jogando os cabelos soltos para trás.
- Espero que seja o primeiro de muitos, Adam. – suspirou, esperançosa.
- Eu também, Isa.
- Seja como for, eu nunca te esquecerei.
- Nem eu. – ele concordou, contraindo um canto dos lábios, indicando preocupação.
- Desamarra essa cara, meu amor. – sorriu e passou o dedo de leve pelo rosto dele, tentando suavizar suas expressões. - Temos algumas semanas ainda, Adam. E amanhã iremos para França! – sorriu, empolgada.
- Eu sei. Mas penso que essas três semanas passarão tão depressa... E eu não quero que você vá, Isa.
- Nem eu quero ir...
Ficaram em silêncio e abraçados por um tempo, cada um perdido em seu próprio pensamento, até as primeiras pessoas começarem a chegar. Isa recepcionou os convidados ao seu lado, passando a conhecer praticamente todos seus amigos e sendo apresentada oficialmente como sua namorada. Raquel e Claudia chegaram pouco depois, quando já havia algumas pessoas dispersas pelo salão.
- Não conheço quase ninguém no meu próprio aniversario. – Raquel resmungou, observando ao redor.
- Então venha comigo, que eu te apresentarei a todos. – Adam sugeriu, solicito.
- Está bem – sorriu, satisfeita, sacudindo a cabeça em gesto afirmativo, passando a segui-lo pelo caminho.
Deixada para trás, Isa desviou sua atenção para alguém que chegava naquele momento.
- Tom! – recepcionou o recém chegado com simpatia. – A Glau já chegou. – comentou após beijá-lo na face.
Ele ficou vermelho e não conseguiu mais encará-la.
- Tom... – ela fez com que ele a olhasse novamente – Você está muito bonito. – falou com sinceridade, fazendo com que ele relaxasse um pouco e sorrisse.
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Ele era tímido, mas sentia-se a vontade com ela. E com um sorriso no rosto e mais descontraído, tornava-se um homem muito atraente.
- O que é esse pacote? – reparou no objeto em formato de livro que ele conservava na mão e indagou, curiosa, já imaginando o que poderia ser.
- Ah, é o presente da Raquel.
- É o livro dela? – perguntou em voz alta, com empolgação.
Ele fez sinal para que ela falasse baixo, rindo e olhando para os lados.
- Não estrague a surpresa, Isa. – ele pediu.
- Ah, sim. – arregalou os olhos, feliz, e levou a mão à boca, para não falar demais. Os dois riram, cúmplices.
Adam observava a cena de longe, surpreso com o desembaraço do seu amigo - sempre retraído - com sua namorada. Ele também se sentira dessa forma com ela e agora estava apaixonado. E se o Tom também estivesse interessado em Isabela? Com ciúmes, resolveu não deixá-los sozinhos por muito tempo e decidiu se aproximar dos dois assim que tivesse oportunidade. Mas havia recém saído do lado dela, e prometera apresentar Raquel a todos. Talvez demorasse um pouco e ficou aborrecido.
- Eles vão publicar o livro dela? – ela prosseguiu, agora praticamente cochichando.
- Hum-rum. Mas eles fizeram algumas modificações, espero que ela não se importe. Se ela autorizar, ele será logo publicado.
- Que bom! – exclamou esfregando as mãos.

- Adam, teus amigos são todos feios. – Raquel resmungou após ser apresentada aos presentes no recinto. Sentia-se a vontade com ele para abordar esse assunto. E mesmo se não se sentisse assim, falaria de qualquer modo, pois costumava falar o que pensava.
- Hum... – ele respondeu, surpreso.
Raquel agora estava preocupada. Não achava ninguém que despertasse seu interesse e a fizesse esquecer de Gerard. E ele logo chegaria com Rebeca e isso estragaria sua festa. Não queria pensar mais nele, não queria sequer perceber a sua presença. Para isso precisava arranjar outra distração e talvez só dançar funk não fosse suficiente para fazê-la esquecer de sua existência.
- Melanie! Oi, querida. – deu um beijo no rosto dela – Oi Thompson. – beijou também a face dele.
O casal recém chegado deu os parabéns para ambos os aniversariantes.
