Capítulo 15- Oi George, feliz aniversário! Sei que o parabéns é atrasado, mas o que vale é a intenção – Isa abraçou e beijou o novo amigo.
- Ah, muito obrigado! – ele sorriu - E as tuas amigas? Elas vêm aqui hoje? – indagou interessado, estufando o peito.
- Como você sabe sobre elas? – Isabela sorriu.
- Gerard me comentou e disse que elas são bem interessantes! Especialmente uma morena. – fez cara de safado.
- Foi é? E ele achou a morena a mais interessante? Mas logo elas estarão aqui e você poderá tirar suas próprias conclusões.
- Mas que ótima notícia! Eu adoro mulheres brasileiras e não vejo à hora de conhecê-las! Já que eu não tive chance contigo, quem sabe eu tenha com elas, não é mesmo?
- Com elas? Então você quer as duas? – achou graça.
- Ah.... Eu não importaria em ficar com as duas! – ele debochou. – Mas não esqueça de me apresentá-las assim que elas chegarem, está bem? Quero ser o primeiro a falar com elas, para ter chances maiores. E hoje é meu aniversario e você não me negará esse presente, não é?
- Claro, George. Assim que elas chegarem, eu te apresento. Mas teu aniversário não é hoje, foi quarta-feira que eu sei. – ela implicou.
- Ah... Mas hoje é festa, então conta como se fosse. E eu quero esse presente, viu? Faço questão! – ele deu uma risada. – E você irá convidá-las para sentarem à mesa conosco. Estou contanto contigo, Isabela. – falou sorrindo e se afastando para receber seus convidados.
Isa riu. Agora gostava de George e se dava bem com ele. Ele era engraçado e bem humorado e conversar com ele era diversão garantida. Ele tinha alguns anos a mais do que os amigos, mas seu jeito jovial disfarçava bem a idade.
Naquele dia, pedira para suas amigas chegarem cedo, apenas não explicou o motivo. Queria que elas estivessem presentes quando Adam chegasse. Com elas por perto, sabia que se sentiria mais protegida e quem sabe não ficaria um pouco mais tranqüila?
“Como será esse reencontro?” – ela se perguntou por diversas vezes.
“Como será que ele me tratará? Será que ele virá conversar comigo? Não, nós já dizemos tudo o que havia para ser dito... Certamente ele não me procurará... Ou será que sim? Não, ele deve ter desistido de mim. E ele é tão lindo que certamente não lhe faltarão mulheres.... Mas e se ele se interessar pelas minha amigas? Não! Isso não... Pare de pensar besteiras, Isabela! Pensar bobagem atrai bobagem. Pensamento positivo que tudo dará certo! Sim, tudo dará certo!” – ela tentava se convencer.
*
- Sabia que eu gostaria das tuas amigas, Isa. Mas não concordo com o Gerard, achei a Karine bem mais interessante! Aliás, penso que tenho que ir ao tem país um dia: fico louco com essas mulheres brasileiras! – George falou esfregando as mãos, agitado.
- Ah... Você gostou da Kaká então? – Isa ficou satisfeita e esboçou um leve sorriso. Ficaria verdadeiramente feliz pela amiga, se algo não a perturbasse.
- Sim, e creio que iremos convidá-las para sair depois. Você não se importa, não é mesmo? Ou você se importa se as levarmos para sair? Vocês fizeram outros planos? Eu não quero atrapalhar.
- Não, não fizemos nenhum plano. E hoje está tão movimentado que creio que só sairei tarde daqui. E não acho justo elas ficarem presas por mim, já que ficarão aqui por poucos dias. – tentou disfarçar seus sentimentos e seu nervosismo – Para onde vocês pretendem ir?
- Eu e o Adam estávamos pensando em convidá-las para ir no La Bodega, uma casa noturna com musica latina. Conhece?
- Não, mas já ouvi falar. – fingiu desinteresse.
- Bom, já que você não se importa vou convidá-las, está bem? Pena que a Karine não fale tão bem inglês como a Rachel, mas penso que logo arranjarei uma maneira de me entender com ela sem precisar de palavras. – riu com cara de safado.
*
George se afastou e a deixou sozinha no balcão, olhando-o ir em direção à Karine, que o recebia com um sorriso nos lábios. Tentava não olhar para mesa. Tentava não reparar em Adam e Raquel que conversavam alegremente, trocando sorrisos e se tocando de vez em quando. Mas seus olhos não conseguiam mudar de direção. Seus olhos a traiam e ela acabava sempre olhando para lá.
“Ele nem parece a mesma pessoa que eu conheci. Quando fomos apresentados ele foi carrancudo e antipático. E agora com a Raquel, está todo amiguinho dela. Que raiva! Que mudança! E ainda vai levá-la para dançar! Desgraçado!” – ela refletia ao mesmo tempo que se controlava para não se alterar e para não bufar demais.
*
- Pelo visto tua amiga não sabe sobre o teu envolvimento com o Adam – Gerard se apoiou no balcão ao lado dela e observou, perspicaz.
- Não há nada para ela saber. Não tenho envolvimento nenhum com o Adam. – ela o encarou com seriedade e ele deu um largo sorriso.
Deixaram o assunto morrer e Isa logo comentou:
- Eles irão ao La Bodega depois, o teu convite ainda está de pé?
- Meu convite? Para que você quer ir, Isa? Para não deixar Adam ficar com a tua amiga?
- Não. Para aproveitar a noite com as minhas amigas, por que as verei por pouco tempo.
- E você pensa que me engana com essa desculpa? Pensa que eu não sei o que você pretende, Isa?
- E o que eu pretendo, Gerard? Você pode me dizer? – colocou as mãos na cintura para enfrentá-lo.
- Acho que você sabe bem... Mas pensarei com carinho na tua proposta, Isa. Talvez eu até aceite o teu convite. Mas deixo bem claro que não será por tua causa se eu aceitar. – fingiu seriedade, mas sorriu ao final.
- Ah é? E será por causa de quem? – perguntou, curiosa.
- Por causa daquela tua amiga morena gata que irá sobrar e ficar triste quando você roubar o Adam dela.
- Não vou roubar ninguém de ninguém! – exclamou, irritada.
Gerard achou graça.
- Pensando bem, Isa. Acabei de me decidir. Vamos ao La Bodega também, mesmo que esteja tarde. Penso que será uma noite bem divertida. – afirmou, malicioso.
Não completou sua frase, mas seus pensamentos foram: ou eu consolarei a Rachel, ou a própria Isabela. De qualquer forma, ficarei satisfeito.
*
- Então Isa? Você não tinha me dito que o Adam era tão gato, tão charmoso e tão interessante! Amiga, pessoalmente ele é ainda melhor do que naquela fotografia! – as três amigas brasileiras estavam juntas no banheiro e falavam em português. – Só aquela Valentine que não para de olhar para mim com uma cara feia! Se ela continuar me olhando daquela maneira daqui a pouco eu me irrito e avanço nela!
- Iria ser engraçado – Isa comentou, com um leve sorriso. Sua amiga Raquel era bem esquentadinha às vezes.
- Então você vai com a gente, Isa? E vai com o Gerard! Está bem arranjada, hein!
- Ah Raquel.... o Gerard é só meu amigo. Não tem nada entre a gente. E você e o Adam? – indagou fingindo desinteresse.
- Ah.... Eu acho ele lindo, mas não nego que eu preferia o Gerard... Se você quiser trocar, eu estou aceitando! – riu - Mas do jeito que eles são lindos qualquer um desses dois vem bem! E você? Se não está interessada no Gerard temos que arranjar logo um gatão para você também! A Kaká já se arranjou com o George, viu como esses dois são rápidos? Ele está quase agarrando ela ali mesmo.
- Ei, vocês não falem de mim que eu estou ouvindo! – Karine gritou de dentro de uma das portas do banheiro.
- E ela está quase agarrando ele também! – Isa completou, para implicar com a amiga. Agora elas se davam bem e ela notava que se divertia muito implicando com a Karine. E fazia disso seu novo passatempo.
- Mas perder tempo para quê? A vida é curta, meninas – Karine saiu do banheiro e parou ao lado do espelho com as amigas – Então? Estou bonita? – perguntou, retocando a maquiagem.
- Claro, Kaká! E eu? Agora que temos uns gatinhos para impressionar, temos que caprichar. – Raquel afirmou.
- Isa? Por que essa carinha tão triste, amiga? Você não quer que a gente saia com eles? – Karine reparou em sua expressão.
- Não é nada não, amigas. Só queria ter a metade da empolgação de vocês.... – inventou uma desculpa para explicar a tristeza evidente que ela tentava disfarçar. Mas não era nada disso....
“Adam está mesmo interessado na Raquel! Justo pela minha melhor amiga! Melhor amiga depois da Ilana, é claro. Mas como ele pode fazer isso comigo? Que raiva! Que raiva! Que raiva!”
