terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Contando os dias...


Gente, meu cérebro parou de funcionar. Ele está vázio, o que nunca aconteceu! Estou tão esgotada, que não estou conseguindo escrever, nem me concentrar direito!!!

Preciso de férias!!!

Contando os dias para viajar.

Aliás, ficarei uns dias fora, sem internet. Só com as pernas dentro da água do mar lindo de Santa Catarina.

Pergunta: por que só o Rio Grande do Sul tem mar cor de chocolate?

Não é justo que a vizinha Sta. Catarina tenha tanta beleza!!!

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Sem Clima para o Amor - Rachel Gibson





Sinopse:
Em Sem Clima Para o Amor, Clare Wingate, uma jovem e atraente escritora sofre por ter sido traída pelo noivo (com o técnico da máquina de lavar roupa!) e o que mais queria era ficar em casa curtindo a tristeza. No entanto, durante o casamento de sua melhor amiga, reencontra Sebastian, uma paixão de infância, que se tornou um jornalista famoso e sexy. Ele a quer para si de qualquer forma, mas Clare só quer curtir sua dor. Começa aqui uma história divertida e cheia de surpresa, que conquistou milhões de leitores em vários países e levou o livro para o topo da lista dos mais vendidos.

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Download: http://www.4shared.com/file/121941948/28995e4e/Rachel_Gibson_-_Sem_clima_para.html?s=1

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Bom, bom.... O que eu posso dizer? Esse é o primeiro livro da Rachel Gibson que eu leio, e provavelmente o primeiro de muitos. Até a páginas 100 eu estava inclinada a dar tipo 4 estrelinhas para ele (de 5!), mas depois, quando a coisa esquentou... Só o que eu digo: UAU!!! Muito, mas muito bom!!!

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É um romance leve também, tipo os da Sophie Kinsella, mas acho que tem um pouco menos de humor do que os da Sophie e muito mais sensualidade. O Sebastian... Ai, meu Deus!!! Me abana aqui!!! Esse homem é tudooooooooo de bom! Uma bomba de testosterona!!!

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Tem uma coisa que eu achei interessante, porque eu sempre me perguntei como uma mulher namora um homem gay sem perceber que ele é gay? As vezes parece tão óbvio para quem está de fora! Mas é exatamente, isso... Óbvio para quem está de fora, não para quem está envolvida. Agora imagina a cena (isso é logo no início, não estou entregando a história), encontrar teu noivo transando com outro homem, de forma passiva!!! Ainda bem que tem o Sebastian para compensar!

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Bom, eu só posso dizer: adorei e recomendo!!!

Dá-lhe Piauí!



Eleita a melhor atleta de 2009, após concorrer com os maiores nomes do esporte feminino brasileiro, a judoca piauiense Sarah Menezes sobe ao pódio novamente, dessa vez pelo reconhecimento de sua garra!!

Êeeeeeeeeeeeeeeeeeee!!!
Amei!!
Eu ia postar aqui no blog antes, o link pra votação pra pedir o voto de vocês, mas o tempo não deixou. Pelo menos fiz a minha parte votando algumas vezes!

Detalhe, nada a ver o globoesporte.com dizer que a garota veio das ruas de Teresina.. Rum =/ Esse povo pensa que no Piauí só tem gente pobre!!! Afe!! A Sarah é bem nascida bando de jornalista incompetente! Imagina só como essa profissão vai ficar sem o "deploma"... Medinho!

I am Marianne Dashwood =/


I am Marianne Dashwood!

Take the Quiz here!


Qualquer semelhança com algo já postado NÃO é mera coincidência!

http://valvuladeescapedassagitarianas.blogspot.com/2009/08/sense-and-sensibility.html

Preciso dizer que odiei o resultado??


segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Samantha Sweet, Executiva do Lar - Sophie Kinsela


Sinopse:

Samantha Sweet é uma jovem e dinâmica advogada corporativa, dividida entre contas e clientes, sem tempo para nada além da carreira. Relacionamentos? Só com seu blueberry, última geração. Em Samantha Sweet, Executiva do Lar, Sophie Kinsella faz uma divertida crítica à pressa - e às pressões - da vida moderna. Samantha Sweet está prestes a se tornar sócia da firma de advocacia onde trabalha. Isso se ela não tivesse cometido a maior mancada de sua trajetória profissional. Um erro tão absurdamente grave, que custará à empresa milhões de libras. Completamente baratinada pelo furo, ela surta. Pega o primeiro trem para fora da cidade e vai parar na entrevista de emprego mais equivocada de sua vida. Sua natureza competitiva logo é ativada e ela decide que será contratada, sem se preocupar com o cargo.Assim, nossa heroína ganha um novo plano de carreira: como empregada doméstica de uma socialite deslumbrada. Sem nem ao menos saber como ligar o ferro de passar. Ou para que diabos serve metade dos aparelhos de uma cozinha. Mas talvez ela não seja tão incapaz como doméstica quanto imagina. Talvez, com alguma ajuda, ela possa até fingir. Será que seus patrões descobrirão que sua empregada é de fato uma advogada de alto nível? Será que a antiga vida de Samantha irá alcançá-la? E, mesmo que isso aconteça... será que ela vai a querer de volta? Samantha Sweet, Executiva do Lar é a história de uma mulher que precisa diminuir o ritmo. Encontrar-se. Apaixonar-se.
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Logo de início, já me chamou atenção:

Você se consideraria estressada?
Não.
Não sou estressada. Sou... ocupada. Muita gente é ocupada. O mundo é assim. Tenho um emprego de alto nível, minha carreira é importante e eu gosto dela. OK, algumas vezes fico meio tensa. Meio pressionada. Mas sou advogada no centro financeiro de Londres, pelo amor de Deus. O que você esperaria? Estou apertando tanto a caneta na página que rasguei o papel. Droga. Não faz mal. Vamos à próxima pergunta.
Em média, quantas horas por dia você passa no escritório?
14
12
8
Depende.
Você faz exercícios regularmente?
Nado regularmente
Nado ocasionalmente
Pretendo começar um regime regular de natação. Quando tiver tempo. Ultimamente ando cheia de trabalho; é um pico de atividade.

Você bebe oito copos d’água todo dia?
Sim
De vez em q Não.
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Adoro o jeito leve da Sophie de escrever! Seus romances são gostosos, suaves e divertidos. Eu confesso que ando esgotada, com dificuldades de concentração (precisando de férias!), mas esse livrinho foi bem gostoso e agradável de ler.
Serve para as pessoas viciadas em trabalho repensarem na sua vida e nos seus valores.
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Eu adorei!!! E o Nathaniel... lindo!!!
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Super recomendado!

sábado, 19 de dezembro de 2009

Romance sobrenatural

Achei um blog muito bom, com dicas de vários livros sobrenaturais.
http://romance-sobrenatural.blogspot.com/


Vim aqui indicar, porque deve ter alguém como eu que esses dias estava louca por histórias de vampiro.

Crepusculo Vermelho - Laura Elias


"Megan é uma jovem de 17 anos, subitamente envolvida em uma doce e sombria história de amor com Bill, o misterioso integrante de uma banda de rock. Ela só não sabia que Bill não é uma pessoa comum.
Na verdade, ele pertence a grupo de seres dotados de capacidades incomuns e gosto por sangue humano.

Quem se apaixonou pela série CREPÚSCULO, não pode deixar de ler mais esta eletrizante obra de Laura Elias, que transcende o tempo e o espaço, para se tornar realidade nos dias de hoje".

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Gente, que surpresa boa! Não sei se vcs sabem, mas eu amo livros de vampiros. Então qdo fui ontem dar uma passeada básica numa livraria, e vi esse livro que custa apenas 19,90, eu não resisti! Ele é feito com capa fina, tem um papel mais barato, por isso o preço. Bom, eu li numa sentada, não parei até as 5 da manhã, adorei, achei muito bom!

Ah, e me apaixonei por dois personagens, tão fofos! Só que espero que tenha continução, pq eu sinto que não acabou. SE tiver, eu quero ler! Acabei de ver que tem continuação e eu quero ler!!!

Mas sabem qual é a notícia boa? A escritora é brasileira, e eu encontrei ela no orkut. Achei isso maravilhoso! Pq as escritoras brasileiras novas não tem muito espaço, e o tipo de livro que eu gosto, não costumam ser publicados. Queria falar com ela, e saber como ela fez isso. Há tantas escritoras brasileiras postando no orkut, porque não tem o que fazer com seus livros. Como eu. - :D

***

A escritora colocou o primeiro capítulo no orkut como degustação.
Capítulo 1 – Só mais um dia

Fonte: http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs?cmm=18008059&tid=5409972026159668457