- E então, Mel? Como você tem passado? Enjoando muito? – Raquel indagou com simpatia.
- Até que não, sabe que eu achei que seria bem pior? – comentou esfregando a mão no ventre ainda sem volume.
Raquel procurava disfarçar, mas estava começando a ficar nervosa, olhando muito para os lados, como se procurasse alguém.
- O que foi, Raquel? Você parece preocupada.
- E estou mesmo! Adam não tem nenhum amigo bonito e logo o Gerard vai chegar com a Rebeca e eu preciso urgente arranjar uma distração para simplesmente esquecer que ele existe! – falou com desespero.
Melanie achou graça. Nas poucas vezes que havia visto Raquel tinha gostado muito dela.
- Mas você está errada, Raquel – puxou-a pelo braço para se afastar um pouco do marido que se mantinha ao lado delas conversando com Adam e agora com Dilan também. – Ele tem dois amigos muito bonitos que ainda estão por chegar.
- Ah é? – indagou esperançosa, abrindo um leve sorriso.
Melanie assentiu com a cabeça e prosseguiu:
- Um é pura encrenca, mas se é por uma boa causa... O outro eu não conheço bem, pois não faz parte do meu circulo de amigos, ele era colega de Adam na faculdade de engenharia. Já o encontrei em algumas festas e posso te dizer que ele é um espetáculo!
- Ufa! – ela suspirou, mais aliviada, passando a mão na testa. – E quem são esses dois? E por que eles não chegam logo?
- Ah... isso eu não sei. – ela riu – Um é o Mark, que você já deve ter ouvido falar. Para mim ele é o amigo mais bonito de Bill.
- Mais do que Adam e Gerard? – perguntou, revirando os olhos de pura satisfação.
- Eu acho... Mas como gosto não se discute...
- Hum... E o outro, Melanie? Quem é?
- É o Matthew, o colega que eu te disse que eu vi poucas vezes. E ele parece ser gente boa e é lindo. Alto, com uns olhos azuis que parecem que irão te congelar só com um olhar. – suspirou - Se puder escolher, escolha ele, pois como eu te disse antes: o Mark é encrenca. Ah, e sei que os dois estão solteiros.
- Que bom, Melanie. – ela riu, dando pulinhos de alegria – Nossa, já me sinto bem melhor. Espero que eles cheguem antes do Gerard. Ah, a Isa está me chamando. Vou lá ver o que ela quer. Muito abrigada, Melanie. Essa conversa me ajudou muito. – se despediu com um sorriso largo no rosto.
Adam ainda não conseguira ir até onde Tom e Isa conversavam, mas ficou mais aliviado ao perceber que Raquel se juntava a eles.
Raquel recebeu o presente das mãos de Tom. O esboço do seu livro! E o desenho da capa era tão lindo que ela simplesmente ficou sem palavras. E olha que Raquel costumava falar pelos cotovelos – e deixá-la sem palavras era praticamente impossível. Era uma típica sagitariana: agitada, impulsiva, sincera e falante.
- Eu amei, Tom. Foi disparado o meu melhor presente! – exclamou após ficar um tempo sem ação, paralisada com a surpresa.
Sem pensar muito, pulou no pescoço dele, e deu um beijo estalado em sua bochecha. A vontade que teve era de inicialmente beijá-lo na boca. Mas mudou de idéia ao ver um homem lindo que acabava chegar. Isa ficou parada, rindo e observando a cena, a alegria contagiante da amiga.
“Deve ser o Matthew”- Raquel concluiu ao recordar da descrição de Melanie, espiando com o canto do olho o homem alto e charmoso que acabava de chegar ao mesmo tempo em que pulava em no pescoço de Tom.
Agora não sabia mais o que lhe chamava mais atenção naquele momento, se era o livro ou Matthew. E agora sua alegria era completa: aquele homem certamente seria capaz de desviar toda sua atenção, fazendo com que se esquecesse de Gerard. Mesmo se ele sequer reparasse nela, ela repararia nele e isso teria que ser suficiente.
Mas seu sorriso logo esmoreceu um pouco, ao perceber Gerard chegando com as odiosas Rebeca e Valentine. Uma de cada lado.