- Ai amiga, não fica assim... Um dia o cara certo vai aparecer para ti – Karine tentou consolá-la.
- O cara certo já apareceu um dia... e morreu. – Isa sabia que aquele não era um momento para pensamentos tristes, então tentou suavizar um pouco a tensão que seu comentário trouxe, para não chatear as amigas – Mas agora eu estou aceitando também o cara errado, para me divertir um pouquinho. Quem sabe eu não siga o exemplo de vocês e me divirta hoje com o Gerard? – se esforçou para sorrir.
- Isa! Você está ai! – Melanie entrou no banheiro com Vicky. Ambas a procuravam, pois estavam preocupadas com ela. – Podemos roubar a Isa um pouco, meninas?
- Claro, fiquem a vontade!
- Isa, venha cá! – Vicky a puxou pelo braço para fora com afobação.
As três seguiram para os fundos do Pub.
- Isa? Você está louca? – Melanie indagou, apreensiva – Que história é essa de deixar o Adam sair com a tua amiga?
- É, Isa! Você não percebe que o meu irmão está fazendo isso de propósito?
- Hã? – Isa perguntou, confusa.
- É, Isa! E se você não der um basta nisso, essa história pode acabar mal! Bem mal! – Melanie emendou, apreensiva.
- Como assim?
- Isa! Você não vê? Meu irmão é louco por ti! E ele está dando em cima da tua amiga para te testar! Mas se você não interferir, isso pode acabar mal! A Rachel pode acabar magoada, você também e meu irmão também...
- É, Isa. A Rachel é tua amiga. Fale para ela como você se sente.
Ela cruzou os braços, contrariada, e falou:
- Eu não vou fazer nada, não vou falar nada. Eles são adultos, eles que se entendam! Eu não tenho nada com isso.
- Ai, meu Deus, Isa! Como você é teimosa! Então me deixa falar com ela?
- Não Melanie, se você fizer isso eu nunca mais falo com você! – ela ameaçou, irritada.
- Está bem então... Se você não quer, eu não vou me meter....
- Nem eu. – Vicky concluiu ainda preocupada com a amiga.
- E depois, eu vou encontrá-los mais tarde. Irei para lá com o Gerard.
- É? E meu irmão já sabe disso?
- Olha, a essa altura a Raquel e a Karine já voltaram para a mesa e já contaram para ele – ela sorriu, satisfeita.
- Ai, meu Deus! Vamos para lá então que eu quero ver! – Vicky falou, disparando na frente das duas. Temia pelo comportamento explosivo do irmão.
- Então você vai sair com o Gerard?
- E o que tem isso? Você não vai sair com a Raquel? – Isa retrucou, de má vontade.
Após tomar conhecimento dos planos de Isa, o humor de Adam mudara. Ele estava flertando com a amiga dela, ansiando por uma interferência de Isa. Estava paquerando descaradamente com a Raquel, para ver se provocava alguma reação da parte dela. Mas ficou furioso quando soube que ela também iria sair depois, e com o Gerard! Então era isso que ela queria o tempo todo: uma chance de sair com o Gerard! Então tudo que ela lhe dissera antes, tudo que ela confessara que sentia por ele, era tudo mentira! Na realidade, o que ela queria o tempo todo era sair com o Gerard! E agora era tarde para voltar atrás. Teria que se contentar em sair com a amiga dela e observá-la ao longe se divertindo com o Gerard. Teria que passar a noite com uma mulher pela qual ele não tinha interesse nenhum, enquanto a única pela qual ele se interessava estaria nos braços de outro.
- Por quê? Você está com ciúmes? Aliás, por que estaria, não é mesmo? Se você vai sair com o Gerard! E isso era tudo o que você queria, não é mesmo? Se sentir livre para sair com ele!
- Você está me machucando, Adam – ela murmurou, evitando encará-lo.
Ele percebeu que estava apertando demais o braço dela. Ele estava tão furioso, tão fora de si, que nem se deu conta da força que fazia. Estavam chamando atenção de algumas pessoas. Após saber sobre os planos de Isa, ele nem se importou em esconder o que sentia. Foi atrás dela e a enfrentou ali mesmo, atrás do balcão, sem se importar com quem estivesse vendo.
Ele reparou na expressão triste que ela mantinha no olhar e resolveu mudar sua conduta.
- Você quer conversar, Isa? Podemos ir lá fora, se você quiser.
- Não, Adam. Eu não tenho nada para falar contigo Você ficou de sair com a Raquel e eu não quero magoar a minha amiga.
- Bom, se é assim que você quer, é assim que vai ser! Pode ter certeza que nós dois teremos uma noite muito divertida! Eu e a tua amiga. Aliás, se você demorar muito para chegar pode ser que a gente nem esteja mais lá! A gente pode muito bem querer prolongar a nossa diversão na minha casa. Para ser mais especifico: na minha cama!
*
- Então Isa, vamos?
- Que horas são, Gerard?
- Acho que já passa da meia noite. Mas já podemos ir, pois orientei o Paul para cuidar de tudo e depois fechar o Pub. Qualquer coisa ele me ligará no celular.
- Gerard?
- Que foi, Isa?
- Vamos beber uma cerveja antes de ir?
- Eu não posso, Isa. Terei que dirigir. Já quase perdi a carteira de motorista certa vez por dirigir bêbado, não posso correr esse risco novamente.
- Mas você me deixa beber uma antes? Estou meio tensa, sabe? – encarou-o desta vez sem disfarçar como se sentia.
- Claro, Isa. – respondeu de um modo carinhoso - Você sabe que eu não negaria um pedido teu. Aliás, se você quiser nem precisamos ir. Podemos ficar a noite inteira aqui, só nós dois.
Ela olhou para ele e sorriu, fazendo um carinho em seu braço.
- Obrigada, Gerard. Mas elas já devem estar me esperando. Não posso mais não ir, sabe? Embora nesse momento eu prefira mil vezes ficar aqui. – resmungou.
Ele serviu a cerveja para ela.
Já fazia mais de uma hora que eles haviam saído e ela se perguntava o que estariam fazendo.... Na verdade, temia saber a resposta. Na realidade, não queria saber. Agora precisava agir como adulta e enfrentar a conseqüência de seus atos. Sabia que a culpa de tudo tinha sido dela e ela precisava encarar as conseqüências.
*
Os quatro haviam saído para a casa noturna há mais de uma hora. Mesmo o aniversário sendo de George, ele acabou saindo cedo, antes mesmo de muitos convidados terem ido embora.
Adam voltou da conversa que teve com Isa – George percebeu, embora não tivesse feito nenhum comentário para não aborrecê-lo ainda mais – visivelmente alterado, irritado e quis sair logo dali. E George não quis contrariá-lo com medo de perder a companhia e de perder a chance de ter finalmente algum envolvimento com uma mulher brasileira – seu sonho de consumo.
Logo que chegaram, Karine quis dançar, pois com aquela musica envolvente tocando não conseguia ficar parada e correu para a pista de dança. Ela era muito ativa e inquieta e adorava dançar. E George fez questão de acompanhá-la.
Raquel, embora estivesse louca para dançar também, acabou optando por ficar no bar com Adam, tomando um drink. Ele estava com um semblante tenso, com uma expressão de poucos amigos, apesar de se esforçar para se mostrar à vontade. E ela passou a analisá-lo. Pretendia conversar com ele e tentar arrancar a verdade, coisa que não conseguira fazer com Isa.
Raquel era muito observadora e viu quando Adam e Isa haviam conversado antes deles saírem. Ela reparou no quanto ele voltou alterado depois dessa conversa e estava desconfiada que existisse algo entre os dois, algo além do que Isa dissera e do que ela tencionara mostrar. E mesmo Isa tendo negado tal informação de pés juntos, com muita veemência inclusive, quando posta contra a parede por ela, Raquel ainda acreditava que a amiga lhe escondia algo. Conhecia-a o suficientemente bem e sabia o quanto ela podia ser boa em esconder e mascarar seus sentimentos.
Estavam um tempo em silêncio, ele bebendo um uísque - precisava de uma bebida forte - enquanto ela bebia uma Pina Colada, pois adorava esses coquetéis doces. Olhavam Karine e o George, que se divertiam na pista de dança, fazendo movimentos provocantes um para o outro e por vezes se encostando de forma sutil.
Adam e Raquel por vezes trocavam olhares e sorrisos ao observarem o casal de amigos, mas não pronunciavam nenhuma palavra. Então ele resolveu iniciar um papo para não aborrecê-la por mais tempo, afinal, ele a convidara.
- O que você faz da vida, Rachel? (notem que os ingleses a chamam de Rachel e não de Raquel).