Havia algo no ar aquela manhã. Uma atmosfera de festa, de véspera de férias, de inicio de verão. Tudo estava mais agitado que o normal, as pessoas pareciam empolgadas, elétricas. Mas talvez fosse apenas eu que ainda não estivesse totalmente acordada. Como sempre.
Na verdade, ainda era meio de outono e não havia nada de empolgante naquela manhã gelada, nada de especial no ar. Era só mais um dia comum como todos os outros. Sem graça. Sem cor.
Ultimamente todos os meus dias estavam assim: sem graça e sem cor, uma mistura de Another Day do Paul McCartney com Every Day is Exactly the Same do Nine Inch Nails, se é que isso era possível.
Olhei desorientada para o prédio da escola e dei um tapa em minha cabeça, com a esperança que ela pegasse no tranco e me ajudasse a acordar. Não podia mais continuar dormindo nas aulas como vinha acontecendo. Isso ia acabar me colocando em sérios problemas. No colégio onde eu estudava era conduta normal chamar os pais por qualquer coisa e eu já começa a estranhar o fato de ninguém ter ligado para minha casa. Ainda.
- Oi, Meg! Você vai comigo hoje, né? – perguntou Sarah surgindo do nada com expressão ansiosa, enquanto segurava meu braço com mais força do que eu gostaria.
Olhei para ela confusa, me perguntando de onde Sarah havia aparecido. Ir aonde? Fazer o quê?
- Ah, não! Você esqueceu? – ela me examinou atentamente - Não vá me dizer que já marcou outra coisa para hoje!
Sarah parecia realmente desapontada comigo e tive a impressão que uma sombra de raiva passou por seu olhar. Levantei as sobrancelhas em resposta, sem saber o que dizer. Nós havíamos marcado alguma coisa para hoje? Minha cabeça continuava dormindo o sono dos justos e eu não sabia o que dizer.- Megan Grey, você quer fazer o favor de me responder?
- Bom... Aonde é que a gente ia mesmo? – perguntei com voz sumida.
Sarah suspirou, irritada.
- Comprar os ingressos do show! Você nunca se lembra de nada?
- Ah! Claro... Vamos sim. – respondi. Minha mente havia acordado só um pouquinho... o suficiente para me lembrar do que ela estava falando
e retornando ao sono profundo logo em seguida.
- O que está havendo com você? De uns tempos pra cá está sempre assim, parece um zumbi! – minha amiga reclamou, chateada.
- Não tenho dormido bem...
- Ainda está com isso? Continua acordando de madrugada?
- No mesmo horário, religiosamente. Já estou até me acostumando, sabia?
- Falou com sua mãe? Você precisa ir ao médico, isso não é normal! – Sarah fez cara de quem ia continuar seu discurso sobre como a privação de sono faz mal a saúde, mas algo distraiu sua atenção e ela emendou outro assunto, esquecendo minhas noites insones.
– Olha lá a Britt! Gente, esta menina é maluca? – perguntou, sem esperar que eu realmente respondesse àquilo.
Acompanhei seu olhar e observei Britney por alguns segundos, sem qualquer interesse. E daí se ela se vestia de preto e usava aquela maquiagem estranha? E daí se ela achava que era legal ser gótica e andar vestida feito um morcego?
- Deixa ela. – respondi com um bocejo.
- Eu deixo, mas vai me dizer que isso não é esquisito?
Dei de ombros, com sono demais para conseguir argumentar.
- Oi gente! – exclamou Alice com um sorriso resplandecente e bochechas vermelhas. Tive a impressão que ela também havia surgido do nada.
- E aí, do que vocês estavam falando? – quis saber Alice.
- Eu estava dizendo pra Megan que acho a Britt maluca demais – Sarah parecia feliz em ter mais alguém que a ajudasse nesta conversa.
Alice esticou os olhos para Britney, avaliando a menina.
- Ela é gótica – comentou como se isso explicasse tudo. – Ou dark, ou algo assim.
- Nós vamos comprar os ingressos do show! Quer ir com a gente?
- Não sei, nem sei se vou ao show. Não gosto tanto assim do Red Kings of Dark Paradise, eles me dão medo embora, claro, eles sejam lindos!
- Os caras são demais, né? – Sarah estava extasiada outra vez. – E aquele vocalista? Gente, o que é aquilo! Ele é ma-ra-vi-lho-so!
Alice riu, concordando e então pareceu se lembrar que eu também estava ali.
- Não sabia que você curtia rock – ela disse, me olhando com simpatia.
Eu abri a boca para responder, mas graças a Deus, Sarah me cortou:
- Curte nada! A Megan vai só pra me fazer companhia.
Eu sorri, mas fiquei irritada. Como ela sabia disso? Claro que éramos amigas, mas Sarah não sabia tudo de mim! E se eu curtisse o Red Kings of Dark Paradise em segredo?
- Ainda não decidi – respondi com uma ponta de desafio na voz – talvez eu vá.
Sarah me olhou de relance com uma expressão esquisita, notando minha irritação
- Você precisa dar um jeito nessa sua insônia. – comentou com desagrado. – Seu humor está um lixo, sabia?
- Você está com insônia? – perguntou Alice.
Eu quis matar a Sarah naquele momento.
- Um pouco – respondi, olhando para meus pés.
- Minha madrasta também – comentou Alice com ar pensativo – Acorda no meio da madrugada e não dorme mais. Nem com remédio.
- É igual à Megan! – Sarah disse, empolgada.
- Faz tempo? – perguntou.
- Algumas semanas – menti, tentando não fazer aquilo parecer importante a ponto de virar o assunto do dia.
- Então é por isso que está com estas olheiras? – Alice me olhou com curiosidade e eu sinceramente quis esganar a Sarah. Mas fui salva deste momento embaraçoso pela chegada da paixão de minhas amigas, Paul Foster.
Ele estava um ano na nossa frente e era amigo do irmão de Sarah, mas sempre parava para conversar um pouco conosco. Eu sabia que Sarah tinha uma paixonite por ele, mas ela tinha uma paixonite por todos os garotos bonitos da escola, então isso não significava muita coisa. Alice, entretanto, gostava mesmo do menino e não havia uma única vez em que não incluísse Paul na conversa, qualquer que fosse o assunto.
- E aí, gente? – Paul sorriu para nós com simpatia.
- Você vai ao show? – perguntou Sarah.
Aquilo já estava me cansando, será que não tinha outro assunto no mundo que não fosse o show daquela banda idiota?
- Vou, até já comprei os ingressos! – ele estava tão animado quanto Sarah e imediatamente começou a falar sobre a banda como se aquilo fosse o grande acontecimento do universo. Alice olhou para os dois com o canto dos olhos.
Eu sorri para ela e decidi que aquele era um bom momento para baixar um pouco o fogo da Sarah.
- Alice também vai – informei com voz neutra.
- É mesmo, Lili? – ele era o único que a chamava de Lili - Que legal, podemos ir todos juntos! E você, Meg?
- Ainda não sei ... – respondi feliz por ver a cara de decepção da Sarah.
- Ah, vai também! Vai ser legal e depois podemos ir comer alguma coisa antes de voltar pra casa.
- Vou pensar – respondi sorrindo.
- Ih! Olha lá o Chuck! A gente se fala depois, meninas. – disse Paul correndo para encontrar o amigo.
Alice suspirou ao vê-lo partir.
- Ele é lindo – suspirou novamente – Olha aquele cabelo! Gente, que menino perfeito!
- Ele é bonito, sim – concordei. – E boa gente também. Vocês vão fazer um lindo par.
Sarah me fuzilou com os olhos e eu senti uma agradável sensação de vingança no peito. Quem sabe ela pensasse duas vezes antes de expor minha vida para os outros na próxima vez?
- Ele nem me nota – a voz de Alice parecia desalentada.
- Como não, “Lili”? – eu estava brincando com ela, mas o efeito foi outro.
- Você acha mesmo que ele sabe que eu existo? Que ele me vê assim?
- Quem sabe? – respondi, evitando o olhar de Sarah.
- Vamos entrar, está na hora – Sarah virou-se e nós a seguimos.
O sinal estridente do inicio das aulas soava e eu prenunciava longas horas pela frente, lutando para manter meus olhos abertos. Por mais irritada que estivesse com Sarah, sabia que ela tinha razão, eu devia procurar um médico para ver o que estava acontecendo comigo. Não era normal ter insônia daquele jeito, ainda mais pra mim, que sempre dormi mais que a cama. Mas ir ao médico significava contar à minha mãe o que estava havendo e passar por um interrogatório longo e repetitivo que de alguma forma iria incluir as palavras “sexo” e “drogas” várias vezes. Sinceramente? Preferia ficar sem dormir.
Como já estava se tornando rotina, eu cochilei nas duas primeiras aulas e acordei no meio da terceira com a professora de História ao meu lado e a classe toda gargalhando. Inferno!
- A noite foi feita para dormir sabia, senhorita Grey? – perguntou ela com ar sarcástico.
Eu suspirei e mantive a cabeça baixa.
- Desculpe – balbuciei com o rosto vermelho.
- Muito bem, agora que já está desperta, talvez possa responder à minha pergunta...
- Desculpe, eu não ouvi...
- Nós estamos falando sobre a Revolução Francesa e suas influências no movimento de independência dos Estados Unidos.
Olhei para ela com uma súplica no olhar e ela pareceu entender.
- Vá passar uma água no rosto, Megan e volte logo, certo? – sussurrou com olhar consternado e então pediu que Deborah Petterson respondesse à questão.
Eu saí da sala sentindo todos os olhos em mim e rezei para que Sarah mantivesse a boca fechada. Não queria que todo mundo soubesse que eu não estava dormindo direito.
Enquanto caminhava pelos corredores vazios em direção ao banheiro feminino, analisei pela milionésima vez as razões que motivavam minha insônia e pela milionésima vez não cheguei à conclusão nenhuma.
Aquilo havia começado do nada. Certa noite eu acordei às duas da manhã, levantei, abri a janela e sentei na cama, olhando para a rua vazia, como se esperasse algo ou alguém.
Fiz tudo isso sem me dar conta do que fazia como se estivesse hipnotizada ou em estado de sonambulismo. Só que eu via o que eu estava fazendo, eu só não sabia porque estava fazendo aquilo.
Desde então, todas as noites, o ritual se repetia, até começarem a surgir os primeiros raios de sol. Aí, eu fechava a janela, voltava para a cama e, obviamente, acordava poucas horas depois, com o despertador, cansada e abatida.
Já havia tentado deixar a janela aberta quando fosse dormir, mas isso não adiantou. Continuei acordando e sentando na cama, encarando a rua vazia. E embora não tivesse contado à ninguém, havia roubado umas pílulas para dormir do armário do meu pai, mas isso também não fez efeito e eu fiquei com medo de insistir e acabar me viciando naquilo. Durante as primeiras semanas, pesquisei na internet sobre insônia e suas causas, mas nada se aplicava ao meu caso. Eu era um caso anômalo, uma aberração na insônia. Eu ri deste pensamento, divertida. Era um caso raro na medicina, iriam fazer uma conferência sobre mim, iriam me pesquisar nas universidades e eu ficaria conhecida no mundo inteiro como “a garota que não dorme”. Talvez fosse parar no Discovery Chanel. Ou no Nat Geo.
Joguei uma grande quantidade de água gelada no rosto e fiquei encarando o espelho, analisando minhas olheiras, o ar cansado, aparência abatida. Não que eu fosse um exemplo de vigor e saúde antes de tudo começar, mas com certeza tinha uma aparência mais saudável, mais viva. Mostrei a língua para mim mesma e voltei para a aula, me condicionando a permanecer acordada.
“Não vou dormir, não vou dormir” – repetia mentalmente pelos corredores vazios e silenciosos, caminhando sem pressa com a cabeça baixa, tentando me concentrar em meu propósito.
Não sei se foi a falta de sono ou algum tipo de cansaço visual, mas naquele momento eu tive a nítida impressão de ver um homem alto, de cabelos claros presos em uma trança grossa e longa, vestindo um sobretudo preto me olhando fixamente.
O susto foi enorme. Meu coração acelerou, minhas pernas bambearam e eu achei que fosse desmaiar, mas de repente, a figura sumiu. “Que beleza, Megan” – suspirei - “Agora deu pra ver coisas também. A garota louca que não dorme” – pensei, modificando um pouco o nome do documentário que seria feito sobre mim.
As aulas passaram normalmente e eu consegui não dormir em nenhuma delas, embora não conseguisse dizer sobre o que eram. Eu sei que escrevi o que devia escrever e respondi o que devia responder, mas minha atenção não estava na sala de aula e sim estava na figura misteriosa que imginava ter visto e no esforço que fazia para empurrar aquela visão para fora da minha mente. Não era nada afinal, apenas uma impressão. Nada que fizesse o dia especial, nada que fosse me arrancar da chatice de uma longa fila de ingressos,. “Isso”! – uma voz soou dentro de mim – “pense nos ingressos e esqueça tudo o mais”. Tentei fixar meu pensamento no Red e no que eu sabia sobre eles. Comecei a fazer a lista mentalmente:
1. Seis integrantes
2. Som é uma mistura de metal pesado com hard e uns toque de melódico.
3. Ótimos solos de guitarra e bateria.
4. Todos lindos. Ao menos na opinião da Sarah, eu não me lembrava de nenhum deles.
5. Banda nova, tinha aparecido fazia pouco tempo e já era a segunda em vendagem de cd. Fãs alucinados e fanáticos.
6. O logotipo da banda era uma bandeira vermelha, com um rosto de pantera em primeiro plano e quatro panteras ao fundo. A primeira pantera estava de boca aberta e os longos caninos afiados pareciam prontos para morder o primeiro que ousasse desafiá-los. Podia não ser muito bonito, mas a arte era impressionantemente bem feita. E eu podia dizer isso, já que panteras eram minha paixão. Tinha um pôster enorme de uma pantera negra de olhos azuis cristalinos em cima da minha cama, que me fazia companhia nas longas horas de insônia.
- O que mais, o que mais? – vasculhei minha mente em busca detalhes, mas não havia nenhum. Então tentei me esforçar para lembrar os rostos dos integrantes, mas foi impossível. De qualquer forma o exercício serviu à sua finalidade e eu desviara minha atenção da visão no corredor.
Notei, durante a aula de Inglês, que Sarah me observava com atenção e sorri imaginando o que ela diria se soubesse o que eu estava pensando. Eu não ia dar este gostinho a ela. Não. Meus delírios eram apenas meus, assim como minha insônia era apenas minha.
Na hora do almoço, enquanto eu olhava para a maçã em minhas mãos, decidindo se valia a pena mordê-la, o assunto variou entre a beleza de Paul, a esquisitice de Britt e sua turma, meu flagra na aula de História e o show do Red Kings.
Não apenas Sarah, mas um muitos alunos estavam empolgados com isso. Alice sorriu para mim, parecendo tão cheia quanto eu daquele falatório todo e nós duas começamos a conversar, ignorando a histeria geral.
- Você vai com a gente comprar os ingressos? – perguntei com um suspiro cansado.