- O que pode ser pior do que isso, amiga? – comentou com Isa em português, para Tom não entender. Isa concordou com a cabeça, pois não também não gostava nem um pouco das acompanhantes de Gerard. Mas agora eram duas contra duas, e não mais as duas contra ela. Agora Isa tinha Raquel ao seu lado.
- Não vou nem olhar – Raquel virou-se de costas, decidida a ignorar a presença de Gerard, engatando uma animada conversa com Tom sobre seu livro. Ele nem sequer ligara para ela após sua saída da casa dele. E se ele não se importava com ela, ela fingiria também não se importar com ele. Mesmo que por dentro doesse e que na verdade ela estivesse espumando de raiva. Mas não deixaria que ele percebesse.
Nessa mesma hora, Adam chegou ao lado da namorada.
- É teu livro, Raquel? – indagou, intrigado, fazendo com que ela confirmasse e sorrisse novamente.

- Feliz aniversário, primo. E parabéns para você também, Raquel.
Quando Gerard chegou, Raquel sorria e não parou de sorrir ao percebê-lo do lado. Não parou de sorrir mesmo na hora de cumprimentar a Rebeca. Não daria esse gostinho a ele. E mesmo com ele presente na roda de amigos, Raquel continuou o papo com o Tom, como se Gerard nem estivesse ali. Como se ele apenas fosse mais um amigo, ou mal passasse de um conhecido. Como se ele não significasse nada para ela.
- Sobre o que eles conversam tanto? – Gerard perguntou a Isa, em tom de voz baixo.
- Sobre o livro dela. – ela respondeu no mesmo tom.
- Hum... – Gerard olhou mais um pouco para os dois, mas logo fingiu desinteresse e desviou o olhar.
- Vamos beber alguma coisa, Tom? – Raquel convidou, pois não agüentava mais ouvir a voz irritante de Rebeca. E se ficasse um pouco mais ali, não conseguiria prosseguir com aquele teatro. Rebeca simplesmente a tirava do sério!
- Vamos sim – ele também estava ansioso para sair dali. Pois até aquele momento não falara com a Glau, apenas a cumprimentara ao longe. E ela agora estava perto do bar, para onde eles estavam se dirigindo.
Isa pediu licença para Adam e para o grupo de pessoas e seguiu Tom e Raquel. Precisava saber como Raquel estava e precisava ajudar Tom a ficar com Glau, conforme prometera. Mas ainda não sabia como fazê-lo. Glau também era bastante tímida e ela não conseguira saber se Tom teria ou não alguma chance. Decidiu observá-los pessoalmente antes de revelar ou perguntar qualquer coisa diretamente a ela.
- Esperem por mim, também preciso de uma bebida. O que vocês vão querer?
- Estava pensando num cálice de vinho tinto – Raquel respondeu primeiro.
- Eu quero uma cerveja mesmo. – Tom falou em seguida.
- Eu acho que agora só vou querer uma água com gás. Estou com sede. Depois eu vejo o que o Adam está bebendo para acompanhá-lo. – virou para trás para vê-lo e ele estava olhando para ela. Mandou um beijo pelo ar e ele sorriu. Isa viu Valentine Stevens tentando engatar um papo e ficou satisfeita ao perceber que ele não retribuía as atenções. E depois, se Raquel quisesse mesmo dançar, Isa gostaria de estar sóbria. Mas pensando melhor, talvez fosse melhor beber um pouquinho antes.
- Venha Tom, vamos falar com a Glau.
- Está bem. – ele assentiu, menos ansioso do que estaria normalmente.
Raquel virou o cálice e bebeu em um gole só. Pediu mais um. Tentou não reparar em Gerard, que ainda estava parado no mesmo lugar com Rebeca do lado. E na mesma hora que olhou para ele, percebeu que ele também a olhava. Ficou com raiva de si mesma por se deixar flagrar e virou o rosto, prometendo não mais olhar.
- Daqui a pouco nós vamos dançar, Isa. – comunicou a amiga e seguiu em direção de Claudia. Precisava conversar com alguém para se distrair.
- Você deve ser a Raquel. – alguém tocou em seu ombro, fazendo-a parar.