- Ah, eu sou psicóloga, mas estou pensando em largar a minha profissão. – deu um suspiro.
- Ah é? Por quê? Não gosta de ser psicóloga?
- Gosto, gosto sim. Mas achei algo que eu gosto mais de fazer. – sorriu.
- O quê? – perguntou, realmente curioso.
- Escrever! Escrevi há pouco o meu primeiro romance, que surpreendentemente foi um sucesso de vendas e já está na segunda edição, acredita? – ela riu – E sabe que eu nem tentaria publicar se não fosse pela insistência de meu ex? Pelo menos isso eu devo a ele! – debochou.
- Ah é? Que legal! Sobre o que é a história?
- Ah, é um romance. E curiosamente se passa aqui na Inglaterra, sabia? Eu escrevi antes mesmo de conhecer o país, mas pesquisei muito para isso. Por isso agora quis vir para cá! Acabei me encantando pelo teu país na medida em que construía a história. E conhecer a Inglaterra acabou sendo o meu sonho, sonho que eu nem pensava em realizar, mas eu agora estou aqui!
Ele riu. Ela era bem espontânea e divertida.
- E qual é o título do teu romance?
- Ah, a tradução literal para inglês seria: “Another Time”, mas penso que fica melhor o nome: “Once Again”. O que você acha?
- Concordo, Once Again soa melhor, embora eu desconheça a história. Você tem uma versão em inglês?
- Não, mas poderia fazer. Você gostaria de ler?
Ele deu uma risada.
- Não, eu confesso que não gosto muito de ler. E muito menos romance. Mas tem um amigo meu que é editor, o Tom, estava pensando em mostrar teu livro para ele. Ele poderia ser publicado aqui na Inglaterra também, afinal a história se passa aqui, não é mesmo?
- Sério? – indagou empolgada. – Você faria isso por mim? Eu posso começar a traduzi-lo amanhã mesmo!
Ele riu.
- Claro que sim! É só me dar uma versão em inglês que eu mostro para ele. Falando nisso, como você fala inglês tão bem? Aliás, vocês duas falam, por que o inglês da Isa também é muito bom.
- Ah... Quando a gente tinha 13 anos a Isa me arrastou com ela para fazer um curso de inglês. Com 15 ela desistiu de estudar, mas eu me apaixonei pelo idioma e continuei até concluir o curso.
- Mas se a Isabela desistiu como ela fala ainda melhor que você?
- Ah, é? Ela fala melhor do que eu? Você acha mesmo? – ela debochou – É porque o ex-marido dela era americano e a sogra dela era muito chata e exigia que todos conversassem em inglês dentro de casa. Ela não poupava nem a Isa, coitadinha! E Isa teve que aprender na marra! Aliás, ela passou muito trabalho com aquela sogra, e várias vezes chegou chorando na minha casa por causa dela.
Ele deu um sorriso com o canto da boca e ficou refletindo.
- Vocês se conhecem há muito tempo?
- Sim, desde o jardim de infância. Nós estudamos a vida inteira na mesma turma e eu sei tudo sobre a vida dela. Por quê?
- Ah... Penso que você também pode me ajudar então.
- Você está interessado nela, não é mesmo?
- Sim, eu estou. Estou apaixonado por ela. – admitiu sem coragem de olhá-la.
- Eu percebi! – ela sorriu, aliviada por ele ter confessado o que era evidente.
- Sério? Está tão óbvio assim? – subiu os olhos e a encarou, sentindo-se mais a vontade após o desabafo.
- Não, claro que não. Esqueceu que o meu trabalho é analisar as pessoas?
- Hum... E ela falou algo sobre mim?
- Não. Isa é muito discreta. Eu perguntei, mas ela jurou de pés juntos que vocês não têm nada. Aliás, nem sei por que perdi meu tempo perguntando, se sabia que ela não me diria nada.
- Como não? Você não é a melhor amiga dela?
- Sou, mas você acredita que desde os 13 anos a Isa era apaixonada pelo Erik e nunca me contou nada? Claro que eu notava e percebia, mas ela sempre negava. Ela é muito boa em esconder os sentimentos, Adam. Eu posso perguntar mil vezes sobre você e ela nada me dirá.
- Hum... – ele ficou com uma expressão triste no rosto. Não havia esperanças para ele.
- Mas eu tenho uma idéia! Uma ótima idéia, Adam! Ela não me negou tudo? Então! Vou fingir que eu não sei de nada, que tal?
- Como assim, Rachel? O que você tem em mente?
- Vamos provocá-la, Adam!
- Hum?
- Sim, Isa é ciumenta e muito impulsiva, sabia? Vamos fingir que estamos juntos, que estamos interessados um no outro! Nossa, ela ficará tão irritada, tão louca da vida, que só pensará em te arrancar de mim!
- Sério?
- Claro que sim! Não dê bola para ela, finja que está interessado só em mim que logo ela estará em teus braços! Assim que eles chegarem, vamos dançar como a Karine e o George.
- Como a Karine e o George? Você tem certeza? – ele riu e ela então se virou para olhar o que eles faziam.
- Não, não era bem isso que eu tinha em mente... – ela corou e se explicou, com embaraço.
Os dois estavam agarrados na pista de dança, num beijo tão intenso que pareciam querer engolir um ao outro.
- Falando neles, Adam. Não se vire para olhar, que eles estão chegando. Preparado para atuar, meu amigo?
- Sim! – ele assentiu, agora bem humorado e bem disposto.
*
- Isa, querida! – Raquel se aproximou da amiga, a recebendo com entusiasmo. – Oi Gerard, seja bem vindo também! Vocês querem beber alguma coisa? Tem um lugar sobrando no bar, ao nosso lado. Bom, de qualquer forma eu e o Adam vamos dançar daqui a pouco e vocês poderão ficar com os nossos lugares também.
- E a Karine? Onde está ela? – Isa indagou para Raquel.
- Está lá, olha amiga! – apontou para o casal que ainda se beijava na pista de dança e sorriu. E aproveitou para confidenciar ao seu ouvido, provocando-a: - Quem sabe eu me dê bem assim também dançando com o Adam?
Isa respirou fundo e forçou um sorriso. Agora era tarde demais para voltar atrás. Agora tinha que encarar as conseqüências de seus atos e observar os dois ficarem juntos. Não havia jeito e ela teria que se acostumar com a idéia.
Gerard e Isa se juntaram a eles no bar. Isa sentou ao lado de Adam e tentou aparentar naturalidade, fingindo não estar incomodada com a situação, tentando sorrir e manter um diálogo adequado. Mas se limitava a responder as perguntas que Raquel lhe fazia.
Gerard, por sua vez, ficou em pé em frente à Isa e apesar de estar bem à vontade com a situação - pois estava era achando tudo muito engraçado - permanecia em silêncio, apenas observando e se policiando para não rir. Raquel era a que mais falava, e praticamente dominava a conversa. Trocou alguns olhares de cumplicidade com Gerard, que logo percebeu que ela sabia do envolvimento de Adam e Isa e ficou intrigado com o que ela pretendia fazer.
- Nossa, eu adoro essa musica! Vamos dançar, Adam?
- Claro! – ele sorriu e levantou em seguida, dando o braço a ela. – Até mais. – falou para os outros dois que permaneceram no bar.
- Eles nem nos convidaram. – Isa resmungou – Eu também queria dançar.
- Vai ver eles querem ficar sozinhos, Isa. – ele respondeu, sentando ao lado dela no lugar de Adam - E aliás, meu primo deve estar bem interessado na tua amiga, porque ele odeia dançar. Dançar é sempre um sacrifício para ele.
- Sério? Mas ele nem cogitou não ir!
- Para ti ver. – falou e a encarou, tentando perceber o que ela sentia.
- Então? Vamos dançar também? – indagou com ansiedade.
- Não, Isa. Eu não estou com vontade de dançar agora. – sentou de costas para a pista de danças e pediu uma bebida, fingindo desinteresse. – Vá você, se quiser.
- Não vou sozinha. E você vai beber? Mas não disse que não beberia porque está dirigindo?
- Eu disse, mas mudei de idéia. E depois, posso pegar um táxi, ou ir a pé. Eu moro aqui perto, não te falei?
- Não.
Gerard mudara de idéia. A noite iria ser longa e pelo visto muito divertida. E ele gostaria de sentar e tomar uma bebida para assistir de camarote. Raquel estava provocando Isa descaradamente, se jogando em cima de Adam, e isso era algo que ele gostaria de assistir. Estava curioso para saber o desfecho da história.
- Também quero uma bebida, Gerard. E peça algo bem forte para mim, está bem?
*
- E então? O que você está achando da minha idéia? – Raquel perguntou ao Adam enquanto dançavam, chegando mais perto ainda dele.
- Por enquanto não estou percebendo nenhum resultado. Você está?