- Acho que sim. Não quero perder a oportunidade de ir ao show, se o Paul vai estar lá.
- Você gosta mesmo dele...
- É, gosto sim – ela tinha um olhar sonhador. – Mas sei que minhas chances são poucas.
- Por que ele é mais velho?
- Não. Porque não sou como as outras meninas, você sabe, não fico pulando no pescoço dele e tudo mais. – a voz dela era pensativa como se falasse mais para si mesma do que pra mim. – Talvez se eu fosse mais atirada, ou mais bonita...
- Não acho que gostar tem a ver com beleza. Se fosse assim o que seria das feias? E você é linda, Alice. Tem o sorriso mais encantador que eu já vi.
- É...mas um pouco mais de peito não me faria mal – observou.
Eu ri e concordei com a cabeça.
- E você? Gosta de alguém? – Alice tinha um jeito suave de perguntar as coisas. Era fácil falar com ela. Não havia qualquer traço de interesse fofoqueiro em sua voz, ela apenas perguntava com delicadeza natural.
Eu neguei com a cabeça, fazendo um biquinho torto.
- Mas já gostou?
- Bom, quando eu tinha sete anos eu gostava de um menino da minha sala, isso conta? – perguntei rindo.
- Acho que não – ela disse divertida. - Esse negócio de gostar é esquisito, acontece sem que a gente queira. Quando você vê, já está gostando. Mas também não é uma lei ou algo assim. Não tem que gostar de alguém e vai ver ainda não chegou o garoto que vai fazer você se apaixonar.
Eu sorri, mas não quis esticar o assunto. Não quis dizer que achava que eu era à prova de amor, que não me via gostando de um menino, nem pensando em alguém o dia todo e muito menos tendo um momento romântico com alguém. Não parecia certo pra mim, mas eu não sabia explicar o porquê. Simplesmente não me encaixava nisso.
- Pelo menos você não é como certas pessoas que ficam gostando de todo mundo...
Eu sabia que Alice estava falando da Sarah e ri do comentário.
- Acho que se isso algum dia acontecer comigo – observei pensativa – vai ser pra sempre. Não me vejo pulando de namorado o tempo todo.
- Muito romântica – ela sorria seu sorriso luminoso e isso me fez bem.
- Não sou, não! Por isso acho que se me apaixonar vai ser pra valer, porque não faço o gênero Romeu e Julieta. Aliás, acho esta história um saco. Com todo respeito ao autor, é claro.
- Será mesmo? Acho que só não conheceu a pessoa certa.
- Nem sei se acredito em pessoa certa – disse com ar de dúvida. – Acho que o amor é um acaso inconsciente, sei lá. Uma coisa randômica.
- Então não acredita em almas gêmeas, amor à primeira vista, coisa predestinada?
Fiz uma careta pra ela e ri.
- Eu acredito! – disse Sarah, metendo-se na conversa.
Imaginei há quanto tempo ela estava ouvindo. Por alguma razão eu estava implicando com Sarah aquela manhã e isso não era justo. Ela era minha amiga mais antiga e eu estava rabugenta demais. Sabia disso, mas simplesmente não conseguia evitar. Respirei fundo para melhorar meu humor e levantei a cabeça em direção às janelas do refeitório.
E então eu o vi. Desta vez não era uma impressão. Ele estava parado me olhando e eu pude vê-lo com nitidez. Era muito alto e forte, tinha olhos de cor indefinida, cabelos entre o loiro e o ruivo, grossos e brilhantes, presos em uma longa trança que caía até a cintura. Lentamente ele sorriu e levou o indicador até os lábios, pedindo silêncio.
Meu coração disparou e minhas mãos começaram a suar frio. A adrenalina corria solta em meu sangue, meu corpo tremia incontrolavelmente e eu senti meus olhos congelarem, arregalados. Eu não respirava. Todos os sintomas de pavor estavam presentes, mas eu não estava com medo, como se meu corpo reagisse de um jeito e minha mente de outra.
Quem era aquele homem? Era de verdade, era uma alucinação, um fantasma, um demônio? Por alguma estranha razão pensei que ele estava aparecendo para a pessoa errada, quem deveria vê-lo era Britt e não eu. Tudo isso não durou um segundo, acho.
- Megan! O que foi? – Sarah agarrou meu pulso e o largou imediatamente como se tivesse levado um choque.
Eu estava congelada, catatônica. “Pisque!” – ordenei a mim mesma, evitando tornar aquilo pior do que já era. Demorei o que me pareceu uma eternidade para consegui descer e subi as pálpebras e respirar novamente.
- Meu Deus, Megan, o que aconteceu? – Sarah estava assustada.
Eu tentei balbuciar alguma coisa, mas não consegui encontrar nada para dizer.
- Falta de sono – Alice me salvou com apenas três palavras. Nunca me senti tão agradecida a alguém como naquele momento.
- Foi isso mesmo, Meg? – A preocupação de Sarah era evidente.
Eu assenti com a cabeça e olhei de relance para Alice. Ela também parecia preocupada, mais do que suas palavras diziam.
- Eu estou bem – murmurei envergonhada. Não ousava erguer os olhos para nossos colegas de mesa, mas logo percebi que nenhum deles notara meu momento, entretidos que estavam com as fofocas habituais.
- Talvez seja melhor você ir para casa – Sarah não desgrudava os olhos de mim – Quer que peça para chamar sua mãe?
- Não! – A voz saiu mais alta do que eu pretendia e vários pares de olhos se voltaram para mim naquele instante – Não precisa, eu estou bem, juro! – eu estava quase suplicando.
Sarah suspirou ruidosamente.
- Mas você vai prometer que vai dormir cedo hoje.
- Eu prometo. Assim que voltarmos da loja, eu vou dormir. Mesmo!
- É melhor você ir direto para casa – observou Alice – eu compro seu ingresso caso você queira.
- Eu estou bem, não foi nada.
- Você está branca feito um fantasma! – Sarah ainda me olhava com preocupação e aquilo me incomodava mais que tudo, mas não deixava de ser engraçado. Eu, feito um fantasma. E se ela soubesse?
- Eu estou bem e depois eu quero ir com vocês – insisti.
- Ok, mas vou ficar colada em você até o final das aulas.
- Ta legal, Sarah, mas eu juro que estou bem, já passou, foi só falta de sono como disse a Alice.
Não foi fácil, mas consegui convencer as duas de que eu estava bem e a mim mesma de que aquilo não era nada, apenas privação de sono. Durante o resto das aulas mantive minha cabeça concentrada na matéria, não me permitindo qualquer pensamento que não fosse sobre o assunto em questão.
Quando saímos da escola demos de cara com Paul e Greg, o irmão mais velho de Sarah, que esperavam no estacionamento para nos dar carona.
- Nós vamos comprar os ingressos do show. – avisou Sarah.
Então, virando-se para mim ela perguntou em voz mais baixa:
- Tem certeza?
- Absoluta – respondi com firmeza.
Quinze minutos depois me arrependi profundamente de não ter pegado a deixa e ido direto pra casa. A fila para os ingressos ocupava certa de três quarteirões e o dia não estava lá muito convidativo para se ficar fora de um lugar quente e abrigado. Cinza e pesado, com chuva fina e vento gelado, pedia um sofá e um filme, um chá ou um chocolate, não uma fila quilométrica cheia de fãs alucinados vestidos como seus ídolos.
Alice me mandou um olhar enviesado, cheio de duvidas, mas então já era tarde. Greg nos despejou ali, nos deixando incumbidas de comprar o ingressos para ele e saiu em disparada.
Tédio, tédio e tédio. E frio, muito frio. A fila andava lentamente e depois de meia hora parecia que não tínhamos saído do lugar, embora houvesse, então, pelo menos mais umas cinqüenta pessoas atrás de nós.
Nem mesmo Sarah, que parecia uma matraca, tinha mais assunto. Alice me olhava às vezes e eu podia ver que ela estava tão aborrecida quanto eu, mas havia mais em seu olhar. Ela estava me vigiando, temendo que a cena daquela manhã se repetisse.
Eu suspirei e comecei a divagar. Pensei nas lições que tinha fazer e depois em que livro iria ler esta noite, durante e madrugada. Achei que seria bom comprar um cd da banda, já que ia ao show, ao menos para conhecer melhor as musicas, uma vez que não sabia nenhuma. Depois pensei que tinha prometido a Fred – meu irmão mais novo – que iria ajudá-lo com seu trabalho de Ciências e que precisava pregar um botão em minha blusa azul. Por fim, nem eu tinha mais no que pensar e minha cabeça aproveitou a brecha para tirar uma soneca.
Tédio, tédio, tédio.
Quando me pareceu que iria dormir em pé na fila, fui arrancada de meu estado catatônica por uma gritaria assustadora e desconexa. Olhei para Alice, confusa. O que havia acontecido?
- São eles! – Sarah estava histérica. – Olha, OLHA!
Eu virei lentamente a cabeça na direção que ela estava apontando e vi uma fila de carros pretos parados do outro lado da rua e vários seguranças postados em torno dos automóveis com expressões que desencorajariam qualquer fã que pensasse em se aproximar. Mas como todo mundo sabe, é preciso muito mais do que uma cara feia para impedir que alguém se aproxime de seus ídolos e a bagunça começou.
Gritos e empurrões, gente tirando foto e gravando a cena pelo celular, choro, histeria. Sarah correu em direção aos carros e eu e Alice nos olhamos, perguntando uma à outra o que fazer.
- A fila está vazia – comentei – Você quer ir lá ou vamos comprar os ingressos?
- Ingressos, definitivamente – ela disse, tão assustada quanto eu.
Corremos em direção à loja, sem perceber que os carros estavam se movimentando novamente e junto com eles a multidão alucinada. Nós entramos o mais rápido que conseguimos e compramos os ingressos e o meu cd. O tumulto começou a ficar mais alto e Alice me puxou para perto dela, me obrigando a olhar para a porta. Os seguranças haviam feito um corredor para os músicos entrarem, provavelmente para autografar os CDs e DVDs da banda. Não foi preciso trocarmos uma palavra sequer, nós duas pensamos a mesma coisa. Disparamos para o lado contrário, nos enfiando entre os corredores de discos, o mais longe possível da entrada da loja e acabamos ficando de costas para os músicos.
O gerente da loja, prevendo que aquela confusão não acabaria bem mandou abrir uma porta lateral e nós escapulimos por ela antes mesmo da banda entrar.
- E a Sarah? – perguntei atordoada quando nos afastamos o suficiente para me sentir segura.
- Deve estar lá dentro. Eu não a vi, você viu?
Eu fiz que não com a cabeça. Estava me sentia péssima e toda aquela confusão só piorava meu estado. Meu corpo estava mole, drenado e minha cabeça parecia o deserto do Saara, uma imensidão vazia e distante, sem qualquer sinal de vida. O que estava havendo comigo, afinal?
- Vá pra casa, Megan, eu espero a Sarah. Você consegue ir sozinha?
Eu concordei sem pestanejar. Sabia que ia cair dura no chão a qualquer momento e não queria que isso acontecesse ali. Já havia dado vexames demais para um dia só.
Sinceramente, não lembro como cheguei em casa, mas acho que havia um ônibus envolvido no processo. A chuva havia engrossado, eu estava molhada e dura de frio, a cabeça vazia, o corpo exausto. Caí na cama e dormi em seguida, ou talvez já estivesse dormindo pelo caminho, não sei dizer. Só sei que mais pontual que um carrilhão inglês, eu acordei às duas da madrugada, zonza, sem saber onde eu estava e como havia chegado ali.
Demorei longos minutos para reconhecer a luz do relógio e outros tantos para me localizar. Minhas roupas estavam secas e meu cabelo parecia um ninho mal construído por um pássaro apressado. Acendi a luz do abajur e pisquei algumas vezes. Havia uma bandeja ao meu lado, com chá frio e dois sanduíches de queijo. Olhei para ela com ternura, imaginando quem a havia deixado lá. Pai, mãe, quem? Por alguma razão meus olhos se encheram de lágrimas e desejei ter cinco anos de novo, para poder me afundar no colo da minha mãe e chorar. Uma angustia profunda e uma dor sem fim se apoderaram do meu peito. Dor de perda, de morte, de solidão. O estranho é que eu parecia conhecer aquilo, não era novidade pra mim. A novidade era a revelação da dor, porque ela sempre estivera ali, escondida, calada, sufocada. A sensação de que alguma coisa estava faltando, de que eu jamais seria completa. E por alguma estranha razão a dor estava escolhendo aquele momento para se revelar por inteiro e eu caí no choro sem dó nem piedade. Depois de algum tempo, não sei dizer quanto, adormeci novamente, vagando num mundo de sonhos confusos, escuros e gastos como as sombras de um passado desbotado.
O misterioso homem de cabelo trançado estava lá e ele corria desesperado, tentando salvar alguém, sem conseguir. Eu podia sentir o desespero dele e eu lhe pedia que se acalmasse, que tudo ficaria bem, mas ele não me ouvia. E novamente sombras tempestuosas caíram sobre as imagens e finalmente eu afundei na névoa densa, vazia e estéril de um sono sem sonhos.
Continuação - Do diário de de Bill Stone
Não devíamos estar ali, mas eu não conseguia impedir minha alma de me forçar a seguir meus instintos. Eu simplesmente tinha que rodar por Red Leaves, eu sabia que daquela vez não estava errado. Eu sentia que era a coisa certa a fazer, porém convencer os outros não foi fácil. Já havia sido uma batalha fazê-los aceitar incluir um show extra na turnê, principalmente em uma cidadezinha enfiada no meio do mato, quase na divina do Canadá, agora eu queria rodar pelas ruas, olhá-las, senti-las, procurar algo que nem eu mesmo sabia bem o que era.
Quando pedi à Tray que virasse em determinada rua, eu a senti. Ela estava por ali em algum lugar, cada célula do meu corpo dizia isso, gritava isso. Vimos a fila na calçada e nos sentimos tocados com aquilo. Chovia e fazia frio, o dia estava imprestável e, no entanto, aquelas pessoas enfrentavam tudo apenas para conseguir um ingresso para nos ouvir tocar e isso foi algo que nos honrou de tal forma que as reclamações sobre fazer uma apresentação no “fim do mundo”, como dizia Pops, passaram para segundo plano. Eles eram fãs e nós os ídolos deles, pouco importava se estavam em Nova York ou ali em Red Leaves, nós devíamos isso a eles.
Tray dirigia muito lentamente, todos nós de olhos colados na fila sentindo a inversão dos papéis; naquele momento todas as pessoas da fila eram nossos ídolos e nós seus fãs mais ardorosos.
De repente eu senti um formigamento insuportável me percorrer e meu corpo tremeu incontrolavelmente a ponto de Pops me olhar com olhos preocupados.
- Pare – disse a Tray. – Nós vamos entrar nesta loja.
- Você ficou louco? Vamos criar um tumulto aqui!
Pops estava certa é claro, o tumulto seria inevitável, mas não seria o primeiro e nem o último que causávamos e eu tinha ótimas razões para fazer o que fazia.
Tray olhou-me pelo retrovisor e ao ver meu estado, ele soube.