- Sim, claro que sim. – sorriu – Isa está se remoendo por dentro. Ela está com muita raiva de nós dois.
- Você acha mesmo?
- Sim, olhe daqui a pouco e repare em sua expressão. E ela não tira os olhos de nós! Não consegue nem mais disfarçar! E olha que para ela não conseguir disfarçar é porque ela está muito alterada mesmo! – ela riu.- Adam? Posso fazer outra coisa para provocá-la ainda mais? – indagou, colocando os braços ao redor de seu pescoço, chegando com o rosto bem próximo ao dele.
- Você acha que devemos nos beijar? Mas isso não seria irmos longe demais? – perguntou, se aproximando ainda mais dela, abraçando-a pela cintura e puxando-a para mais perto de seu corpo.
- Não sei, você que sabe. Mas é uma idéia. Podíamos fazer um beijo técnico, apenas para fingir.
- Beijo técnico?
- Sim, de boca fechada. – ela riu e cochichou ao seu ouvido – É um termo muito usado nas novelas brasileiras. Mas eu não acredito muito em beijo técnico.
- Hum... Beijo técnico então, não é? – ele propôs, mas não deu tempo para que ela respondesse, pois ele aproximou seus lábios dos dela e a beijou.
O beijo era para durar pouco tempo, pois era apenas para perturbar Isa, mas ambos se surpreenderam com as sensações provocadas por ele.
- Beijo técnico, é? – Ela se afastou após alguns minutos e sorriu, com o rosto vermelho.
- Desculpa, não resisti. – ele riu.
- Bom, se era mesmo para provocarmos Isa ele tinha que parecer bem real.
- Ele não só pareceu, Rachel. Ele foi real! – sorriu.
Por alguns minutos, eles esqueceram de seu objetivo e ficaram apenas se olhando. Mas em seguida, trazidos de volta à realidade, ambos voltaram sua atenção para o bar à procura de Isa e só viram Gerard sentado, que olhava para eles fixamente de braços cruzados e aparentava estar espantado.
- E agora, Adam? Será que exageramos? – indagou, preocupada.
- Não sei. Não faço idéia. A amiga é tua, você a conhece melhor do que eu.
- Hum.... Agora não sei o que fazer. Ela deve estar indignada com a gente, Adam. Nossa, estou muito arrependida! Que grande amiga que eu sou, beijando o cara que ela gosta!
- Mas foi bom, não foi? E a culpa foi dela mesmo, não temos porque nos culpar.
- Eu sei que a culpa foi dela, mas penso que exageramos, Adam. – fitou o chão, evitando encará-lo.
*
- Oi amiga! – Karine chegou ao lado deles de mão dadas com George, com uma expressão alegre no rosto. – Nossa, as músicas daqui são muito boas, não é? – indagou, alheia aos problemas que lhe afligiam.
- Sim, são sim... – concordou sem saber o que dizia, pois não estava prestando atenção nas músicas. – Kaká, você viu a Isa?
- Ah, sim! Eu esbarrei com ela agora mesmo no banheiro, mas ela passou voando por mim, feito um raio, e nem quis conversa comigo. Não sei o que deu nela. Por isso vim aqui conversar contigo, achei bem estranho. Você sabe o que aconteceu?
- O que foi? – Adam se intrometeu na conversa ao ouvir o nome de Isa, pois como elas falavam em português ele não sabia o que diziam.
- Isa foi ao banheiro – Raquel explicou em inglês.
- Vou atrás dela então. – falou sem esperar resposta, dando as costas para o grupo.
- O que foi, Raquel? Você não parece bem. Aconteceu alguma coisa?
- Você quer mesmo saber? – respondeu gritando, para ser escutada com o alto volume.
- Claro que sim! Você tem alguma dúvida? – se virou para o George, que se mantinha calado ao lado delas - George: busca uma bebida para a gente no bar? Ah, e já chama o Gerard para cá também para nos fazer companhia. – falou num inglês pouco compreensivo e carregado de sotaque, mas ele entendeu.
George concordou e se afastou rapidamente, ansioso para conversar com Gerard. Tinha visto Adam e Raquel se beijando e estava curioso para saber o que estava acontecendo.
*
- E então? O que foi isso? – George perguntou ao Gerard, enquanto pedia as bebidas.
- Não faço a menor idéia. Mas não saio daqui enquanto eu não descobrir. Estou me divertindo muito, sabia? E a Isa estava furiosa aqui, ao meu lado. Foi muito engraçado! – riu.
- E onde ela foi?
- Olha, pelo que ela me disse foi ao banheiro.
- E eu acredito que Adam foi atrás dela. – os dois se olharam e riram.
- Essa eu quero ver. – Gerard sentou no banco virado para o movimento, cruzando novamente os braços.
- A Raquel e a Karine estão nos esperando na pista de dança. – George comentou, sentando no banco ao lado de Gerard, sorvendo lentamente a sua cerveja.
- Bom... Eu não vou sair daqui.
*
- Amiga, não acredito que você fez isso! – Karine levou a mão à boca, abafando uma gargalhada.
- Você não acha que eu exagerei? – Raquel indagou, com uma expressão aflita.
- Não acho não! Acho que foi bem feito para Isa! Ela com essas manias de não nos contar as coisas. Lembra o quanto eu fiquei indignada quando ela ficou com o Erik? Mas como eu poderia imaginar que ela era apaixonada por ele? Nunca sequer sonharia com uma coisa dessas! Espero que agora ela aprenda a não guardar mais segredo.
- E agora Adam foi atrás dela...
- Foi é? Mas vem cá, o beijo foi bom pelo menos?
- Bom? Foi ótimo, amiga! Nossa, como ele beija bem, você não tem noção! E eu não acredito que a Isa está dispensando um homem como ele!
- Ah, e você já aproveitou a chance para tirar uma casquinha, é? – Karine aproveitou a deixa e a provocou. Raquel apenas sorriu. - Ah... Deixa eu aproveitar que estamos só nós duas para te fazer uma pergunta...
- Fala, Kaká.
- George me convidou para ir à casa dele... Você acha que eu devo?
- Você que sabe, Kaká.
- Sei lá, nunca fiz essas coisas antes, mas estou com vontade, sabe? Será que eu devo?
- Você quer?
Ela assentiu, sorrindo.
- Querer eu quero, mas tenho medo.
- Medo do que, Kaká?
- Sei lá. Medo que ele me ache fácil, que ele fale mal de mim depois, mas principalmente medo de como vai ser quando a gente acordar... Sei lá, é estranho. Eu mal o conheço...
- Amiga, eu acredito que a vida é uma só e que a gente deve curtir e aproveitar. E a gente só tem mais uma semana aqui e depois iremos embora. Já pensou que hoje pode ser a tua única oportunidade de ficar com ele?
- Hum.... Do jeito que você fala até parece que é fácil, mas você só fala e não faz. – Karine estava séria e pensativa. Estava em conflito entre a razão e a emoção.
- Mas fazer com quem? Se o cara que eu acabei de beijar não está interessado em mim – Raquel resmungou.
- E aquele gato que está no bar sozinho com o meu gato?
- Teu gato, é? – zombou.
- Sim, George Michel é meu, não sabia? Ele foi feito para mim! – ela afirmou e sorriu.
- Então amiga! O que você está esperando? Vamos para o bar e você trate de ir logo para casa com ele!
- E você? Vai ficar sozinha? – inquiriu, preocupada.
- Não se preocupe comigo, Kaká. Vou tentar me entender com Gerard.
- Hum... sei...
- Me entender como amiga dele, né? Já esgotei meu estoque de beijos por hoje.
- Humrum, até parece. – debochou. – Se ele quiser te beijar você vai dizer: não Gerard, muito obrigado. Já esgotei meus beijos por hoje. Tente amanhã! – ela gracejou, implicante.
- É! – ela respondeu entre risadas.
- Então Raquel, vamos lá no bar com eles? E esperar para ver o que vai ser de Isa e Adam?
- Sim, por favor! Espero que tudo dê certo e os dois se entendam de uma vez! Isa merece ser feliz.
- Se não der certo ao menos você aproveitou o beijo, não foi?
- Sim, com certeza! – sorriu.
- Então já valeu o esforço!
- Baita esforço! – e as duas chegaram ao bar às gargalhadas.
*
- O que você pensa que está fazendo? Beijando a minha amiga daquele jeito?
Adam sentiu um puxão no braço quando ia para o banheiro. Isa o parou, enraivecida, encostando ele contra a parede, se posicionando em frente a ele.
- Por acaso ela beija melhor do que eu, hein? – ela indagou, deixando-o sem reação. Ela estava super irritada e nem pensava direito no que fazia. Chegou com o corpo próximo ao dele, prensando-o contra a parede e prendeu os braços dele com os dela.
- Hein? Ela beija melhor do que eu?