Bill

***

Adorei mesmo, e agora mais ainda por saber que ela é brasileira! Eu recomendo!

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Série Moreland - O poder do Amor - Candace Camp

O Poder do Amor - Primeiro livro da série Moreland

Título original: Mesmerized

Olívia Moreland estava prestes a desmascarar mais uma médium falsa quando foi impedida por um homem que segurou seu braço e a acusou de ajudar a médium. Por culpa dele perdeu mais uma chance de realizar seu trabalho, e ainda por cima ele teve a audácia de chamar sua família de " Os Loucos Moreland"! Mesmo sentindo raiva por esse senhor, não pôde tirar da cabeça a sensação de que já o conhecia a muito tempo, mesmo que nunca o tivesse visto antes. Stephen Saint Leger se arrependeu por ter chamado a srtª. Moreland de louca, principalmente porque ela não saía de sua cabeça. Chegando à casa, sua mãe o avisou que convidara a médium que consultava para passar um tempo em seu solar no campo. Não gostava da idéia, mas logo um plano surgiu em sua mente, poderia desmascarar Madame Valenskaya e passar algum tempo junto de Olívia Moreland. Olívia e Stephen embarcam numa missão que se releva mais arriscada do que esperavam, com algo sombrio rondando-os, mas além disso os levando a explorar a inegável atração entre eles.
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Romance sobrenatural. Para quem gosta do genêro, é muito bom! Tem mistério, espiritismo, vidas passadas, e o principal: amor. Achei fofo! E fiquei ligada do início ao fim.
O que eu gosto dos livros de mistérios da Candace é que eles não são óbvios, a gente só descobre mesmo no final.
Eu recomendo!
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Download:

http://www.4shared.com/file/141197502/52fd9bb7/Candace_Camp_-_MORELAND_1_-_O_.html?s=1

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Prova de que estou surtando!


Meu mosaico de gelatina!
=]

Acho que estou surtando I


Só pra dizer que estou tentando terminar a minha monografia...
Talvez eu tenha um surto psicótico antes do fim, aí vou virar meu próprio objteto de estudo...


Socorro!!!

domingo, 13 de dezembro de 2009

Janet Dailey - Amor Proibido

Sinopse:
Jordanna Smith era a filha impetuosa e elegante de um destacado banqueiro e de uma colunável glamourosa, uma caçadora que atravessava o mundo ao lado do pai em busca das feras mais bravias. Aos olhos dela ninguém se comparava a seu pai... até a noite em que Jordanna encontrou um rude e estranho jovem que, num momento de exaltação e frenesi, tocou as raízes de um desejo que ela jamais havia conhecido. Um caso de amor vivido intensamente por dois jovens apaixonados, pelos conflitos de uma família, por um assassinato misterioso e emoções sem conta que fazem deste romance talvez o melhor da autora.

Donwload:
http://www.4shared.com/file/21965278/6827107d/
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Bom, eu adoro os livrinhos da Janet Dailey, mas sei que não é todo mundo que gosta. Seus personagens masculinos são crus, meio primatas. Os homens costumam ser altamente viris e máculos, por vezes até meio rudes, do tipo homens da caverna. São tão grosseiros que as vezes nos dá raiva, mas eu adoro!
Dos livros que eu li dela, esse foi o que eu menos gostei. Não que eu não tenha gostado desse, eu gostei sim, mas é que eu amei os outros. Os livros Amante Indócil e A Carícia do Vento estão dentre os meus preferidos de todos os que eu já li.
Bom, o casal protagonista só se encontra lá pela página 70. Mas em compensão... Qdo se encontram... compensa a demora, pq saí até faísca desse encontro! Meu Deus, que homem! Ele simplesmente toma o que quer sem pedir!!!! Adorooooooooooo!
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A versão para baixar tá péssima, mas eu não achei a que eu tinha baixado. Tem que configurar melhor para ler. A que eu li também estava assim, com o dialógo e o texto tudo junto.