Ele não respondeu, apenas a encarou, gostando da situação. Ela chegou com a boca bem perto da dele, provocando-o. Isa roçava seu nariz em sua bochecha, quase tocando os lábios dele com os dela.
- Eu poderia te beijar agora, se você não tivesse beijado antes a minha amiga. – afirmou, num sussurro, ainda provocando-o.
Ele não agüentou mais aquela provocação. Ela o prendia, mas ele era mais forte e logo se desvencilhou. Com o braço direito pegou a nuca dela, ao mesmo tempo em que a puxou pela cintura com o braço esquerdo, e a trouxe para junto de si, beijando-a com sofreguidão.
Isa se rendeu ao beijo e se atirou nos braços dele, com a mesma urgência e com a mesma intensidade que ele sentia. Ela correspondia ao seu desejo e o queria para ela, só para ela. Não queria dividi-lo com ninguém, muito menos com sua amiga, e não havia mais como fugir disso. Era mais forte do que ela.
- Vamos embora daqui, Adam? – ela se afastou um pouco e o encarou, suplicante. – Eu quero você e não quero mais que você fique com a Raquel.
- Vamos, amor. Eu vou com você para onde você quiser.
Ao ouvir essas palavras, ela deu um sorriso e um suspiro de alívio e satisfação. Ele ainda era dela, afinal.
- Vamos para tua casa, Adam? – indagou com um sorriso maroto nos lábios, deixando evidente suas intenções.
- Claro! – ele respondeu sem pestanejar - Mas sem se despedir?
- Sem se despedir.
Já haviam perdido tempo demais e não queriam perder mais nenhum segundo sequer. Ele a puxou pelo braço e saíram apressadamente e de fininho, sem serem percebidos pelos amigos.
*
Capítulo 16*
- Nossa Adam, que gelo está a tua casa!
- É verdade, você tem razão. – comentou e a enlaçou pela cintura, beijando-a no pescoço. - É a primeira vez que você vem aqui, Isy, e espero que seja a primeira de muitas vezes, mas não se preocupe com o frio que eu irei esquentá-la.
Ela riu e ofereceu os lábios para mais um beijo. Parou ofegante e suplicou:
- Adam? E aquela lareira ali? Não dá para ascender? Ou a calefação?
- Claro, meu amor.
- Adam... Olha só... – começou com receio, tentando se afastar dele. Seria a primeira noite deles juntos e ela queria que fosse tudo perfeito. – Eu estou fora de casa desde as cinco horas da tarde.... Será que eu poderia tomar um banho? – perguntou, com o rosto corado, meio sem graça.
- Claro que sim. E eu posso tomar junto? – indagou beijando-a novamente na boca, aprofundando o beijo mais uma vez. Não conseguiam se largar, não conseguiam mais se desgrudar. Isa se afastou um pouco e respondeu, arfante:
- Não, seu bobo. – ela sorriu. – Mas eu preciso tomar um banho, por favor!
Ele sorriu e concordou, mas manteve-a nos braços.
- Então me largue, senão não conseguirei ir. – ela suplicou, e lançou-lhe um olhar ansioso e apaixonado.
- Está bem. Eu esperei tanto por esse momento, penso que posso esperar mais alguns minutos. Mas não demore muito – ele sorriu. – Venha, eu vou lhe mostrar onde estão as coisas.
Ele seguiu para o quarto e ela foi atrás, segurando a mão dele, observando a casa.
- Até que você é bem organizado para um homem que mora sozinho. – constatou.
- Você acha mesmo? Na verdade, hoje a minha empregada esteve aqui e organizou tudo. Mas se você tivesse vindo ontem, se surpreenderia com a zona que estava.
- Ah, eu sabia! Você não tem cara de organizado mesmo. Aliás, tem cara de bem bagunceiro.
- Você também, sabia? – ele comentou sorrindo enquanto lhe alcançava do armário uma toalha branca, umas pantufas e um roupão para ela vestir após o banho.
- É, eu sou mesmo.
- Bom, agora vou deixá-la à vontade enquanto desço para ajeitar tudo para nós. Te espero lá embaixo, está bem?
- Obrigada, Adam. – beijou-lhe desta vez no rosto para não cair em tentação. Tinha sido muito difícil se afastar, mas queria estar bem limpinha e cheirosa para ele.
Ela ficou só com os seus pensamentos enquanto ligava o chuveiro. Curiosamente, não estava nervosa. Não estava aflita e nem ansiosa. Aquilo parecia tão certo que a única coisa que ela sentia era uma sensação boa. Sentia-se leve e feliz. Sentia uma paz como há muito tempo não sentia. Adam era o homem certo para ela e ela não via à hora de estar em seus braços. E com esses pensamentos e com esse estado de ânimo entrou no banho e deixou a água quente percorrer o seu corpo. E era uma sensação tão boa e tão relaxante que ela perdeu um pouco a noção do tempo.
Adam achou que Isa estava demorando demais e resolveu subir atrás dela. Estava impaciente e aqueles minutos estavam mais longos do que o usual. Entrou no banheiro sem fazer barulho e sem que ela o percebesse. E então parou em frente ao box, que era incolor, e ficou encantado a visão: Isa estava de olhos fechados e parecia bem à vontade e ele pôde visualizar todas as curvas do seu corpo. Ela era linda e ele poderia ficar horas seguidas apenas a contemplando. Mas não era apenas isso que ele queria: olhar. Ele precisava tocá-la, precisava senti-la e mais do que isso: precisava tê-la. Ele a queria de uma forma tão intensa, como nunca desejara nenhuma outra mulher antes.
Sem pensar muito, e cuidando para que ela não percebesse e o impedisse, se despiu rapidamente e entrou no box com ela. O espaço não era muito grande, mas era o suficiente para os dois. E do jeito que ele pretendia ficar, não precisava de muito espaço.
- Adam! – ela falou e sorriu quando ele chegou pelas costas dela e a enlaçou. – Você disse que me esperaria lá embaixo. – resmungou, fingindo-se ofendida quando na verdade tinha adorado a surpresa.
Ela virou o rosto para lhe oferecer a boca, mas manteve-se de costas para ele. Ele a beijou com vontade, sugando-a e a explorando com sua língua, sendo correspondido por ela com a mesma intensidade. Adam tirou os braços ao redor de sua cintura e subiu até os seios, acariciando e comprimindo os dois ao mesmo tempo. Ela também queria tocá-lo, mas sua posição não ajudava e o máximo que ela conseguia era acariciar suas coxas e corresponder ao beijo. Estavam com os corpos colados e Isa podia sentir seu membro enrijecido roçando-lhe as costas. Mordeu os lábios, satisfeita e ansiosa.
Ela continuava de costas para ele, e ele resolveu curti-la bem devagar, sem pressa. Interrompeu o beijo e pegou um sabonete e começou a ensaboá-la pelo corpo todo, ao mesmo tempo em que beijava o seu pescoço. Passava o sabonete, fazia caricias e beijava e lambia as costas úmidas, provocando inúmeros arrepios e gemidos em Isa. Depois, fez o mesmo nas pernas e no bumbum até que resolveu vir-la de frente para ele e fazer o mesmo com seu busto que parecia se oferecer a ele.
- Adam... – ela murmurou, quando ele aproximou seu rosto do dela. Mas não queria dizer nada, apenas chamá-lo para mostrar o quanto estava apreciando tudo aquilo.
- Hum? – ele perguntou, prestes a buscar o contato com a boca dela, olhando em seus olhos.
- Nada... – ela respondeu, antes de fechar os olhos e corresponder ao beijo, quando se esqueceu completamente do que iria dizer. Ele riu, mas sem afastar os lábios dos dela.
Agora nesta posição, Isa poderia tocá-lo e resolveu ensaboá-lo também. Pegou o sabonete e falou, com um olhar sacana:
- Agora é minha vez.
Ele sorriu e assentiu em silêncio, afastando um pouco os braços do corpo para permitir a aproximação dela. Ela começou a passar o sabonete primeiro no peito e conforme a água ia lavando e escorrendo o sabão, ela ia lambendo todo o caminho já limpo, fazendo movimento circulares e sensuais com a língua. E assim foi até a perna, onde desceu até embaixo, subindo por diversas vezes. E quando fazia esses movimentos de subida e descida, lambia a parte interna da coxa, próxima ao seu membro ereto, sugerindo uma aproximação que não fazia. Fazendo isso, provocava-o, e notava a sua perturbação a cada vez se afastava novamente. Então buscou suas costas e deu-lhe uma mordida forte na bunda. Queria deixar marca. Mas ele não reclamou.