****
Primeiro encontro, ele pensando mal dela, e mesmo assim não resistindo:
- Seu drinque ofereceu ela, estendendo a mão que segurava o copo dele.
Ele também estendeu a mão, mas seu objetivo não era o copo. Seus dedos se fecharam ao redor da cruz de jade, aninhada no vale entre os seios dela. Ao invés de erguê-la para poder olhá-la mais de perto, deixou-a ali, onde sua mão podia apoiar-se nas curvas fartas dos seios dela. Seu gesto era insolente, mas era difícil demonstrar indignação, quando um tipo de chama completamente diferente estava aquecendo a pele dela.
- Jade engastado. É muito lindo... e caro.
Ergueu os olhos para o rosto dela, e Jordanna retribuiu o olhar firme.
- É, sim. -
Conseguiu manter a voz calma e firme. - Importa-se de tirar a mão daí e pegar o copo?
O olhar dele percorreu devagarinho o rosto dela, como se ele estivesse se decidindo.
Acho que me importo. Parecia absorto.
Era um desafio, uma luva atirada ao chão. Jordanna deu-se conta de que estava sendo atiçada para apanhá-la.
- Se não tirar a mão, serei forçada a derramar esta bebida na sua cabeça - ameaçou, calma e solenemente.
- Não faça isso.
Essa frase parecia uma ameaça mais ominosa do que a dela. Seus dedos subiram pela corrente de ouro, juntando-a e retorcendo-a, num círculo apertado, pouco abaixo do queixo da moça.
O movimento fora puramente instintivo. A corrente de ouro era fina e forte. Brig deu-se conta de que, com mais uma torção, funcionaria como um garrote satisfatório. Como estava, conseguia o seu objetivo de mantê-la imóvel, sem se debater. Notou os elos finos de ouro esticados no pescoço dela, e tomou cuidado para não exercer mais pressão e machucar-lhe a pele.
Porra, mas ela tinha uma pele linda. Será que o resto do seu corpo era do mesmo marfim macio que via? Brig não culpava Fletcher por fazer dela sua propriedade particular, sua amante. Não esperara que sua beleza impecável se saísse galhardamente ante um exame mais aturado.
Olhou-a nos olhos. Ela estava desconfiada, insegura do que esperar dele, mas não parecia ter medo. Tinha coragem... e seu próprio tipo de força. Brig pensou nas outras mulheres com quem trepara nos últimos vinte anos, e percebeu que ela era mais mulher do que todas. Mas sabia o que ela era, e aquilo o deixava irritado.
Baixou o olhar para os lábios dela, e sentiu que precisava prová-los. Sua boca os cobriu. Estavam frescos ao toque, não estavam aquecidos pelos beijos que tinham vindo antes do dele. Mas eram macios, muito macios. Brig largou a corrente de ouro e segurou-a pelo pescoço, para manter imóvel a cabeça dela.
A cruz de jade voltou para o seu ninho no vale entre os seios dela, quando a corrente foi largada. Jordanna sentiu seu frescor mais uma vez, de encontro à pele cálida. Não resistiu à mão firme que envolveu seu pescoço. Ficou passiva ante o beijo dele, mas a persuasão suave da boca daquele homem estava dissolvendo aos poucos tal passividade. Os pêlos macios do bigode excitavam-lhe a pele, enquanto os lábios quentes e másculos cortejavam os dela, explorando cada curva e cavidade com naturalidade e segurança. A pulsação do seu pescoço latejava contra o dedo dele, revelando o bater rápido do seu coração. De livre e espontânea vontade, seus lábios começaram a grudar-se aos dele.
Vagarosamente, ele ergueu a cabeça. Os olhos dela estavam dilatados e levemente intrigados. Na sua expressão, havia uma pergunta velada que Jordanna era orgulhosa demais para fazer. O rosto dele era inexpressivo. Sem dizer palavra, ele tirou os copos da mão dela e pousou-os na escrivaninha.
Quando ficou de frente para ela de novo, não fez nenhuma tentativa de tomà-la nos braços, nem colocou distância entre eles. Aquilo era opção dela. Estava-lhe sendo dada a oportunidade de ir embora antes que ele a seduzisse. Mas Jordanna estava ainda mais firmemente intrigada por esse estranho, que não era como nenhum homem que conhecera.
Ele estendeu a mão para acariciar o brilho de mogno dos cabelos dela, afastados do rosto por uma travessa.
Tem lindos cabelos. Era uma simples observação, não um elogio destinado a lisonjeá-la.
Não havia necessidade de resposta, e Jordanna não deu nenhuma. Continuou a fitá-lo com um olhar firme, embora seu coração estivesse disparado. Ele pousou as mãos de cada lado do seu pescoço para puxá-la mais para perto, depois moveu-as para fazer escorregar as alças do vestido dos ombros dela e acariciar de leve os seus braços. Ela baixou os cílios trémulos. O toque dele lembrava-lhe a aspereza gostosa de uma língua de gato.
O hálito dele queimou-lhe os lábios um momento antes de sua boca cobri-los num beijo longo e inebriante. Soltando-se das alças do vestido, ela deixou suas mãos explorarem as tiras de aço flexíveis dos braços dele. Teve consciência dos seus seios dilatando-se para encher as mãos grandes cujas palmas os seguravam. Sentiu o sabor do uísque na língua dele, a nicotina nos seus lábios, saboreou o seu gosto másculo.
Com o polegar ele traçava círculos lentos em volta do bico rosado do seio dela, transformando-o num botão erótico. A fraqueza que acometera as pernas dela anteriormente voltou com força triplicada, e Jordanna oscilou de encontro a ele, que prazerosamente a moldou ao seu corpo. O calor que emanava de sua carne rija espalhou-se rapidamente pela dela, numa sensação debilitante.
Abrindo uma trilha de fogo dourado, a boca dele acompanhou a curva do maxilar dela até a cavidade sob sua orelha, descendo pela coluna macia do seu pescoço até a base da garganta. Sua cabeça inclinava-se para trás para dar-lhe maior acesso à área que mais agradasse a ele, enquanto Jordanna tremia de desejo.
Essa paixão quente e langorosa era algo que jamais experimentara antes. Produzia um mundo de sensações variáveis, como a lenta magia giratória de um caleidoscópio. Cada vez que sua pele formigava sob as carícias dele, ela tinha vontade de deter esse momento e guardá-lo para sempre, mas seu cheiro de macho sobrepujava essa sensação com sua força intoxicante, ou então ela provava o fogo indolente do seu beijo, esquecendo todo o resto, até que nova sensação a dominava.
Acomodando os quadris para a arremetida dos dele, tentou aliviar a dor latejante que a consumia aos poucos. As mãos dele estavam na parte de trás da sua cintura. Jordanna sentia a fazenda que a envolvia ficar frouxa, enquanto o zíper era baixado silenciosamente. Então, a força que ela previamente apenas suspeitara existir foi-lhe revelada quando ele a levantou, deixando o vestido e a combinação no chão, sem fazer mais esforço do que faria para levantar uma criança. Com a mesma facilidade, tomou-a no colo. Jordanna ouviu o barulho dos seus sapatos caindo ao chão, mas não tinha consciência de tê-los arrancado dos pés. Envolvendo com os braços a coluna bronzeada do pescoço de Brig, deparou com a luz franca de desejo que brilhava nos olhos dele. Ela não se desviou dos seus olhos, nem os afrontou. Era bem mais simples do que isso. Não havia necessidade de representar, nem o papel de virgem nem o de mulher fatal.
Levando-a até a lareira, ele deixou-a sobre o tapete de pele de urso. Quando seus braços retiraram o apoio, Jordanna caiu de joelhos antes de esticar-se de lado, parcialmente sustentada por um cotovelo. O pêlo felpudo do tapete de urso roçou na sua pele nua, excitando ainda mais seus terminais nervosos, já sensíveis. A pele do animal era um colchão primitivo, mas atendia às necessidades deles.
Ficou olhando-o despir-se. Ele tirava as roupas com simplicidade e sem pressa, fazendo o movimento parecer natural e puro. Quando veio juntar-se a ela, Jordanna sentiu o sangue correr mais depressa nas suas veias. Quando o calor do corpo dele incendiou o dela, as suas mãos entraram em contato com a carne sólida dos ombros e das costas musculosas de Brig. Enquanto o forte beijo dele sufocava a boca de Jordanna, doce e submissa, suas mãos hábeis manipulavam respostas em todas as áreas que tocavam.
Um aperto na boca do estômago transformou-a num nó enroscado de desejo. Ela emitia baixinho sons lamuriantes, mas ele ignorava as suas súplicas silenciosas para aliviar a tensão insuportável. Ninguém jamais fizera amor com ela assim, sem pressa, como se tivessem todo o tempo do mundo.
Numa aurora gradativa de descoberta, Jordanna deu-se conta de que ele esperava dela algo mais do que um simples recipiente para a sua satisfação. Queria que ele desse de volta... desse de si. Nenhum homem exigira isso dela. Essa exigência natural de um compromisso era assustadora, mas não tão aterradora quanto o vazio negro que ameaçava engoli-la, se recusasse.
Suas reações foram cautelosas, a princípio, ganhando confiança com o encorajamento sensual e hábil por parte dele. Ela foi arrastada para um torvelinho de desejo alucinante. Quando ele largou o peso do corpo em cima dela, pensou que ia afogar-se de êxtase. Ao invés disso, foi alçada cada vez mais alto, até que o mundo pareceu explodir numa exibição ofuscante de luzes que iluminaram cada canto do seu ser.
Quando o ardente temporal de amor passou, sua pele estava toda orvalhada de suor. Jordanna esperou o surgimento das sombras, mas elas não conseguiram escurecer o momento. Os cantos de sua boca se aprofundaram ligeiramente para refletir um sorriso interior. Uma mão calosa alisou-lhe a face e afastou as mechas de cabelo que se grudavam à sua pele úmida. Seus olhos estavam suaves e maravilhados, quando ela os abriu para fitar o homem que a examinava em silêncio. As feições fortes e magras tinham um ar absorto. Inclinando a cabeça, deixou aquela boca demorar-se na dela por um instante de carinho.
- Há quanto tempo não faz amor por simples prazer?
A voz dele era baixa, levemente arrastada na sua curiosidade.
- Eu... - Como poderia dizer "nunca"? - Eu... não sei.
Algo de sombrio perpassou pela fisionomia dele. Jordanna perguntou-se por que sua resposta o desagradara. Admitira o quanto se sentira especial nos braços dele. A maioria dos homens ficaria estufada de orgulho, se uma mulher lhe dissesse isso.
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Adoroooooooooo essas cenas dela!

sábado, 12 de dezembro de 2009

Filme - Julie e Julia - 2009



Direção: Nora Ephron
Roteiro: Nora Ephron
Elenco: Stanley Tucci (Paul Cushing Child), Mary Lynn Rajskub, Chris Messina, Meryl Streep (Julia Child), Amy Adams
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Sinopse: "Julie & Julia" intercala a vida de duas mulheres que, apesar de separadas pelo tempo e pelo espaço, estão ambas perdidas... até descobrirem que com a combinação certa de paixão, coragem e manteiga, tudo é possível
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Adorei! Nossa, me identifiquei muitoooooooooooo com o filme!
Julie precisa de algo para se livrar da rotina, tipo uma válvula de escape, para se desestressar, e para isso cria um blog. Eu também tenho o meu blog e várias amigas virtuais. Enquanto ela cozinha, eu escrevo e leio.
As duas personagens tem no marido o melhor amigo. Eu tb. Me identifiquei muito com o relacionamentos de ambos os casais. Fofos e felizes.
Julia também quer arranjar algo para fazer, e por isso inventa o curso de culinária e depois o livro. As duas personagens querem publicar livros, aliás.
A melhor amiga da Julia... é tipo a minha melhor amiga virtual. Só que ao invés de trocar e-mail, elas trocam cartas. Adorei! O Fred disse: "olha, parece tu!"
Gostei muito do filme! Tem algumas cenas engraçadas. A mais engraçada para mim foi a enorme pilha de cebolas. - :D
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Eu recomendo!



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Kinley MacGregor - Nascido em Pecado


IRMANDADE DA ESPADA 01
MACALLISTERS 03
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Embora poucos possam presumir saber manejar a espada tão bem como ela, Caledonia MacNeely não pode evitar sentir um forte desgosto quando se vê oferecida em matrimônio ao tristemente famoso Lorde Sin – Sin significa “pecado”. Embora esse misterioso desconhecido a encha de temor, tanto pelas escuras falações que o cobrem de infâmia como pelo calor de seu contato, Callie tem que obedecer às ordens do rei inglês.
Com o destino de seu clã pendendo de um fio, não ficam muitas alternativas.
Rechaçado por todos desde a mais tenra infância, Sin MacAllister aprendeu a desprezar sua herança escocesa. Agora, em cumprimento de uma perigosa missão, deverá retornar às detestadas Highlands, depois de contrair matrimônio com uma sedutora jovem cujos cabelos vermelhos são um reflexo de seu espírito fogoso…

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Adorei!!! O Sin é tão sofrido, tão fofo!!! Nunca ninguém amou ele, ele nunca teve carinho. Gente, acho que ele é um dos personagens mais perfeitos que eu já conheci!!! Dá vontade de colocá-lo no colo e cuidar dele! E por outro lado, ele é alto, forte, grandão e poderoso. Ninguém conhece esse lado carente dele, chamam ele de demônio e de ogro. O Sin é lindoooooooooo!

Esse é o terceiro livro da série, gostei tanto desse quanto do número 1. Já do segundo, eu não gostei. Nem acabei de ler, achei tão chato que parei pela página 40.

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Donwload:

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Nossos Rabiscos...

A partir de hoje quem quiser ler nossos romances deve entrar nessa comunidade do orkut: http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=96829533

Ela acabou de ser criada e está em construção, mas já estamos publicando nossas estórias.
Tânia está postando Fantasia, Garota do Metrô e Força de Anita.
Indira está postando Confissões de Heloísa, depois postarei Novo Horizonte e talvez depois Despedida de Solteira.

Sinopses:

*Confissões de Heloísa
Heloísa decide repensar sua vida depois de finalmente perceber que ela está completamente fora dos trilhos: Sofreu um aborto enquanto trabalhava sem fazer a mínima idéia de que estava grávida; mal consegue ver a filha que praticamente está sendo criada pela babá; e desconfia seriamente que o marido tem outra.
Sem coragem para enfrentar a realidade prefere dar um tempo longe de todos, e escolhe uma cidade em outro canto do Brasil, onde encontra o apoio da melhor amiga. Sem fazer a mínima idéia de que essa viagem vai causar uma reviravolta de 360 graus, e que seu o casamento mais do que nunca vai estar em jogo, quando conhece seu chefe num emprego temporário, um homem rude, estúpido e grosso, que não mede palavras em nenhuma situação.

.:. Romance não recomendado para menores de idade por conter cenas fortes de sexo.

A Força de Anita
Anita é uma menina alienada, de 17 anos, que sempre foi mimada e protegida pelos pais, até que numa noite eles somem misteriosamente. Sua vida mudará do dia para a noite e nunca mais será a mesma. Mas, afortunadamente, Anita contará com o apoio de Ivan e de sua família. Anita e Ivan se apaixonam, e seu amor por ele a deixará forte para enfrentar o que vier pela frente


Fantasia
Lia é bonita e descolada, e nunca se apaixonou. Sincera demais, talvez atirada demais, e certamente engraçada demais, faz o que quer sem pensar nas conseqüências, até que se apaixona. Mas você só descobrirá por quem (e provavelmente ficará confusa e indecisa com ela) nos últimos capítulos.
*
Nota da autora : Lia é minha personagem feminina preferida, ela é o oposto de mim (patricinha, atirada e fresca demais!) e na época em que eu a criei, ela era exatamente o que eu precisava. Minha auto-estima estava super baixa, e a Lia é tão poderosa, que acabou me passando um pouco do seu poder. Então, depois de terminar Fantasia morri de saudades dela e daí resolvi escrever outras histórias em que ela aparecesse.
*
Protagonistas : Lia, Nicolas e Roger
Gênero: Comédia romântica

Aproveitem a leitura!
Beijocas!

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Kinley MacGregor - O dono do desejo


Serie MacAllisters 01

Emily sempre sonhou ser esposa e mãe, mas seu pai tinha outros planos para seu futuro.
Mas quando este se enfrenta a um dos homens mais poderosos da Inglaterra, o rei Henrique II, decide que a melhor forma de manter a paz é entregar Emily como refém política a
Draven de Montague, conde de Ravenswood.
Draven não sabe o que é gentileza.
Foi criado para mostrar-se implacáve, e dedicou sua vida a servir à coroa.
Agora jurou ao rei que não tocará em um só cabelo de Emily, seja por aborrecimento ou por desejo.
Se ela tão somente o deixasse em paz…
Porque Emily o persegue sem pausa, obcecada com a idéia de convertê-lo em seu marido.
E o matrimônio é algo que ele não pode permitir-se, especialmente por causa da maldição familiar que mancha seu sangue…
***
Bom, desde que me falaram que o mocinho é todo sério e que a mocinha fica um bom tempo contando piadas para tentar fazê-lo rir, eu devo dizer que eu já fiquei atraída. Adoro homens carrancudos e retraídos. Enfim, fui ler com uma grande expectativa, e admito que ele não me decepcionou. O Draven não sabe rir. Não tem amigos. É um homem fechadão. Mas ele é fofo, desde o começo ele trata a Emily bem, pelo menos da melhor maneira que ele consegue.
Adorei! Livrinho gostoso e bem fofo.
*
Só não gostei da conjugação verbal. Não gosto que eles se referem um ao outro como Vos.
E demorei para sair da primeira página, demorei para ingrenar, mas depois da primeira página, a leitura flui de forma gostosa, apesar do VOS.
*
Gostei bastante:
A Emily é atrevida e vai atrás do que quer, ao contrário das usuais mocinhas de romance de banca.
Amei: a primeira vez que ele ri. - Fofo!
**
Donwload:

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Fases da Lua

Não se sinta tão seguro, meu bem...

Sou de Lua, você bem sabe. Minhas paixões são fortes e intensas, mas também são rápidas como chuva de verão. Hoje te amo, te entrego o meu corpo e o meu coração e te digo que você é único, o melhor, o que será pra sempre. Digo até te convencer que é verdade... Até que você mude sua vida por mim e para mim...

Mas um dia canso. Acho que você não é o mesmo de antes. Acho que aquele outro que apareceu sem mais nem menos pode ser melhor, até porque ele é novidade. Então faço um drama, digo que você não me ama mais, te faço implorar por mim, ou se cansar de mim, a esta altura tanto faz. Embora eu prefire ficar como vítima, porque assim te mantenho na minha teia, e se eu me cansar do outro, ou se ele não for como você, eu posso voltar atrás, sem parecer perversa.

Sim, sou meio perversa. Sou felina. Gosto de brincar com as minhas vítimas. Sou má e às vezes gosto de magoar por prazer, pra te ver chorar e me ofercer pra consolar. É uma forma de vingança, porque quando você me magoa eu finjo não sentir, pra descontar nesses pequenos momentos...

Pode ser que um dia eu pague pelas minhas maldades... E eu vou entender quando isso acontecer... Mas por enquanto vou saboreando o que me dá prazer... Grito quando sinto raiva... Choro quando a tristeza me invade... Danço e corro na chuva quando estou feliz... Sussurro no seu ouvido o que você gosta de ouvir quando sinto prazer... E quando sou má sou má. Sem culpa ou peso na consciência. Sou assim... De fases... Como a Lua...
Alguém já me disse isso... Então, meu bem, não se sinta seguro...


Divagações

Aproveitei o sol da tarde pra arrancar com a pinça alguns pêlos teimosos que teimam em surgir fora de lugar na minha sobrancelha. Aproveitei a coragem, apesar da cólica, pra passar um pano de leve na estante e tirar a poeira dos locais acessíveis. Retirei os lençóis e a colcha da cama, bati o travesseiro e depois arrumei tudo. Peguei as calcinhas secas no varal e dobrei-as, colocando-as na gaveta de acordo com a cor. Pus as roupas engomadas nos seus respectivos lugares.

Tudo isso ao som de Zélia Duncan.

Peguei uma faixa de cetim lilás que dava bobeira em cima da cama da mamãe e enfeitei os meus cabelos. Me olhei no espelho enquanto dançava o sambinha gostoso que tocava no meu micro-sistem. Sim, eu não tenho um MP4, tenho um sozinho branco muito fofo que parece um óvini, e que eu adoro.... Não gosto de música apenas dentro dos meus ouvidos, isso me incomoda e me deprime. Gosto de sentí-la em todos os meus poros...

Observei os contornos do meu corpo no espelho. Agradeci por estar mais magra. Acariciei minha barriga inxada por causa da menstruação imaginando quando teria um bebê ali dentro. Olhei para os meus seios e sorri. Lindos! Como eu queria.

Deixei de besteira e peguei a vassoura, tirando a sujeira do quarto tentando não fazer força com os braços.
Depois que vi o quarto limpo liguei o split, fechei a portae a janela e me joguei na cama, deixando Zélia continuar a invadir minha cabeça. Talvez isso me fizesse parar. Mas não fez.

Continuo cheia. Sinto idéias e palavras voando pela minha cabeça como elétrons em alta velocidade, como naquele tudo de Cookies, ou algo assim, não sei se o nome está certo, até porque Cookies significa biscoito em inglês, mas lembro de algo parecido nas aulas de Química da escola.

Me seguro para não ligar o computador e escrever, sim, porque é essa a minha vontade desde cedo. Escrever pra mim é um vício, e ele quase sempre leva vantagem sobre mim. Já passei algum tempo sem escrever, não por falta de idéias, porque elas nunca faltam, sempre estão ali, a espreita, num trecho de música, num olhar, num momento que parece simples, num sonho, e até quando não faço nada. Elas simplesmente vêm, e me pressionam, porque querem sair, querem estar numa tela de computador, querem ser salvas. Mas às vezes escrever dói, machuca e atrapalha... Nesses momentos consigo parar...

Mas a vontade sempre vem, e eu cedo, e deixo tudo que eu tenho pra fazer e sento em frente a esse Itautec que tanto me irrita com suas frescuras, mas que eu amo mesmo assim, e vou amar até ter dinheiro pra comprar meu Mac.

E quando as palavras fluem das pontas dos meus dedos para a tela branca eu sinto um alívio indescritível, como quem abre o botão de um jeans apertado, ou como quem descalça um sapato que está te matando. Mas o alívio é temporário. As palavras me escrevizam. Os pensamentos me dominam. Eu não consigo pará-los, nem desligá-los. Minha cabeça não dorme. Eu deito e levanto pensando em mim, nos meus personagens, nas minhas idéias, do que eu sinto vontade de escrever.

Sim, sou escrava das palavras. Sou dependente do prazer de escrevê-las. É uma droga que não me custa dinheiro, que não faz mal pra minha saúde, mas que consome mais tempo do que deveria.
Meu sonho é um dia ganhar dinheiro para fazer o que eu gosto, traduzir em linhas os meus sentimentos.

Enquanto isso não vem eu vou levando... Tentando encaixar minhas histórias na estória dos meus personagens... Fazendo-os aprender o que eu já aprendi a força, ou tentando fazê-los me ensinar a aprender o que ainda falta...

domingo, 6 de dezembro de 2009

Histórias com Vampiros - adoro!!!

Bom, vou começar a ler agora um romance de banca com vampiro, se eu gostar depois eu posto aqui.
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Qual o motivo desse post? Dizer que eu adoro histórias de vampiros! E mais: comecei a escrever um histórias também, apesar de ser meio diferente de todas as que eu já li. Mas... eu adoro histórias diferentes!
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Eu pensei: por que todos os vampiros tem que ser homens? Por que eu não posso fazer uma história com uma vampira mulher? E por que todos os vampiros tem que ser sensuais e viris? Eu não posso fazer uma vampira ingênua e inocente, que aos poucos descobrirá sua sensualidade? Sim, porque mesmo ela sendo inocente, na minha cabeça a sensualidade é inerente aos vampiros.
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Minha história atualmente ainda não tem nome, e eu só escrevi três capítulos. Tô sem pressa, escrevendo devagar. A história da Luiza (a última que eu escrevi) me cansou demais, porque não saia da minha cabeça. E agora, não quero que isso aconteça de novo.
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Três capítulos foram escritos, e eu vou postá-los aqui.
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Capítulo 1

Meus olhos estavam acostumados com a escuridão. O breu total do porão nunca me impedira de enxergar, embora não me agradasse de todo. Antigamente, eu temia o escuro, mas acabei me acostumando com ele. Seu silêncio. Sua negritude. Hoje eu inclusive dispensara a luz dos castiçais.
A minha vida toda se passara nesse porão. Pelo menos, a parte da qual eu me recordo. Não tenho noção de quanto tempo faz desde o dia que eu acordei ali pela primeira vez. Parece que foram anos. Muitos anos.
Não sei o que sou. Não sei porque me mantém presa. Só sei que as pessoas temem a mim, e que a minha aparência deve ser horrorosa, pela reação das mulheres que me trazem comida. Elas deixam meu alimento na porta, e simplesmente somem antes que eu as perceba. Uma vez eu vi uma delas. Quando nossos olhos se encontraram, os dela estavam repletos de pânico e ela fez o sinal de uma cruz em seu peito.
Nunca vi um espelho. Não tenho idéia da minha aparência. Nem saberia o significado de bonito e feio, se não fossem pelos livros que eu leio. Minhas mãos são pálidas. De uma brancura às vezes brilhante. Meus dedos são compridos. Comparando com as descrições dos livros, meu corpo é de uma mulher normal. Mas meu rosto, que eu nunca vi, deve ser tenebroso.
Meus cabelos são amarelos e compridos. Os cachos já alcançam minha cintura. Não tenho tesoura para cortá-los. Um dia, desesperada, eu os aparei com os dentes. Não ficaram feios, porque os cachos disfarçam as pontas puídas.
O porão é silencioso. Isolado de tudo e de todos. Sem janelas. Sem a menor visão do mundo. Apenas uma cama, uma mesa e uma cadeira me fazem companhia. E os livros.
O meu primeiro livro foi meu único companheiro durante muito tempo. 1 ano? 10 anos? 50 anos? Não faço idéia, mas foi um longo tempo. Foi me dado pelo padre Miguel. Em sua capa, eu descobri o meu nome. Ele dizia: “para Clarinha, do padre Miguel.” Era um romance. Orgulho e Preconceito, da Jane Austen.
Foi através dele que eu descobri que havia um mundo lá fora. Que havia ricos e pobres. Que existiam mulheres e homens. E o amor. Que as mulheres bonitas tinham mais chances de se casar. Que se uma mulher arranjasse um bom marido, ela poderia ter filhos e ser feliz para sempre. Descobri que havia o orgulho. E o preconceito. Que algumas pessoas simplesmente eram más.
Pelo visto, as mulheres feias não se casavam. E eu concluí que as horrorosas eram trancafiadas num porão escuro. Esquecidas do mundo.
Depois, vieram novos livros. Todos de romance. Conforme eu lia as histórias, eu me percebia diferente. Eu não me encaixava naquele mundo. Talvez por isso eu estivesse isolada.
Os personagens dos livros envelheciam com os anos, e depois morriam. Eu não. Eu logo constatei que as minhas mãos continuavam as mesmas de sempre. Brancas. Com a pele macia e sedosa (conceito que eu também descobri nos livros) e sem nenhuma ruga. Meus cabelos não ficavam brancos. Eu não envelhecia. Como eu podia não envelhecer? Como isso era possível? Minhas unhas cresciam, meus cabelos também, mas eu não envelhecia.
Nos livros, os alimentos dos personagens também eram diferentes dos meus. E eles tomavam banho. Banho! Eu fiquei extasiada quando li a descrição da água sobre a pele. Do cheiro de sabonete e de lavanda. Da fragrância de um perfume de rosas! Como seria? Os cheiros, a água.
Eu daria tudo por um banho, ou por uma daquelas belas roupas dos livros! Eu daria tudo para sair lá fora! Ver o mundo, e um dia, quem sabe, me apaixonar. Mas eu não podia. Se eu estava trancada num porão, eu devia ser uma aberração. Horrorosa. Quem seria capaz de me amar?
Tentei chorar. Outra descrição que eu vira nos livros. Mas eu era seca, desprovida de lágrimas. Mais uma idéia me encheu de pavor: e se eu também não tivesse sangue? Sangue: o líquido rubro descrito nos livros, isso eu sabia bem o que era. Seu cheiro. Seu gosto. Sangue me fazia salivar.
Procurei por algo cortante. Não havia nada ao redor. Então eu lembrei dos meus dentes. Afiados. Perfurei o meu braço. Sim, eu tinha sangue também. Fiquei olhando as gotas pingarem, e logo a ferida se fechou. O sangue sumiu. Olhando para o braço agora isento de cicatrizes eu me sentei na cama, intrigada. Não era assim que funcionava nos livros. Nos livros, algumas feridas custavam a se fechar.
Fechei meus olhos e tentei adormecer, mas por hábito do que por vontade. Eu nunca sentia sono, mas dormindo as horas passavam mais rápidas.