Quando novamente ela se posicionou a sua frente, ele já não se agüentava mais de desejo, e não sabia quanto tempo ainda suportaria aquela brincadeira. Isa não fazia idéia do quanto lhe torturava. Pela primeira vez naquela noite, ele buscou o contato com o sexo dela, ao mesmo tempo que colocou a mão dela sobre o dele. Ambos passaram a se sentir, se tocar e se descobrir, ficando algum tempo se curtindo dessa forma.
Então Adam resolveu aprofundar ainda mais brincadeira. Sabia que precisava possuí-la logo, sabia que não ficaria mais muito tempo nisso e ele nem agüentaria mais muito tempo. Mas antes de tê-la, gostaria de lembrar de seu gosto, gostaria de sentir o seu cheiro e assim decidiu fazer. Isa não esboçou nenhuma resistência e ele então passou a explorar seu sexo com a língua, sugando-a com a boca. Ela abriu um pouco mais as pernas, para permitir melhor o contato.
- Adam? – ela suplicou, agarrando seus cabelos com força, após alguns minutos. – eu preciso de você agora. Não posso mais esperar...
Ele parou de fazer o que fazia e a fitou e com um leve sorriso nos lábios assentiu com a cabeça. Ele também a queria. Ele também não agüentava mais.
- Eu liguei a calefação Isy, o quarto já deve estar quente. Vamos para lá?
- Sim. – murmurou.
Eles desligaram o chuveiro rapidamente e correram para cama, com uma urgência crescente de ter um ao outro. Ainda não estava muito quente, apesar da calefação estar ligada há algum tempo, e eles entraram molhados embaixo dos cobertores. Ali, buscaram o contato do corpo um do outro para se esquentarem. Rapidamente, não sentiram mais frio. Não sentiriam mais frio mesmo se caísse neve dentro do quarto e mesmo se um floco de neve teimasse a entrar por debaixo das cobertas. Estavam completamente entregues um ao outro e naquele momento nada mais importava além do que eles faziam.
Antes que prosseguissem, Isa quis fazer algo que desejava e que sabia que ele queria também que ela fizesse. Sem pensar muito, desceu e agarrou o sexo dele com a boca, provando-o e sentindo o seu gosto pela primeira vez, sugando-o e lambendo-o com volúpia. Era bom. Como se fosse possível, ele cresceu ainda mais dentro da sua boca.
Ele, após um tempo, comentou:
- Se você continuar, eu não me responsabilizo. – Afirmou e sorriu, com um brilho no olhar que demonstrava tudo o que sentia.
Ela abriu os olhos e o encarou. Também achava que era a hora e parou o que fazia, se afastando um pouco dele. Subiu para encontrá-lo, beijando-o por todo o trajeto até chegar à boca, onde seus lábios se fundiram energeticamente.
Estavam de frente um para o outro e havia chegado o momento. Ele não esperou muito mais e ajeitou seu corpo sobre o dela e então a penetrou com um movimento único. Foi fácil, pois Isabela estava úmida e preparada, mas mesmo assim não pode evitar um gemido de dor. Fazia tempo que não se entregava a ninguém. Mas logo o prazer tomou conta de todo seu corpo e ela esqueceu do resto, passando a acompanhá-lo em seus movimentos. Naquele momento, se uniriam de tal forma que era como se passassem a ser apenas um ser. Naquele momento, seus corpos se fundiram e eles finalmente puderam extravasar todo desejo reprimido. Após alcançarem juntos o orgasmo, completamente saciados, adormeceram nos braços um do outro.
*
- Isa? – Adam acordou e buscou o contato com ela, beijando-a na bochecha. Já era tarde e ele tinha que levantar, pois tinha alguns relatórios para fazer. Isa apenas se mexeu um pouco, mas não despertou completamente. Ele resolveu ficar mais um tempo na cama, abraçado a ela.
Ficou um período apenas olhando para ela, encantando. Ela parecia tão serena, tão tranqüila, que ele resolveu deixá-la dormir e não perturbá-la mais. Mas no primeiro movimento que ele fez para sair da cama, ela acordou e o puxou de volta.
- Aonde você pensa que vai, seu fujão? – ela indagou sem abrir os olhos, virando-se para abraçá-lo na tentativa de mantê-lo com ela.
- Bom dia, querida. – Fez um carinho, tirando um fio de cabelo que teimava em cair sobre a testa.
- Bom dia, meu amor. – ela abriu parcialmente os olhos, o encarou e deu um leve sorriso, enquanto esfregava os olhos preguiçosamente.
- Meu amor? – ele sorriu, satisfeito por ouvir tais palavras pela primeira vez.
- Hum rum. – ela assentiu. Teriam apenas dois meses juntos antes dela ir embora, antes dela voltar para o Brasil, e ela queria viver esse período intensamente. Para isso, não precisava fingir nem esconder seus sentimentos. Não precisava disfarçar o que sentia, pois não tinha nada a perder. Iria embora de qualquer maneira – Eu te amo, Adam.
Confessou e voltou a fechar os olhos, fingindo preguiça, quando sua real intenção era evitar encará-lo, envergonhada. Ele sorriu, com alegria, se aproximou e depositou um beijo em seus lábios fechados.
- Eu também te amo, Isabela.
- Que bom – abriu os olhos e o encarou, radiante.
- Porque você demorou tanto para ficar comigo?
- Não sei, Adam. Eu tinha medo.
- Hum... Que pena, agora temos tão pouco tempo...
- É, e eu quero aproveitar cada segundo que me resta contigo.
- A Vicky me contou que um dos teus sonhos era conhecer a França, mas que você não conseguiu ir lá. Você quer conhecer comigo?
- Lógico que eu quero! Nossa, creio que nada me faria mais feliz! Quando, Adam? – indagou com ansiedade.
- Podemos passar o teu ultimo mês na França, o que você acha?
- Claro! Ótima idéia! Só tenho que estar de volta para receber a Ilana no dia 23 (de dezembro), mas até lá estou livre.
- Então combinado. Vou escolher uns locais bem legais para a gente visitar e depois te mostro, está bem?
- Sim! – ela assentiu e se jogou em seus braços. Ele era um homem perfeito e ela estava arrependida por não ter ficado com ele antes. Agora tinha que aproveitar o tempo que ainda lhes restava.
Enquanto aproveitavam para se curtir novamente, se beijando e trocando carícias cada vez mais ousadas, a barriga de Isa roncou. E por mais que ela tentasse disfarçar o ruído, ele percebeu e os dois se olharam e riram, cúmplices.
- É, faz tempo que eu não como.... – comentou, constrangida, sorrindo sem graça.
- Bom, meu amor, daqui a pouco eu mato a tua fome, está bem? Mas por enquanto tenho que matar outro tipo de fome. – afirmou, rindo com um brilho no olhar.
- É, essa minha fome pode esperar um pouco mais. Agora eu só quero aproveitar você!
- Eu sou seu, Isy. Você pode fazer o que quiser comigo.
- Está bem então. – achou graça e aproveitou para dar outra mordida na bunda dele.
- Ai! – ele resmungou.
- Você disse que eu podia fazer o que eu quiser! – ela deu uma risada. – E eu adoro a tua bunda e não resisti! Não ia perder a oportunidade, não é?
- Ok. Eu sou teu, mas mudei de idéia: você não pode fazer tudo. – ele riu, esfregando o local da mordida, que estava vermelho e dolorido.
- Você não reclamou antes.
- Antes eu estava distraído e você se aproveitou da minha distração. – fingiu estar ofendido.
- Bobo! – ela jogou o travesseiro sobre ele.
- Ah, é? – ele imitou o gesto dela. – agora vem cá!
Tentou morder a bunda dela também, mas ela fugia e se debatia e ele não conseguia pegá-la.
- Pará, seu vingativo! Não tem nada mais interessante para fazer do que me morder? – os dois brincavam e riam, mas sem sair da cama.
- Tenho sim. Vem cá que eu vou te mostrar.
Ficaram mais um tempo se curtindo e então se amaram novamente.
- Oi meninas! – Isa almoçou com Adam e chegou em casa pelas 14 horas. As 18 deveria trabalhar. Karine e Raquel estavam sentadas na sala, aguardando impacientes por ela.
- Isa! Você demorou! Nossa, precisamos muito falar contigo! – Karine foi a primeira a falar, pois Raquel estava pouco a vontade. Ainda não havia conversado com a amiga sobre o beijo que dera em Adam e não sabia o que ela pensava sobre isso. Estava constrangida.
- Então podem falar, que eu agora estou aqui e sou toda ouvidos – falou, esboçando um sorriso de orelha a orelha. Estava feliz e não conseguia disfarçar.
- Pelo visto a tua noite foi boa amiga. A minha também! – Karine comentou. – E é por isso que precisamos conversar.
Raquel mantinha-se em silêncio e Isa notou a sua expressão séria.
- O que foi, Raquel? – Isa indagou, sentando-se ao lado dela.
- Pois é. Ela está assim deste que acordou. – Karine observou.