Gritos. Eu ouvi gritos. De supetão, eu sentei na cama de ferro com o colchão duro e os lençóis rotos, colocando meu livro para o lado. Eu era ágil como um gato. Um pequeno ruído era o suficiente para que eu despertasse e saltasse da cama.
Essa agitação não era comum por aqui. Só o silêncio. Meus olhos automaticamente se fixaram curiosos na porta grossa e pesada de ferro sem janelas.
- Você não pode entrar aqui! – escutei um gemido agudo de pavor. Uma voz feminina em pânico. Falava baixo, provavelmente para que eu não ouvisse. Mas minha audição era aguçada, era impossível que eu não entendesse cada palavra.
Uma voz suave e inalterada debateu:
- Eu posso sim. – um sacolejar de chaves. A chave girando na fechadura. Um barulho de papel se esticando. – Eu consegui a autorização.
- Por Deus pai todo poderoso! – a voz feminina se elevou em desespero – Você não pode entrar aqui!
- Por que não? – uma fresta se abriu. Fiquei parada, sentada na cama, esperando ansiosa. Eu nunca antes recebera uma visita!
- Ela é um demônio! Um ser do mal!
- Eu estou aqui para salvá-la. Esse é o meu papel. – a voz masculina argumentou, calma.
- Mas ela não pode ser salva!
- Todos podem ser salvos. – ele contrapôs, já entrando e fechado a porta. A mulher ficou no lado de fora e eu afinal pude ver o homem. Ele também me olhava.
- Mas ela não tem alma... – a mulher falou, mas o homem já estava de costas para ela, e de frente para mim. Dentro do meu porão.
O homem era idoso. Como nas descrições dos livros, ele tinha os cabelos grisalhos e um rosto repleto de rugas. Sobre os olhos, aros redondos de vidros que deveriam ser os óculos. Óculos! Eu nunca tinha visto um antes!
- Olá. – ele me sorriu com simpatia, após me analisar dos pés a cabeça. Não havia nada nas suas feições além do sorriso. Nenhum sinal do habitual horror. Ele então puxou uma cadeira e sentou-se no canto oposto ao meu. – Clara, não é?
Eu estava assombrada. Provavelmente com mais medo do que ele. Nunca na vida havia conversado com alguém! Pelo menos, não que eu me lembrasse. Se eu não falasse de vez em quando sozinha, nem saberia o som da minha voz. Aliás, eu não me lembrava de alguém ter me ensinado a falar. Nem a ler. Simplesmente quando eu acordei naquele longínquo dia aqui no porão, eu já sabia.
- Clara? – ele novamente perguntou. Meus olhos estavam arregalados. As íris dele eram azuis, como numa das gravuras dos meus livros. Da mesma cor do céu que eu só conhecia por fotografias.
Os olhos deles eram quase transparentes, de tão azuis. E lindos. Passei os dedos pálidos nos meus olhos. De que cor deveriam ser os meus? Algo assustador e diferente, certamente. Laranja ou vermelho. A cor do inferno. Ou a cor dos animais albinos.
- Seu nome é Clara, não é? – ele se mantinha calmo, mas eu captava um odor diferente no ar. Algo que ele exalava. Talvez fosse um pouco de medo. Então isso era uma espécie de perfume? Que aroma estranho tinha aquele homem.
Eu assenti, respondendo sua pergunta. Meu nome devia ser Clara, eu acho. Pelo menos era o nome que estava em todas as capas dos meus livros. Só Clara. Sem sobrenome.
- Eu trouxe para você. – ele me entregou um tecido, de uma cor incrível.
- O que é isso? – minha voz saiu pela primeira vez. Eu acariciei deslumbrada aquela suavidade roxa entre os meus dedos. Tão macio!
- É seda. É para você vestir.
- Oh! – só então eu percebi os trapos que eu vestia. Há meses as mesmas roupas. Só eram trocadas quando quase se desmanchavam. E ao contrário do que acontecia nos livros, elas não fediam. Nem eu. Eu era estranhamente inodora – Isso é um vestido?
- É sim. – ele ampliou o sorriso, provavelmente satisfeito por ver a minha euforia. Meu primeiro vestido!
Não resisti, tirei os trapos de roupas na frente do homem e coloquei minha linda roupa nova. Ele fechou os olhos para me dar privacidade. Eu estava tão encantada pelo vestido, que simplesmente me esqueci de sua presença.
Parei em pé, em frente à cama, e olhei para baixo. O tecido deslizava até quase cobrir os pés, que surgiam pálidos lá embaixo. Nunca vestira algo tão luminoso, e tão macio antes. Pena que eu não tinha um espelho.
- Você gostaria de ver sua imagem? – ele captou meu desejo.
Minha boca se abriu, na expectativa. Ansiosa. Meu reflexo, minha imagem! Como ela seria? Mas então, eu lembrei do horror na face daquela mulher.
- Não, obrigada. – eu sentei na cama, cabisbaixa. Eu era horrorosa. Melhor não me ver.
- Tudo bem. – ele não quis insistir.
- Obrigada pelo vestido, ele é lindo! – eu me deitei na cama, satisfeita. Olhei para o teto e sorri. Eu tinha um vestido como os dos livros!
- Você gostaria de mais alguma coisa?
- Qualquer coisa? – ansiosa, eu logo pulei na cama e novamente me sentei, observando-o.
- Se estiver ao meu alcance.
- Sabe, senhor...?
- Mariano. Sou o padre Mariano.
- Senhor padre Mariano...
- Pode me chamar de Mariano, Clarinha.
Clarinha... Era tão agradável ouvir o diminutivo vindo da boca de outra pessoa. Soava de uma maneira afetuosa. E afeto era algo que eu desconhecia.
Talvez eu tivesse arranjado um amigo. Meu primeiro amigo. Cruzei os braços sobre o meu peito, ressabiada. Era melhor não pedir nada, melhor não arriscar essa amizade. E se ele não gostasse e não viesse mais me visitar?
- O que você quer, Clarinha?
Clarinha. De novo. Senti vontade de chorar. Fitei o chão. A brancura dos meus pés balançava, inquieta.
- O senhor é um anjo? – eu balbuciei. Pelos livros, os anjos eram seres bondosos, capazes de amar até alguém horripilante e demoníaco como eu.
Ele achou graça das minhas palavras e gargalhou. O som da sua risada preencheu o porão. Era um som tão lindo! Algo indescritível. Nunca antes ouvira nada parecido, e aquilo encheu meu peito de felicidade. Eu sorri com ele. Mas não gargalhei. Mesmo se eu quisesse, eu não sabia como gargalhar.
- Não sou um anjo, Clara. Sou apenas um padre. Um homem a serviço de Deus.
- Deus sabe que eu existo? – perguntei, insegura. Deus era bom, eu sabia pelos livros. Ele sempre era lembrado nas partes boas e nos momentos felizes. E eu? E se eu fosse um ser do mal? Não seria melhor que ele não soubesse na minha existência?
- Sabe. E me mandou cuidar de você.
- Ah, é? – fiquei boquiaberta – Mas o senhor não tem medo de mim? Todo mundo parece que tem... – comentei em tom baixo.
- Não. Confesso que estava com medo antes de conhecê-la, Clarinha, mas você até agora não me apareceu nenhum pouco assustadora.
- Verdade? – eu sacudi meus cabelos loiros e mexi meus ombros. um pouco tensa – Eu não sou horrível?
- Horrível? Você? – ele pareceu não entender.
- Minha aparência. – eu expliquei.
- Oh! Você nunca se viu num espelho! – ele ficou chocado.
Eu neguei com a cabeça, sentindo-me envergonhada.
- E você gostaria? – ele perguntou após me analisar.
- Eu tenho medo.
- Clara... Do que você gostaria? Eu posso fazer algo por você.
- Não precisa, senhor. – eu mordisquei meus lábios e respondi num tom humilde - Mas se quiser mesmo fazer alguma coisa...
- Sim?
- Pode vir me visitar de vez enquanto.
Ele sorriu para mim e concordou com a cabeça.
- O que mais, Clara? Você ia me dizer algo que quer. Não tenha medo. Se estiver ao me alcance, eu prometo que farei.
- É? – mesmo insegura, eu decidi arriscar - Então eu quero um banho. E sabonete de rosas.
- Oh! – ele pareceu totalmente surpreso. Depois sorriu para mim. – Pode deixar. – olhou para o seu relógio impaciente. – Tenho que ir, eles não me deixaram ficar muito tempo aqui. Todo mundo me dizia que era perigoso.
- Por que eu sou horrorosa...
- Não, Clara. – ele sorria para mim. – Você não é horrorosa. – ele já estava na porta, saindo – Você é tão linda, que mais parece um anjo. E vai ficar ainda mais linda depois de um banho.
- Oh!
Eu fiquei sozinha. De novo. Como na minha vida toda. Então era isso? Eu não era um demônio, mas um anjo? Não fazia sentido!
Podia não fazer sentido, mas eu não me importava. Eu podia ser diferente, as pessoas podiam ter medo de mim, mas eu era linda! Como um anjo! Sorrindo, encantada, eu me joguei na cama e gargalhei pela primeira vez na vida. Descobrindo com surpresa o som da minha própria gargalhada.
Talvez um dia eu pudesse ser amada por alguém, afinal.
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Capítulo 2
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Vozes no corredor. Por trás da pesada e impenetrável porta de ferro, eu ouvia inicialmente sussurros. Em seguida, o tom foi se elevando até se transformar em gritos.
- Eu não vou entrar ai! Deus me livre guarde! – exclamou uma mulher alterada – Afonso! Diga a ele que eu não vou entrar!
- É a vontade de Deus, Zuleika. – um homem contrapôs, e eu reconheci sua voz.
Eu sorri. Era o padre Mariano! Ele estava de volta! Ele mantivera a promessa! Ele não tinha me abandonado!
A porta se abriu, e o idoso simpático entrou.
- Venha cá, Clarinha.
E eu fui. Ele segurava uma chave e ergueu umas argolas grossas de ferro que estavam firmemente cimentadas à parede escura de pedras.
- Terei que colocar isso em você, querida. Mas não tenha medo.
- Por quê? – eu perguntei, desconfiada, chegando bem perto dele com os braços juntos do corpo.
- Eles têm medo de você, Clarinha. – apontou para a porta, provavelmente desejando me mostrar quem estava atrás dela - E se você não estiver presa, eles não irão querer entrar aqui.
- E eles vêm fazer o que aqui? – minha voz soou bem infantil, como uma criancinha pedindo explicação para o pai.
Eu não sentia medo, na verdade, eu estava ansiosa. Era impossível não se entusiasmar diante daquela movimentação. Tudo era tão diferente! Eu aceitaria qualquer coisa para quebrar a monotonia dos meus dias.
Sinceramente, não me importaria nenhum pouco de ter que ficar amarrada à parede, só para sair do tédio.
O padre Mariano sorriu calidamente, quando eu estendi os braços a ele sem a menor objeção, mesmo antes dele responder a minha pergunta. Ele me prendeu a parede, cuidando para não me machucar.
- Não está doendo mesmo? – ele indagou, preocupado.
Eu fiz que não com a cabeça.
- Lembra que do que eu te prometi, Clarinha?
Eu arregalei meus olhos e minha boca de abriu, entusiasmada. Meu coração batia rápido! Seria possível?
- Um banho?
- Sim, querida. Isso mesmo.
Eu sentei no piso gelado de chão batido, com os joelhos dobrados, e fiquei olhando a movimentação. Dois homens carregavam um enorme recipiente de madeira, com água dentro. Três mulheres com chaleiras aquecidas os seguiam. E havia um cheiro estranho no ar. O cheiro de medo predominava.
Com a exceção do padre Mariano, ninguém me olhava. As mulheres fitavam os próprios pés ocultos por calçados pretos. Suas roupas também eram negras, e um capuz ocultava a cor dos seus cabelos. Suas peles eram pálidas como a minha. Provavelmente elas também não viam há muito tempo a cor do sol.
Um dos homens tinha a pele de um tom diferente: morena, quase igual à batina marrom que ele trajava. Achei aquilo fascinante, devia ser o que eles chamavam de negros nos livros. Ele era alto e forte, parecia corajoso, apesar de assim como as mulheres não me olhar.
O mais novo dos homens, tinha os olhos azuis lindos como os do padre Mariano. Ele era loiro, com os cabelos parecidos com os meus, só que seus fios não se enrolavam em cachos. E ele, contrariando todas as minhas expectativas, me olhou. Pareceu surpreso por um instante, arqueou as sobrancelhas de leve e me analisou de cima abaixo com um brilho esquisito no olhar. Ele não usava a batina marrom como a dos outros homens.
E esse homem ficou me olhando. O tempo todo que permaneceu no porão, ele não desviou seu rosto de mim. Ele era bonito. Quando ele esboçou um sorriso, eu não tive como não retribuir. Era bom fazer novas amizades. Mas ele não ousou se aproximar, com o padre Mariano do meu lado.
Enquanto todas as outras pessoas, com exceção do padre, exalavam um odor de medo, esse homem liberava uma essência que eu não consegui identificar. Era diferente. Atraente e quase sufocante. Como se ele quisesse algo de mim que eu não fazia idéia do que era.
Enfim, quase todos se foram, ficando somente o padre. Com o quarto agora livre do cheiro de medo, eu pude afinal sentir a fragrância agradável de rosas.
Padre Mariano livrou meus pulsos das algemas, e eu corri para aquele recipiente grande de madeira.
- Isso é uma tina, Clara. – o padre explicou, mediante a minha curiosidade. – Para você tomar banho. E aqui, estão suas roupas novas.
Meus dedos giravam em círculos na água morna, brincando com algumas pétalas de rosas brancas que boiavam. Era quase impossível que eu quisesse me mover, a água era tão deliciosa, mas não resisti a curiosidade. Roupas! Um monte de peças femininas e coloridas!
- O que é isso? – eu perguntei.
- Batom. Cor rosa claro.
- E isso?
- Perfume. Escolhi um bem suave, já que você não está acostumada.
- E isso?
- É uma sombra, para você passar acima do olho, bem assim. – ele me mostrou como usá-la.
- Verde?
- Para combinar com seus olhos.
- Meus olhos são verdes?
Ele deu um sorrisinho, achando graça.
- São, Clarinha. Depois do teu banho, eu vou trazer um espelho.
- E isso? – comecei a perguntar sobre cada peça de roupa. Percebi que ele corou um pouco, talvez de vergonha afinal ele é um padre, quando me falou sobre as calcinhas e sutians.
Era tudo tão bonito! Tão colorido e macio! Comecei a cantarolar, imitando os sons dos pássaros, a única melodia que eu conhecia até então.
- A água vai esfriar. – ele comentou.
- Ah! É mesmo!
E eu, seu o menor pudor, me despi em frente a ele. Percebi que o padre Mariano se virou de costas, naquele momento.
- É errado ficar sem roupas na frente dos outros? – eu perguntei, ao me sentar na tina de água. Abaixei a cabeça e alegremente molhei meus cabelos. Ele me entregou um frasco que disse conter o shampoo, um líquido cremoso e perfumado que servia para lavar os cabelos.
- Sim, Clara – ele explicou após me entregar o sabonete de rosas. – Você não deve ficar nua na frente de outras pessoas. A nudez só é permitia entre as pessoas de sexos diferentes quando casadas. Um homem também não pode ficar nu na sua frente.
- O corpo do homem é muito diferente do de uma mulher?
O rosto do padre ficou vermelho como um pimentão, talvez ele não fosse a pessoa adequada para me responder, afinal.
- Sim, Clara. É muito diferente. Os homens não têm seios e suas formas não são tão arredondas como as das mulheres. – ele parou para pensar, enquanto eu me lavava. Ele se mantinha na parede, não enxergando a minha nudez - Mas a maior diferença está entre as pernas, no sexo. Os homens, para você imaginar, tem o sexo diferente da mulher, ele podem fazer sua necessidades em pé.
- Que necessidades?
- Urinar, Clara. – ele respondeu, todo sem jeito.
- Urinar? – passei novamente shampoo nos meus cabelos, era tão bom! - E por que eu não urino?
- Você é diferente.
- Por quê?
- Eu não estou autorizado a falar sobre isso, querida. E é bom que você não saiba, acredite em mim.
- Eu sou diferente. – eu concluí, e brinquei, sacudindo meus pés na água - É por isso que as pessoas têm medo de mim?
- Sim. É inerente ao ser humano temer aquilo que não conhece.
- Existem outros como eu?
Ele deu um suspiro contrariado, provavelmente não gostava de falar sobre isso.
- Eu não conheço. Mas não duvido que ainda existam.
- Ainda? Antigamente existiam mais?
- Sim, mas a Igreja cuidou deles. No século passado.
Eu olhei para ele, tentando achar um sentido no que ele me falava. Então eu logo deduzi.
- Oh! Todos os outros morreram! Mas por que eu não?
- Querida, isso aconteceu antes de eu nascer. – ele deu de ombros, como se quisesse dizer: “não sei.” Mas eu era boa em ler expressões, e a sua dizia que ele me escondia informações.
- Tudo bem. – eu disse e sorri. Não queria correr o risco de perder meu único amigo. Nem gostaria de chateá-lo – Posso tomar banho todos os dias? Ou uma vez por semana? É tão bom!
- Vou ver. Aqui embaixo não tem instalação hidráulica, nem elétrica. Mas vou tentar dar um jeito. Você provavelmente gostaria de ter uma televisão e um rádio. Acredito que você adoraria escutar músicas.
- Oh, sim! – eu fiquei tão eufórica! – Eu adoraria! Televisão?! Eu não faço idéia de como seja!
- Pode ter certeza que você iria gostar. – ele olhou para o relógio – Eu tenho que ir, em vinte minutos tenho um compromisso. Vou buscar um espelho para você. Você poderia sair agora, e me esperar vestida?
- Claro que sim! – eu ainda sorria. Uma televisão! Eu teria uma televisão! Como seria mesmo uma televisão?! Eu só a conhecia sua descrição através dos livros!
Deixei as gotas de água escorrerem livremente, deslizando pelas minhas pernas para acabarem umedecendo o chão.
- Clara? – ouvi um sussurro vindo da porta, que se abriu de leve. Os olhos azuis do loiro mais jovem me espiavam. Eu estava nua, distraída, passando meus dedos suavemente pelos tecidos, escolhendo o que vestir sem pressa. Eu me veria no espelho pela primeira vez. Tinha que usar algo bonito. O tecido verde, de um vestido longo, foi o que me cativou.
- Sim? – eu me virei na direção do chamado. Daí lembrei das palavras do padre: “um homem só pode ver uma mulher nua após o casamento.” Mas já era tarde, o homem loiro me vira. Mesmo assim, eu me enrolei na toalha para ocultar meu corpo e segui em direção à porta.
- Você não precisa disso. – ele apontou para a toalha – Podia ter vindo aqui como estava. – seu tom de voz era baixo, quase inaudível. Como se não quisesse que ninguém o ouvisse. Como se fizesse algo proibido.
- O que você quer? – eu perguntei com suavidade, não desejava afugentar o meu segundo amigo.
- Vim ver você, antes que o padre volte.
- Você é padre também?
- Não. Eu sou auxiliar de serviços gerais. Meu nome é Mathias.
- Meu nome é Clara.
- É um prazer, Clara. – ele sorriu para mim de um jeito estranho, não do jeito que o padre Mariano sorria. Tinha algo meio assustador naquele sorriso, como se ele desejasse algo de mim. – Posso voltar para vê-la? Quando você estiver sozinha?
- Você tem a chave?
- Não, mas posso consegui-la.
- Ah. Então eu acho que pode me visitar.
- Agora eu tenho que ir. Mas não conte ao padre que eu estive aqui, está bem? Eles, os superiores, não querem que ninguém lhe faça visitas. Se o padre Mariano souber, tentará me proibir de vir. Você promete que não contará a ele?
- Eu... – parecia errado fazer isso escondido de um amigo tão querido como o padre, mas por outro lado, seria tão bom receber mais visitas. E o Mathias parecia ser um homem legal. – Eu prometo.
Ele sorriu para mim, e eu sorri de volta. Então ele balbuciou algumas palavras de despedida e se foi.
Vesti-me correndo, para que o padre não desconfiasse de nada. Dois minutos após eu enfiar o vestido de qualquer jeito, e de pentear meus cabelos, o padre apareceu. Trazia nos braços um móvel antigo de madeira, com um espelho.
- Isso é uma penteadeira. – ele explicou. – Pertenceu a uma freira, que morreu em 1911. O que acha? Ela agora é sua. E logo você terá também um roupeiro, para guardar suas roupas.
- E a televisão? – eu me mantinha junto à parede, sem coragem para me aproximar e ver o meu reflexo. E se eu fosse mesmo horrorosa?
- Isso eu não posso prometer. Mas vou me esforçar para conseguir. E então? Não quer se ver?
- Eu... Não sei... – eu murmurei.
- - Venha, Clara. – ele estendeu sua mão, e eu a agarrei. Ele me puxou e me fez sentar na frente do espelho. Meus olhos estavam fechados, e eu temia abri-los.
- Não tenha medo, querida. – sua voz era encorajadora.
Eu respirei fundo, e entreabri os olhos. Pisquei, tentando entender o que eu via. Girei-me para ver meu perfil melhor. Depois empinei meu queixo. Cheguei mais perto, para ver meus olhos. Isso não fazia o menor sentido.
- Eu... – estava tão chocada, que mal conseguia falar. – Eu não pareço um monstro...
Os traços do meu rosto eram delicados. Meu nariz era pequeno e afinado. Meus lábios eram avermelhados e levemente carnudos. Meus olhos eram expressivos, com a íris de um intenso verde.
- Não. – ele confirmou e sorriu de leve para mim.
- Eu... – me analisei mais uma vez, tentando assimilar aquele rosto. – Eu sou bonita? – questionei insegura.
Minha pele era pálida, mas não um pálido feio. Era uma brancura atraente, eu acho. Belisquei as bochechas, e elas ficaram parcialmente rubras. Interessante. Porém, assim que eu tirei os dedos, a brancura voltou.
- Não, Clara. Você é linda! Parece um anjo.
Pisquei para o meu reflexo. Minhas pestanas eram longas. Eu diria que eram até sedutoras. Quem sabe, alguém poderia se interessar por mim, afinal. Um homem poderia me amar? Por que mesmo que eu fosse diferente, minha imagem não parecia tão diferente das outras mulheres.
Sorri para o meu reflexo. Meus dentes eram alvos, com um formato mais triangular, se encaixando bem ao meu rosto. E a minha imagem sorridente era agradável de olhar. Quando eu sorria, meus olhos se tornavam menores, mas o verde ficava mais evidente.
Talvez... Eu engoli em seco, pensando. Passei a língua nos dentes, minha língua era vermelha e pontuda. Talvez eu fosse bonita como a Jane de Orgulho e Preconceito, o meu livro preferido. E talvez se um dia eu escapasse desse porão, eu também teria inúmeros pretendentes, como ela.
- Foi por isso que não me mataram e me mantiveram presa aqui? – o padre estava parado às minhas costas, observando a minha expressão. Parecia tão emocionado quanto eu com as minhas descobertas. - Por que eu pareço um anjo?
- Provavelmente, querida. – ele sorriu com simpatia - Olha, agora eu tenho que ir.
- Tá bom. – eu respondi sem olhar para ele. Já abria o estojo de maquiagem, brincando de enfeitar meu rosto recém descoberto com aquela imensidão de cores.
- Até amanhã, querida.
- Até. – e como antes, eu não desviei meu rosto do espelho. Será que aquela cor de sombra verde combinaria com meus olhos? E como seria a forma mais adequada de se aplicar uma maquiagem?
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Capítulo 3
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Como nos outros dias, eu ficava algemada, junto à parede, observando a movimentação das pessoas que transitavam no meu porão. O sistema elétrico já estava instalado há algumas horas. Havia luz acima da minha cama, não que eu precisasse dela, porque a minha visão era excelente. Com ou sem iluminação, eu enxergava da mesma maneira. Mas como eu não queria ser uma estraga prazeres, eu não contei isso ao padre.
Naquela tarde, eles estavam instalando algo que o padre disse se chamar um chuveiro. E depois, eles vieram com uma louça grande branca, que ele disse ser uma banheira. Mas os operários não podiam saber que eu existia, então eu ficava oculta atrás de um biombo, enquanto o padre ficava o tempo todo presente, supervisionando os afazeres, e impedindo que qualquer um ousasse se aproximar de mim.
Se eu quisesse, podia permanecer horas sem respirar, para não me denunciar. Desde que eu não tivesse que falar, porque daí haveria a necessidade de repor o ar.
E eu estava tão distraída com um livro novo, que não sentia a necessidade de espiar. Era um livro sobre medicina. Após eu ter lido “O século do cirurgião”, comentei com o padre o meu interesse e ele me presenteou com várias obras sobre medicina. Esse falava sobre técnicas cirúrgicas. Era um livro voltado para profissionais da saúde, e não para leigos. Mas após as minhas inúmeras leituras, eu já entendia do assunto.
Levou vários meses para que o padre conseguisse autorização para as obras do meu quarto-porão. Eu sei que foram meses, porque agora eu tinha um calendário e podia contar os dias. E também tinha um relógio, podendo prever quando era dia ou quando era noite. Porque no porão não havia janelas, e eu não via o mundo de fora. Não conseguia diferenciar a escuridão da noite da clareza do sol. E eu daria tudo para poder ver qualquer coisa que não fosse aquelas paredes.
- Clara! – o padre me chamou, todo emocionado. – Você pode sair – ele soltou minhas algemas – Todos já foram.
Eu ergui minha cabeça e o encarei de maneira interrogativa. Será que ele me daria mais algum presente? Sorri. Pelo seu entusiasmo, parecia ser algo bom.
- A televisão já está funcionando. Por enquanto só pega a rede globo.
Ele ligou aquela caixa negra e dentro dela apareceram... pessoas!?
- Isso é uma novela, Clarinha. – ele explicou, mediante o meu assombro.
- Como essas pessoas foram parar ai dentro? E como elas saem? – eu sentei na minha cama, e fiquei observando fixamente cada movimento da tela.
Temi por aquelas pessoas. Elas presas naquela caixa, pareciam comigo presa no meu porão.
- Clara. – ele riu – Elas não estão aí dentro. Isso é uma filmagem. Tem uma câmera, e eles são atores. Isso é uma novela. Eles gravam as cenas, fingindo que são outras pessoas.
- Fingindo que são outras pessoas? Então eles são mentirosos?
- Não, meu amor. – ele ainda ria - Eles são atores, mas na televisão eles viram personagens. Eles contam histórias, como as dos livros. Mas nada disso é real. Cada um tem a sua vida fora da televisão. Ai eles só estão interpretando. Depois, quando encerram a gravação, cada um volta para a sua casa. Para a sua vida. Ser ator é uma profissão, como ser médico.
- Isso é uma história? E que história é essa?
- Essa é uma novela chamada malhação. Depois, tem a novela das 18h. Mais tarde a das 19h, e depois a das 20h. Também temos o noticiários. E hoje, como é segunda-feira, tem filme depois da novela das 20h.
Eu balancei a cabeça, fingindo ter compreendido. Na verdade, eu não prestei atenção a nenhuma palavra que o padre dissera. O céu da televisão era tão lindo e azul! E as cores das roupas das meninas, eram maravilhosas! E elas comiam sorvetes!
- Aonde eles estão? – eu perguntei.
- Numa escola.
Depois disso, o padre pediu licença para se retirar. Já era tarde. E eu fiquei ali, parada e boquiaberta, vendo Malhação. Até que ele apareceu. Não sei explicar bem o que aconteceu, mas aconteceu instantaneamente. Tão logo eu coloquei meus olhos nele, eu soube.
- Ele é como eu!
Não sei explicar como eu soube. Talvez fosse pela palidez de sua pele. Ou pelo modo como ele franziu o nariz de forma quase imperceptível numa cena, provavelmente sentindo um odor que não era evidente aos outros. Mas eu logo soube que ele era como eu. E que eu estava destinada a ser dele.
Talvez fosse apenas impressão minha, mas eu precisava desesperadamente conhecê-lo. Eu não sabia como, nem porquê, apenas sabia que eu precisava dele perto de mim. Como se ele fosse um pedaço de mim. Como se estivéssemos de alguma maneira ligados.
Fiquei imóvel, sem respirar, estática como uma estátua de pedra, analisando cada detalhe de suas feições. Seu rosto perfeito em sua brancura, tão pálido como eu. Um rosto lindo, quase um rosto angelical. Mas se observasse com atenção, o olhar dele não era nada angelical. Ele tinha um quê demoníaco. Algo estranho. Que ao mesmo tempo me inspirava medo, mas me atraía. E eu não conseguia deixar de olhá-lo. Quando ele saiu de cena, eu fiquei todo o tempo esperando por ele.
Na última parte da novela, ele estava com uma menina, que parecia fazer o papel de sua namorada. Senti tanta raiva, que desejei matá-la com as minhas próprias unhas. E quando eu sinto raiva, algo horrível acontece comigo, algo que o padre já me explicou que eu devo tentar controlar. Que é ruim. Que é isso que faz com que as pessoas tenham medo de mim. E um dos mandamentos da igreja, que eu devo seguir para Deus me amar, é: “não matarás.”
Tentei me controlar, quando ele sorriu para ela. Para não sentir raiva, logo imaginei que ele sorria para mim. Então, seus lábios tocaram os dela. E eu suspirei... Isso era um beijo!
Eu já conhecia sua descrição pelos livros, mas nunca tinha visto um. E ele beijava outra pessoa, mas eu imaginei seus lábios sobre os meus. Um beijo dele... Eu precisava tanto de um beijo dele... Eu precisava dele! Não sabia como, nem porquê. Mas eu estava ligada a ele.
Quando a novela acabou, eu fiquei com uma sensação de um intenso vazio.
Resolvi assistir toda programação, até de madrugada. Esse sentimento por ele podia ser apenas um entusiasmo bobo. Por ele ser o homem mais bonito que eu já vira.
Mas não foi isso o que aconteceu. Quando eu afinal adormeci, tive certeza. Outros homens bonitos apareceram, alguns ainda mais bonitos do que ele, mas só ele me fez sentir assim.
E eu soube... Eu tinha que encontrá-lo. Mas não fazia idéia de quando, nem como, nem porquê. Só sabia que eu precisava dele e que ele devia estar esperando por mim.
*
Os dias agora eram mais alegres. Eu nem lia mais. Não que eu não gostasse mais de ler, só que a televisão agora era a grande novidade do momento. E eu descobri algumas coisas que me deixaram intrigada...
As mulheres quase não usam vestidos como nos meus livros: elas vestem calças como os homens. E elas trabalham agora tanto ou mais do que os homens. Algumas não sonham em se casar, como nos livros. Preferem ser independentes. Mas isso não foi o que mais me intrigou...
O que mais me intrigou vai contra o que o padre me disse. As pessoas não esperam mais se casarem para... Deixa eu ver como explicar isso, eu tenho um pouco de vergonha para falar sobre esse assunto... Talvez eu seja ingênua demais... Sei lá... Mas assim... Os homens e as mulheres que não são casados se vêem nus bem antes do casamento sem problemas. As mulheres perdem a virgindade cedo e o pior: muitos são infiéis! E tanto os homens como as mulheres podem ter inúmeros amantes antes de escolher um relacionamento fixo. Relacionamento, não casamento.
Aliás, a maioria dos namoros terminam em pouco tempo. E eu me pergunto: o que será que aconteceu com o romance que eu vejo nos livros? Será que ele afinal nunca existiu ou a modernidade o matou?
Não sei... Eu posso ser romântica demais, pensem o que quiserem de mim. Mas o fato é que eu nunca me entregaria a um homem sem amor, como eu já vi as personagem fazendo. As meninas da televisão querem perder a virgindade a todo custo, com ou sem amor. Eu, ao contrário de muita gente, tenho orgulho da minha virgindade. E eu estou me guardando para o Vitor. Sei que nunca poderei ser de outra pessoa a não ser dele.
O Vitor... Ah! – eu suspirei!
Descobri que o nome daquele ator é Vitor e que ele tem 19 anos. Até parece! Os olhos dele transmitem uma maturidade de um homem sábio e muito mais velho. A mesma coisa que eu vejo no olhar do Padre Mariano, e ele é um homem idoso. Acredito que o Vitor seja como eu: ele não envelhece. Preciso encontrá-lo um dia, ele com certeza me explicará o que eu sou. E eu poderei beijá-lo e confessar o meu amor a ele! E a gente será feliz para sempre!
Só preciso sair daqui e encontrá-lo... Sair daqui... Mas como? Talvez isso nunca aconteça...
Tudo tem melhorado agora. Eu tenho roupas, tenho maquiagem. Aprendi a me ajeitar e a ficar mais bonita. Adoro passar horas em frente ao espelho. Não que eu seja vaidosa demais, mas foram anos ignorando a minha própria imagem... Tenho que compensar o tempo perdido.
Agora também posso tomar longos banhos. E o padre sempre que pode me visita. Mas nunca não hora da novela malhação. Ele sabe que eu não deixaria de ver o Vitor por nada, nem mesmo por ele.
*
Eu estava vendo Globo Repórter. Era sexta-feira, tarde da noite. Agora eu podia contar os dias da semana, por causa da programação da televisão. Não perdia nada, nem mesmo as propagandas. Sonhava com os produtos que sabia que nunca poderia consumir, quando escutei um barulho.
Era um som provavelmente imperceptível aos outros. Um deslizar suave de botas pela escadaria. Passos vagarosos, como se temessem ser descobertos. Girei-me na cama, já ansiosa, e visualizei a porta pesada. Alguém estava vindo me visitar! Mas quem seria? Todos ainda me evitavam e o padre estava viajando no fim de semana.
Uma sacudida de chaves e então um ranger de ferro contra argamassa. Alguém abria a porta!
- Clara? – o Mathias sussurrou.
- Oi! – eu sorri para ele. Ele veio me visitar! Ele cumpriu a promessa, mesmo tanto tempo depois! E ele ainda me trazia um pacote de presentes!
- Desculpa não vir antes. – ele fechou a porta e então se aproximou, elevando o tom de voz. – Mas você sabe, ninguém poderia me ver.
- E hoje estão todos viajando – eu concluí, entusiasmada – Por causa do retiro espiritual!
- É. – ele sorriu para mim, apertando seus olhos azuis. Os olhos dele eram bonitos, mas eram muito menos atraente do que o olhar negro do Vitor. Sem comparação – Olha, te trouxe um presente.
Eu abri o pacote numa velocidade assombrosa.
- Calças jeans! Uau! Como os personagens da televisão!
Minha primeira calça jeans! Não resisti e a vesti na frente dele. Ingenuamente, tirei o vestido que eu usava por cima da cabeça, coloquei as calças e fiquei desfilando semi-nua pelo quarto em busca de uma camisa que combinasse na minha pilha de roupas novas.
Peguei uma camisa branca, e antes de trajá-la, observei-me no espelho.
- Mathias, você acha que meus seios são pequenos?
Eu estava sem sutian, e percebi que ele não tirava os olhos de mim. Aquele seu jeito estranho de me olhar. Um brilho perigoso. Mas eu não sentia medo de nenhuma pessoa. As pessoas é que temiam a mim. Não sei porque, mas eu me sentia superior a elas.
- Acho que eles são lindos. Pequenos e empinados – ele levantou e parou nas minhas costas. Eu me virei de frente, para permitir um exame mais minucioso. Tinha que conhecer o pensamento masculino, para ver se o Vitor quando me visse me aprovaria.
- Mas são pequenos. – eu franzi os lábios. – Você mesmo disse...
- São lindos, Clara. – ele repetiu, falando numa voz meio baixa e rouca. Se aproximando de mim. Aquilo me deixou incomodada, e eu decidi colocar logo a camisa. – Você é toda linda. – o hálito dele atingiu o meu pescoço, e eu senti um pouco de nojo.
Suas mãos agarraram as minhas, impedindo que eu ajeitasse o tecido branco, deixando o meu umbigo descoberto. Ele me segurou pela cintura, fazendo com que o meu corpo colasse no dele. Eu estendi os braços, empurrando-o para longe.
- Não, Mathias!
- Clara... Você é o demônio que tem perturbado meu sono. – ele tentou se aproximar de novo. Eu recuei, até ficar encurralada contra a parede. – Você pode ser minha, Clara. E eu posso te tirar daqui.
- Pode mesmo? Me tirar daqui?
Tudo que eu queria era sair dali e conhecer o mundo.
- Sim, eu posso.
Ele colocou seu corpo contra o meu, e agora a sua boca roçou a minha.
- Me deixe te fazer minha, Clara. Eu te quero tanto!
Ele projetou a língua para fora da boca e com ela circundou os meus lábios. Não senti nojo dessa vez. Senti um calor e uma sensação gostosa, mas eu não podia beijá-lo. Ele não era o Vitor!
- Não. – eu virei meu rosto.
- Clara... – ele forçou sua cabeça contra a minha. Seus lábios contra os meus. Sua língua tentando invadir de qualquer jeito a minha boca. Comecei a ficar cansada e irritada. Mas ele não desistiu. Minha irritação foi aumentando, até chegar ao limite. E foi então que aconteceu.
Eu não sabia que eu era capaz disso, por isso eu me assustei tanto quanto ele. Não fazia idéia de que eu era tão forte. E um rugido estranho, como o de um leão selvagem, saiu alto de dentro dos meus pulmões. Com um movimento rápido, eu me livrei de Mathias. Sem a menor dificuldade. Ele voou, e se espatifou contra a parede que havia do outro lado do quarto. Eu juro que não fazia idéia que eu era tão forte!
Corri para socorrê-lo. Em pânico.
Por favor, faça com que ele não tenha morrido! O corpo dele estava inerte, num sono quase inconsciente. A cabeça se chocara contra as pedras escuras. Um filete de sangue escorria pelo pescoço, vindo de trás da cabeça. Cheiro de sangue...
Eu iria socorrê-lo, quando parei assombrada diante do meu reflexo. Meu rosto quase irreconhecível. A irritação trouxe com elas um par de caninos afiados e olhos avermelhados. Um monstro! Eu era mesmo um monstro! Chocada, passei os dedos sobre as pontas dos dentes que agora começavam a desaparecer. Um gemido agudo me tirou do meu torpor.
- Você está vivo! – eu corri para ajudá-lo, ele tentava se ajeitar melhor, sentando. – Desculpa!
A culpa agora me assolava. Tal como a certeza que eu era um monstro. Aquele meu reflexo horrendo estava nítido na minha memória.
Tentei fazê-lo sentar, mas aquele cheiro de sangue atordoava meus sentidos. Lutei contra ele com todas as minhas forças. O Mathias gemeu de dor. O sangue continuava escorrendo. Tirei a camisa dele e comecei a comprimir a ferida, para estancá-lo. Um pouco de sangue grudou nos meus dedos. Não resisti e levei-os os lábios. Tão bom.
O Mathias,abriu os olhos e mesmo quase delirante de dor, propôs:”
- Quer provar?
- Provar?
- Sim, meu amor. Eu não me importo se a tua mordida me matar.
- Matar!? Não! Eu não quero te matar!
- Eu não me importo. – ele estendeu seu pescoço. Sua pele branca ficou evidente, marcada por filetes avermelhados. Irresistível. Passei a língua pelos lábios, olhando fixamente para aquela tentação. – Pode ir, Clarinha.
- Só vou provar. – eu não mais resisti. Os caninos estavam pontudos de novo. Cravei meus dentes naquele pescoço e o provei.
Nossa! Era um prazer incomparável! Um sabor inigualável. Nenhum dos animais que me já alimentaram tinha um sabor semelhante.
O Mathias gemeu, me trazendo de volta a realidade. Talvez se ele não tivesse gemido, eu não conseguisse parar.
- O que foi? – meu tom agora era de preocupação. – Está doendo? – passei os dedos pelas minhas marcas, que já desapareciam.
- Não. – ele me deu um sorriso meio débil, como se estivesse bêbado. – Isso é bom demais, Clara.
- É bom? – eu estranhei.
- Sim. A dor pelos machucados passou completamente, isso é bem melhor do que morfina. – ele então gargalhou. – Me sinto tão bem! Tão feliz! Tão extasiado!
Que estranho, eu pensei.
- Mathias... – eu me ajoelhei em sua frente, e beijei seus lábios de leve. Agora ele me parecia inofensivo e um bom amigo. Beijei-o como forma de agradecer. – Eu sou um monstro, não sou?
- Não, meu anjo. Um monstro não. Você é linda, mas é...
- Eu sou?
- Um vampiro.
- Vampiro?! – eu olhei para o rosto dele, para me certificar que ele não estava brincando. – Não! – eu me enchi de pavor. – Vampiros não existem! – eu argumentei.
- Clarinha, isso é o que você é. – ele respirou fundo, provavelmente por causa da dor que voltava - Mas isso não quer dizer que você é mal. Você não é ruim.
- Não sou?
- Não.
- Mas olha o que eu fiz com você, você está machucado... – eu balbuciei.
- Não se culpe, Clara. Eu procurei por isso. A culpa foi minha também.
- Mas...
Ele estendeu a mão e tocou na minha bochecha, fazendo um carinho gentil. Ele passou o dedo indicador nos meus lábios, num sinal para que eu me calasse.
- Você não percebe, Clara? Essa é a tua chance.
- Chance?
Ele ergueu a cabeça e apontou para a porta.
- Não há quase ninguém aqui, quase todos estão no retiro.
- Oh! – eu entendi. Era a minha chance de escapar dali! De fugir! – Não. Eu não posso te deixar... Você está ferido!
- Clara... Eu estou bem. Não se preocupe comigo.
- Verdade? – eu perguntei, já me levantando. Aquela porta destrancada era tentadora demais. Eu poderia afinal conhecer o Vitor! – Em que estado nós estamos? Em que parte do Brasil?
Eu tinha que ir para o Rio de Janeiro, para encontrar o Vitor. Mas antes tinha que conhecer a minha localização.
- No Sul do Brasil.
- Sul... – eu repeti. Estava parada em pé, intercalando meus olhares entre o Mathias ainda escorado à parede e a porta. Indecisa.
- Vai, Clara! Pode ser a tua única chance!
- É. – eu concordei com um aceno de cabeça. Calcei um par de sapatos com pressa, coloquei meu livro preferido no bolso, que durante anos foi o meu único companheiro, e então parti.