- Você não está chateada comigo, Isa? – elevou os olhos e fitou a amiga com apreensão.
- Não. Por que eu estaria, Raquel?
- Porque eu beijei o Adam mesmo sabendo que você gostava dele, porque eu fui uma péssima amiga! Ai, estou me sentindo tão culpada! – Raquel era uma manteiga derretida, muito sensível, e estava prestes a chorar.
- Raquel, não fica assim não, querida – Isa a abraçou, tentando consola-la. – O Adam já me explicou, sei que a intenção foi boa. É claro que eu não gostei de ver vocês dois se beijando, mas se não fosse por isso eu não teria ficado com ele, sabe? Era como se eu precisasse disto para acordar. E se o motivo foi bom, eu te perdôo.
- Sério? Sem ressentimentos?
- Sem ressentimentos. Eu te adoro, amiga.
- Eu também te adoro. Nossa, que bom! – suspirou, aliviada e a abraçou.
- E além do mais, ninguém é tão parecida comigo como você. Como eu poderia viver sem a minha única amiga que não gosta de futebol, feito eu? Sem a minha companheira de expulsão de sala de aula no colégio? Sem a minha amiga maluquinha?
- É verdade! – Raquel enxugou uma lágrima, emocionada. E abraçou mais a amiga. – Nossa, ainda bem que você não ficou braba comigo, Isa. Estava tão preocupada! Nem dormi direito.
- Bom meninas, agora que eu já assisti essa cena melosa de vocês – Karine colocou o dedo na goela fingindo nojo – Posso falar?
- Claro, Karine. Agora pode. – Raquel autorizou, faceira.
- Ainda bem, porque daqui a pouco o George vem me buscar. Nós vamos ao aeroporto, trocar minha passagem. Na verdade, não será bem uma troca, porque não tenho previsão para a volta.
- Trocar a passagem? Você vai ficar aqui comigo? – Isa indagou, excitada, esfregando as mãos.
- Você não vai mais voltar, Kaká? – Raquel perguntou, surpresa.
- Não sei. Não tenho planos nenhum. Eu e o George colocaremos uma mochila nas costas e viajaremos pela Europa. Ele sempre quis fazer isso, só não tinha arranjado companhia. E eu adorei a idéia, estou tão empolgada!
- E para onde vocês vão, Kaká?
- Não sei, Isa. Acredito que primeiro iremos para Amsterdã, mas depois vamos percorrer tudo: França, Itália, Espanha, Portugal... Vamos para onde o vento nos levar. Ele vai levar a guitarra e se oferecer para tocar nos bares e cafés, eu também tentarei arranjar um bicos por aí. Sempre tive vontade de mudar de vida, fazer uma loucura, fugir de casa, sei lá. E o que pode ser mais perfeito que percorrer a Europa com George Michel?
- Eu também vou para França mês que vem com o Adam, quem sabe a gente se encontre por lá?
- É, quem sabe.
- E para Amsterdã, Kaká? Por que primeiro lá?
- Ah Raquel, foi idéia do George. Ele é meio maluco e diz que sempre quis provar o famoso bolo de maconha. Eu não curto drogas, mas tenho curiosidade de pelo menos sentir o cheiro. Gosto de imaginar os sabores pelo cheiro. Bom, isso vocês sabem, não é?
- Sim, Kaká. Sabemos. – As três riram. Karine sempre cheirava os novos alimentos antes de provar.
- E quando você vai? – Isa indagou.
- Amanhã de manhã. Já estou com a mala pronta, iremos assim que acordamos. Aliás, tenho que acabar de arrumar minhas coisas. Vou subir para não me atrasar, depois nos falamos, está bem?
- Sim, Kaká, pode ir. – as duas a autorizaram.
- Que loucura, não é? – Raquel comentou assim que ficaram sozinhas. Isa riu e respondeu:
- Olha, não estou nada surpresa. A Kaká sempre foi meio imprevisível. E certo está ela, que curte bem a vida.
- E então, Isa? Como foi a noite com o Adam?
- Ótima, perfeita e maravilhosa!
- Que bom! Quero saber os detalhes!
- E você e o Gerard? Imagino que vocês ficaram sozinhos por bastante tempo.
- Sim, nós ficamos sozinhos e conversamos muito. E ele é tão legal, Isa! E tão charmoso também! Nossa, que homem amiga! – revirou os olhos e suspirou, sonhadora.
- Ele é lindo mesmo, e querido também. E eu adoro o Gerard.
- Isa, amanhã eu vou sair com ele. Ele me convidou para fazer um passeio de bicicleta e de noite ficou de cozinhar para mim. E hoje a noite eu gostaria de ir ao Pub e ficar com vocês. Eu não quero ficar sozinha em casa em um sábado a noite. Sei que você não terá tempo para me dar atenção, mas eu não me importo de ficar sentada sozinha numa mesa. Melhor sozinha lá do que em casa. E eu fico tomando um vinho e observando o movimento. Sei que a especialidade da casa é cerveja, mas eu prefiro vinho.
- Eu sei que você prefere vinho, Raquel. – fez uma pausa refletindo sobre o que a amiga havia falado – Ficar sentada observando o movimento ou observando o Gerard?
Raquel riu.
- Ah, os dois. Quero reparar como ele é, se ele é mesmo um galinha como todos dizem e se vale a pena eu me envolver com ele. Sabe? Eu sinto que posso me apaixonar facilmente por ele, por isso preciso ir devagar.
- É, um pouco de cautela faz bem.
- Um pouco, não é, Isa? Mas não em exagero como você fez com o pobre do Adam.
- É, eu devia ter ficado com ele antes. Ele é tudo de bom!
- Então aproveita o tempo que te resta.
- Com certeza! E o teu livro, Raquel? Já começou a tradução?
- Mais ou menos, tentei um pouco agora de manhã... Mas está sendo bem mais difícil do que eu pensava. Talvez eu não consiga terminá-lo a tempo, talvez eu também precise trocar a minha passagem e prolongar a minha estadia.
- Que bom, amiga. Eu vou gostar de tê-la comigo mais tempo. Pode ficar aqui o tempo que quiser.
- É, eu sei que pela tua parte não teria nenhum problema, mas creio que a Vicky não vai com a minha cara.
- Por que Raquel? Não é apenas impressão tua?
- Acho que não, Isa. Sinto que ela me olha de um jeito esquisito.
- Será que ela sabe que você ficou com o John e está com ciúmes?
- Será que é isso? Mas faz tanto tempo! Imagina, eu tinha 24 anos e ele 19, já faz 6 anos! Ficar com ciúmes disso é ridículo!
- Nossa, já faz 6 anos? Nem parece, passou tão rápido!
- Lembra como foi, Isa? Lembra do reveillon, quando a gente alugou uma casa no litoral de Santa Catarina?
- Sim, na praia da Ferrugem! Nossa, foi muito bom! Aquela praia é linda demais!
- É. Ia mais gente e na última hora todo mundo desistiu.
- Sim! Nossa, que saudades daquela época! No fim fomos nós duas, o John, o Erik, a Ilana e aquele namoradinho que ela tinha na época. Como era mesmo o nome dele? Eles ficaram tão pouco tempo juntos que eu não me recordo...
- Era Jeferson, não era?
- Claro, isso mesmo. Que memória, amiga!
- E eu fiquei segurando vela, tinha só casal e eu e o John.
- Mas você foi parceira e não desistiu da viagem.
- Mas desistir por quê? Eu estava tão empolgada com a viagem, não conhecia Santa Catarina, e estava planejando essa viagem há tanto tempo!
- Sim, eu sei. Você foi e daí acabou se aproximando mais do John.
- Claro, só tinha ele para eu conversar! Você e o Erik só queriam saber de namorar, e a Ilana e o Jeferson também. E o John era novinho, mas já era bem gatinho. Dava para o gasto! – ela sorriu.
- Bom amiga, sinto te dizer que se você já achava ele gatinho naquela época, quero ver o que achará dele agora. Ele voltou melhorado da Austrália: engordou um pouquinho e está com mais cara de homem.
- Ah é? Ele está mais bonito do que o Gerard? – indagou interessada.
- Ah, não sei. Eu acho, não é? Por que ele está a cara do Erik.
- Então quem deveria se interessar por ele é você. – ela zombou.
- Não! Que é isso! Seria como cometer um incesto, ele é como se fosse meu irmão.
- Hum... Mas você não sabe o que está perdendo, Isa. Ele é bem gostosinho! Se naquela época ele já sabia o que fazer, imagina agora mais velho e mais experiente.
- É. Nada me tira da cabeça que você desvirginou o meu cunhadinho. Sua pedófila!
- Pedófila nada – ela retrucou, rindo – ele já era maior de idade!
- Imagina se a Vicky te ouve falando isso!
- Pois é. Mas já que ela não gosta de mim mesmo, se não der certo com o Gerard, posso ir para Londres encontrar o John. Sempre é bom ter uma opção de reserva.
- Você não presta, amiga! – Isa a cutucou e as duas deram sonoras gargalhadas.
- Isa! – Raquel atendeu o telefone e reconheceu a voz eufórica de Raquel – Isa! Acabei, amiga! Acabei de traduzir meu livro!
- Que bom, Raquel. E você quer que eu veja ainda hoje como ficou a versão em inglês?
- Sim, se você puder! Eu estou nervosa! Nem dormi, passei a noite toda escrevendo! Fiquei super inspirada depois de passar a noite com o Gerard. Valeu a espera amiga, foi maravilhoso!
- É, que bom! E quais são teus planos agora? Já que ainda está sem a passagem de volta.
- Ah, decidi ser como a Karine. Estou sem planos e sem data definida para voltar. Por enquanto vou curtir o Gerard e cuidar bem para que ninguém se aproxime do meu homem. Sabia que eu vou trabalhar no Pub no teu lugar? Já começo o meu treinamento amanhã mesmo. Aliás, quando vocês irão para França?
- Ah, só daqui a três semanas. Mas Raquel, eu vou morar com ele, viu? Não volto mais para a nossa casa e você terá que arranjar outro lugar para morar.
- Ah, viu? Eu estava certa, não estava? Eu disse que a Vicky não gostava de mim!
- É, você estava certa. O John comentou com ela que vocês ficaram juntos naquele verão. Também que idéia a dele contar isso para ela!
- Não tem importância Isa, a Claudia me convidou mesmo para ficar com ela. E eu também posso passar algumas noites com o Gerard. Não me importo nem um pouquinho de ficar aqui na casa dele – gracejou.
Elas riram no telefone.
- Passo aí daqui a pouco, Raquel. A gente conversa melhor pessoalmente e eu vou querer todos os detalhes, viu?
- Está bem. Estou te esperando, só vou tomar um banho rápido para acordar.
- Raquel, já falei com o Adam e ele marcou da gente se encontrar com o Tom ainda nesse fim de semana em Londres. Você está preparada para isso? (Tom era o editor amigo de Adam).
- Claro que sim, Isa. Um pouco tensa, mas preparadíssima!
- Sua tradução está perfeita! E a história também, é claro, embora eu já saiba ela ao de cor! E se ela for publicada e fizer sucesso, Raquel? Já está pensando no próximo romance? Porque se é isso mesmo o que você quer fazer, já deve começar a pensar em outro.
- Sim! Já estou cheia de idéias na cabeça, só basta sentar e começar a escrever. Só não trouxe o meu computador. Mas se tudo der certo, comprarei um novo e começarei a escrever aqui na Inglaterra mesmo. Por que só consigo escrever num computador que seja só meu e que eu possa carregá-lo para onde eu for.
- Eu lembro que você carregava seu computador para cima e para baixo e que ele já estava caindo aos pedaços. – ela comentou, achando graça da lembrança.
- É verdade! – ela riu.
- Então, vamos para Londres no fim de semana? Vamos encontrar o Tom e o John?
- O John também? – indagou, com euforia.
- Claro, né? Ou você pensa que eu irei para Londres e não irei ver meu irmãozinho?
- Que a Vicky não saiba disso!
- Melanie, nossa estou muito curiosa para saber a novidade!
- Ah, Isa! Ainda não posso contar, o Adam Bill pediu segredo.
Melanie olhou para os lados e viu que ninguém estava reparando nelas. Mesmo sendo sexta-feira, o dia do encontro habitual no Pub, Melanie e Bill tinham ligado para todos os seus amigos para confirmar sua presença. Tinham um comunicado importante a fazer.
- Mas acho que posso contar para você antes, Isa. Não estou mais me contendo, estou tão feliz! Nossa, você não tem idéia de como eu estou feliz! – discorreu empolgada, com um sorriso de orelha a orelha.
- Melanie, amiga! – arregalou as sobrancelhas, com euforia – É o que eu estou pensando?
Ela assentiu, com um sorriso iluminado seu rosto.
- Você está grávida, amiga? – cochichou em seu ouvido.
- Sim, estou sim!
- E quando você soube?
- Na verdade, eu tive a confirmação apenas hoje, mas estava desconfiada há alguns dias. Mas não contei para ninguém, porque queria ter certeza antes. E foi tão difícil não te falar, eu quis te ligar tantas vezes! Mas o Bill fez questão que eu não falasse para ninguém, e eu acabei cedendo.
- Por isso você cancelou as nossas aulas?
- Sim! Por que eu sabia que eu não me agüentaria e te contaria!
- Ah... Mas eu senti tua falta. Senti saudades.
- Pois é, Isa. Eu também senti saudades. Só que como eu te disse, se eu engravidasse não iria mais para o Brasil. Não preciso mais aprender português, mas a gente pode continuar se encontrando, não é? Ou agora você só quer saber do Adam?
- Alguém falou de mim? – ele chegou abraçando Isa pelas costas.
- Eu falei que a Isa agora só quer saber de você e não tem mais tempo para as amigas! Seu monopolizador de Isa! – ela debochou e os três deram risadas. Adam deu um beijo no rosto da namorada que olhou para ele e sorriu, apaixonada.
- Cadê o Thompson? Eu quero falar com ele. Preciso saber detalhes sobre a viagem que vocês fizeram para a França, ainda estou traçando o nosso roteiro. – Adam indagou.
- Ah, mas pode perguntar para mim. Eu estava com ele, esqueceu?
- Obrigado, Melanie, mas quero que seja surpresa para Isabela e você certamente contaria para ela.
- Está me chamando por acaso de fofoqueira, Adam Simons? – Melanie o provocou com uma mão na cintura, fingindo-se ofendida.
- Não, não é nada disso. – ele respondeu meio embaraçado.
- Estou brincando, bobinho. – ela afirmou bem humorada e eles riram. – Ai está meu querido marido.
Thompson chegou e se juntou ao grupo.
- Onde está Dilan? Só falta ele! Nem parece o mesmo, sempre atrasado agora. E o George? Tinha que viajar justo agora? Ele também devia estar aqui – Bill Thompson resmungou.
- Ah, Dilan deve estar falando com a minha irmã. Ele e Ilana conversam todos os dias pelo Skype quando ela chega do trabalho. E pela diferença de fuso horário isso faz com que seja tarde aqui. Viram? O atraso é por um bom motivo.
- Menos mal então. Pegue Adam – estendeu ao amigo um charuto, que esse recusou.
- Não obrigado, eu não fumo.
- Ah, mas hoje vai ter que fumar! É tradição na minha família oferecer um charuto aos amigos quando... – percebeu que iria falar demais e calou-se – Ah... ainda não posso contar! Apenas aceite um, Adam. E o Dilan que não chega? – indagou impaciente, passando a mão por diversas vezes nos cabelos e se mexendo com agitação.
- Acalme-se, querido. Ele já vem. Venha, vamos sentar na mesa com Vicky e Valentine. Elas já estão nos esperando. – Melanie comentou, puxando o marido pela mão.
- O que será de tão importante que ele tem para nos dizer? – Adam perguntou a Isa quando enfim ficaram a sós.
- Você nem desconfia, meu amor?
- Ah, sei! – ele pensou um pouco e sorriu com tal possibilidade. – Isa?
- Que foi?
- Já que ainda temos um tempinho, vamos lá nos fundos?
- Aonde, Adam? – se fingiu de desentendida.
- Lá onde tudo começou, lembra?
- Claro que eu lembro. – ela confirmou e sorriu para ele.
- Então? Lembro que eu tive muita vontade de te pegar nos braços e te beijar naquele dia.
- Mas não fez! – ela riu.
- É, mas hoje pretendo fazer.
- Está bem, eu deixo.
Rumaram em direção à mesinha escondida que havia atrás do Pub. No mesmo local em que um dia tomaram uma cerveja só os dois. No mesmo local em que começaram a se conhecer e se interessar lentamente um pelo outro.
- Raquel? – antes de saírem passaram pela amiga que neste dia estava trabalhando no lugar de Isa. Estava em treinamento para substituí-la em definitivo, se tudo desse certo e ela ficasse na Inglaterra – Nós vamos lá para fora, está bem? Você pode nos chamar assim que Dilan chegar? Só falta ele.
- Claro, Isa. – ela respondeu solicita e se apoiou no balcão para observar melhor o casal feliz que se afastava. Ficou satisfeita ao perceber que finalmente a amiga havia superado a dor pela perda de Erik. Que ela voltara a ser a mesma Isa de sempre: bem disposta e sempre com um sorriso nos lábios. Além disso, o brilho no olhar que se apagara com a morte de Erik agora reascendia com força total.